Pedro Hallal
Quem dera nossos políticos fossem que nem a variante ômicron
Logo que surgiu, a variante ômicron parecia um político em momento eleitoral: chegou cheia de promessas. Em primeiro lugar, prometia ser a versão mais transmissível do coronavírus até então. Além disso, prometia ser menos agressiva do que as versões anteriores do vírus, e a combinação desses fatores, sugeria que a onda da ômicron seria mais curta do que as anteriores.
Mas a ômicron começou a mostrar suas diferenças em comparação aos políticos rapidamente. Em curto espaço de tempo, ela infectou uma quantidade recorde de pessoas, no Brasil e no mundo, cumprindo sua primeira promessa. Alguns chegaram a dizer que a ômicron teria sido a versão de um vírus que se espalhou rapidamente na história da saúde global.
Esse aumento explosivo do número de casos ligou o sinal de alerta em todos. Se com a baixa capacidade de testagem no Brasil os números eram aqueles, imaginem quais os números reais? Mas, felizmente, a ômicron também cumpriu sua segunda promessa: o aumento no número de casos não veio acompanhado de aumento, na mesma proporção, do número de óbitos. Começou então um debate se isso seria uma característica da variante (seria ela menos agressiva realmente?) ou uma característica da população (seria a menor agressividade explicada pelo maior percentual de vacinados?).
A verdade é que o menor número de óbitos pela ômicron é decorrente dos dois fatores. Estudos mostraram que, sim, a ômicron é realmente menos agressiva do que as versões anteriores do vírus, mas também ela encontrou uma população mais imunizada, o que dificultou a sua vida.
Rapidamente, se multiplicaram os estudos mostrando que pessoas vacinadas tinham risco muito menor de mortalidade pela variante ômicron em comparação aos não vacinados. Em alguns lugares, como os Estados Unidos, a onda da ômicron ficou conhecida como a pandemia dos não vacinados.
A terceira promessa da ômicron era que sua onda seria mais curta do que as observadas para as variantes anteriores. Vários pesquisadores rodaram modelos preditivos e estimavam que a onda da ômicron seria mais rápida. Dito e feito. Depois da explosão de casos no início do ano, o Brasil já completa um mês de queda na média móvel de mortes.
Isso significa que podemos celebrar e fingir que a pandemia acabou?
Claro que não. Mesmo em queda, a média móvel ainda registra que morrem quase 200 brasileiros diariamente de uma doença para a qual já existe vacina. Estivéssemos atuando adequadamente, poderíamos estabilizar rapidamente a média móvel em dois dígitos, abaixo de cem mortes por dia.
Os mesmos que mentiram para a população que a Covid-19 era só uma gripezinha...
Os mesmos que mentiram que seriam menos de 800 mortes no total no Brasil...
Os mesmos que mentiram que a pandemia já estava acabando, ainda no primeiro semestre de 2020...
Os mesmos que se recusaram a usar máscaras...
Os mesmos que mentiram sobre imunidade de rebanho...
Os mesmos que deixaram faltar oxigênio em Manaus...
Os mesmos que debocharam dos seus amigos e familiares que morreram com falta de ar...
Os mesmos que mentiram que cloroquina e ivermectina resolviam o problema...
Os mesmos que mentiram (e ainda mentem) que a vacina era experimental...
Os mesmos que mentiram que o vírus era um projeto da nova ordem mundial...
Esses mesmos seguem mentindo para vocês, até hoje.
Fonte: Folha de S. Paulo
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