sábado, 30 de abril de 2022

OMS DECLARA PANDEMIA DE CAIXAS DE SOM NA PRAIA

OMS DECLARA PANDEMIA DE CAIXAS DE SOM NA PRAIA
Renato Terra

Em meio às músicas no talo, uma pessoa se sentou na areia de fones para ouvir um áudio com o barulho do mar

Tudo começou quando um agente invisível se espraiou pelo ar. Entre odores de queijo coalho, milho cozido, bronzeador e maresia, ele estava lá: o sinal de Bluetooth. Foi a porta que abriu caminho para a invasão da variante JBL.

A coisa foi se alastrando. O barulho do mar, as conversas e os tradicionais chamados dos vendedores ambulantes começaram a ser interrompidos por pequenas caixas de som que pipocavam aqui e acolá.
Nem Osmar Terra apostaria que o crescimento seria tão rápido. Agentes invasores dotados de excepcional capacidade de amplificação e uma colossal falta de noção subjugaram todo organismo praiano às rajadas estridentes.

Um comitê de estudiosos formado na barraca Caipirinhas da Leila fez um alerta: "É axé, rock, música eletrônica, sertanejo, pop, salsa, o caralho o dia todo. Não é questão de rico ou pobre, mermão. É questão de educação mermo", sublinhou o porta-voz Jorge Cabelinho, aos prantos. "Bolsonaro deveria decretar cem anos de silêncio nessas caixas de som", completou o general aposentado Alaôr Pederneiras.

Ciente da calamidade, Tedros Adhanom resolveu agir: "Era preciso tomar alguma medida para conter essa situação dramática. Por isso a OMS vai declarar pandemia de caixas de som na praia", berrou.

Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, tomou medidas rápidas e decretou o lockdown de caixas de som. "Não dá pra pedir pros incomodados botarem máscara no ouvido", justificou, com um megafone.
A decisão provocou ruidosas reações de todas as esferas políticas.

Grupos de direita iniciaram um movimento pela liberdade de levar caixas de som para a praia. "Não vamos nos ajoelhar diante da ditadura do silêncio. Quem não quiser ouvir música alta que não venha à praia", bradou Daniel Pereira.

Grupos de esquerda interpretaram a medida como um ato de opressão social. "É a burguesia da zona sul incomodada com o funk. Mas, dessa vez, não passarão: quem não quiser ouvir música alta que não venha à praia", bradou Eloá Paranauê.

Os argumentos de Pereira e Paranauê, no entanto, não foram ouvidos por causa da confusão sonora que vinha das caixas de som.

Em meio aos sons, certezas surdas e músicas no talo, uma pessoa se sentou na areia. Botou um fone de ouvido, no último volume, para ouvir um áudio com o barulho do mar.

Fonte: Folha de S.Paulo
Uma sobremesa sem queijo é como uma donzela bonita, porém torta. (Anthelme Brillat Savarin, gastrônomo francês, 1755-1826)

LUGARES

PENELA - PORTUGAL
Penela é uma vila portuguesa do distrito de Coimbra, na província da Beira Litoral, região do Centro e sub-região Região de Coimbra, com cerca de 3 300 habitantes. Situa-se cerca de 20 km a sul da capital do distrito. Wikipédia

ANARQUISMO

ANARQUISMO
Fernando Pessoa (*)

A Noite e o Caos são parte de mim. Dato do silêncio das estrelas. Sou o efeito de uma causa do tempo do Universo [e que o excede, talvez]. Para me encontrar tenho de me procurar nas flores, e nas aves, nos campos e nas cidades, nos actos, nas palavras e pensamentos dos homens, na luz do sol e nos escombros esquecidos de mundos que já pereceram.

Quanto mais cresço, menos sou eu. Quanto mais me encontro, mais me perco. Quanto mais me sinto mais vejo que sou flor e ave e estrela e Universo. Quanto mais me defino, menos limites tenho. Transbordo Tudo. No fundo sou o mesmo que Deus.

Na minha presença hodierna têm parte as idades anteriores à Vida, os tempos mais antigos do que a Terra, os ocos do espaço antes que o mundo fosse.

Na noite onde nasceram as estrelas comecei a constelar-me de ser.

Não há um único átomo da mais longínqua estrela que não colaborasse no meu ser.

Porque Afonso Henriques existiu, eu sou. Porque Nun’Álvares combateu, existo. Seria outro – não serei, portanto – se Vasco da Gama não tivesse achado o Caminho da Índia nem Pombal tivesse governado (…) anos.

Shakespeare é parte de mim. Para mim trabalhou Cromwell quando arquitectou a Inglaterra. Ao ganhar com Roma, Henrique Oitavo fez-me ser hoje o que eu sou.

Para mim pensou Aristóteles e cantou Homero. Neste sentido místico e profundo deveras […], Cristo morreu por mim. Um místico índio que eu não sei se existiu, há 2000 anos colaborou no meu ser actual. Pregou moral Confúncio à minha presença de hoje. O primeiro homem que achou o fogo, o que inventou a roda, o primeiro que ideou a seta – se hoje eu sou eu é porque eles existiram.

Fonte: https://www.revistaprosaversoearte.com

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 29 de abril de 2022

QUEM VAI GANHAR A GUERRA?

QUEM VAI GANHAR A GUERRA?
José Horta Manzano

Como diz o outro, fazer prognósticos é muito difícil, especialmente para o futuro.

Pra responder à pergunta “Quem vai ganhar a guerra?”, é preciso primeiro saber o que se entende por “ganhar a guerra”.

Rússia
Para a Rússia, ganhar a guerra consistiria numa anexação pura, em que a Ucrânia seria engolida inteira, crua, sem mastigar. A crer nas falas de Putin, a vitória seria coroada pela total ‘desnazificação’ do país – o que subentende a derrubada do governo atual e sua substituição por um governo vassalo. O ditador russo cometeu a afronta de afirmar que a Ucrânia não existe como país, que não passa de uma invenção de prancheta, que aquele território foi, é e sempre será russo.

Decorridos dois meses desde o início da invasão, vai ficando evidente que a Rússia não tem como atingir os objetivos fixados. Submeter e ocupar um país cabisbaixo e desarmado é uma coisa; vencer e se apossar de um país habitado por gente bem armada e disposta a defender seu solo palmo a palmo é outra coisa. Nem o analista mais pró-Putin consegue vislumbrar a bandeira russa ondulando no topo de todas as prefeituras do país.

Nesses termos, a Rússia, desde já, perdeu a guerra. Movimenta-se, agita-se, ameaça o mundo com guerra nuclear. Mas não passa de figuração – pelo menos, é o que se espera. É ponto pacífico que não atingirá os objetivos iniciais.

Ucrânia
Para a Ucrânia, a vitória seria a total expulsão do exército russo do território pátrio, incluindo Crimeia e Donbás. Seria a reconquista de todo o terreno que as tropas russas ocuparam nestes meses de guerra. Impossível não é, mas não será tarefa fácil. A Ucrânia tem drones, mas não tem mais aviação. Tem mísseis antitanque, mas não tem mísseis de longo alcance. Não dispõe de forças navais. Nesse particular, por mais que o Ocidente forneça armamento aos ucranianos, os meios da Rússia serão sempre superiores.

A Ucrânia está semidestruída. Suas cidades foram bombardeadas, aeroportos estão impraticáveis, pontes foram dinamitadas, edifícios, teatros e hospitais foram pulverizados, a infraestrutura foi seriamente danificada.

Nesses termos, pode-se dizer que também a Ucrânia, desde já, perdeu a guerra.

Conclusão
A fim de evitar uma longa guerra de posição, como não se via desde as trincheiras da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as partes beligerantes terão de sentar-se ao redor de uma mesa e chegar a um acordo. Nenhum dos lados vai atingir seus objetivos. Mas não há outro jeito. Em seguida, cada dirigente poderá apresentar a seu povo a “narrativa” que lhe parecer mais conveniente.

A grande ganhadora deste conflito está a milhares de quilômetros do front. É a China, que, sem disparar um tiro, tem agora a Rússia a seus pés. Uma Rússia que precisa vender seu gás, seu petróleo e seu trigo. Uma Rússia que precisa importar insumos e peças tecnológicas. Pelos próximos anos, as normas do comércio exterior russo e, até certo ponto, da economia russa serão ditadas pela China.

No resultado final, a Rússia sai humilhada e diminuída. A Otan sai ressuscitada. Os EUA mostram quem é que dá as ordens no mundo ocidental. A União Europeia prova que, quando se sente ameaçada, tem capacidade para dar resposta rápida, unânime e enérgica. E a China, que ganha a Rússia como fornecedor e cliente preferencial, continua crescendo.

Fonte: https://brasildelonge.com
Na vida, os blocos de granito afundam; já as cascas das árvores continuam flutuando. (Pierre-Auguste Renoir, pintor francês, 1841-1919)

LUGARES

 VENEZA - ITÁLIA
Veneza, a capital da região de Vêneto, no norte da Itália, é formada por mais de 100 pequenas ilhas em uma lagoa no Mar Adriático. A cidade não tem estradas, apenas canais (como a via Grand Canal), repletos de palácios góticos e renascentistas. Na praça central, Piazza San Marco, ficam a Basílica de São Marcos, coberta de mosaicos bizantinos, e o campanário, com vista para os telhados vermelhos da cidade. ― Google

MR. MILES


A embriaguez de que não me canso
De Rochester, no Maine, Estados Unidos, para onde anunciou que iria, nosso correspondente responde à pergunta da semana:

Mr. Miles:
Estive, certa vez, visitando o Museu Hermitage (foto) em São Petersburgo na Rússia e passei por uma experiência que, acredito ser única.

Após circular por vários corredores e galerias do museu e me deparar com obras de arte de beleza indescritível, saí de lá em um estado de total embevecimento e entorpecimento interno. Quero lembrar, também, que não cheguei a visitar o museu em todos os seus ambientes, pois sabia que não teria tempo. Pergunto: em suas viagens pelo mundo, você chegou a passar por este estado de torpor? E isso em que lugar? Forte abraço e parabéns por sua coluna, que nos traz de forma clara, objetiva e com muito humor as suas experiências de viagem.
Edmur Miranda de Godoy, por email

Well, my friend: confesso que tive mais sorte do que você. Certa feita, passei um mês inteiro em São Petersburgo e visitei toda a coleção de 3 milhões de obras, 700 mil livros, dezenas de milhares de armas — e tudo o mais que compõe o acervo do maior museu do mundo. Os únicos que se comparam a eles, em tamanho, são, of course, o Louvre e o Memorial das Conquistas do Santos Football Club, com sua quantidade interminável de troféus, em Santos, no seu país.

Conheço São Petersburgo — e adoro a cidade —, em muitos momentos. Quando deixou de ser a capital da Rússia, em 1918, após a vitória da revolução Comunista na fase em que chamou-se Petrogado, depois que virou Leningrado (quando da morte de meu velho amigo Vladimir (N.da R.: Vladimir Ilitch Lenin, estadista soviético) e quando, novamente, passou a ser chamada São Petersburgo, Peter para os íntimos, desde 1991. O Hermitage já tem a beleza de suas construções, sobretudo os palácios outrora ocupado pelo czares. E é tão interessante que merece ser visitado mesmo no inverno, quando a temperatura pode chegar aos 30 graus negativos, congelando o rio Neva, que margeia os museus.

Mas não é sobre ele que falamos, isn't it?

Estamos discutindo "embevecimento" e "embriaguez", palavras que você usa, com acuidade, em sua missiva. Embevecido significa deslumbrado ou extasiado. Embriagado, as you know, quer dizer ébrio ou, well, bêbado. São dois estados da alma muito parecidos— , antes do embriagado passar da conta.

Você me pergunta se, em minhas viagens já passei por sensações semelhantes. Fiquei pensando como responder: se eu diria que é desse embevecimento que se fazem as viagens ou dessa embriaguez é que jamais me canso.

Sinto o mesmo, of course. E se isso já não ocorresse, talvez fosse o caso de aposentar minhas malas, esquecer de minhas milhas e, perhaps, conviver com a sensação de que vivi em vão.

É sobre esse tema que estou sempre falando em minhas crônicas, dirigindo-me sobretudo aqueles que nunca partem, por medo, preguiça ou falta de iniciativa (eu ia dizer dinheiro, mas os que realmente desejam acham sempre uma forma de viajar). Não sei como é possível viver sem experimentar essas confusas alegrias. Parece-me alguém que abdica de suas ideias e de seu livre arbítrio para seguir doutrinas e dogmas que lhe foram impingidos. Ou aqueles seres que jamais provam um prato diferente, uma bebida que não conhecem ou uma mulher (um homem para as mulheres, as well) com a que sonharam.

Yes, my friend: fico muito feliz em saber que você conseguiu alcançar essa "graça" em um museu, como muitos a alcançam em frente a um monumento ou uma paisagem deslumbrante. Aproveito para lhe pedir: siga em frente, porque vai voltar a acontecer.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 28 de abril de 2022

COVITEL: CONHECER PARA AGIR

COVITEL: CONHECER PARA AGIR
Pedro Hallal

Impactos da pandemia na saúde da população brasileira

Em todo o mundo, 7 em cada 10 mortes são causadas por doenças crônicas não transmissíveis, como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas. No Brasil, em 2019, 54,7% das mortes foram causadas pelas doenças crônicas não transmissíveis, além de outras 11,5% que foram consequências de seus agravos.

Nos últimos dois anos, a Covid-19 colocou as doenças crônicas não transmissíveis ainda mais em evidência, uma vez que as comorbidades crônicas aumentaram os riscos de internações e mortes por Covid-19. Ao mesmo tempo, com a atenção direcionada para a emergência em saúde, a assistência às doenças crônicas não transmissíveis foi menos priorizada, aumentando as dificuldades de acesso a novos diagnósticos e a tratamentos oportunos.

E essa não é uma situação pontual. Os reflexos do que temos vivido desde o início de 2020 serão sentidos nos próximos anos e, até mesmo, décadas. Por isso, estamos em um momento decisivo para investirmos em um futuro mais saudável para brasileiras e brasileiros.

Os governos precisam priorizar investimentos inteligentes e estratégicos, o que exige o fortalecimento da capacidade analítica dos gestores de maneira intersetorial. E isso só pode ser feito se tivermos um monitoramento robusto e atualizado, que mostre um retrato fiel da situação de saúde da população, e oriente as prioridades, o planejamento e ações para redução da morbimortalidade.

A informação é um recurso ainda mais valioso em um país como o Brasil que, com dimensões continentais, apresenta desigualdades socioeconômicas e regionais gritantes. E, por aqui, assim como acontece em todo o mundo, as doenças crônicas não transmissíveis atingem as pessoas de maneira desigual, afetando especialmente as populações mais vulneráveis, como as de baixa renda e com menor escolaridade.

Nesse cenário, são imprescindíveis inquéritos como o recém-lançado Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia). Desenvolvida por meio de uma parceria entre a academia e a sociedade civil, a pesquisa responde à urgência do momento, trazendo resultados de relevância para a construção de conhecimento sobre a influência da Covid-19 nos fatores de risco para as crônicas não transmissíveis na população adulta do Brasil.

Resumidamente o Covitel mostra que a pandemia atrapalhou o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil, aumentando alguns comportamentos de risco, como a inatividade física, por exemplo, e interrompendo a tendência de melhora em outros, como o tabagismo. Além disso, a pandemia agravou as desigualdades na ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis.

É importante ressaltar que, em grande medida, as doenças crônicas não transmissíveis são evitáveis e estão relacionadas às condições de vida das pessoas, determinadas pelo acesso a bens e serviços públicos, garantia de direitos, acesso à informação, emprego e renda e possibilidades de fazer escolhas favoráveis à saúde.

Os principais fatores de risco para o adoecimento —tabagismo, consumo de álcool, alimentação não saudável e inatividade física— podem ser modificados pela mudança de comportamento. As políticas públicas têm o poder (e o dever) de fazer com que as escolhas saudáveis sejam as escolhas padrão da população. Elas podem tornar os espaços públicos livres da fumaça do tabaco, informar os consumidores com rótulos adequados de alimentos industrializados e promover cidades inteligentes, que criam espaços mais seguros para caminhar e andar de bicicleta, por exemplo.

Precisamos investir em uma agenda baseada em dados, trabalho conjunto, enfrentamento de desigualdades e, claro, combate às doenças crônicas não transmissíveis. Com inteligência em saúde pública, prevenimos doenças, promovemos a qualidade de vida e, principalmente, salvamos vidas. Isso ao mesmo tempo em que otimizamos recursos, reduzindo os custos destinados a tratamentos e consequências da perda da produtividade de uma população adoecida.

Fonte: Folha de S. Paulo
A política talvez seja a única profissão para a qual não se julga necessária uma preparação. (Robert Louis Stevenson)

LUGARES

 CAPRI - ITÁLIA
Capri, uma ilha no Golfo de Nápoles, na Itália, é famosa pela paisagem acidentada, pelos hotéis e pelos centros de compras sofisticados, que vendem desde artigos de moda de estilistas famosos até limoncello e sandálias de couro feitas à mão. Um dos mais conhecidos locais naturais é a Gruta Azul, uma caverna escura onde o mar brilha em uma vibrante cor azul, como resultado da luz do sol atravessando uma caverna subaquática. No verão, o impressionante litoral de Capri, repleto de enseadas, atrai muitos iates. ― Google

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


SEMPRE OS PORQUÊS
Inúmeros leitores têm perguntado a respeito do uso graficamente correto dos porquês brasileiros, já tratados na coluna Não Tropece na Língua 37. Digo “brasileiros” pelo fato de no Brasil termos uma grafia um pouco diferente da de Portugal nesse ponto. Vamos então rever o esquema de uso dos porquês em nosso país.

1) Usa-se POR QUE (preposição + pronome relativo) em perguntas diretas e indiretas; observe-se o acento circunflexo no “que” antes do ponto de interrogação:
  • Você pode nos dizer por que não devemos tirar proveito da boa pontuação?
  • Por que as mulheres ocupam tão poucos cargos políticos?
  • Brizola não aceitou o cargo por quê?
  • Por que quando se fala em inclusão social feminina se fala também em acesso ao mundo digital?
  • Nós, sim, temos o dever de perguntar por que não lhes deram opção de vida.
2) Usa-se POR QUE em frases afirmativas/negativas, como complemento (objeto direto) de verbos como mostrar, justificar, saber, explicar, entender e outros:
  • Ninguém explica por que os preços não caem.
  • Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, encantou plateias e mostrou por que provoca calafrios nos burocratas de Washington.
  • Não entendo por que os eletricitários vão entrar em greve.
  • Este mês a revista Motor revela por que vale a pena comprar um carro 1.6.
  • Gostaria de saber por que seu filho faltou à aula ontem.
3) Usa-se POR QUE como complemento das expressões EIS, DAÍ, NÃO HÁ:
  • Eis por que resolvemos fazer a paralisação.
  • Não pude me preparar, daí por que desisti do concurso.
  • Não há por que temer mudanças. Esse Brasil já tem regras”, disse o presidente da Valisère.
Nesses três casos está sempre implícita a palavra motivo:
  • Por que (motivo) as mulheres ocupam tão poucos cargos políticos?
  • Não entendo por que (motivo) os eletricitários entrarão em greve.
  • Gostaria de saber por que (motivo) seu filho faltou à aula.
  • Eis por que (motivo) resolvemos fazer a paralisação.
4) Usa-se PORQUE para iniciar orações explicativas e causais; em tais afirmações e respostas temos uma conjunção, que equivale a POIS (já que, uma vez que, pelo fato de que, como):
  • É preciso alfabetizar as pessoas digitalmente junto com a superação do analfabetismo básico, porque não dá tempo de fazer uma coisa antes da outra.
  • Hoje, a comunidade se assenta em torno do desmatamento porque essa é a única oportunidade de emprego e de renda.
  • Muitas crianças simplesmente não conseguem aprender porque estão subnutridas.
  • A agenda social é a praia das mulheres, porque são elas que têm filhos e cuidam da família.
Nos casos em que se aplica a regra do item 4 pode-se colocar uma vírgula antes do “porque”, a indicar o início de uma oração. Já no tocante aos itens 1, 2 e 3 a colocação da vírgula é totalmente imprópria, para não dizer impossível.

Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 27 de abril de 2022

AINDA SOMOS O PAÍS DO FUTURO?

AINDA SOMOS O PAÍS DO FUTURO?
Jaime Pinsky*

A campanha política está em pleno andamento. É verdade que nenhum candidato a candidato, ou mesmo candidato assumido apresentou, por enquanto, qualquer projeto consistente sobre as questões centrais do país. Pena. Elas precisam ser abordadas com seriedade. E, para evitar enganos, deixo claro que as questões centrais não são simplesmente as urgentes, mas as importantes, aquelas que, devidamente resolvidas, poderiam nos transportar ao almejado e cada vez mais distante patamar em que deveríamos chegar, o de nação desenvolvida, socialmente justa. Queremos que nosso Brasil volte a ser um lar ambicionado por gente do mundo todo, não apenas por refugiados.

Para quem tem alguma memória, valeria a pena se lembrar de alguns pontos fundamentais, superficialmente tocados na última campanha presidencial: educação pública laica, universal e de qualidade, de modo a propiciar igualdade de oportunidades reais, não apenas nominais; habitação, água e esgoto para todos; sistema de transporte de qualidade (inclusive ferrovias, hidrovias e cabotagem); fartura de alimentos para seres humanos, não apenas para gado e galinhas; qualificação da mão de obra, para que possa haver mais empregos e mais empresas de bom nível; manutenção e expansão da rede pública de saúde; preocupação com o esporte como atividade voltada para a saúde, não apenas para a competição; controle sobre a usura praticada fora e dentro da lei; sistema de justiça democrático, desde o julgamento até o encarceramento. Embora tocados por alguns candidatos nas últimas eleições presidenciais – muito superficialmente, para dizer a verdade -, esses temas e vários outros foram debatidos com alguma seriedade em órgãos de imprensa e com real profundidade em livros. Uma das obras mais sérias, com propostas concretas em diferentes áreas, da Economia ao Esporte, da Educação à Agricultura, passando por Ciência e Tecnologia, Saúde, Segurança Pública e Meio Ambiente, foi “Brasil, o futuro que queremos”. Embora suspeito, por ter organizado a obra, estou à vontade para falar de um trabalho que não escrevi. Apenas estruturei, lancei perguntas, fiz observações, padronizei o material e redigi uma introdução. O conteúdo coube a especialistas, de diferentes correntes e cores políticas, gente aberta, articulada, capaz de juntar o saber com a prática. Brincando, eu chamava o grupo de “meu ministério”.

Seria um desperdício não aproveitar muitas das ideias e sugestões apresentadas nesse livro como tema para discutir nosso país, por ocasião da próxima campanha presidencial. Noticiários na TV, nas rádios e nos jornais têm ido pouco além da divulgação de pesquisas eleitorais (que não ajudam a compreender o país), quando não ficam exibindo manobras realizadas por supostos políticos “hábeis”. É pouco, muito pouco. Precisamos mesmo é discutir os problemas brasileiros. Não é uma competição para ver quem é o mais esperto, mas o mais preparado. Ou estou equivocado?

A percepção que as pessoas têm de quanto o Brasil é injusto é algo muito sério, pois não se pode tecer um país unido com a desigualdade social vigente. A desigualdade favorece a existência de arrogantes de um lado e dissimulados de outro. Um jovem advogado, muito idealista ainda, me dizia que, no Brasil, todos são iguais perante a letra da lei, mas não perante o espírito da lei. Na prática, o poderoso, quando prevarica, é bem defendido, muito bem defendido, defendido com tudo que a lei permite e, às vezes, até um pouco além disso. Quem não pode vai para a cadeia, sofre dias, meses, anos e, se sobrevive às prisões brasileiras, não terá muita chance de se recuperar. E esse sistema, vamos ser claros, não é acidental, é estrutural. Ele reflete a concepção que temos de um estado que é de todos, mas não é para todos. É de todos que pagam o aumento no custo dos alimentos, do transporte, do material escolar, das roupas vindas da China e do Vietnã. O Brasil é um país em que o desemprego é gigantesco, porém, aonde quer que se vá, vai se ouvir patrões dizendo que têm vagas em aberto, por falta de mão de obra qualificada. É um país que acha que todo mundo, para ser cidadão, precisa ter faculdade, e para isso aprova o funcionamento de pseudo universidades, verdadeiras Unidrogas e Unigranas, que ainda são beneficiadas com empréstimos feitos aos alunos, para eles pagarem a anuidade... Em troca, exigem muito pouco do aluno. A preocupação não é preparar gente, é fornecer um diploma para os pagantes. Diploma, que por seu turno, não servirá para nada.

O Brasil tem solução? Teoricamente tem. Até países na Ásia Oriental, no Oriente Médio (com solo desértico e sem petróleo), no sul do Pacífico consolidaram-se como democracias pujantes e sociedades equilibradas. Não há motivos geográficos ou históricos que nos condenem a ser, para sempre, o país do futuro que passou.

O futuro que queremos é outro.

*Historiador, professor titular da Unicamp, doutor e livre docente da USP.

Fonte: Correio Braziliense
Agrada-nos a franqueza dos que nos apreciam. À franqueza dos outros chamamos insolência. (André Mourois)

LUGARES

KAYSERSBERG - FRANÇA
Kaysersberg foi uma antiga comuna francesa de 24,82 km² e com 2676 habitantes situada no departamento do Haut-Rhin, na região de Grande Leste. Em 1 de janeiro de 2016, foi incorporada à nova comuna de Kaysersberg Vignoble. Wikipédia

PERGUNTAS MÓRBIDAS

PERGUNTAS MÓRBIDAS
Ruy Castro

Em 1873, num quarto de hotel em Bruxelas, Paul Verlaine, 29 anos, atirou em Arthur Rimbaud, 19. O tiro acertou Rimbaud no pulso e de raspão, mas, por causa disso, Verlaine pegou dois anos de prisão, o romance entre os poetas teve fim e Rimbaud escreveu "Une Saison en Enfer". Valeu. O revólver, um Lefaucheux 7mm, de cabo de madeira, foi devolvido à loja onde Verlaine o comprara e lá ficou até seu atual proprietário perceber a preciosidade que tinha no cofre. Acaba de ser arrematado por um colecionador num leilão da Christie's, de Paris, por 435 mil euros (R$ 1,56 milhão).

Pergunto-me que fim terá levado a espingarda com que Castro Alves se feriu no pé durante uma caçada nas matas do Braz, em São Paulo, em 1868, o que contribuiria para sua morte em 1871. O.38 com que, em legítima defesa, o cadete Dilermando de Assis matou Euclydes da Cunha, no Rio, em 1909. A faca com que Manso de Paiva apunhalou mortalmente o senador Pinheiro Machado, também no Rio, em 1915. Ou a gravata com que Alberto Santos-Dumont se enforcou em Guarujá, em 1932.

Lá fora, eles são cuidadosos. Imagino que tenham sido guardadas a navalha com que Van Gogh decepou a própria orelha em 1888 e a arma com que finalmente se matou, em 1890. A espingarda calibre 12, de dois canos, que Ernest Hemingway disparou contra a cabeça no Idaho, em 1961. Ou a espada com que Yukio Michima praticou o "seppuku" e com a qual um amigo o decapitou, em 1970.

Eu sei, a pergunta é mórbida, mas onde estarão as armas com que os portugueses Camilo Castelo Branco, em 1890, e Antero de Quental, em 1891, o russo Vladimir Maiacóvski, em 1930, e o brasileiro Pedro Nava, em 1981, abreviaram suas vidas?

Às vezes, mais letal do que as balas é o caprichado bilhete ou carta deixado pelo suicida. A carta-testamento de Getulio, por exemplo. 

Fonte: Folha de S. Paulo - 06/01/2017

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 26 de abril de 2022

MITOS DIFÍCEIS DE MATAR

MITOS DIFÍCEIS DE MATAR
Ruy Castro

Gentileza gentil, Virginia com Getulio, Oswald no PCB etc

Certos mitos são mais difíceis de matar do que Rasputin. Você os questiona, contesta, pede as provas, desmistifica e pensa que os enterrou. Mas eles voltam, trazidos pela tendência do ser humano a repetir histórias que ouviu desde que nasceu e nunca se preocupou em checar.

O mito do "profeta" Gentileza (1917-96) é um caso. Era um tipo folclórico que, nos anos 70, vivia entre Rio e Niterói e cujas mensagens de paz e amor, escritas por ele nas pilastras do viaduto do Caju, estão agora em adesivos e camisetas —a mais famosa é "Gentileza gera gentileza". A frase é boa, mas, na vida real, Gentileza era só doido: um desvairado de camisolão que ofendia, ameaçava e dava corridas nas moças de batom, calça comprida ou minissaia que passavam pela região das barcas.

Outra história, comum em livros sobre Vinicius de Moraes, é a de que o poeta, cônsul do Brasil em Los Angeles de 1946 a 50, "estudou cinema com Orson Welles em Hollywood". Mas nenhuma das muitas biografias de Orson fala que um dia ele deu um curso de cinema. A não ser que Vinicius tivesse sido convidado à filmagem de algumas cenas de "A Dama de Shangai" (1947). Mas isso seria "estudar cinema" com Orson?

E o pessoal não se cansa de repetir que Virginia Lane foi amante de Getulio Vargas. Virginia começou a contar essa história nos anos 80, e ela pegou. No fim, já estava dizendo que, na madrugada de 24 de agosto de 1954, ela "estava na cama com Getulio no Catete quando os homens do Lacerda invadiram o quarto, mataram Getulio e a jogaram nua pela janela do Palácio". Incrível, ninguém no Catete naquela noite teve a sorte de ver nada disso.

E outra lenda é a de que Oswald de Andrade foi membro do Partido Comunista nos anos 30. Ninguém consegue dizer quando se filiou, quem era o responsável por ele, em qual célula operava e por que nunca foi preso. Da brava Pagu no PCB, sim, sabe-se tudo. Mas Oswald foi só um torcedor e ainda malvisto pelo time.

Fonte: Folha de S. Paulo
Somos mais sensíveis aos males que afligem este mundo do que aos bens que o enfeitam. (Cristina da Suécia, Rainha, 1626-1689)

LUGARES

INNSBRUCK - ÁUSTRIA
Innsbruck, capital do estado do Tirol, no oeste da Áustria, é uma cidade nos Alpes e tradicional destino para a prática de esportes de inverno. Innsbruck também é conhecida por sua arquitetura imperial e moderna. Suba no funicular Nordkette, com estações futuristas projetadas pelo arquiteto Zaha Hadid, a 2.256 metros do centro da cidade, para esquiar no inverno e fazer caminhadas ou montanhismo nos meses mais quentes. ― Google

ROMANCE FORENSE

Voyeurismo no... motel! 

Aconteceu no Vale do Sinos. O casal matrimoniado (mesmo!) de operadores jurídicos decidiu apimentar a relação e planejou uma noitada quente - típica ao mês de janeiro - num motel da RS-239.

Consumado o primeiro "rala-e-rola", veio a natural lassidão. Foi quando o varão escutou um instigante "clic" vindo da janela rotatória (aquela através da qual são passados alimentos e bebidas) e, logo, ouviu passos rápidos de quem escapava pelo corredor interno.

O cliente saltou da cama e constatou:

- Fomos espionados! - ele alertou à esposa.

Afeitos às lides do Direito, ambos foram, entre si, objetivos:

- Vamos fotografar a janela e depois pedir uma produção antecipada de provas.

A câmera do celular foi utilizada e, assim já na segunda-feira imediata, houve o ingresso da ação judicial. Nela o perito judicial foi objetivo: "induvidosamente o dispositivo 'janela rotatória' permite que se tenha visão parcial do interior e se escutem os sons provindos do quarto número quatro”.

A juíza da causa foi no âmago da questão: "Em que pese a definição formal da palavra motel, como sendo ´estabelecimento para pernoite, especialmente para aqueles que viajam de automóvel´, no Brasil, é consabido que se trata de estabelecimento de hospedagem que se diferencia dos demais porque as pessoas geralmente vão até ele com o objetivo de manter relações sexuais e não necessariamente para conseguir alojamento”.

E ao reconhecer que "a prestação de serviços nessa área deve primar pela segurança e inviolabilidade da privacidade e intimidade dos consumidores", a magistrada condenou o estabelecimento a pagar R$ 10 mil ao casal, mais os gastos periciais, custas e honorária de 20%.

O motel apelou. A câmara do TJ concluiu que "o casal foi mesmo espionado em momento de intimidade, e em ambiente em que, dadas as características de estabelecimentos da espécie, há legítima expectativa de absoluta segurança".

E assim manteve o valor reparatório - não sem praticar, porém, um frequente cacoete contra a Advocacia: redução dos honorários do advogado do casal autor para 15% "porque não houve instrução oral e repetitiva, sendo impositiva então, a redução para 15% sobre o valor da condenação, reservando-se o patamar máximo (20%) a causas de maior complexidade".

Ao saber que seu ganho de R$ 2 mil fora reduzido para R$ 1.500 quem quase brochou foi o profissional da Advocacia que atuou em nome do casal lesado.

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 25 de abril de 2022

O QUE OS GOVERNOS ESTADUAIS PODEM FAZER PELA EDUCAÇÃO?

O QUE OS GOVERNOS ESTADUAIS PODEM FAZER PELA EDUCAÇÃO?
Alexandre Schneider

O cenário educacional a ser enfrentado nos estados é o mais complexo e desafiador desde a redemocratização

Em breve as eleições ocuparão mais do que a agenda dos políticos e da imprensa, chegando às mesas das famílias e às rodas de amigos. A educação, um tema que tradicionalmente é relegado às listas de obras ou a platitudes como "valorizar o professor", merece atenção dos candidatos aos governos de estado, seja na campanha, seja em seus planos de governo.

O cenário educacional a ser enfrentado nos estados é o mais complexo e desafiador desde a redemocratização. Estamos presos à agenda do século passado, os efeitos da pandemia ainda serão sentidos nos próximos anos e há necessidade de redefinir o papel dos governos estaduais na educação.

Desde o início dos anos 2000 a aposta dos governos era a de que bastava a elaboração de um bom currículo, a adoção de materiais estruturados para alunos e professores, avaliar o desempenho dos estudantes periodicamente e reduzir a evasão e retenção dos estudantes para que os sistemas educacionais "deslanchassem".

Como responsável pela maior rede municipal da América Latina, que congrega pouco mais de um milhão de alunos, apostei nesta receita. Entreguei indicadores melhores dos que os que recebi, mas percebi que talvez tenha realizado o que no surrado jargão denomina-se "cortar o mato alto", ou realizar mudanças que dão resultados a curto prazo, mas não garantem ganhos contínuos e sustentáveis ao longo do tempo. Em média a história das redes públicas que obtêm sucesso implementando políticas educacionais tradicionais é a mesma. Os resultados da exemplar política de educação integral de Pernambuco, por exemplo, perderam fôlego.

Com a devida ressalva de que essas políticas são necessárias, mas não suficientes, os governos estaduais podem ir além. Em primeiro lugar orientando suas ações para a redução das desigualdades educacionais, que foram ampliadas na última década. Excelência em redes públicas é garantir que todos estejam na escola, no ano escolar correspondente à sua idade, aprendendo. Se o plano de governo dos candidatos e candidatas para a educação tivesse uma frase, esta bastaria.

Transformá-la em realidade significa, por exemplo, que a implementação de escolas em tempo integral não pode ser realizada "expulsando" estudantes que precisam trabalhar. Aliar a expansão do ensino médio em tempo integral a políticas para a juventude ou à criação de uma bolsa para que os estudantes mais vulneráveis permaneçam na escola são políticas urgentes.

Analisar a implementação do novo ensino médio em seu estado, realizando uma ampla consulta à comunidade escolar —​pais, estudantes, educadores— para corrigir rumos é fundamental. Com raras exceções, os currículos no Brasil são resultado de uma discussão entre grupos de interesse diversos, da qual os principais interessados não participam. Em outras palavras, construímos currículos voltados a "atender o interesse do aluno" sem ouvi-los, nem aos seus responsáveis ou aos seus professores.

Mesmo que sejam responsáveis pela gestão direta de redes escolares, os governos estaduais precisam assumir sua responsabilidade com a educação de seu estado, apoiando os municípios técnica e financeiramente na medida de suas condições.

Apoiar tecnicamente os municípios é mais do que distribuir materiais estruturados para uso dos alunos e professores. Desde o início dos anos 2000, vários municípios compram materiais estruturados de empresas privadas ou utilizam materiais produzidos por organizações não governamentais. Com mais ou menos sucesso, os fracos resultados da educação brasileira pré-pandemia falam por si.

O programa de apoio à construção de creches do estado de São Paulo é um excelente exemplo de colaboração entre estado e municípios. Criado em 2011, deu impulso à ampliação de vagas em creche no estado, combinando o bom controle da execução dos recursos com a facilidade de repasse aos municípios, responsáveis por essa etapa de ensino.

Criar câmaras regionais para discutir questões comuns entre o estado e os municípios é outra política importante. A relação entre muitos estados e seus municípios na educação se restringe ao repasse insuficiente de recursos para o transporte e alimentação escolar. As câmaras podem ser espaços importantes para a resolução de problemas locais e avançar em um regime de colaboração transparente. Não teríamos milhares de alunos fora da escola em São Paulo no início deste ano letivo se o planejamento da implementação das escolas em tempo integral tivesse sido realizado em parceria com os municípios.

A promoção da melhoria contínua e sustentável da aprendizagem se dará se —​ao lado das políticas tradicionais— investirmos na formação continuada dos professores. Ao longo das últimas décadas, este foi um assunto na maioria das vezes negligenciado, mesmo com uma robusta literatura acadêmica sobre sua importância e sobre as melhores práticas na área.

Os governos estaduais podem colaborar criando centros regionais de formação de profissionais da educação em parceria com municípios e universidades, voltados ao desenvolvimento profissional dos educadores e ao fortalecimento da capacidade local em desenhar e implementar programas de formação que respondam aos desafios de seu contexto.

Por fim, o enfrentamento dos efeitos da pandemia na educação não deve ser circunscrito apenas à questão da recomposição das aprendizagens. Há um outro componente sobre o qual venho alertando há mais de um ano, que é o da saúde mental, dos estudantes e dos professores. Multiplicam-se os casos de violência, ameaça, indisciplina, depressão, dificuldade de concentração nas escolas. Os estudantes tiveram sua vida "suspensa" por dois anos, privados não só de frequentar a escola, mas do convívio social.

Os professores, que tiveram sua carga dobrada no período pandêmico, também precisam de apoio e cuidado com sua saúde. Não seria surpresa se as licenças médicas de educadores fossem muito superiores neste ano em relação aos anos anteriores. Os próximos governadores terão que lidar com essa questão e seria bom que assumissem com uma proposta clara para ampliar os cuidados com a saúde mental dos docentes e dos estudantes.

As mudanças estruturais na economia e na sociedade, a dura herança deixada pela pandemia e a elevada desigualdade educacional brasileira exigirão dos governos e da sociedade a solução de desafios educacionais do século passado e o desenho de novas políticas públicas educacionais com olho no futuro.

As lideranças que ocuparão os governos estaduais a partir de 2023 terão mais sucesso nessa missão se investirem em uma colaboração real com os municípios e as comunidades escolares e, sobretudo, se apostarem na capacidade dos profissionais da educação. É hora de ir além do feijão com arroz.

Fonte: Folha de S. Paulo
É permissível a cada um de nós morrer pela sua fé, mas não matar por ela. (Hermann Hesse)

LUGARES

MARBELA - ESPANHA
Marbella é uma cidade e área turística situada na Costa del Sol, no sul da Espanha, que faz parte da região da Andaluzia. A cordilheira Sierra Blanca é o pano de fundo de 27 km de praias de areia do Mediterrâneo, mansões, hotéis e campos de golfe. A oeste da cidade de Marbella, La Milla de Oro (Milha de Ouro), com casas noturnas de prestígio e propriedades costeiras, leva à marina de Puerto Banús, repleta de iates luxuosos e cercada por lojas e bares sofisticados. ― Google

NADA NA PALMA DA MÃO

NADA NA PALMA DA MÃO
Martha Medeiros

Flashes de uma vida remota, quando não existia celular para avisar que o voo estava atrasado, que o combinado estava descombinado

Era para eu ter aterrissado em Porto Alegre às 21h, mas não havia teto para pousar e o avião teve que retornar a Florianópolis. Chegando lá, os passageiros não foram autorizados a deixar a aeronave. Passado um tempo, nova decolagem, e então sim, aterrissamos em Porto Alegre, quase 1h da manhã. Ao abrir a porta do meu apartamento, parecia uma festa surpresa, tinha primo que eu não via há anos, mas não era festa, e sim reforços convocados para acalmar minha mãe.

Fomos, uma colega de aula e eu, passar o domingo num sítio com uma turma que não era a nossa. O combinado era voltarmos à tardinha, mas o pessoal resolveu jantar por lá mesmo. As horas passavam, não havia telefone na casa, nós nem sabíamos exatamente onde estávamos, a informação que havíamos deixado com nossos pais era muito vaga: em algum ponto passando Viamão. Quando voltei, perto da meia-noite, havia um carro da polícia diante do meu edifício, prestes a iniciar as buscas.

Ele havia ficado de vir almoçar comigo ao meio-dia, mas não apareceu. Às 14h, eu continuava esperando. Às 16h, eu ainda não sabia dele. Às 22h, ele telefonou de um orelhão dizendo que, bem na hora que estava saindo de casa, um tio apareceu com a pior notícia do mundo. Ambos pegaram a estrada imediatamente para São Borja, a tempo de chegar para o enterro de seu irmão, que havia falecido naquela manhã. Minha aula terminava às 17h30. Ao sair pelo portão do colégio, eu logo enxergava o carro dele estacionado. Naquela tarde chuvosa, não. Esperei. Minhas colegas passavam por mim, davam tchau, e eu esperava. Alguns professores passavam, perguntavam se estava tudo bem, e eu mentia que estava. Começava a anoitecer e eu ainda aguardava meu pai, cujo carro havia quebrado numa rua distante, onde os táxis passavam todos ocupados.

Eu estava pela primeira vez em Barcelona, havia chegado com minha mochila no primeiro trem da manhã. Caminhei o dia inteiro, até encontrar um hostel baratinho para passar a noite. No Brasil, seria uma terça-feira como outra qualquer, mas eu estava viajando sozinha pela primeira vez, estava descobrindo o mundo, estava cansada e cheia de planos, e só pouco antes de cair no sono é que lembrei que era aniversário da minha melhor amiga.

Flashes de uma vida remota, quando não existia celular para avisar que o voo estava atrasado, que o combinado estava descombinado, que era preciso um substituto urgente para buscar o filho na escola, que mesmo do outro lado do oceano a gente jamais esqueceria de uma data tão importante como o dia em que nossa melhor amiga nasceu. Só quem viveu lembra a aventura que era estar num mundo sem localizador, sem mensagens de áudio, sem WhatsApp: nada na palma da mão, a não ser o coração.

Fonte: O Globo

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 24 de abril de 2022

PARA NÃO DESISTIR DA VIDA

PARA NÃO DESISTIR DA VIDA
Paulo Pestana

Alain Delon vai morrer. Aliás, todos vamos. Mas o ator francês quer escolher a hora de partir desta para a melhor, desafiando o destino. Já fez até um bilhete de despedida, nos moldes dos que são feitos pelos condenados ou suicidas. Delon se condenou por sofrer de velhice e vai se colocar no paredão da eutanásia.

Sem julgamento, não é fácil envelhecer; mas como dizem amigos de idade mais vetusta, a alternativa é pior. São pessoas que continuam de bem com a vida. Encontram ânimo para levantar da cama todos os dias para, depois da hidroginástica, caminhar algumas centenas de metros até a banca do Cordeiro para uma conversa fiada e, quem sabe, um copinho de cervejinha até chegar a hora do almoço. Os mais serelepes voltam à tarde.

É uma vida mais contemplativa, embora sejam todos bem informados; os assuntos do dia estão sempre em pauta. Mas são senhores ativos, dispostos a encarar a vida senão com o vigor de antes, com mais altivez, sabedoria e até alguma rabugice, porque ninguém é de ferro.

Nem todo velho é inteligente, sagaz ou bom conselheiro. Como já lembrava Ruy Barbosa, “não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem” – e não mudam, pode-se completar. Mas eles têm sempre algo a oferecer, seja pela longevidade ou por não terem mais nada a provar para ninguém.

Delon desistiu da vida. O passado de glamour cobrou seu preço e ele não soube enfrentar a vida depois de encerrado o sex appeal como sua conterrânea Brigitte Bardot, mais uma prova de que as mulheres têm muito a nos ensinar. Até os homens se rendiam à beleza de Delon em filmes como O Sol Por Testemunha, que o mostrou para o mundo. Mas Bardot sempre foi mais encantadora, especialmente em …E Deus Criou a Mulher.

(Bardot de vez em quando pisa na bola, mas mostra vitalidade quando defende os animais, mesmo ofendendo povos inteiros como selvagens. Como ocorreu com os habitantes da ilha de Reunião, no Pacífico, classificados como selvagens por, alegadamente, usarem cães e gatos como isca na pesca. Mas isso é outra história e só mostra que ela, como os meus amigos do Lago Norte, encontrou um objetivo na tal melhor idade).

Aqui em Brasília e recentemente, um amigo foi ao médico para fazer um checape da cabeça; andava zonzo, esquecido, com dificuldade de pensar. Sintomas de idade avançada. E como tem a sogra em casa com mal de Alzheimer achou melhor se prevenir.

Fez exames, chapas, testes e não achava nada, até que lhe foi recomendado um outro médico, com consultório no Conjunto Nacional e fama de gênio, incluindo a porção de louco que esses carregam. O especialista olhou todos os papeis, filmes, mirou meu amigo apertando os olhos, girando a cabeça, pensativo, até que deu o diagnóstico.

Explicou tecnicamente o que estava se passando com palavras que um leigo não consegue entender. E enquanto falava, não franzia o cenho, nenhum esgar ou qualquer demonstração de empatia. Era um homem sem tato falando de uma situação gravíssima. O amigo fez cara de quem não entendia nada.

A cara de enfado do doutor não mudou. Mas a explicação assumiu um rumo mais ríspido:

– Você já viu um bolo queimado? Pois é assim que o seu cérebro está. Tem algum miolo por dentro, mas a casca está dura, torrada.

Meu amigo entendeu. Não sabia se ficava indignado com a rudeza do médico, com a gravidade do diagnóstico ou com a sutil insinuação que ele tinha miolo mole. Mas não quer saber de desistir da vida: vai procurar um médico com melhor noção de culinária.

Publicado no Correio Braziliense em 17 de abril de 2022

O LORDE DO ROUPÃO

O LORDE DO ROUPÃO
Fernando Albrecht

Entre os vários personagens da Porto Alegre dos anos 1970 e 1980, havia um senhor distinto de meia idade, aparentando ser um nobre desgarrado. Sempre de terno e gravata caprichosos, tinha até um roupão com o anagrama da família.

Na época, integrantes da famosa Mesa Um do Restaurante Dona Maria, na rua José Montaury, iam para a Sauna Guaíba após lauta refeição, às sextas-feiras. E sempre o víamos lá com seu roupão inglês. A bem da verdade, não era uma sauna do tipo que vocês estão pensando, era sauna mesmo.

O cara parecia um lorde. Era conhecido como Bom Marido. Diziam que era estancieiro forte.

Certo dia, ele sumiu. Alguns meses depois, reapareceu com uma história a tiracolo.

Contou que conhecera uma bela fazendeira e depois de arrufos iniciais, foram morar juntos em um pequeno apartamento na cidade. Convicto que, a partir dali, viveria com o burro na sombra. Para todos os efeitos, ele era um homem de posses. Semanas depois, a ficha caiu.

Estavam os dois jantando e bebendo a última garrafa de vinho bom no apê com poucos móveis, quando a cruel realidade veio à tona. Ela ergueu a taça.

– Me enganei.

Ele também levantou os taça.

– Eu também.

Fortunas, quando são falsas, desaparecem em seguida.

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
O rock já não é rebelde, pois, hoje, pais e filhos o escutam juntos. (Mick Jagger, cantor inglês)

LUGARES

COLONIA DEL SACRAMENTO - URUGUAI
Colonia del Sacramento é uma cidade no sudoeste do Uruguai, do lado oposto do Río de La Plata de Buenos Aires. É conhecida pelo Barrio Histórico calcetado e repleto de edifícios da época em que era uma colonização portuguesa. Acima do bairro histórico, encontra-se o farol Colonia del Sacramento, do século XIX, que oferece vistas arrebatadoras para o rio. Nas proximidades, encontramos o Portón de Campo, um vestígio das antigas muralhas da cidade. ― Google

MONTE TESTÁCCIO

MONTE TESTÁCCIO: REMANESCENTES DE UM ANTIGO COMÉRCIO
Laura Aitken-Burt

É sabido que o amor pelo azeite não provém apenas da moderna cozinha mediterrânea, mas também era um alimento básico na dieta dos antigos. Há séculos os olivais ocupam vilas e fazendas no interior da Grécia, Espanha e Itália, como ainda hoje.

Uma das lembranças mais vívidas do próspero comércio de azeite na Antiguidade é o Monte Testaccio em Roma. À primeira vista, pode parecer simplesmente uma colina, muito parecida com as outras sete em Roma que circundam a cidade. Mas quando você passa pelos portões da Via Zabaglia, logo fica claro que este não é um monte comum; é inteiramente feito pelo homem com os restos de cerca de 53 milhões de ânforas de azeite de oliva esmagadas.


Então, por que há tantos fragmentos de ânforas em um só lugar? Em primeiro lugar, o local do monte na margem leste do Tibre está localizado perto do Horrea Galbae - um enorme complexo de armazéns controlados pelo estado para o abastecimento público de grãos, bem como vinho, alimentos e materiais de construção. Como os navios vinham do exterior trazendo suprimentos de azeite, as ânforas de transporte eram decantadas em contêineres menores e os navios usados ​​descartados nas proximidades.

Tem uma razão para isso: devido à argila utilizada para fazer as ânforas não ser forrada com esmalte, após o transporte do azeite, as ânforas não puderam ser reaproveitadas porque o azeite criava um odor rançoso no tecido da argila.
 
Os fragmentos de ânforas antigas que compõem o Monte Testaccio

Subindo a Rampa Heinrich Dressel, em homenagem a um falecido estudioso alemão que estudou ânforas extensivamente, é incrível pisar em tantas evidências de uma civilização antiga. Do topo da colina de 36 metros (118 pés) de altura, também há uma bela vista do horizonte de Roma.

A Universidade de Barcelona está atualmente investigando a colina, procurando selos de ânforas ou tituli piniti o que poderia indicar a origem precisa de alguns dos navios e o conteúdo dentro deles. O tipo de argila usada para fabricar as ânforas também pode dar uma indicação de sua origem. A maioria dos navios deste monte data dos séculos II e III dC de Baetica (Andaluzia na Espanha) e norte da África.

Isso indica uma rede ativa de comércio e transporte através das colônias do Império Romano e uma grande demanda por azeite de oliva na capital - mais de 6 bilhões de litros de azeite teriam sido transportados nessas embarcações para atender às necessidades culinárias desta movimentada cidade de mais de um milhão de pessoas.

Fonte: https://pt.oliveoiltimes.com/world/monte-testaccio-remnants-ancient-trade/46185

GUANTANAMERA

A MARIONETTE IN MANHATTAN 


FRASES ILUSTRADAS

sábado, 23 de abril de 2022

A INDISCIPLINA ESCOLAR NO PÓS PANDEMIA E OS ROBÔS

A INDISCIPLINA ESCOLAR NO PÓS PANDEMIA E OS ROBÔS
Claudia Costin

Não queremos na educação disciplina e ordem que robotizem nossos jovens

Num painel de que participei há alguns dias, um professor perguntou o que fazer frente a um aumento visível na indisciplina dos alunos, fato constatado por inúmeros educadores logo após a euforia pelo reencontro com os colegas na volta às aulas presenciais.

De fato, segundo relatos de gestores escolares, muitos incidentes de agressão, explosões de raiva e insatisfação ocorreram depois de certo tempo de retomada das aulas. Além disso, de acordo com pesquisa recente do Instituto Ayrton Senna na rede estadual paulista, 75% dos estudantes declararam-se irritados, ansiosos ou tristes em função do isolamento vivido.

Não há receituário fácil para um professor lidar com isso, afinal sua atuação é limitada aos contornos do seu fazer profissional. Foi oportuna, nesse sentido, a aprovação da lei 13.935, que estabelece que redes públicas terão que contar com serviços de psicologia. Aprovado em dezembro de 2019, pouco antes da pandemia, o dispositivo legal pode ajudar nesta situação de crise, resultante, ao que parece, do prolongado isolamento dos adolescentes, expostos seja à violência doméstica, seja à ausência dos pais, que tinham que buscar alguma fonte de renda para alimentar a família, mesmo que em serviços precarizados.

Para além do necessário suporte psicológico, conversas com os alunos podem ajudar. Os professores também viveram situações assemelhadas, e compartilhar suas dificuldades não os rebaixa; ao contrário, coloca-os como ouvintes empáticos. Outra abordagem que pode ajudar é a de trabalhar com aprendizagem baseada em projetos, integrando diferentes disciplinas e inclusive tematizando com a própria Covid.

Mas, ao ouvir a pergunta do professor, lembrei-me de várias escolas de ensino médio que visitei no agreste de Pernambuco, onde o que mais me chamou a atenção foi exatamente o oposto do quadro descrito pelo mestre. Os jovens pareciam engajados com as aulas, animados ao interagir no recreio e falantes ao me explicar o que estavam aprendendo. O segredo? Uma ideia proposta pelo grande educador brasileiro que inspirou aquelas escolas, Antônio Carlos Gomes da Costa: quando os alunos se descobrem portadores de sonhos de futuro e os convertem em projeto de vida, tornam-se protagonistas de sua própria aprendizagem, e a disciplina aparece não por imposição de cima para baixo, mas como um requisito para construir o que desejam.

Em tempos de robôs substituindo humanos na presente revolução digital, roubando-lhes tanto a empregabilidade como o futuro, tudo o que não queremos é uma escola com uma disciplina e ordem que robotize nossos jovens.

Fonte: Folha de S. Paulo
Aquele que se casa por dinheiro, tem pelo menos um motivo razoável. (Gabriel Laub)

LUGARES

MOSCOU - RÚSSIA
Moscou, situada às margens do rio de mesmo nome, no oeste da Rússia, é a capital cosmopolita do país. Em seu núcleo histórico está localizado o Kremlin, um complexo que abriga a residência do presidente e tesouros czaristas no Palácio do Arsenal. ― Google