– Ei! Olhe onde pisa.
O homem que caminhava no gramado olhou para baixo, surpreso. A voz vinha debaixo do seu sapato.
– Nós da família Grama somos fortes. Mas, não precisa abusar!
– Fortes somos nós – gritou o Inço, de longe. – Mesmo botando fogo, renascemos.
– Alto lá! – falou a Palmeira. – Em matéria de resistência ganho longe. Vejam os vídeos dos furacões. Nenhum nos bota abaixo, temos raízes radiculares, para os lados.
– Mas nós Mamoeiros damos frutas saudáveis.
O Gerânio do prédio ao lado falou com voz fininha.
– E nós espantamos mosquitos, nem o aedes chega perto. Perguntem para os franceses porque nos colocam no peitoril das casas.
– Pode ser – trovejou a Figueira Centenária. – Mas eu dou vida, sombra, atraio passarinhos…
– Grande coisa. Além de passarinhos nós damos suco de saúde para os humanos – gritou a Laranjeira.
– O que seriam a saúde e as comidas sem nós? – zombou o Limoeiro. – Até raspas da nossa casca são usadas.
A Goiabeira entrou no papo.
– Meus frutos servem para fazer geleias, doces…
– Cheios de bichos da goiaba. alfinetou o Abacaxi.
– Audácia do bofe – desdenhou o Moranguinho.
– Para comer vocês só com faca – riu a Pitangueira.
– É meu caso – concordou a Melancia com voz grave. Mas todos gostam de mim. Pena eu não ter nascido com alça.
A conversalhada foi interrompida por uma voz maravilhosa vindo da Roseira no jardim ao lado.
– Homens… Todas as mulheres do mundo nos adoram. Qual de vocês pode dizer isso?
O homem estava zonzo. Julgou ter ouvido o Coqueiro gritando “sai de baixo”. Olhou para cima, irritado.
– Chega de papo fura…
Foram suas últimas palavras.
Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
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