Carlos Brickmann (*)
O ex-presidente Jânio Quadros era mestre nisso: pendurou chuteiras na porta de sua sala (para indicar que não pretendia mais disputar eleições), apareceu com uma calça por cima da outra, a de cima arregaçada para mostrar a de baixo, simulando distração.
O então prefeito César Maia, no calor do verão carioca, saiu de casa todo agasalhado, entrou num açougue e pediu sorvete. Doidos? Não: doido é quem pensa que isso é para valer. Na verdade, queriam manter-se nos holofotes e escolher o tema das discussões.
A reunião de Bolsonaro com os diplomatas para falar mal das urnas em que se elegeu por mais de vinte anos foi absurda. Ou não: para o presidente, é melhor que discutam o inglês mambembe de sua assessoria e a ideia boba, e não o preço do leite e da carne. Alta de preços é tema de interesse de toda a população. Uma chatíssima discussão cheia de fatos duvidosos não causa prejuízo eleitoral nenhum.
Quem não é bolsonarista critica; quem é fará tudo para explicar como aquela atitude foi brilhante ou correta. E ninguém vai mudar de ideia por causa disso. Boa parte dos eleitores não vai perder seu tempo discutindo fragilidades cibernéticas e como corrigi-las.
Ah, confirma que o presidente pensa num golpe? De novo, os bolsonaristas negam que ele pense num golpe e, se ele tentar o golpe, descobrirão um bom motivo para o apoiar. E os antibolsonaristas estão convencidos de que ele só pensa nisso.
Esse tipo de discussão serve apenas para ocultar o que deve ser discutido.
(*) Carlos Brickmann é jornalista, consultor de comunicação e colunista.
Fonte: brasildelonge.com
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