sábado, 13 de novembro de 2021

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA DEVERIA RELER AS PRÓPRIAS RESOLUÇÕES

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA DEVERIA RELER AS PRÓPRIAS RESOLUÇÕES
Hélio Schwartsman

CFM sempre foi um órgão mais político do que técnico

"O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições conferidas [...], resolve: Art. 1º - Proibir aos médicos a utilização de práticas terapêuticas não reconhecidas pela comunidade científica. [...]".

Sim, o CFM de fato escreveu isso, mas no longínquo ano de 1998. É a resolução 1.499/98. Até onde sei, ela continua em vigor. E, até onde vão minhas capacidades interpretativas, poderia ser usada para enquadrar médicos que prescrevem cloroquina e outros medicamentos do chamado kit Covid. Mas é relativamente fácil escapar da armadilha. Como não existe quem fale oficialmente pela comunidade científica, os conselheiros podem seguir fingindo que a ciência ainda não descartou essas drogas para tratamento da Covid.

O fato, porém, é que elas foram extensivamente testadas e descartadas. Como mostrou a Folha, o CFM está quase sozinho na chancela a esses fármacos. É acompanhado por seu congênere venezuelano e de outras poucas nações. Conselhos como os do Peru e da Bolívia, que inicialmente autorizaram o uso, recuaram diante das evidências.

Por que o CFM age assim? O conselho sempre foi um órgão mais político do que técnico. Tem mais a ver com um sindicato do que com uma consultoria científica. Basta lembrar que reconhece a homeopatia como especialidade. Mas, nos últimos anos, acrescentou à política sindical a partidária, tornando-se linha auxiliar do bolsonarismo. Minha impressão é que esse movimento faz parte de uma reação corporativista ao programa Mais Médicos, do governo de Dilma. A categoria tomou a importação de médicos cubanos como um insulto pessoal.

E a autonomia do médico? Acho que ninguém é contra a autonomia médica, mas ela existe para experimentar drogas e terapias que possam funcionar, não para atochar no paciente aquilo que já se sabe que não funciona. Ou a autonomia permite a um médico saudosista voltar com as sangrias e tratamentos à base de mercúrio?

Fonte: Folha de S. Paulo

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