ONDA QUE VAI, ONDA QUE VEM
Fernando Albrecht
Há uma febre saudosista no ar, mercê destes tempos bicudos de vaca não reconhecer terneiro. Tudo que vemos e tocamos é produto de modernismo sem alma, com DNA de petróleo, aquela coisa viscosa que mata tudo em que repousa.
Temos saudades do sanduíche aberto de respeito, da Grapette e da Laranjinha, do perfil com molho do Matheus, da picanha do Rancho Alegre, da pizza do El Molino, do croquete da Caverna do Ratão, do sanduíche aberto dos bar-chopes, dos filmes, dos sapatos Samello, Clark e Terra. Até das fedorentos camisas Volta ao Mundo e das blusas banlon, da capa Tropeiro e das gurias que ficaram na frente da Sloper na Rua da Praia.
Saudades dos cinemas Cacique, Imperial, Guarani e Rex. Dos filmes com finais felizes, sem ranço social. Das bombenieres que vendiam Bastão de Leite com sabor de amêndoas torradas, do Bauru, do cachorro quente do Zé do Passaporte e, até, do pastel da Rodoviária.
Bons tempos em que viajar para a praia, pela antiga RS 030, com cartão de controle de velocidade em Gravataí, viagem que era metade da diversão com direito ao sonho de Santo Antônio da Patrulha. Das lagoas entre às dunas de Tramandaí, dos meninos gritando “puxá puxá!”, do chope da Taberna do Willy, das noites com o coaxar dos sapos pedindo chuva, dos vaga-lumes que a criançada botava em vidrinhos, dos pés-de moleque. Do cheiro da maresia – que se sentia a quilômetros da praia-, de curtir os carros entrando no braço morto de Imbé. Do cheiro de sardinha e do churrasco assado lentamente. Da vida entre o mar e o bar, das noites enluaradas sem vento que queríamos eternas, segurando a mão da namorada, dos bailes de rosto colado sob o olhar severo dos pais da moça, dos ataques furtivos entre a calçada e algum canto da casa, carícias que nos enlouqueciam e fariam as mães desmaiarem, se vissem a cena.
Éramos jovens então. O mundo não era hostil, e as pessoas davam bom-dia. O ranço ideológico era coisa de mal-amados e dos que nasciam de mal com o mundos. Tínhamos tristezas também, mas o tempo as curava. Pela frente, a esperanças; para trás, a desesperança. O tempo passou. E as esperanças ficaram para trás.
Fonte: http://fernandoalbrecht.blog.br
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