José Horta Manzano
Como diz o outro, fazer prognósticos é muito difícil, especialmente para o futuro.
Pra responder à pergunta “Quem vai ganhar a guerra?”, é preciso primeiro saber o que se entende por “ganhar a guerra”.
Rússia
Para a Rússia, ganhar a guerra consistiria numa anexação pura, em que a Ucrânia seria engolida inteira, crua, sem mastigar. A crer nas falas de Putin, a vitória seria coroada pela total ‘desnazificação’ do país – o que subentende a derrubada do governo atual e sua substituição por um governo vassalo. O ditador russo cometeu a afronta de afirmar que a Ucrânia não existe como país, que não passa de uma invenção de prancheta, que aquele território foi, é e sempre será russo.
Decorridos dois meses desde o início da invasão, vai ficando evidente que a Rússia não tem como atingir os objetivos fixados. Submeter e ocupar um país cabisbaixo e desarmado é uma coisa; vencer e se apossar de um país habitado por gente bem armada e disposta a defender seu solo palmo a palmo é outra coisa. Nem o analista mais pró-Putin consegue vislumbrar a bandeira russa ondulando no topo de todas as prefeituras do país.
Nesses termos, a Rússia, desde já, perdeu a guerra. Movimenta-se, agita-se, ameaça o mundo com guerra nuclear. Mas não passa de figuração – pelo menos, é o que se espera. É ponto pacífico que não atingirá os objetivos iniciais.
Ucrânia
Para a Ucrânia, a vitória seria a total expulsão do exército russo do território pátrio, incluindo Crimeia e Donbás. Seria a reconquista de todo o terreno que as tropas russas ocuparam nestes meses de guerra. Impossível não é, mas não será tarefa fácil. A Ucrânia tem drones, mas não tem mais aviação. Tem mísseis antitanque, mas não tem mísseis de longo alcance. Não dispõe de forças navais. Nesse particular, por mais que o Ocidente forneça armamento aos ucranianos, os meios da Rússia serão sempre superiores.
A Ucrânia está semidestruída. Suas cidades foram bombardeadas, aeroportos estão impraticáveis, pontes foram dinamitadas, edifícios, teatros e hospitais foram pulverizados, a infraestrutura foi seriamente danificada.
Nesses termos, pode-se dizer que também a Ucrânia, desde já, perdeu a guerra.
Conclusão
A fim de evitar uma longa guerra de posição, como não se via desde as trincheiras da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as partes beligerantes terão de sentar-se ao redor de uma mesa e chegar a um acordo. Nenhum dos lados vai atingir seus objetivos. Mas não há outro jeito. Em seguida, cada dirigente poderá apresentar a seu povo a “narrativa” que lhe parecer mais conveniente.
A grande ganhadora deste conflito está a milhares de quilômetros do front. É a China, que, sem disparar um tiro, tem agora a Rússia a seus pés. Uma Rússia que precisa vender seu gás, seu petróleo e seu trigo. Uma Rússia que precisa importar insumos e peças tecnológicas. Pelos próximos anos, as normas do comércio exterior russo e, até certo ponto, da economia russa serão ditadas pela China.
No resultado final, a Rússia sai humilhada e diminuída. A Otan sai ressuscitada. Os EUA mostram quem é que dá as ordens no mundo ocidental. A União Europeia prova que, quando se sente ameaçada, tem capacidade para dar resposta rápida, unânime e enérgica. E a China, que ganha a Rússia como fornecedor e cliente preferencial, continua crescendo.
Fonte: https://brasildelonge.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário