UM SANTO ENGANO
Fernando Albrecht
O jornalista Sebastião Nery, um mineiro que conseguiu a proeza de ser vereador pela Bahia, deputado estadual por Minas Gerais e deputado federal pelo Rio de Janeiro, é o maior contador de causos políticos do país. Disparado. No seu livro “Folclore Político”, relata um episódio do início dos anos 60, quando uma comitiva da Câmara Municipal de Santos veio a Porto Alegre conferir a entrega do título de Cidadão Santista ao governador Leonel Brizola.
A caravana veio num DC-3 da Varig, que enfrentou um temporal medonho e um dia inteiro de viagem. Os vereadores chegaram à noite, mareados e exaustos. Pior: na chegada, ficaram sabendo que havia morrido o presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre. Em vez de festa, velório.
E lá estavam todos sentados em volta do caixão exposto na Câmara de Vereadores, que naquele tempo ficava no prédio da chamada Prefeitura Nova da Siqueira Campos. Contritos como a situação exigia, vararam a noite. Cansado, o presidente da colenda santista pegou no sono. Começou a roncar. Um diligente assessor da mesa diretora da Câmara Municipal bateu de leve no seu ombro. O homem acordou, sobressaltado, vendo uma cuia de chimarrão bem na sua cara.
– É a sua vez.
Sem conhecer o amargo gaúcho, o vereador santista tirou a bomba da cuia, levantou e com ela aspergiu solenemente o defunto. Pensou que era água benta.
Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
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