Hélio Schwartsman
Quem devemos ouvir na gestão de riscos?
A tragédia em Petrópolis é uma daquelas que já estavam anunciadas. E há inúmeras outras áreas no Brasil em situação parecida. Quem devemos ouvir na gestão de riscos?
Seres humanos somos péssimos em avaliá-los. Morremos de medo de cobras e tubarões, mas não hesitamos em fumar ou trafegar em alta velocidade. O problema é que os circuitos emocionais do cérebro, que nos motivam a agir, ficaram estacionados no Pleistoceno, quando eram animais peçonhentos e predadores que nos tiravam do rol dos viventes, e os perigos atuais são mais bem captados por estatísticas, que não nos emocionam a ponto de tomar atitudes.
Para Paul Slovic, talvez a maior autoridade mundial em análise de risco, somos prisioneiros de nossas intuições, e é bobagem trazer especialistas para tentar mudar o jogo. Os especialistas também têm seus vieses, mas sabem matemática o bastante para fazer parecer que falam de realidades objetivas. Segundo Slovic, não existe risco objetivo.
Por vezes, o senso comum até fornece refinamentos que os especialistas são incapazes de computar. Por exemplo, a morte do sujeito que assumiu o risco de saltar de asa delta não deve ser tratada do mesmo modo que a morte do sujeito que estava quieto no seu canto quando uma asa delta caiu sobre sua cabeça. Para Slovic, o melhor a fazer é aceitar essas limitações e aproveitar situações de comoção para apertar as regulações mais óbvias. O progresso vem entre pânicos.
Cass Sunstein, outro renomado expert, discorda. Para ele, especialistas têm algo a ensinar. Mesmo que não exista risco objetivo, a contagem bruta de cadáveres é um parâmetro relevante. Diminuir a pilha de mortos sempre vale a pena. Mais, a análise do especialista pode fazer com que não se desperdicem recursos públicos em soluções ineficazes apontadas pelo senso comum, que os políticos tendem a seguir.
Sem deixar de admirar os argumentos de Slovic, pendo para Sunstein.
Fonte: Folha de S. Paulo
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