quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

ELES SÓ PENSAM NAS ELEIÇÕES

ELES SÓ PENSAM NAS ELEIÇÕES
Pedro Hallal

Enquanto isso, o povo rema contra a maré todos os dias

A distância entre as prioridades de Brasília e as prioridades do resto do Brasil não é novidade para ninguém. Mas nesse ano de 2022, talvez estejamos vivendo o momento de maior distanciamento entre os interesses de uma minoria (políticos) e os interesses do povo brasileiro.

No meio político, só se fala nas eleições de 2022. Além disso, a grande maioria das ações dos pré-candidatos são pensando no seu voto, e não na sua vida. Pesquisas de intenções de votos são tratadas como prioridade, e mudam o comportamento dos pré-candidatos e de seus partidos. Os mais bem posicionados no cenário eleitoral já começam a enfrentar a barganha por cargos e benefícios futuros em troca de apoio.

Enquanto isso, entre o povo, as prioridades são completamente diferentes:
  • O Brasil voltou a frequentar o mapa mundial da fome, e muitas famílias têm como principal prioridade garantir comida na mesa para seus filhos.
  • O poder de compra dos brasileiros foi devastado durante essa pandemia. Comprar carne virou sinônimo de riqueza e os preços nos supermercados estão cada vez mais distantes do salário dos brasileiros.
  • Milhões de famílias brasileiras estão em busca de emprego, enquanto o país enfrenta um dos maiores percentuais de desemprego da sua história recente.
  • Aqueles que conseguiram comprar um carro, ou uma moto, têm dificuldades de utilizá-los, pois o preço do combustível é incompatível com sua renda.
  • Os brasileiros cujos negócios ou o lazer dependem do câmbio estão "lascados", visto que o preço do dólar é o mais alto desde o surgimento do Real.
  • Com a chegada da ômicron, os brasileiros, que já estavam convivendo com uma realidade menos assustadora da pandemia de Covid-19, voltaram a conviver com mortes diárias na casa de três dígitos.
  • Diariamente, os brasileiros recebem uma enxurrada de notícias falsas, lançando dúvidas sobre a segurança e efetividade das vacinas contra Covid-19, e insistindo em tratamentos fajutos como melhor maneira de enfrentar a pandemia.
  • Mães e pais vivem dilemas diários, sobre levar ou não os filhos para a escola, sobre vacinar ou não suas crianças, apavorados com a pandemia e com as notícias falsas que circulam diariamente sobre os imunizantes, muitas delas vindas dos próprios médicos, que abandonaram de vez seu juramento e agora fazem política em seus consultórios.
  • Milhares de famílias brasileiras estão devastadas com a tragédia de Petrópolis, e as prioridades incluem voltar a ter um lugar para morar, encontrar os familiares desaparecidos ou viver o luto por aqueles que perderam a vida.
  • Alguns brasileiros ousam estar preocupados com a crise entre Rússia e Ucrânia, ainda mais quando o Brasil é um pária nas relações internacionais.
  • Milhões de brasileiros enfrentam problemas decorrentes da pandemia, que variam de sofrimento psíquico a dificuldades de aprendizagem. Milhares de jovens estão tendo que aprender a viver órfãos, e crianças estão tendo que se readaptar à escola.
  • Milhões de brasileiros convivem com o que se convencionou chamar de Covid-19 de longa duração, com sintomas que persistem, mesmo após a infecção.
Poderia aqui listar muitas outras prioridades das pessoas no Brasil. Mas parece que essas prioridades agora não são prioridades. Os políticos acham que o povo pode se dar ao luxo de apertar "pause" em suas vidas e voltar a lidar com os problemas somente depois das eleições.

Mas isso não é verdade.

O povo brasileiro precisa de um projeto para o Brasil.

O povo brasileiro precisa de um país que funcione em tempo integral, e não somente em períodos em que as eleições não roubam a prioridade.

E o povo brasileiro somente terá isso quando entender a força que tem.

Fonte: Folha de S. Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário