Ruy Castro
Redescoberto por toda uma nova geração, sua produção não está dando para a procura
Em meados dos anos 90, as gravadoras começaram a converter seus catálogos de LPs em fabulosas edições em CD. Eram CDs duplos, triplos, quádruplos, estojos com dez discos, caixas com 20 e até malas com a obra completa deste ou daquele, tudo enriquecido com encartes, brindes, pôsteres e livros dentro das embalagens. Era o auge da adesão mundial ao CD. Eu próprio, nas viagens, enchia malas com eles e, a cada volta ao Brasil, temia que a alfândega me tomasse por contrabandista. Evidente que esse material vinha substituir os LPs correspondentes, vendidos aos sebos, doados, jogados fora.
Ao mesmo tempo, ao visitar o jornalista Ivan Lessa em Londres, eu observava sua fidelidade aos LPs que levara 40 anos acumulando. Sua especialidade eram cantores americanos, de Billy Eckstine a Bobby Short, de Lee Wiley a Marlene Ver Planck —milhares de discos, estalando, como que acabados de sair da prensa, capas em perfeito estado. Perguntei-lhe o que ia fazer com eles, e Ivan: "Continuar escutando, claro. Pensa que vou trocá-los por CDs?".
Ivan nos deixou em 2012 e não sei para onde foi sua coleção. Sei que não veio para o Brasil. Muitos eram discos impossíveis, de selos extintos, fora do radar das discografias. Se já eram então sem preço para os colecionadores, imagino o que não valerão hoje, com a volta triunfal do LP ao mercado —segundo li, a produção não está dando para a procura— e a possibilidade de usá-los para reprensagens em vinil 180.
São essas reedições de LPs históricos que estão conquistando toda uma nova geração para um formato que, em 1995, foi dado como morto. Hoje quem está morto é o CD, e me pergunto até quando encontrarei players para tocar os milhares de CDs que também acumulei.
Ainda bem que, logo depois de burramente me desfazer de boa parte de meus LPs, inspirei-me em Ivan e, à custa de anos de busca em sebos e leilões, comprei todos eles de novo.
Fonte: Folha de S. Paulo
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