José Horta Manzano
A desigualdade financeira está presente em todas as sociedades. O Brasil é um exemplo flagrante de abismo entre abastados e despossuídos. Mas a carestia não é exclusividade de países em desenvolvimento. Os países ditos “ricos” também contam com cidadãos na faixa de pobreza.
Um exemplo? A Alemanha, país onde a inflação atualmente bate em 8% ao ano, taxa nunca vista em mais de três décadas. Quando os preços sobem desse jeito, os primeiros a sentir o baque são justamente os que vivem com pouco dinheiro.
Cerca de 14 milhões de alemães recebem um salário ou um benefício que não chega para as necessidades básicas. Essas pessoas dependem de um complemento de renda providenciado pelo Estado. Dado que essa ajuda extra nem sempre é suficiente, o problema dos que têm renda muito baixa continua. A maioria dos integrantes dessa faixa são idosos e famílias uniparentais (mães solo).
Em Berlim, que tem 4 milhões de habitantes e é a capital do país, já faz anos que uma interessante solução foi encontrada. Cidadãos de boa vontade formaram uma associação sem fins lucrativos que opera de modo singular. Diariamente, correm os supermercados, padarias e outros comércios de alimentos da cidade e recolhem os invendidos. Há muitas mercadorias que, se não forem vendidas no dia, vão terminar no lixo.
Esses produtos passam por uma triagem e em seguida são levados a vários pontos de distribuição espalhados pela cidade. As pessoas necessitadas que frequentam esses depósitos têm o direito de escolher o que querem levar e encher um saco com cerca de 4 quilos de alimentos. Mas não sai de graça: a compra sai por um euro simbólico, quantia muito baixa. Essa cobrança é muito importante para evitar que os beneficiários tenham a sensação de estar recebendo uma esmola. Pagam um preço especial, mas põem a mão no bolso, tiram a carteira e pagam.
A associação é inteiramente composta por voluntários, geralmente aposentados ou pessoas de boa vontade que têm tempo disponível. Aos sábados e domingos, muito mais gente vem dar uma mão. Ninguém recebe salário. A associação, que se chama Berliner Tafeln (mesas berlinenses) já existe faz muitos anos e vive com doações de seus membros. Qualquer um pode se tornar membro; a contribuição mínima é de 2,75 euros por mês.
No Brasil, vivemos sempre na expectativa de que o poder público tome esse tipo de iniciativa. Não seria má ideia que cidadãos de boa vontade se reunissem e, à imagem das “mesas berlinenses”, criassem as mesas cariocas, ou paulistas, ou soteropolitanas, ou curitibanas, ou manauaras, ou fortalezenses. Os que vivem apertado agradeceriam.
Fonte: brasildelonge.com
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