Fernando Albrecht
Sempre me impressionou o fato de empresas tupiniquins adotarem jargões e terminologias estrangeiras para cargos. Nos anos 1970, as agências de propaganda foram além da conta, e não demorou muito para que o mundo oficial e burocrático – perdão, é pleonasmo – copiasse essas manias.
Ascensorista da Assembleia Legislativa gaúcha passou a ser denominado pelo Diário Oficial do Estado como “oficial de transporte vertical”. Suponho que motorista seja oficial de transporte horizontal.
A nomenclatura das agências me divertia muito. Durante dois meses fiz um trabalho para uma agência norte-americana, na qual todo mundo era diretor ou vice-presidente, incluindo a mulher do cafezinho, que eu rebatizei de Vice-Presidente de Cargas Líquidas Ingeríveis. Fosse hoje teria o acréscimo “logística de cargas líquidas”.
Então me animei e fui adiante. O boy passou a ser Oficial de Serviços Externos e Internos. Já porteiro do prédio foi promovido a Diretor-Adjunto de Controle de Fluxo.
Lembro que criei mais alguns cargos, mas as brumas do tempo os ocultaram. Com a consciência ambiental de hoje, certamente que o cara que limpa as lixeiras seria o Oficial Superior de Reprocessamento de Resíduos Sólidos.
Até mesmo uma simples garrafa térmica poderia ser uma Unidade de Conservação Calórica, dentro do melhor espírito da Segunda Lei da Termodinâmica. Aliás, a segunda veio antes da Primeira, mas essa é outra história.
Tenho lembrança vaga de ter criado uma vice-presidência para o segundo boy da agência, que era quem fazia os trabalhinhos miúdos como repor sempre as folhas da copiadora xerox: Vice-Presidente de Estoques Termoplásticos.
Isso me veio à mente quando li a nota oficial sobre o resultado positivo de um exame antidoping de piloto da Stock Car, amaciado para “achados analíticos adversos”. Igual aos exames de urina em que aparece a expressão “leves traços de albumina”. Pois aí mesmo, na leveza, que a bronca é grande.
Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
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