domingo, 23 de janeiro de 2022

PODE BEIJAR CRIANÇAS NA BOCA?

PODE BEIJAR CRIANÇAS NA BOCA?
*Por Dr. Marcone Oliveira

Há um consenso entre médicos e especialistas quando a questão da saúde entra como argumento para se evitar o beijo na boca de criança; Hábito muito comum entre algumas famílias, quando os pais, como forma de afeto, trocam “selinhos” com seus filhos. Isso porque já foi comprovado que existe sim, o risco de se transmitir infecções dos adultos para os seus filhos. Afinal, a boca, principalmente de uma pessoa adulta, contém microrganismos como bactérias, fungos e vírus.. Então, só por questões de higiene e saúde, os pais deveriam buscar outras alternativas de demonstração de afeto para com os seus filhos.

Há sim as questões sanitárias, de doenças transmissíveis como a herpes vírus ou a mononucleose, conhecida como a doença do beijo, causada pelo vírus Epstein-Barr, além de outras viroses que são transmitidas através da troca de saliva, do beijo na boca.

Mas as questões não param por aí. Há também o risco comportamental, uma vez que, culturalmente, para nós brasileiros o beijo na boca está sempre dentro de um contexto sexual, e para uma criança, ao ser inserida precocemente dentro desse contexto, pode deixa-la confusa quanto ao seu papel e lugar, primeiramente, dentro da relação com os pais, e depois nas relações sociais.

A criança está em um processo de formação, e ela vai imitar os seus pais. Nesse processo ela deverá aprender que existem diferenças nas relações entre as pessoas da família, coleguinhas de escola e outras pessoas.

Outro comportamento comum, porém, prejudicial, é quando o pai ou a mãe decidem assumir o papel do amigo ou da amiga de seus filhos, deixando de lado o papel de pai e mãe, cuja função é preparar e educar a criança para a vida . É a partir das relações familiares que a criança aprenderá a se relacionar socialmente.

No Brasil, culturalmente, é muito aceito que crianças possam beijar na boca, apesar do contexto erótico. Entretanto há várias considerações que devem ser feitas em relação a esse comportamento. Essa cultura vem desde pais que ficam beijando na boca de seus filhos e filhos que beijam na boca dos pais, e a partir daí as crianças passam a beijar na boca de outras crianças. Quando um pai faz isso, ele está ensinando para a criança que isso é normal, que pode se beijar na boca de outra pessoa, e que um adulto pode beijar na boca de uma criança. E isso pode trazer algumas complicações; uma delas é a possibilidade dessa criança ser abordada por um adulto que vai manifestar o desejo de beijá-la, e essa criança vai aceitar como algo natural. E isso vai coloca-la sempre em uma situação de vulnerabilidade –ou seja, mesmo não havendo má intenção dos pais, a criança fará disso uma prática comum, mesmo com outras pessoas que podem não ter boas intenções.

Outro comportamento que acaba sendo incentivado é o selinho entre crianças, seja da mesma família ou não. Por mais “fofo” que pareça ver duas crianças trocando selinhos, esse comportamento acaba se tornando automático e a criança não verá problema nenhum em reproduzir esse comportamento com qualquer outra pessoa. Por traz de toda a “inocência”, a erotização se mantém, a sexualização precoce acontece e isso acaba prejudicando a formação da criança.

Quando uma criança aprende a beijar na boca, em casa, ela vai querer beijar o coleguinha, a coleguinha, na escola também, podendo acarretar outros problemas. A minha orientação como médico é: não ensine a criança a beijar na boca, não permita que ela beije na boca de outras crianças e não beije na boca de seus filhos. Dê o exemplo. A primeira coisa que temos que orientar é que beijo na boca é coisa de adulto. Criança não beija na boca, não é natural. E com isso é preciso ensinar a criança que nenhum adulto deve beijá-la na boca. E ensinar que, se algum adulto quiser fazer isso, ela tem que dizer ao adulto que não pode, e contar sobre o ocorrido ao papai e à mamãe. Então, além da questão sanitária, também precisamos considerar a sexualização precoce da criança com esse comportamento.

* Especialista, Médico, Neuropediatra e Orientador de Pais. Atualmente é diretor Clínico da Clínica Proevoluir – Médico Neuropediatra. É pai do Augusto e da Olga.

Fonte: http://fernandoalbrecht.blog.br

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