MACACO NÃO MENTE*
Cientistas americanos descobriram que chimpanzés têm 99,9% dos genes humanos. Assim, acham que não são nossos primos, mas nossos irmãos. E querem mudar a classificação da espécie e uni-la à humana. Chimpanzés e nós seríamos da mesma turma, os Homos. Mas não acho que somos tão próximos assim dos macacos. Sempre nós achamos no topo da criação como anjos decaídos, seres espirituais, animais racionais, e, abaixo de nós, a tigrada, a macacada toda. Não é o que pensa um filósofo como Nietzsche que considera o pensamento ou a linguagem apenas mecanismos de defesa, como o veneno da cobra ou cheiro de gambá.
O psicanalista Lacan nos considera com defeito de fábrica, com um buraco entre nós e a natureza que tentamos preencher com a linguagem. Mas, mesmo sem papo cabeça, macaco mata sem motivo? Macaco se acha superior a nós? Macaco até mete a mão na cumbuca, mas não rouba o dinheiro público. Macaco não mente, não passa cheques sem fundo, não inventa deuses e, pelo que se sabe, ainda não há macacos-bomba, nem macacos com orçamento militar de R$ 500 bilhões de dólares falando em democracia.
Macaco rouba filhote de homem para vender, como fazemos com filhotes de chimpanzés? Fazer um upgrade de macaco não adianta nada para impedir sua extinção como espécie. Macacos são bichos felizes, sem neuroses. Não podemos nos comparar a eles. Seria uma ofensa aos macacos. Se eles falassem, diriam: "Humano não, hein. Humano é sua mãe!"
*Texto de autoria do Arnaldo Jabor, extraído do livro "Amigos ouvintes".
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