sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

A TERCEIRA VIA E O ELEITOR DO PARTIDO NULO

A TERCEIRA VIA E O ELEITOR DO PARTIDO NULO
Bruno Boghossian

'Nulistas' convictos e outros grupos que não querem votar em Lula ou Bolsonaro no 2º turno

João Amoêdo votou em Jair Bolsonaro no segundo turno de 2018, convencido de que ele seria "um presidente muito ruim". O empresário diz agora que o governo conseguiu ser ainda pior do que ele imaginava. Numa entrevista à Folha, o ex-presidenciável afirmou que não vai repetir a escolha no ano que vem, mas também se recusa a votar em Lula para derrotar Bolsonaro.

O fundador do partido Novo é um exemplar do eleitor arrependido que rejeita Bolsonaro e está em busca de um candidato alternativo para 2022. Pessimista com a tal terceira via, ele reedita a falsa equivalência que fez sucesso na última disputa e diz que prefere votar nulo se o segundo turno for um confronto entre o atual presidente e o PT.

A mais recente pesquisa do Datafolha mostra como se comportam os eleitores que declaram voto em branco ou nulo num embate direto entre Bolsonaro e Lula. Esse grupo alcança a marca de 10% na simulação de segundo turno em que o petista bate o presidente por 59% a 30%.

Muitos desses eleitores são "nulistas" convictos: 25% deles dizem que também anularam o voto no segundo turno de 2018, entre Bolsonaro e Fernando Haddad. Outros 34% são como João Amoêdo, que votou no capitão há três anos. Só 10% afirmam ter votado no candidato petista, e quase um terço diz não se lembrar do voto da disputa passada.

Quase metade desse grupo quer votar nulo já no primeiro turno de 2022. A outra metade abraça candidatos com o rótulo da terceira via na etapa inicial, mas depois vai às urnas para votar em branco ou nulo.

Os eleitores de Sergio Moro são os que mais migram para o voto nulo num segundo turno entre Lula e Bolsonaro: 30% deles não vão com nenhum dos dois candidatos. Entre os eleitores de Ciro Gomes e João Doria, esse índice fica na faixa dos 20%.

O cenário reflete um sentimento antipetista enraizado numa fatia específica do país. Mais de 60% dos eleitores do partido nulo consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, mas não querem votar em Lula.

Fonte: Folha de S. Paulo
O trabalho é uma invasão da nossa privacidade. (Woody Allen, cineasta americano)

LUGARES

ANNECY - FRANÇA

MR. MILES


SUSTOS
Prezado Mr. Miles: acabo de passar por uma terrível experiência de hospedagem em Mestre, na Itália. O hotel, que escolhi pela internet, ficava ao lado de um inferninho, com música insuportável a noite toda. Fui reclamar e o gerente me disse para lamentar-me com o dono do inferninho. Como evitar experiências assim?
Vasco Ruiz Pomares, por email

Well, my friend, I'm very sorry about you. Sua experiência me faz lembrar uma série de outras, ocorridas com alguns amigos e leitores indignados. São situações recorrentes. A mais divertida delas (ainda que very disgusting) aconteceu com um casal de amigos alemães. Wolfgang e Heidi, viajantes econômicos e autosuficientes, encontraram, na net, um pequeno hotel em Veneza — por acaso bem ao lado da cidade de Mestre que você citou. Era, of course, um prédio antigo. O apartamento que ocuparam, no quarto andar, tinha o piso de tal forma inclinado que Wolfgang e Heidi acabaram tendo relações sexuais não-planejadas. Mas esse foi um benefício inesperado para o casal já de há muito entrado nos sessenta. O que os incomodou foi descobrir que a parede de seu quarto era toda grafitada com frases e desenhos obscenos, como se fosse a cela de uma penitenciária. O casal foi pedir que trocassem seu apartamento para a noite seguinte e, believe me, ouviu do gerente que todos os quartos tinham inscrições parecidas. “Mas vocês não limpam essa sujeira?“, protestou Wolfgang.

“Ma che sujeira? — replicou o funcionário —, Questo è stilo!!!“

Em outras palavras, my friend, bons conselheiros, agentes de viagem confiáveis e publicações com credibilidade ainda são um caminho mais seguro para evitar roubadas. Be careful com home pages repletas de jactância e websites que não exibam opiniões de hóspedes que já visitaram o estabelecimento. Você corre o risco de dormir ao lado de um ninho de camundongos (aconteceu com minha pobre tia Henriette), ou de reservar um seaview room que fica a cinco quilômetros da praia e oferece lindos posters da orla pendurados nos apartamentos. Do you know what I mean?

Ainda assim, é preciso ter cautela. O gerente de meu pub predileto em Dover, Todd Rivers, relatou-me, certa vez, que, foi para Toledo na Espanha com sua beloved Nancy e elegeu um hotel bem avaliado em um website por sua localização, limpeza e tamanho dos apartamentos. Quando chegou ao local, com a reserva devidamente paga, descobriu, however, um banheiro de dimensões tão diminutas que só lhe permitia usar o vaso sanitário com a porta aberta, com os pés, as tíbias e os perônios invadindo o sleeping-room. O pobre Todd, by the way, tem 2 metros e 3 centimetros de altura...

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

NOSSA LYA LUFT

NOSSA LYA LUFT
Fabrício Carpinejar

Lya Luft morreu.

Para quem não entende a gravidade desses sinos tocando em Porto Alegre na manhã de quinta (30/12), é como perder Erico Veríssimo de novo.

É se despedir de uma joia da literatura intimista. É um vazio insubstituível.

Lya que era clássico: "As Parceiras", "Reunião de Família"e "Quarto Fechado" renderem peças e teses.

Lya que era universal a todas as idades, com trinta um livros entre romances, coletâneas de poemas, crônicas, ensaios e infantis.

Lya que era moderna. Tornou as suas reflexões sobre perdas e ganhos um best-seller: vendeu mais de 1,5 milhão de exemplares e foi traduzido em 13 países. Permaneceu por 113 semanas no topo da lista dos mais vendidos.

Lya que abriu caminho para o protagonismo feminino na literatura, mostrando que ela não devia ser uma mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa.

Lya que traduziu Rilke, Virgínia Woolf, Herman Hesse e Thomas Mann, dialogando com a tradição.

Lya que combatia a ideia de que casar era ser feliz para sempre, mas batia na tecla de que casar era continuar sendo.

Lya que nos advertia a agir da mesmo forma sozinhos ou acompanhados.

Lya que compreendia o quanto a coragem já residia em erguer a asa de uma xícara de café e dar bom dia, que as maiores alturas e vertigens são por dentro de nós.

Lya que nos ensinou a não ficar parado no tempo chorando as nossas dores, ela que sofreu o pior dos lutos: a perda do filho.

Lya que nos pedia para avançar apesar das fragilidades, pelas fragilidades.

Lya que amou seus fantasmas como se fossem anjos.

Lya que escapava nas horas vagas para as árvores da infância, convivendo com gnomos e duendes. Ela não somente acreditava neles como eles acreditavam nela.

Lya que não tinha só um amigo imaginário, porém a sua família inteira.

Lya que nos transformava com o seu olhar e nos fixava com o seu pensamento.

Lya que consultava os mapas para seguir o imprevisto.

Lya que sempre dizia que ser amoroso não é estar inteiramente disponível.

Lya que criou casulos com o fio de seda da sua melodia, dançou com as sombras, descortinou a beleza da melancolia.

Lya que subia a escada rolante no sentido contrário, para nos ilustrar o que é a esperança.

Lya que não trocava a maturidade pelas ilusões, que encostava os lábios nas janelas para beijar o vento.

Lya que suportava a vida sem se submeter, aceitava a vida sem se humilhar, entregava-se à vida sem renunciar a si mesma.

Lya que foi lúcida até o último suspiro, respeitando as frutas de cada estação, de cada idade.

Lya que nos lia como ninguém.

Lya que escrevia as suas obras a quatro mãos: ela e o destino. Agora o destino segue a escrita para imortalizá-la.

Texto publicado no jornal Zero Hora, GZH, 30/12/2021

MEDIOCRIDADE EM UM PAÍS DE EDUCAÇÃO MEDÍOCRE

MEDIOCRIDADE EM UM PAÍS DE EDUCAÇÃO MEDÍOCRE
Por Cristiano das Neves Bodart

Certamente você não gosta de ser chamado de medíocre, isso por possuir, tal palavra, uma conotação pejorativa. Mas será que, em relação à educação, você não é medíocre? Já se fez essa pergunta?

Ser medíocre é ser mediano; é estar na média. É estar entre o bom e o ruim. Em outras palavras, é não estar entre os melhores, ainda que também não entre os piores. No caso específico da educação, ser medíocre em um país medíocre, como o Brasil, é ainda pior. Isso é muito sério! A Educação pública brasileira parece ter por objetivo produzir pessoas medíocres em um sistema já medíocre. Observando as constantes mudanças no sistema educacional público de ensino básico, notaremos facilmente um plano medíocre para reproduzir mediocridade. Os exemplos são diversos: níveis de prova, seleção de conteúdos, capacitação de professores, salas de aula cheias, excessos de trabalhos simplistas aplicados aos estudantes, etc.

No caso das provas notamos, digo por experiência de causa, que é praticamente proibido cobrar do aluno o que o professor não falou em sala de aula em relação ao conteúdo dado, o que leva à mediocridade. O professor ao ter que se expressar para 40 alunos, “nivela por baixo” o conteúdo da aula para que todos, ou quase todos, entendam. Transmite assim um conteúdo já medíocrizado. Os alunos, por sua vez, precisam assimilar apenas parte desse conteúdo (às vezes 70%, outras 50%) para ser aprovado naquele mediocrizado conteúdo; isso quando não é orientado que ele participe da Festa de São João, dançando na quadrilha, por exemplo. Esse ato o garantirá mais 20% da nota na prova, precisando apenas aprender 30% do conteúdo mediocrizado pelo professor. Pronto! Aprovado mais um medíocre.

Quanto aos “trabalhos mediocrizadores” a situação é ainda mais crítica. Os trabalhos em sistemas educacionais sérios têm por objetivo exclusivo desenvolver novas habilidades. Não é o caso da prática do ensino básico público brasileiro, com suas exceções, óbvio. Os trabalhos são visto como “meios” para atingir um “fim”: a aprovação do educando. O objetivo não é educar, mas aprovar, ampliar a popularidade política dos secretários de educação, via dados estatísticos frios.

Trabalhos em grupo onde o educador sabe que apenas um educando fez e os demais tiveram seus nomes inclusos; plágios de conteúdos disponíveis na internet; trabalhos elaborados por terceiros; trabalhos banais, como trazer objetos e materiais para aula… esses abarrotam as escolas de medíocres. Estudantes que serão aprovados sem conhecimento sólido. Alguns ainda ficam retidos por não atingir, mesmo com toda essa mediocridade, a média (que como diz a própria nomenclatura, é também medíocre). A esses são dadas três aulas e aplicado um conteúdo “hipermediocrizado”, devendo “tirar a média” para serem aprovados. Pronto! Aprovados mais alguns medíocres.

Quanto à seleção de conteúdos, notamos igualmente uma mediocridade profunda. Os conteúdos raramente ultrapassam os medíocres livros didáticos.

Certamente existem os professores bons, os ruins e os medíocres. As condições atuais propiciam uma formação docente medíocre. Isso por vários motivos. Dentre eles vemos: proliferação de cursos particulares de licenciatura de baixo custo, muitos desses à distância; O curso de licenciatura é o menor em carga horária; o professor ao receber salários medíocres não dispõe de condições financeiras para investir em sua carreira, assim como não lhe resta tempo por ter que lecionar para muitas turmas de mais de uma escola.

A proliferação de cursos de licenciatura com baixas mensalidades têm criando condições para que os estabelecimentos de ensino contratem professores com menores salários e, consequentemente, menos qualificados e motivados. Essa situação reflete na formação dos futuros professores. Tendo o curso de licenciatura carga horária menor, os conteúdos serão resumidos e/ou muitos nem serão transmitidos à turma. Somado a formação medíocre, o professor se depara com a dificuldade em manter-se informado e aperfeiçoar-se. Falta-lhe dinheiro e tempo. Com um salário baixo não tem condições de comprar livros, pagar cursos, participar de seminários e congressos. Ainda que tivesse poupado algum dinheiro, sua carga-horária o impediria. Somado a tudo isso, não vê motivos para se aperfeiçoar, pois, terá que ministrar aulas medíocres para não reprovar seus estudantes… que serão alguns dos futuros professores medíocres que farão parte do sistema de ensino medíocre.

Deveríamos ficar ofendidos não por sermos chamados de medíocres, mas por permitirmos que tenhamos um país medíocre. Ser medíocre na Holanda não é nada mal. Ser medíocre no Brasil já é bastante problemático.

Lamentavelmente os medíocres são fruto de um sistema educacional e uma cultura da mediocridade. Quem nunca ouviu um estudante dizer “passando está bom, É o que importa”? Essa afirmação é fruto de uma cultura mediocrizadora, que se repete em quase todas as esferas da vida social, inclusive na educação. Não quero ser medíocre, ainda mais no Brasil!

* Texto originalmente publicado no Portal 27 em 2013

Fonte: https://cafecomsociologia.com
A confiança perdida é difícil de recuperar, pois ela não cresce como as unhas. (Johannes Brahms, compositor alemão, 1833-1897)

LUGARES

MAFRA - PORTUGAL

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


ACONTECEU NOS ANOS 80
--- Tais fatos foram comuns nos anos 80. Haveria concordância com 80? Em caso afirmativo, como ficaria a mesma frase se, em lugar de 80, fosse 10? U. R., Brasília/DF

Resumidamente, podemos afirmar que em português não se altera o algarismo [80s, 20s, vintes, dez] para fazer a concordância com “anos”, porque em anos 80 se subentende o termo década, isto é, trata-se do período compreendido entre 1980 e 1989 = nos anos [da década de] 80.

Leitor de Imperatriz/MA também discute a questão, asseverando que é legítimo o uso de “anos oitentas ou 80’s”, porque os numerais flexionam no plural: zeros, uns, noves etc. (o nº 10 não muda no plural).

Em primeiro lugar me parece que o aparecimento do S se deve mais a uma imitação da língua inglesa do que à flexão dos números, pois esse plural é raríssimamente usado e não soa nada bem; quer dizer, não é por tradição nossa, nem por hábito que deveríamos falar em *anos vintes, anos trintas e anos dez*.

Em segundo lugar, precisamos observar que nós já temos o plural assinalado na palavra antecedente (“anos” ou o coletivo “década”), o que não acontece no inglês. Vejamos, em frases extraídas da revista My Generation (Mass./USA, July-August 2002), que não aparece a palavra “years” ou “decade”
  • In the mid-1980s he won city contracts.
  • In the 1970s and ’80s…
  • By the early 1960s…
  • Roberts had spent most of his 20s and 30s as a Krishna missionary to Brazil.
Bem, sabe-se que língua é convenção. E até numa mesma língua as convenções podem diferir de um país para outro. Em Portugal também não se usa esse s, mas é habitualmente escrito por extenso: nos anos sessenta, na década de quarenta...  Já no Brasil preferimos a representação por algarismos, que é mais visual, e em geral usando apenas os dois últimos algarismos do ano:
  • O livro traz a política e a memória do debate educacional dos anos 30.
  • Desde o final dos anos 80, tínhamos cerca de um milhão de experiências de introdução do audiovisual no ensino superior para examinar e comparar.
  • A obra de McLuhan ainda está viva – talvez hoje mais do que nos anos 60, embora em grande parte subsumida em escritos de outros autores.
  • Entre as décadas de 30 e 40 começa a instituir-se o parque fabril nacional.
  • Empenhou-se pelas liberdades civis na década de 70.
Com a entrada do séc. 21, já está havendo certa preocupação com a clareza dos textos a serem lidos no futuro, pois então se poderá questionar se a “década de 20” se refere a 1920 ou a 2020. Assim – e especialmente em textos que tratem ao mesmo tempo dos séculos 19 e 20 –, visando evitar qualquer ambiguidade, pode-se escrever o ano por inteiro. Observe nos exemplos seguintes que há duas opções, com e sem a preposição “de” no caso dos anos:
  • Nos anos 1970, o Paraná sofreu a expulsão dos camponeses de suas terras.
  • O ponto alto de sua obra se localiza nos anos de 1880 e 1890.
  • No início dos anos de 1980, seus apelos para o fim da Guerra Fria lhe deram notoriedade internacional.
  • Os grupos editoriais no final da década de 1950 foram influenciados por E. P. Thompson.
  • Uma análise dos livros encontrados no Colégio Coração de Jesus, cuja publicação aconteceu entre os anos de 1933 e 1949, pode mostrar a eficiência da estratégia de regrar a sedução exercida pelo escolanovismo sobre o professorado.
Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS


quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

UMA PANDEMIA É UMA DOENÇA DA POPULAÇÃO

UMA PANDEMIA É UMA DOENÇA DA POPULAÇÃO
Pedro Hallal

Enquanto o mundo seguir tratando a pandemia com uma abordagem individual, estaremos fadados ao fracasso

Em 1985, o epidemiologista inglês Geoffrey Rose escreveu um artigo histórico intitulado "Sick individuals, sick populations" (em português, "Indivíduos doentes, populações doentes"). No texto, o autor explica as diferenças entre uma abordagem individual, para tratar uma doença que afeta indivíduos, e uma abordagem populacional, para tratar uma doença que afeta a população.

Para entendermos o conceito de maneira simples, podemos usar o exemplo de uma doença comum: hipertensão arterial.

Numa abordagem individual, o paciente com hipertensão arterial receberá seus medicamentos para controlar a pressão, receberá aconselhamento sobre hábitos saudáveis, e o objetivo é que o paciente mantenha seus níveis pressóricos em valores normais. No entanto, quando a doença ultrapassa os limites individuais e atinge algum grau de descontrole, é necessária uma abordagem populacional. Nesse caso, pode-se citar legislações para controle dos níveis de sódio nos alimentos, criação de ciclovias para estimular à prática de atividade física pela população, entre outras medidas que ajudam a controlar os níveis pressóricos da população, e não de apenas um indivíduo. A combinação de uma abordagem individual e de uma abordagem populacional garantirá o melhor resultado para a saúde pública.

Desde que a pandemia de Covid-19 começou, há uma incapacidade de alguns gestores (o Brasil é um exemplo) de entenderem que a pandemia é uma doença que afeta a população e, portanto, não será vencida com uma abordagem individual. Toda a lógica do nefasto tratamento precoce, por exemplo, é baseada na ideia de tratar um paciente de cada vez, ao invés de usar abordagens populacionais para reduzir a circulação do vírus.

Da mesma forma, a visão deturpada que o presidente e o ministro da saúde possuem sobre vacinação misturam o negacionismo com uma percepção equivocada de que a Covid-19 é uma doença dos indivíduos, e não da população. Se a Covid-19 fosse uma doença dos indivíduos, não haveria problema em estimular que "se vacina quem quer". Mas como a Covid-19 é uma doença que afeta a população, a não vacinação de um atrapalha o outro. Em outras palavras, o não vacinado não prejudica somente a ele, mas, sim, a todo o controle da pandemia.

Quando olharmos os dados mundiais sobre a Covid-19, notamos que estamos muito longe de vencer a pandemia de Covid-19 globalmente. A média diária de mortes atingiu um pico de 1,8 mortes para cada 1 milhão de pessoas em fevereiro de 2021, mas ainda virará o ano próxima de 1 morte por 1 milhão de pessoas por dia. Com a chegada da variante ômicron, é possível que a tendência de queda seja revertida.

Para vencermos a pandemia de Covid-19, precisamos tratá-la pelo que ela é: uma doença que afeta a população. No caso, a população mundial. E para tratar uma doença que afeta a população, precisamos de uma combinação de estratégias a serem adotadas internacionalmente:

1. Aceleração da vacinação com equidade: ao mesmo tempo que precisamos acelerar a vacinação, precisamos garantir que ela ocorra de maneira minimamente uniforme entre os países.

2. Adoção de vigilância genômica em larga escala: para identificação precoce de novas variantes, permitindo que as vacinas existentes sejam adaptadas rapidamente quando necessários.

3. Combate às teorias e ações negacionistas: para controlarmos a pandemia, é necessário que as teorias e ações negacionistas, anti-ciência, anti-vacina sejam combatidas e ignoradas na tomada de decisão sobre as políticas de enfrentamento da pandemia.

Fonte: Folha de S. Paulo
Todas as cores concordam no escuro. (Francis Bacon, filósofo inglês, 1561-1626)

LUGARES

DOZZA - ITÁLIA

QUANDO A IGNORÂNCIA CRITICA, A SABEDORIA OBSERVA E SORRI

QUANDO A IGNORÂNCIA CRITICA, A SABEDORIA OBSERVA E SORRI

Orson Welles disse que “muitas pessoas são educadas demais para falar com a boca cheia, mas não se preocupam em fazê-lo com a cabeça vazia”. O diretor
americano não foi o primeiro a se referir à ignorância e seus ataques.

O escritor espanhol Baltasar Gracián havia dito ” o primeiro passo da ignorância é presumir saber ” e Antonio Machado afirmou que ” tudo o que é ignorado é desprezado “. A ignorância não é uma doença, mas podemos classificá-la como tal porque seus efeitos são tão incapacitantes que impedem a pessoa de crescer enriquecendo-se com novas perspectivas. A armadilha da ignorância é que ela envolve a pessoa em uma gaiola de ouro, na qual ele está tão confortável que nem percebe que está prisioneiro da rigidez de seu pensamento.

Como são pessoas ignorantes?

Ignorância não é propriedade exclusiva de pessoas que não tiveram acesso à educação. De fato, podemos encontrar pessoas que não têm estudos, mas são profundamente sábias e de mente aberta, assim como podemos encontrar professores e cientistas que são profundamente ignorantes.

O filósofo inglês Karl Popper explica o porquê: “a ignorância não é a ausência de conhecimento, mas a recusa em adquiri-lo “. Isto é, a ignorância implica abraçar um pensamento rígido, idéias preconcebidas e rejeitar o resto. Esse modo de entender a ignorância é um sinal de alerta que nos diz para permanecermos vigilantes porque todos e cada um de nós podem adotar atitudes ignorantes.

Ignorância é rejeitar argumentos ou idéias das quais não sabemos nada ou sobre as quais não temos dados para chegar a conclusões lógicas. Nesse caso, em vez de nos esforçarmos para captar e compreender todo o quadro, preferimos nos apegar ao pequeno fio de “verdade” que achamos que temos. Entrincheirados nessa posição, não apenas atacamos os outros, mas também semeamos as sementes da intolerância, já que a ignorância sempre rejeita o que é diferente, o que não compreende.

Ignorância emocional

Não é uma ignorância que faz ainda mais danos: a ignorância emocional das pessoas mais próximas que julgam e criticam-nos sem ter andado em nossos sapatos ou saber todos os detalhes da situação de uma visão parcial da realidade.

Ignorância emocional

Há uma ignorância que causa ainda mais danos: a ignorância emocional das pessoas mais próximas a nós que nos julgam e criticam sem ter andado com nossos sapatos ou nem conhece todos os detalhes da situação, a partir de uma visão parcial da realidade.

Essas pessoas não são capazes de se colocar no lugar do outro e nem sequer tentam conhecer sua história, necessidades e ilusões para entender o porquê de seu comportamento. Essa ignorância dói muito mais e deixa feridas emocionais profundas, já que normalmente a opinião dessas pessoas é geralmente importante.

Em face da ignorância, é melhor agir com cautela

Um estudo muito interessante de PsychTests analisou como 3.600 pessoas responderam a críticas. Esses psicólogos descobriram que 70% admitem que se sentem magoados quando recebem uma crítica e 20% a rejeitam com raiva. Apenas 10% das pessoas refletem sobre críticas e deixam ir quando não contribuem com nada.

Também foi apreciado que as mulheres são duas vezes mais propensas a aceitar as críticas como algo pessoal e a assumi-las como uma demonstração de que elas não são capazes de fazer algo certo. Pelo contrário, os homens tendem a pensar que a crítica está errada e a responder agressivamente.

No entanto, o mais interessante é que as pessoas que adotam uma atitude defensiva em relação às críticas são também aquelas que se sentem menos felizes, têm baixa auto-estima e apresentam um desempenho pior no trabalho.

Aparentemente, quando as pessoas têm baixa auto-estima, elas bloqueiam a parte construtiva da crítica e se concentram apenas nos aspectos negativos. Por outro lado, aqueles que se defendem das críticas muitas vezes sentem que estão perdendo o controle, o que afeta ainda mais sua autoconfiança.

Portanto, quando a crítica vem da ignorância, a coisa mais sábia é responder com
calma.

Para palavras tolas, ouvidos inteligentes

Como a crítica ignorante pode causar muitos danos, é essencial não cair no seu jogo. As palavras nocivas, as críticas maliciosas e as opiniões infundadas não devem encontrar um terreno fértil em nossa mente. Devemos lembrar que ninguém pode nos prejudicar sem o nosso consentimento. Portanto, o melhor é não dar crédito a eles.

O problema das pessoas ignorantes é que elas não estão abertas para ouvir outras opiniões, portanto, qualquer tentativa de se defender ou fazê-las cair em seus sentidos é muitas vezes deixada de lado. Isso nos fará desperdiçar energia inutilmente e é provável que no final ficaremos com raiva. É por isso que é quase sempre melhor aprender a ignorá-los.

O sábio sabe que batalhas valem a pena lutar, ele não desperdiça sua energia. Ele também está ciente de que a crítica muitas vezes diz mais sobre quem critica do que sobre quem é criticado, então ele assume uma atitude desinteressada, valoriza a verdade que a opinião contém e, se considerar irrelevante e prejudicial, não permite que isso o afete.

E quando é necessário responder à ignorância, as pessoas sábias fazem isso com firmeza e respeito. A melhor maneira de superar a ignorância é provar a ele que ele não tem poder sobre nós.

Artigo originalmente publicado em Rincón de la Pasicología

Fonte: www.pensarcontemporaneo.com

FRASES ILUSTRADAS


terça-feira, 28 de dezembro de 2021

O QUE BOLSONARO PENSA DA VACINA?

O QUE BOLSONARO PENSA DA VACINA?
Hélio Schwartsman

Candidatos a presidente deveriam passar pelo psicotécnico

O que o presidente Jair Bolsonaro pensa da vacinação contra a Covid-19? Há evidências de que ele não é exatamente um fã dos imunizantes. Algumas de suas declarações sobre vacinas ganharam lugar de destaque no bestialógico nacional. "Se você virar jacaré, é problema seu". "Se crescer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles [Pfizer] não têm nada com isso".

O presidente, porém, não é consistente em sua insensatez. Houve momentos em que ele tentou tomar para si o crédito pela vacinação. Especialmente em março, o mandatário e seus filhos ensaiaram uma mudança de discurso pela qual o Brasil seria, graças aos esforços do governo federal, o país que mais vacinava no mundo. Essa inflexão, contudo, não foi para a frente. Imagino que as revelações da CPI da Covid, instalada em abril, tenham tornado a narrativa insustentável.

Seja como for, o presidente parece agora voltar à sua posição natural, desdobrando-se para sabotar a vacinação das crianças. É difícil entender o cálculo (se é que há algum) de Bolsonaro. O brasileiro já deixou claro, em pesquisas e na adesão, que é a favor da imunização. As taxas de hesitação vacinal por aqui são baixas. O presidente tem, portanto, pouco a ganhar eleitoralmente ao insurgir-se contra a campanha. Ele talvez conte que sua atitude o deixará bem com a base radical, mas não afastará o eleitor pró-vacina. Pode ser, mas é arriscado. O que parece claro, dada a volubilidade do presidente na matéria, é que, na verdade, ele não está nem aí para se as pessoas estão ou não se vacinando e se estão ou não morrendo.

Sempre defendi que as escolhas eleitorais fossem tão abertas quanto possível, chegando a ficar contra a Lei da Ficha Limpa. Mas, considerando o dano que um presidente com traços psicopatas pode causar, talvez seja o caso de submeter os candidatos a um teste de personalidade, como já fazemos com os motoristas.

Fonte: Folha de S. Paulo

2022, QUE OS PATINHOS NA LAGOA NOS AJUDEM

2022, QUE OS PATINHOS NA LAGOA NOS AJUDEM

Por Marli Gonçalves*

2022, Dois mil e vinte e dois, dois patinhos na lagoa, como a gente chama o desenho bonito do número. Um ano que chega se arrumando, tentando se reorganizar, mas por mais otimistas que possamos ser, traz também tantas incertezas que os patinhos da lagoa estarão nadando em círculos

2021 foi realmente um dos mais difíceis anos, e acredito que também deve ter sido o mais difícil de muita gente. O esgotamento geral após dois anos de pandemia; a sobrevivência física e financeira. O equilíbrio emocional perdido nos frangalhos, nos baques de perdas irreparáveis e notícias esquisitas todos os dias.

Difícil mesmo se situar em um planeta bolinha que parece ter sido sacudido por um chute tão certeiro que tantas coisas ficaram sem pé nem cabeça geral, e que já vamos para mais de dois anos de vidas modificadas.

Estamos fazendo um rescaldo e quando já estávamos até mais alegrinhos, boom, chega essa nova cepa ômicron – daqui a pouco, nesta toada, logo se esgotará o alfabeto onde se busca seus nomes para batismo. O fim de ano de todos está balançado, ainda inseguro com suas festas limitadas e o receio do que virá por aí.

Na verdade, já estamos sentindo muito claramente o que tanto temíamos, que essa coisa toda, e põe coisa nisso, não vai passar assim de uma hora para outra. Que as tais ondas ainda podem nos dar um caldo.

Outro dia, até fiz silêncio ao ouvir de um amigo que entende dessas coisas de medicina fazer uma observação pertinente, e que lembrou até de forma bem humorada: se nem os dinossauros resistiram aos primeiros seres da criação, as tais bactérias e vírus!

Com o tempo até desenvolvemos formas de lutar essa batalha, as vacinas entre elas. Mas ainda, infelizmente, não desenvolvemos formas de combater a ignorância que parece agora se alastrar de forma avassaladora sugando a energia de todos nós e, como nos mais terríveis filmes de ficção/ terror, tomando o corpo e a mente de alguns habitantes por ela contaminados e que passaram a circular no planeta disseminando não só a própria ignorância, como o ódio, aumentando todos os perigos enfrentados. Pior, alguns desses seres governam. Chegaram ao poder e nele efetivam como podem seu rastro de destruição.

O Brasil está contaminado, aqui aconteceu, e pelo pior tipo, o malvado, cínico, que se diverte enquanto a natureza queima, as pessoas passam fome, a violência se alastra. Agora, quer dizer, na verdade não só agora, porque as crianças sempre são as primeiras vitimas de tempos obscuros, até elas estão no alvo deste enredo fantástico, quando se pretende negar de todas as formas que possam ser imunizadas.

2022 bate à porta, e parece que não chega com roupa nova. Vem novamente acelerado, cheio de datas para as quais precisaremos estar bem preparados e, embora esgotados, buscarmos forças para o combate. Chega cheio de perguntas: vai ter Carnaval, vai ter Copa? – as mais inocentes delas.

Aqui teremos eleições, e cheias do dinheiro que tiraram do que nos seria mais importante, desviado para campanhas e partidos. Um país que já começa o ano num buraco danado, com crises institucionais, com uma inflação que corrói, ricos ficando mais ricos, pobres mais pobres, e os do meio achatados como sardinhas.

Um redemoinho que já faz com que aqueles dois patinhos na lagoa batam suas perninhas patinhas bem firmes para tentar parar de rodar e conseguir chegar em alguma margem segura. E que ninguém sabe onde está.

No Twitter: @marligo
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com

Fonte: https://www.chumbogordo.com.br
O mundo é um estranho teatro no qual há momentos em que as piores peças obtêm os maiores êxitos. (Alexis de Torqueville, historiador francês, 1805-1859)

LUGARES

COPENHAGE - DINAMARCA 

ROMANCE FORENSE

gatos-2.jpg

Arrependimento posterior 

A culpa teria sido do gato do casal, acostumado a dar unhadas...

Por Ronaldo Sindermann, advogado (OAB-RS nº 62.408)

Um advogado chega à noite em casa preocupado, porque está com um arranhão no peito provocado por uma “unhada” da namorada, no motel.

Abre a porta, e têm uma ideia salvadora, ao ver o gato da casa dormindo no sofá. Sem pensar duas vezes dá um tremendo chute no bichano. O felino salta e sai correndo porta afora.

A mulher do advogado - que está se preparando para um concurso de ingresso à magistratura - se aproxima e pergunta.

- O que houve, amor?

E ele responde de maneira a convencer a mulher.

- Este gato está louco, pois quando cheguei junto ao sofá, sem mais e nem menos, ele pulou sobre mim e me arranhou no peito. Olha só que baita arranhão!

A mulher responde.

- Esse gato tá meio louco, mesmo. Hoje à tarde quando cheguei do curso de preparação para ingresso na magistratura, ele me mordeu a nádega e me deu um baita chupão no pescoço... (pausa). Quem sabe tomamos um banho e saímos para jantar para esquecermos este maldito bicho?

* * * * *
Tese jurídica: nossa legislação abre, no art. 16 do Código Penal Brasileiro, uma possibilidade para os criminosos arrependidos. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa (não fala em gatos...), reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

É o que a lei chama de arrependimento posterior.

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS


segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

DIPLOMA DE QUEIROGA É A MÁSCARA DO CHARLATANISMO

DIPLOMA DE QUEIROGA É A MÁSCARA DO CHARLATANISMO
Janio de Freitas

Decisão de consultar a população sobre vacinar as crianças é um alijamento da medicina

O Supremo age no tema da vacinação infantil, mas o governo não tem o que ser aplicado. Marcelo Queiroga é falso ministro e falso médico. Sua decisão de consultar a população sobre vacinar as crianças, ou não, é um alijamento da medicina. Ao que se seguiu outro, com a banalidade de que "a pressa é inimiga da perfeição".

A medicina é uma das atividades em que a pressa mais se confunde com a perfeição. Cardiologistas ("especialidade" de Queiroga), cirurgiões, médicos de emergências e muitos outros dos nossos salvadores têm a pressa como prática médica. E decisiva.

Criticado, Queiroga responde: "Óbitos de crianças estão em patamar que não implica decisão emergencial". Esse "cardiologista" ignora, mais do que o papel das vacinas, que a inteligência da medicina tem a prevenção como prioridade. O tratamento é o recurso para reparar a prevenção descuidada ou impossível.

Mais de 300 mortes de crianças por Covid não afetam o Ministério da Saúde sob Queiroga, fiel ao repúdio à medicina e à vida instituído pelo general Pazuello. Na verdade, nem se sabe o número aproximado das crianças mortas, de fato. Só pode ser elevada a subnotificação entre os 51% da população que ganham menos de dois salários mínimos, 40% deles sofrendo com falta de comida. No casebre onde há fome, ninguém pensa em Covid, muito menos como causa de doença e morte.

Ao lançar às bestas os dirigentes e técnicos da Anvisa, por aprovarem a vacinação infantil, também esse propósito criminal de Bolsonaro foi replicado por Queiroga. Sua Covid mental não se satisfaz com a agressão à medicina, quer levá-la a quem a pratica. A adesão às ameaças ao corpo técnico da Anvisa espera, aliás, uma ação criminal para Queiroga.

Os clientes da clínica cardiológica de Queiroga em Brasília, seja à procura de prevenção ou de tratamento, que se cuidem. Está claro: Marcelo Queiroga não exerce a medicina: repudia-a. É charlatão. Seu diploma é a máscara do charlatanismo.

Fonte: Folha de S. Paulo
Educar é ensinar o encanto da possibilidade. Aprender é manter-se encantado pela possibilidade. (Gilberto Dimenstein, jornalista brasileiro)

LUGARES

KAYSERSBERG - FRANÇA

CÓDIGO DA VINCI

Fabrício CarpinejarFabrício Carpinejar

Mulher fala por indiretas e inversões. Ela testa a compreensão do homem. A experiência maliciosa do homem.

Descarta aqueles que não entendem de primeira. Homem burro serve para diversão, já para dividir a vida procura homem inteligente e, se possível, misterioso.

É um jogo de enigmas e pistas a todo momento. Ela joga verde para receber as palavras maduras.

Não é ingenuidade. Faz por maldade consciente. Cria um concurso de soletração e de negação.

Ela sempre sugere para que o homem entre em desespero com o dilema e se precipite. Mulher é um teste dissertativo de múltipla escolha. Não se comunica por certezas, mas por dúvidas.

Não confie no significado literal, estará avançando na contramão das palavras, disposta a atropelar.

Quando ela diz "Faça o que você quiser" é para não se mexer, não continuar com sua decisão, optou errado e terá graves consequências se persistir.

Quando ela diz "Deixa pra lá, não tem importância" é que é fundamental e inadiável, e que está cansada de explicar o óbvio para você.

Quando ela diz "Nossa cozinha é tão apertada", cuidado, é que deseja acabar com a relação. Problema na casa é metáfora de crise no amor. O fim está próximo.

Quando ela diz "Estou muito cansada" nem tente romance, beijinhos no pescoço, sexo. Ofereça apenas o colo dos ouvidos.

Quando ela diz "vou me depilar hoje" pode comer ovo de codorna, amendoim, ostras, tomar catuaba. A noite promete, nenhuma namorada expõe gratuitamente que se depilou se não está a fim.

E entenda que jamais a mulher vai passear no shopping e usar os vinte minutos de tolerância do estacionamento, jamais se contentará com a primeira roupa que experimentou, jamais acredite quando avisa que não quer discutir ou quando anuncia que está quase pronta, jamais leve a sério quando ela explica que não está acontecendo nada (sempre acontece tudo na cabeça das mulheres), jamais questione se ela saiu da dieta e jamais lembre de promessas como de que ela não mais beberia tequila.

E, mesmo seguindo as instruções à risca, nenhum sucesso é garantido. Mulher não muda de opinião, enjoa daquilo que sempre dá certo.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


domingo, 26 de dezembro de 2021

UMA PANDEMIA DENTRO DE UMA PANDEMIA

UMA PANDEMIA DENTRO DE UMA PANDEMIA
Esper Kallás*

A variante ômicron está mudando os conceitos sobre a Covid-19

Não bastassem as surpresas da pandemia, a chegada da ômicron tem colocado em xeque alguns conceitos que vinham se consolidando desde a descoberta do Sars-CoV-2.

O principal é sua capacidade de transmissão. Os levantamentos de vigilância têm mostrado que, nos lugares onde a ômicron entrou, ela conseguiu dominar a cadeia de transmissão na comunidade com velocidade impressionante. De forma muito rápida, salta da condição de casos esparsos para a maioria das variantes identificadas. Por exemplo, nos Estados Unidos, a ômicron já é responsável por mais de 70% dos casos de Covid-19, sendo que respondia por 3% deles duas semanas antes.

Embora ainda sejam dados preliminares, os números sugerem que a transmissão parece respeitar menos a proteção vacinal. Cada vez mais chegam relatos de pessoas que, mesmo vacinadas com esquema completo, apresentam sintomas e testam positivo.

As vacinas continuam com ótimo perfil de proteção para a forma grave da doença. A grande maioria das pessoas com Covid-19 que necessitam de internação é formada por não vacinados ou com esquema incompleto de vacinação. O padrão parece persistir para as informações iniciais de Covid-19 causadas pela ômicron.

Há ainda dúvidas sobre o quanto as vacinas protegem contra infecção assintomática ou contra formas leves de Covid-19, ou seja, casos sem necessidade de hospitalização.

O sangue obtido de pessoas vacinadas mostra capacidade reduzida para neutralizar a ômicron quando comparada às outras variantes. Esta diferença fica bastante menor quando considerada a adição da terceira dose da vacina. Portanto, ao menos no laboratório, a ômicron parece exigir um esquema de vacinação com mais doses. Esta evidência preliminar tem embasado muitos gestores de saúde na aceleração ou antecipação da campanha para a dose adicional, que alguns chamam de dose de reforço.

Uma discussão mais recente diz respeito à revisão do objetivo primaz do enfrentamento da pandemia. Com a ômicron, caberia concentrar os esforços na prevenção de hospitalizações, isto é, focar a avaliação de eficácia das vacinas na prevenção de casos graves?

Alguns poderiam imaginar que a exigência de comprovação de vacinação se tornasse menos relevante sob este argumento, mas é o contrário. Sob a hipótese de que as vacinas possam não ser tão eficazes na prevenção da circulação do vírus, a vacinação torna-se ainda mais importante para prevenir hospitalizações. Ou seja, são os não vacinados ou com vacinação incompleta que irão ocupar hospitais, criar carga adicional para o serviço de saúde e seus profissionais, exigir gastos maiores da saúde pública e suplementar.

Muitos continuam insistindo que a Covid-19 causada pela ômicron é mais leve. Ainda não há evidências suficientes para afirmar isto. Com a maioria da população vacinada, não há como comparar os casos de Covid-19 em pessoas que receberam duas ou três doses de vacina com a doença de 2020 ou do começo de 2021, quando a vacina não estava disponível ou tinha acesso muito limitado.

O risco de infectar-se pode ser alto para pessoas com comorbidades e, especialmente, para pessoas que têm deficiências para montar uma resposta protetora após a vacinação, como pacientes transplantados ou em uso de imunossupressores.

Enquanto houver dúvidas, recomenda-se cautela. Afinal, ainda está na memória dos brasileiros o começo de 2021, logo após as festas do fim do ano.

A força de transmissão da ômicron parece ter gerado uma nova pandemia dentro da pandemia

*Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.de Covid-19. O quanto aprendemos e o quanto estamos preparados está em prova.

Fonte: Folha de S. Paulo

A TRISTEZA É UMA MOSCA A NOS RODEAR

A TRISTEZA É UMA MOSCA A NOS RODEAR
Por Eberth Vêncio

Pergunto aos amigos o que eles fazem quando se sentem tristes. Quando me sinto triste, choro. Então, me acalmo, hidrato os cabelos, pinto as mechas com nuanças de arco-íris e saio pedalando sem as mãos no guidom. O otimismo é um dom que merece ser adubado. Aliás, quando me sinto triste, pratico jardinagem, ensino a terra a me comer com jeitinho, pelas beiradas: aquela coisa bíblica de voltar ao pó, aquela coisa etílica de me sentir meio só. Daí, converso com as plantas, cravo as unhas no solo, abraço uma árvore e conto dos meus podres para as frutas-de-vez. Apanho pitanga no pé. Ponho uma tanga floral. Pego sol e vitamina D para não me foder. Há uma pandemia correndo lá fora, a despeito do meu estado imunológico. Pode parecer ilógico e imaturo da minha parte — por favor, não publique isto no seu novo texto — mas, toco punheta sempre que me sinto triste. Quer participar? Não, obrigado? Tá virando uma coisa meio viciante essa coisa de anular dor com prazer. A tristeza é uma mosca a nos rodear. Nesses casos, o que eu faço é ludibriá-la, humilhá-la e, temporariamente, esquecê-la. Quando me sinto triste, assisto a desenhos animados, filmes de comédia ou telefono para um amigo que possua alegria acima da média. O mínimo que se espera de um homem espirituoso é que ele ria da própria desgraça. Jamais será má ideia tomar café para ressuscitar um dia que parecia morto. Faço faxina. Leio Bukowski. Penso em cuzinhos. Cozinho delícias pesquisando receitas na internet. Sento no chão. Aprecio a montanha de pratos que anseiam ser lavados. Vocês vão continuar aí, seus imundos. Quando me sinto triste, penso na minha mãe, no seu café coado em coador de pano, à moda antiga. O seu colo tinha calo, do tanto que eu me deitava nele. Me empanturro com chocolate meio amargo, me embriago com vinho demi-sec, me engano com as meias-verdades. Nem tudo são flores para uma pessoa destituída de fé. Torço pelos gafanhotos. Arranco as pragas da grama. Prego cristos na cruz. Esfrego o clitóris na cama. Pratico carpintaria. Construo os meus próprios labirintos com madeira de demolição. Saio do eixo. Quebro a mobília. Restauro os brinquedos. O segredo é confundir os sentidos. Quando me sinto triste, ouço o álbum “Beatles For Sale” pela enésima vez. É um hábito antiquado, contudo, eficiente. Apesar de serem cantadas na língua inglesa, os vizinhos já decoraram as letras de Lennon & McCartney. All we need is love, folks. Brinco com meu cachorro. Mijo na areia do gato. Invado o jardim de um militar da reserva que cria passarinhos em cativeiro, abro as gaiolas e passo bosta na maçaneta. Quando me sinto triste, toco violão, escrevo memórias, leio os livros contábeis, lavro a terra e planto sementes de dias melhores. Então, eu danço, mas, só se não tiver ninguém olhando. Sinto vergonha de que a felicidade apareça nua. Encho a cara de cerveja. Esvazio um engradado. Durmo, em estado comatoso, velejando à deriva, por um mar tantas vezes naufragado. Quando me sinto triste — um degredado — vou para cama e durmo. Tem sempre um sonho bom me esperando do outro lado.

Fonte: revistabula.com