Lya Luft
Para Vovó a beleza foi um tormento, porque o tempo não se detinha e desde moça seu maior pavor era perder aquele bem supremo. Olhava-se nos espelhos procurando uma primeira ruga, uma primeira dobra. Uma primeira manchinha. Quando chegou aos 60 anos quase morreu de dor, andava pela casa gritando: – Eu odeio fazer 60 anos! Eu não aguento fazer 60 anos!
Não adiantava as pessoas dizerem que parecia nem ter 40, tão conservada.
Argumentavam com ela: – Tente imaginar que você está conquistando a maturidade em vez de perder a juventude; e que um dia vai ganhar a velhice em vez de perder a maturidade. Não é muito mais natural pensar assim? Mas Vovó não aceitava, para ela o natural não era natural: – Eu odeio pensar que estou ficando velha. Não aceito, não aceito, pronto.
As primeiras cirurgias leves tinham-lhe feito bem: removeram um traço amargo, um sinal de cansaço prematuro. Depois seu médico lhe disse: – Vamos deixar a natureza agir um pouco e o corpo descansar. Não abuse.
Ela então foi procurar outros médicos, que faziam suas vontades.
Desafiando o indesafiável e excedendo seus limites, foi entrando no irreal. Mas as ilusões não continham mais o tempo, e o costurado voltava a descoser. Minha Avó foi-se isolando. Apartou-se das amizades, deixou as festas, não gostava mais de ninguém. Começou a delirar reclamando que todo mundo a apontava nas ruas, nas lojas, nos restaurantes: Lá vai aquela velha. Cada vez mais difícil de lidar e conviver, exigia o que ninguém podia lhe dar: o tempo congelado. Aos poucos foi sendo devorada por dentro também. O rosto de minha Avó, de tanto ser remendado, foi-se tornando outro. Mudou o olho, mudou o nariz, mudou o queixo, mudou até a orelha. No fim nada mais nela era dela. (O ponto cego, 1999)
Se quisermos congelar o tempo e nos encerrarmos nesse casulo, estaremos liquidados antes mesmo que a juventude acabe. Seremos a nossa ficção. A realidade continuará à nossa volta, e um dia vamos descobrir que estamos fora dela. Para alguns essa será a crise salvadora. Acabou a invenção de um “nós” fantasmal. Se ainda quisermos viver, não vegetar na prateleira da nossa fantasia, teremos de encontrar nessa aflição o que restou de nossa personalidade. Pois ela é quem vai nos dar consistência e capacidade de crescer até o último raio de lucidez. Assim se pode ter controle, não sobre o tempo, mas sobre o quanto ele vai nos favorecer ou aniquilar. Para entender que maturidade e velhice não são decadência mas transformação, temos de ser preparados para isso. Dispostos a encarar a existência como um todo, com diversos estágios, variadas formas de beleza e até de felicidade. Acreditar que com cuidado e sorte poderemos ser atuantes mesmo décadas depois: isso tem de ser conquistado palmo a palmo. Porém já na infância nos preveniam de que logo adiante algo de mau nos esperava: “Quando tiver a minha idade, você vai ver”, diziam mães, tias, avós. “Aproveite agora que é criança, quando crescer acaba a festa!”, aconselhavam com laivos de despeito. “Estou muito velha pra essas coisas”, protestavam na hora de se divertir ou alegrar. Existir no tempo nos foi mostrado como uma corrida infausta: cada dia uma perda, cada ano um atraso. Quem não teve seus momentos de querer nunca crescer para não enfrentar aquelas vagas ameaças? Sendo contraditórios – por isso interessantes -, não é estranho que na época em que mais vivemos se fuja tanto disso que se convencionou chamar velhice. E por imaginarmos que nossas últimas décadas são apenas decadência, reforçamos o tabu que reveste essa palavra. Palavras significam emoções e conceitos, portanto preconceitos. Por isso quero falar de minha implicância com a implicância que temos com os vocábulos – e a realidade – velho, velhice.
Detestamos ou tememos a velhice pela sua marca de incapacidade e isolamento. É algo a ser evitado como uma doença. Não deixa de ser tolo encarar o tempo como um conjunto de gavetas compartimentadas nas quais somos jovens, maduros ou velhos – porém só em uma delas, a da juventude, com direito a alegrias e realizações. Pois a possibilidade de ter saúde, projetos e ternura até os 90 anos é real, dentro das limitações de cada período. Quando não pudermos mais realizar negócios, viajar a países distantes ou dar caminhadas, poderemos ainda ler, ouvir música, olhar a natureza; exercer afetos, agregar pessoas, observar a humanidade que nos cerca, eventualmente lhe dar abrigo e colo. Para isso não é necessário ser jovem, belo (significando carnes firmes e pele de seda… ) ou ágil, mas ainda lúcido. Ter adquirido uma relativa sabedoria e um sensato otimismo – coisas que podem melhorar com o correr dos anos. Mas predomina a ideia de que a velhice é uma sentença da qual se deve fugir a qualquer custo – até mesmo nos mutilando ou escondendo.
No espírito de manada que nos caracteriza, adotamos essa hipótese sem muita discussão, ainda que seja em nosso desfavor. Isso se manifesta até na pressa com que acrescentamos, como desculpa: “Sim, você está, eu estou, velho aos 80 anos, mas… jovem de espírito.” Porque ser jovem de espírito seria melhor do que ter um espírito maduro ou velho? Ter mais sabedoria, mais serenidade, mais elegância diante de fatos que na juventude nos fariam arrancar os cabelos de aflição, não me parece totalmente indesejável.
Vou detestar se, ficando velha, alguém quiser me elogiar dizendo que tenho espírito jovem. Acho o espírito maduro bem mais interessante do que o jovem. Mais sereno, mais misterioso, mais sedutor. Assim como não gostei quando certa vez pensando me agradar um crítico escreveu que embora sendo mulher eu escrevia com mão de homem”.
A literatura feita por uma mulher não precisa se socorrer desse aval “mas ela escreve como um homem” para ser boa. Visitei uma artista plástica de quase 90 anos que pinta telas de uns vermelhos palpitantes. E eu lhe disse: “Seus quadros celebram a vida.” Ela respondeu junto do meu ouvido, brilho nos olhos: “Eu os crio para mim mesma, para me divertir.” Seu rosto enrugado e seu corpo já encurvado emanavam uma alegria de viver que me causou a mais confessável das invejas. Por um instante desejei ter chegado, enfim, ao mesmo patamar – onde muitas coisas pelas quais hoje luto e sofro fossem uma celebração tranquila. Uma mulher de 60 anos me pegou pelo braço, me levou para o canto, e sussurrava: “Por que decretaram que mulheres da nossa idade estão acabadas?”, e tinha lágrimas nos olhos. “Não sei”, eu disse, “mas nem você nem eu estamos acabadas, tenha certeza disso. Mudou meu corpo mas eu ainda sou a mesma.” Minha interlocutora era uma bela mulher com filhos independentes e boas amizades. O buraco em sua alma era o da autoestima, porque uma sociedade tola não lhe dava o direito de sentir-se plena, e impunha mesmo à sua mente ativa e capaz o conceito de que agora valia bem menos do que aos 40 anos. E a cada ano, a cada dia, valeria ainda menos. “Eu daria tudo, mas tudinho, por ter a cabeça de agora… no corpo dos meus 30 anos!”, ouvimos.
“Trato bem ao meu corpo, esse grande gato”, escreveu uma poeta com essa sensatez dos artistas e das pessoas simples. “Afinal até aqui ele me serviu, e cada dia gosto mais dele, do jeito que está ficando.” Gostar de seu velho corpo com sua necessidade de cuidados e de amor, de mais treinamento para que funcione direito, de paciência porque nem sempre é como lembro que foi um dia, é uma forma de felicidade que a experiência pode ensinar.
Há poucas décadas alteraram-se nossos prazos, e os conceitos sobre juventude, maturidade e velhice. Passamos a viver mais. Nem sempre passamos a viver melhor. Esse me parece um dos mais extraordinários desperdícios da nossa época. Minhas avós, muito mais jovens do que sou agora, me pareciam – e deviam se sentir – velhas: lentas e vagamente reumáticas, roupa escura, cabelo grisalho, óculos na ponta do nariz, fazendo doces ou tricô. Verdade que minhas avós eram vistas seguidamente com livro na mão – lia-se muito na minha casa. Mesmo assim, para nós crianças eram velhas damas.
Inimaginável que tivessem sido meninas e jovens mulheres. “Vovó transou alguma vez, pelo menos para ter o papai e a titia”, era uma ideia escatológica. Pai e mãe tendo vida amorosa na remota era em que se casaram já nos parecia estranho. Hoje as avós dirigem seu carro, viajam, jantam fora com amigas, namoram, usam computador, e de modo geral parecem muito mais felizes do que as damas de antigamente. Mas, ambíguos como somos, por outro lado mais que nunca viceja o repúdio à velhice. Lembro uma propaganda de televisão mostrando uma mulher idosa de xale nos ombros, rosto murcho e desolado, vagando por um corredor. Abria portas e contemplava os quartos vazios onde sua fantasia fazia ecoar a voz dos filhos, do marido. Era a imagem da pobre velha abandonada que perdeu tudo – porque perdeu a juventude. Não vejo por que em lugar desse sinistro teatro da velhice não se poderia transformar um quarto de filho em salinha de televisão, em ateliê para pintar ou fazer cerâmica, em quarto de hóspedes para convidar alguma amiga a passar o fim de semana… em quarto para os netos. Por que, se um aposento não tem mais utilidade direta, não terei mais direito a ele?
Mesmo que minha casa não esteja movimentada como anos atrás, por que devo me transferir para algum espaço menor – a não ser que eu realmente queira, e decida assim por ser mais prático, mais razoável? Jamais por achar que não preciso, ou pior: não mereço, nem adiantaria mais. Somos seres humanos completos em qualquer fase, na completude daquela fase.
Custa-nos acreditar nisso na velhice, como na adolescência era difícil termos confiança em nós e nossas escolhas quanto ao futuro.
Com direito e dever de procurar interesses e revisar outros, ter alegrias e prazeres, sejam eles quais forem. Posso na velhice não ser um atleta na cama nem mesmo ter atração pela vida sexual, mas sou capaz de exercitar minha alegria com amigos, minha ternura com família, meu prazer em caminhadas, em jardinagem, em leitura, em contemplação da arte. Porém, numa sociedade em que sucesso e felicidade se reduzem a dinheiro, aparência e sexo, se somos maduros ou velhos estamos descartados. Cada dia será o dia do desencanto. Em lugar de viver estaremos sendo consumidos. Em vez de conquistar estaremos sendo, literalmente, devorados pelos nossos fantasmas – na medida em que permitirmos isso. Essa é a nossa possibilidade, a nossa grandeza ou a nossa derrota: viver com naturalidade – ou experimentar como um súbito castigo dos deuses – os novos 70 ou 80 anos. Algumas pessoas parecem tombar subitamente da juventude impensada para a velhice ressentida.
Foram apanhados desprevenidos. Nunca tinham pensado. Estavam desatentos.
Triste maneira de percorrer isso que é afinal o milagre da existência.
Imaginamos enganar a máquina do tempo, e suas engrenagens nos atropelaram em lugar de nos impulsionar. Para quem só pensa nos desencantos da maturidade, eu falo no encanto da maturidade. Para quem só sabe da resignação da velhice, eu lembro a possível sabedoria da velhice. É preciso seguir em frente com o meu tempo. Mas qual é, onde está, em que lugar ficou… o meu tempo? Nossos ouvidos estão cheios de refrões, como: “meu tempo já passou”, “eu não devo”, “onde já se viu”…
Perder nos deixa vulneráveis, com medo de que isso se repita. De que o amado nos esqueça, de que o outro morra, de que a graça se apague, a festa acabe. Não queremos essa repetição, não queremos mais perder nada – preferimos nem ganhar coisa alguma. Mas se escutarmos bem nosso interior, ali está a voz persistente dos momentos alegres e das belas experiências dizendo-nos que viver ainda é possível. Faz uns pequenos sinais discretos, que até demoramos a entender. Uma de minhas mais queridas amigas tem quase 90 anos, e espero pelo fim de semana para tomar com ela, em sua casa aconchegante, o uísque dos fins de tarde de domingo. Sempre temos assunto. Ela sabe de tudo, é informada, é interessada. Não fala preferencialmente de sua saúde, que já não é a de dez anos atrás. Comenta coisas de jornal, política, música. Pergunta pelos amigos. Já não vai ao cinema, mas, como é grande leitora, há mil assuntos para se falar. Ela gosta de rir e nos divertimos muito.
Pensando nela e em outras pessoas assim, questiono se ter 80 anos ou mais será realmente uma condenação ou se pode ser o coroamento de uma vida. Verdade que para haver um “coroamento” é preciso uma estrutura razoável para ser “coroada”. Generosa, de conquistas, de perdas mas igualmente de elaboração e acúmulo. Vivida com gosto e dor, com afetos bons e outros menos bons. O prato luminoso do positivo mais pesado do que o das coisas escuras.
“E da juventude, o que você diz?”, me indagam. Não preciso falar tanto dela porque é cantada e louvada em todos os meios de comunicação, em todos os salões, em todos os quartos. E la é deslumbramento e aflição, crescimento e inépcia, angústia e êxtase como todos os nossos estágios – apenas tudo ali está condensado em intensidade e brilho. Mas não acho que só ela vale a pena, só ela nos avaliza. Como não defendo a ideia de que a maturidade e a velhice sejam melhores. São diferentes. Com seus lados bons e ruins. Idade não dá aval de bondade e graça. O velho sempre bonzinho é um mito, a velhinha doce pode ser comum nos livros de história, mas na realidade é muito diferente.
Eventualmente o velho pode ser um algoz, exercendo sobre a família a famosa tirania do mais fraco, do doente, da criança mimada. Algumas pessoas, envelhecendo, se tornam insuportavelmente exigentes, lamuriosas, difíceis de conviver. Apegadas a um passado com bens, presenças, aparência e atividades que não podem mais ter, não se conformam. Nem sempre o velho fica isolado porque os filhos são ingratos. Muitas vezes ele é que afasta os demais, com sua permanente crítica a tudo e a todos, suas exigências de atenções nem sempre possíveis. Na reduzida família nuclear de agora, em que em geral marido e mulher trabalham, os filhos são poucos, uma empregada custa caro – a assistência ao velho torna-se difícil se ele for dependente.
Boas clínicas são raras e dispendiosas. Grave problema para todos. Cada família o resolverá como puder, em geral com sacrifício financeiro e ônus emocional. “O problema dos velhos é que lhes falta o que fazer, faltam interesses”, a gente diz, como se fosse uma inevitabilidade. Não é inevitável. Por que o velho não pode ter a sua vontade enquanto for independente, enquanto tiver lucidez – maior de todos os bens desde que não signifique apenas lucidez da dor física?
Na idade avançada os interesses não precisam ou não podem ser os de antes: atividade, trabalho, dinheiro, viagens, conquistas. A certa altura mudam as possibilidades mas não se anula a pessoa. O bem-estar e a alegria residem nas coisas mais triviais: esse é um dos aprendizados que o tempo nos dá. Por isso mesmo, a essa altura é mais simples ser feliz. Novos afetos são possíveis em qualquer idade: sempre se podem estabelecer novos laços com pessoas, coisas, lugares, interesses. Nem mesmo amor, ternura e sensualidade são privilégio dos moços. Mas muitas vezes não lhes permitem, aos velhos, a mínima independência, ainda que ela seja totalmente viável: “Que ideia, mãe, sair à rua sozinha!”
“Papai, você está doido, morar sozinho? Viajar sozinho, ir sozinho ao restaurante? Na sua idade… ” Essa é a sentença condenatória: na sua idade, na minha idade. Não perdemos (alegria, saúde, amores): nós os roubamos de nós mesmos. E nos boicotamos adotando frases comuns, como essas: “Estou velha, minhas mãos ficaram feias, não vou usar mais meus anéis.” “Para que comprar um terno novo, se estou velho? Quantas vezes ainda o vou usar?” “Para que comprar vestido novo, para que pintar a casa, para que reformar o sofá, se estou velho?” Então está decretado que os velhos usam calças largas demais, sapatos cambaios, cabelo descuidado, e sentam no sofá puído. Seria bom perguntar em que medida eles mesmos dão força aos rótulos sobre sua idade, adequando-se a esse clichê, ainda que lhes custe muito. Ainda que tivessem outra opção. O tempo tem de ser sempre o meu tempo, para realizar qualquer coisa positiva e plausível – ainda que seja mudar de lugar a cadeira (até a de rodas) e ver melhor a chuva que cai. Uma velha senhora mora sozinha mas curte as amizades, a família, livros e músicas, a natureza. De vez em quando abre uma garrafa de champanha e faz um brinde, sozinha (não chorosa): a coisas boas que teve, coisas boas que tem, e uma ou outra que ainda pretende viver. Um dia lhe manifestei minha admiração por isso. Com um sorriso entre tímido e divertido ela respondeu que sempre havia o que celebrar. Era um privilégio estar viva tendo consciência disso, e sem graves problemas de saúde. Poder apreciar a luz da manhã, o aroma da comida, o perfume das pessoas. Comunicar-se, saber das notícias, que podiam ir do esporte à música, à política, ao… o que eu quiser. Participar ainda. Me enterneceu essa visão positiva de uma mulher ficando velha. Sua idade não era o ponto de estagnação, mas de fazer tranquilamente coisas que antes não podia. Não tinha mais de cumprir tantos deveres nem realizar tantas expectativas.
“Acho que as pessoas são mais condescendentes comigo”, ela disse com um sorrisinho malicioso. “Devem pensar “ela está velhinha, coitada” e assim eu posso finalmente respirar fundo, e ser mais… natural.” Certa vez li uma história mais ou menos assim: Uma jovem corria para ficar em forma. Passou por uma velhinha que cuidava de seu jardim na frente da casa, e gritou ao passar:
— Vovó, se eu fosse magra como você, não precisaria ficar aqui correndo desse jeito! A velhinha a fez parar com um sinal, aproximou-se dela, e lhe disse sorrindo: – Filha, quando a gente fica velha como eu, tudo é mais fácil. A gente pode até se aposentar e gostar de cuidar das rosas.
Mas se sonharmos apenas com a viagem à Lua, cuidar das rosas pode parecer tedioso demais, e não cultivaremos coisa alguma. A vida é sempre a nossa vida, aos 12 anos, aos 30 anos, aos 70. Dela podemos fazer alguma coisa mesmo quando nos dizem que não. Dentro dos limites, do possível, do sensato (até alguma vez do insensato), podemos. Só seremos nada se acharmos que merecemos menos de tudo que ainda é possível obter.
— Lya Luft, no livro “Perdas e ganhos”. Rio de Janeiro: Record, 2006.
Saiba mais sobre Lya Luft:
Fonte: https://www.revistaprosaversoearte.com
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