domingo, 7 de novembro de 2021

QUEM INVENTOU A BAGUETE?

QUEM INVENTOU A BAGUETE?
José Horta Manzano

Você sabia?

Aquele pão comprido, crocante e de pouco miolo, que os franceses chamam “baguette” (baguete), está tão ligado ao patrimônio cultural da França, que a gente imagina que deva ser tradição antiga, velha de muitos séculos. Engano. A baguete é criação relativamente recente. As primeiras foram assadas faz 100 anos.

A baguete nasceu com o inchaço das cidades, que se verificou a partir do fim do século 19. A multiplicação das indústrias, geralmente localizadas na periferia das cidades maiores, fez surgir uma nova casta de cidadãos enriquecidos: os donos das fábricas.

Essa classe de novos-ricos já não se satisfazia com o pão tal como era feito tradicionalmente, em formato redondo, denso, cada bolota pesando de um quilo e meio a dois quilos. Durava uma semana, mas perdia o viço, amolecia por fora e secava por dentro. Já que tinham dinheiro e podiam pagar, os membros das classes urbanas enricadas queriam pão fresco e crocante no almoço e, de novo, no jantar.(*)

Uma lei de 1919, querendo proteger os padeiros, proibiu o trabalho noturno na profissão. Ora, o pão sempre foi amassado durante a noite e assado de madrugada para ser posto à venda de manhã logo cedo. Além disso, a panificação era tradicionalmente feita com fermento natural – que dá sabor especial ao pão, mas demanda trabalho e muita paciência.

Para resolver o problema, os padeiros parisienses decidiram abandonar o fermento natural e substitui-lo pelo fermento que conhecemos como biológico (ou Fleischmann), aquele de tabletinho que se guarda na geladeira, ou que também se encontra granulado, em sachê. O gosto e a textura do produto final mudavam bastante; em compensação a crosta ficava mais crocante, e o principal: a preparação era bem mais rápida e dispensava o trabalho noturno.

Para diminuir ainda mais o tempo de cozimento, a forma (ó) redonda foi abandonada e deu lugar ao formato comprido que conhecemos. O sucesso foi imediato.

Só que os tempos eram duros. Não é qualquer francês que podia se dar ao luxo de comprar pão duas vezes por dia. As classes menos favorecidas continuaram privilegiando o tradicional pão redondo, pesadão e de tamanho familiar.

Foi preciso esperar que o tempo passasse. Em 1945, terminada a guerra, a produção foi se regularizando e o racionamento de gêneros alimentícios foi pouco a pouco desaparecendo. Só então a baguete ganhou impulso, se popularizou e se espalhou pela França inteira.

No Brasil da minha infância, não se usava o termo baguete – isso é novidade das últimas décadas. A gente dizia “um filão” para designar um pão comprido, porém de diâmetro mais gordo. E “uma bengala” pra indicar aquele mais fininho. Não sei se alguém ainda fala assim.


(*) Até hoje, boa parte das famílias francesas não come, no jantar, o pão do almoço. Compram duas vezes por dia. Quem vive em cidade, vai até a padaria. Quem vive em vilarejo, compra do padeiro itinerante, que passa duas vezes por dia. Famílias pequenas compram meia baguete ao meio-dia e, de novo, meia baguette ao entardecer. Curioso costume, não?

Fonte: brasildelonge.com

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