Luiz Felipe Pondé
Brasil vive um niilismo político prático em que simplesmente não há em quem votar para presidente em 2022
Vivemos no Brasil um niilismo político prático. Niilismo aqui significa crer em nada e em ninguém, perda de esperança, notas de cinismo, um ceticismo paralisante amparado na experiência histórica recente. Digo que é prático porque não é meramente uma questão teórica para especialistas.
O senso comum, pelo menos aquele que não é estúpido, militante ou parte da canalhice, vive e respira esse niilismo no seu dia a dia. Acho fofo quem acha que com a vitória do Lula haverá razões para superação desse estado de espírito.
Enfim, não há no que acreditar nem em quem investir esperança na esfera política. As possibilidades políticas são todas —pelo menos no plano dos políticos que de fato têm poder— nulas. Bem-vindos ao Brasil de 2022. O século 21 é o século do niilismo político prático brasileiro.
Quem conhece o niilismo como conceito sabe que seus desdobramentos podem ser tanto psicológicos —depressão—, sociais —cinismo institucional—, epistemológicos —não se acredita em nada nem em ninguém—, morais —corrupção em escala micro e macro. Há uma falência na crença de toda e qualquer narrativa, para o gozo dos inteligentinhos pós-modernos. A política brasileira é um salve-se quem puder e dane-se o resto.
Existem os diversos atores desse roteiro niilista. Um dos mais atuantes é o conglomerado que podemos chamar de atavismo petista no país. O PT, uma gangue reconhecida, volta ao poder com ares de salvador nacional. Os integrantes dessa gangue, e seus discípulos, deveriam acender velas para o Bolsonaro porque, graças à sua estupidez, incompetência e oportunismo, o PT deve voltar ao poder com ares de grande instituição democrática.
Esquece-se de que a desgraça que o país vive hoje se deve, em grande parte, a quase quatro mandatos do PT em Brasília. Por mais péssimo que seja o governo Bolsonaro —uma catástrofe em todos os sentidos— a derrocada do país no século 21 se deve muito aos quatro mandatos do PT. Bolsonaro destruiu a opção liberal no país, no mínimo, por mais 20 anos. Os liberais bolsonaristas são uns idiotas.
A eleição de Bolsonaro marcou mais um trauma naqueles que não se alinham à gangue. A ditadura já era um trauma suficiente —no sentido de se você não é petista você torturou presos políticos, assim como se você é branco, você foi dono de escravos, conclusões evidentemente falsas e retóricas. Com o evento Bolsonaro, a esquerda em geral poderá sinalizar suas falsas virtudes por mais uns dez anos no mínimo.
Simplesmente não há em quem votar para presidente em 2022. Ambos os candidatos representam o que há de pior no país desde o início do século 21.
Para além da eleição do primeiro mandatário da República, há também os estados. No caso específico do estado de São Paulo, com a traição do Alckmin—que se vendeu ao PT em troca dos últimos 15 minutos de oxigênio numa vida política em absoluta decadência— e o caráter infantilmente afoito do Doria, que atropelou tudo e a todos e tornou sua boa administração em São Paulo invisível para "as massas" que decidem os destinos nas democracias, estamos à beira de dar acesso aos cofres públicos de São Paulo, pela primeira vez, ao PT.
Depois do presidente do país, o governador de São Paulo é um verdadeiro vice-rei. Se a gangue puser as mãos nos cofres de São Paulo —além do de Brasília, que parece inevitável—, a gangue escoará dinheiro público para si, seus aliados, e seus projetos de eternidade de modo nunca d'antes visto neste país. Brasília e São Paulo não podem pertencer à mesma gangue —desculpe, quis dizer partido. São Paulo é rico demais para ficar nas mãos do crime político organizado.
Mas o niilismo político prático brasileiro não fica apenas nas duas gangues executivas —PT e bolsonaristas batedores de carteiras—, o fenômeno se alastra pelo Legislativo. Uma corja de répteis à procura de verbas para seus currais eleitorais servirá ao soberano da vez, sem nenhum pudor. O Judiciário prende e solta quem quiser ao sabor de sua enorme vaidade e suas tecnicidades opacas aos mortais. Quo vadis Brasil?
Fonte: Folha de S. Paulo
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