domingo, 31 de outubro de 2021

O BRASIL MERECE APANHAR BASTANTE NA COP26

O BRASIL MERECE APANHAR BASTANTE NA COP26
Hélio Schwartsman

Há mais seres afetados pelo aquecimento global que brasileiros beneficiados pelo agronegócio

Espero que o Brasil apanhe bastante na COP26. Não acharei ruim nem se países europeus erguerem barreiras ambientais contra nossos produtos ou se decidirem boicotá-los.

Meu raciocínio é consequencialista. Como brasileiro, tenho interesse em que nossas empresas se saiam bem, o que em tese resulta em mais riqueza para distribuir à população. Mas eu também sou terráqueo e, nessa condição, tenho interesse em que lidemos da melhor forma possível com a emergência climática. O segundo objetivo, creio, prepondera sobre o primeiro. Há muito mais indivíduos (humanos e não humanos) afetados negativamente pelo aquecimento global do que brasileiros beneficiados pelo sucesso do agronegócio.

E o aumento das temperaturas médias no planeta, para o qual o Brasil concorre em boa medida por causa das queimadas e do desmatamento, é só parte do problema. O desflorestamento da Amazônia também afeta o regime de chuvas, em especial nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Menos área verde no Norte significa menos água para os reservatórios e plantações. Alguns cientistas creem que já estejamos perto do ponto em que a savanização da Amazônia se torna irreversível.

Temos, portanto, duas razões vitais para militar em favor da preservação ambiental contra uma, não tão forte, para nos opormos a uma campanha internacional para enquadrar o Brasil. Evidentemente, brios nacionalistas não contam muito no consequencialismo.

E a pressão sobre o país pode trazer resultados? Bolsonaro, é claro, não vai se comover. Ao contrário, como ele é turrão, é possível que vejamos aumentar seu ímpeto antiambientalista. Mas o presidente, dadas suas incompetências, se tornou refém do centrão, o qual é sensível aos interesses do agronegócio.

Se os empresários do setor perceberem que vão perder dinheiro pelo fato de o país não ter uma política ambiental decente, há chance de que ela surja. Por isso, pau no Brasil.

Fonte: Folha de S. Paulo

QUEREM CALAR O SAMBA

QUEREM CALAR O SAMBA
Paulo Pestana

Desde a mais tenra infância, o samba foi perseguido pelos homens da lei. Sambistas eram acossados, combatidos e presos; acusados – às vezes até injustamente – de malandragem. Parece passado; afinal, hoje são artistas reconhecidos, reverenciados, alguns até ricos. Mas a perseguição não parou. Só que agora vem dos ditos cidadãos de bem.

Imaginem, senhores e senhoras, que querem calar a Aruc, a mais tradicional e vitoriosa escola de samba do DF, filha dileta da Portela, que está completando 60 anos no próximo dia 21 de outubro. A agremiação é a alma do Cruzeiro, bairro seminal da nova capital, para onde foram transferidos os funcionários mais humildes das repartições, alguns deles sambistas.

Mas a turma anda ouriçada, até porque ano passado não teve desfile; e a comunidade quer fazer festa, sair pelas ruas do bairro, exibindo sua premiada bateria, suas porta-bandeiras e mestres salas, alas engalanadas, adereços e tudo que faz o carnaval. Se possível, mostrar os troféus conquistados e o estandarte da grande campeã em 31 desfiles.

Mas está difícil. Por mais incrível que possa parecer, o samba está amordaçado por uma decisão judicial que, embora liminar, calou os tambores, apitos, gogós e agogôs da escola. Hoje, tudo tem que ser feito em silêncio por capricho de um morador que chegou ao bairro bem depois da escola, comprou um imóvel e se achou no direito de decretar a lei do silêncio e acabar com a folia. O mais incrível é que encontrou um juiz que concorda com ele.

O cidadão que tenta calar o batuque repete o que leitores dos jornais cariocas do início do século passado fizeram, denunciando as rodas e pedindo providências às autoridades na seção Reclamações. Além disso, João da Baiana, um dos três pais fundadores, contou ter sido parado várias vezes na rua por carregar um… pandeiro (que só deixou de ser ameaça quando o senador Pinheiro Machado, fã do samba, escreveu uma dedicatória no couro).

O samba tem um pouco de culpa nessa história; era como cantava Jorge Veiga, com os versos de Wilson Batista: “Meu chapéu de lado, tamanco arrastando, lenço no pescoço, navalha no bolso, eu passo gingando provoco e desafio, eu tenho orgulho em ser vadio”. Era mau exemplo, segundo as autoridades.

O mesmo Wilson Batista, em parceria com Ataulfo Alves, teve que trocar a letra de Bonde São Januário para satisfazer Getúlio Vargas. E Cyro Monteiro cantou; “Quem trabalha é que tem razão, eu digo e não tenho medo de errar”. A letra original era mais uma ode à malandragem: “O Bonde São Januário, leva mais um sócio otário, só eu não vou trabalhar”.

A questão fundamental no caso da Aruc é o marco histórico. Se a escola está no mesmo local há 60 anos, com sua bateria esquentando as tardes e noites do bairro, trazendo grandes espetáculos de sambistas consagrados, como é que um recém-chegado se acha no direito de calar toda a comunidade para dormir em silêncio? Ou alguém que tem medo de alma penada vai morar do lado do cemitério?

Publicado no Correio Braziliense em 10 de outubro de 2021
Os pequenos atos que se executam são melhores que todos aqueles grandes que se planejam. (George C, Marshall, General americano, 1880-1959).

LUGARES

ATENAS - GRÉCIA

VIVA LA VIDA

DAVID GARRET


FRASES ILUSTRADAS


sábado, 30 de outubro de 2021

O POLEMISTA FRANCÊS

O POLEMISTA FRANCÊS
José Horta Manzano

Monsieur Eric Zemmour é um francês pra lá de especial. Apesar da aparência física pouco graciosa, faz anos que surge aqui e ali, nalgum programa televisivo, sempre com a mesma obsessão. Para ele, os imigrantes são a causa de todos os males da França.

Mas, atenção! Quando fala em imigrantes, leia-se: os árabes originários da Argélia, da Tunísia e do Marrocos, antigas colônias e/ou protetorados franceses). Estrangeiros provindos da Alemanha, da Espanha, da Lituânia ou da Quirguízia não entram na mira do polemista.

Polemista – é essa a palavra. Se são figuras um tanto raras no Brasil, os polemistas existem aos montes na França. Não sei se a origem desse fenômeno é a própria lingua, que se presta a debates metafísicos. Talvez seja simplesmente a tradição, a educação que cada um recebe. Os jovens já entram na adolescência ensaiando os primeiros passos no mundo da polêmica.

Discute-se por um sim ou por um não. Cada um faz questão de dar sua opinião. Atenção: as discussões são animadas, mas a agressividade costuma limitar-se às palavras, sem consequências físicas.

Monsieur Zemmour, jornalista e escritor, fez da troca de ideias sua marca de fábrica. Seja qual for o tema da conversa, não tem jeito: ele sempre acaba acusando seus “imigrantes” de todos os males. É o que alguns chamam de monomania, um defeito que incomoda.

Ele tem dado sinais de que será candidato à Presidência do país, nas eleições de abril do ano que vem. Por enquanto, não confirma, deixa que as especulações borbulhem. Mas é bem provável que, qualquer hora, se declare candidato oficial.

Entrevistado pela Folha de São Paulo, mandou respostas por escrito. Naturalmente, foi instado a dizer o que pensa de Bolsonaro, Trump, Marine Le Pen, Macron – uma armadilha atrás da outra. Não deixou nenhuma pergunta sem resposta. No entanto, escorreguento feito peixe ensaboado, limitou-se ao politicamente correto, sem jamais se comprometer.

Segundo Zemmour, o Brasil é exemplo de multiculturalismo que deu certo. Ele parece achar que o simples fato de todos falarem a mesma língua é fator suficiente para atestar que a noção de bem comum está arraigada na alma do brasileiro.

Se vê que o Monsieur não conhece bem nosso país. Os brasileiros têm uma baciada de qualidades, mas a noção de bem comum não está entre elas. E faz uma falta danada. A noção de bem comum anda de mãos dadas com o sentimento de pertencimento, o grande ausente da alma nacional.

Pertencimento não se resume a enrolar-se na bandeira e cantar o Hino. Vai bem mais longe que isso. Começa no respeito ao vilarejo (ou à cidade, ou à metrópole) onde se vive. Continua no comportamento civilizado, em que cada cidadão respeita o próximo e paga seu “dízimo” – sob forma de imposto –, como contribuição para o funcionamento da sociedade.

Estamos a anos-luz da noção de bem comum mencionada pelo polemista francês. No fundo, o país dele, apesar dos mal-amados “imigrantes”, está bem mais próximo da meta do que nós.

Fonte: brasildelonge.com
Um pouco de desprezo economiza bastante ódio. (Jules Renard)

LUGARES

VICENZA - ITÁLIA

UMA CRIANÇA CHORA

UMA CRIANÇA CHORA
Rubem Alves

A alma anda para trás, navega ao sabor do suave sopro da saudade

A alma anda para trás, navega ao sabor do suave sopro da saudade. Quer voltar ao seu passado. Bernardo Soares sabia, tanto assim que disse: “O vapor em que parti chegou barco de vela ao porto.” A alma tem nostalgia das origens. Nas novidades ela se sente estranha, exilada. Eu, que não viajo de navio, diria: “O avião em que parti aterrissou carro de bois nos cenários da minha infância…” Quanta saudade mora num carro de boi! Por isso esses fantasmas de um mundo que não mais existe gemem enquanto rodam.

A alma dos poetas está cheia de objetos decrépitos. E é por isso que fazem poesia, para trazê-los de novo à vida. A poesia opera ressurreições. O professor Severino, pastor dessas velharias, ao introduzir os seus alunos ao encanto da poesia, sugeriu que fizessem uma lista dos sons que ouviam na sua infância e que não mais se ouvem. O canto do galo, o canto do grilo (tão amado por Bashô!), a música do realejo, o sino das igrejas, o apito rouco da maria-fumaça, o crepitar do fogo no fogão de lenha, as canções de roda cantadas pelas crianças a brincar na rua, o grito da mãe “Menino! Sai do sereno!”, “Saudades do Matão”… “Seria tão bom, como já foi”, lamentou a Adélia. E Fernando Pessoa se comovia lembrando-se das tardes quando, menino, suas tias fritavam bolinhos. E foi isso que levou T. S. Eliot a escrever que, ao final de nossas longas andanças, chegamos finalmente ao lugar de onde partimos. E o vemos então pela primeira vez. Para isto caminhamos a vida inteira: para chegar ao lugar de onde partimos. E, quando chegamos, é a surpresa. É como se nunca o tivéssemos visto. Agora, ao final de nossas andanças, nossos olhos são outros, olhos de velhice, de saudade. “Toda saudade é uma espécie de velhice”, disse o Riobaldo. É por isso que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências. “Memória fraca”, dizem os jovens. Engano: é que a sua alma sabe o que merece ser lembrado. Esquecem-se do que aconteceu ontem, mas se lembram do que aconteceu há muito tempo, como se fosse hoje.

Minha alma tem estado a visitar a minha infância. Fantasias. O que são fantasias?

Wordsworth escreveu um lindo poema que termina assim:

As nuvens que se juntam à volta do sol que se põe
ganham suas cores solenes de olhos que têm atentamente observado
a mortalidade humana.

As cores estão lá, no poente. Mas quem só vê as cores não vê nada. A beleza nostálgica do sol que se põe é uma dádiva dos olhos de quem a vê como quem vê pela última vez. Os olhos dos poetas são sempre olhos que se despedem. Pois não foi isso que percebeu Rilke ao dizer: “Quem assim nos fascinou, para que tivéssemos esse olhar de despedida em tudo o que fazemos?” As fantasias de infância são as memórias transfiguradas pela saudade.

Eu poderia colocar minhas fantasias de infância em álbuns diferentes, como se fossem fotografias. Fantasias dos pequenos espaços (a cabaninha, a casa no alto da árvore), as fantasias dos grande espaços (os campos, os jardins), as fantasias da noite com seus terrores…

Antigamente… Menino, essa palavra me intrigava. Ouvia que os grandes em suas visitas noturnas a usavam com frequência. E eu perguntava: “Quando é antigamente?” Nunca me explicaram. Mas agora eu sei quando é antigamente… Pois antigamente os grandes gostavam de fazer sofrer as crianças. Cora Coralina, no seu poema “Antiguidades”, se lembra dos seus sofrimentos:

Criança, no meu tempo de criança,
não valia mesmo nada.
A gente grande da casa
usava e abusava…

Riam, caçoavam, maltratavam, humilhavam. Acho que eles pensavam que as crianças não tinham o “lá dentro” onde mora o sofrimento. Os grandes me faziam sofrer e riam do meu sofrimento. Mentiam para me fazer sofrer. Eu devia ter uns quatro anos, na roça. Perto da casa havia uma mata fechada. Por medo, eu nunca me aproximei dela. Diziam que lá moravam onças. E os grandes me diziam que naquela mata fechada morava um menino. E, para provarem, diziam: “Quer ver?” E gritavam: “Ô menino!” O grito batia na mata e voltava como eco bem fraco: “Ô menino…” Mas eu nada sabia sobre ecos. Sim, era a voz fraca de um menino abandonado. Que pais o teriam deixado lá? E por que ele ficava lá? E a imagem daquele menino não me deixava. De noite, na minha cama, eu me lembrava dele sozinho no escuro. Como eu desejava poder trazê-lo para a segurança da minha casa! Mas eu nada podia fazer. E assim dormia, sofrendo o abandono do menino. Nunca vi o dito menino, porque ele não existia. Mas a alma não sabe o que é isso, o não existir. Aquilo que é sentido existe. A alma é um lugar assombrado onde moram as mais estranhas criaturas que, sem existirem, existem.

Depois nos mudamos da roça para uma cidade. Primeiro, Lambari. Depois, Três Corações. Em Três Corações morávamos numa minúscula casa que tinha um minúsculo alpendre, uma minúscula sala de jantar, dois minúsculos quartos, um minúsculo banheiro e uma minúscula cozinha… Acho que foi construída para sete anões… Lá havia um batalhão de cavalaria. De longe eu via os soldados com suas fardas, cavalgando cavalos nervosos e brilhantes. De vez em quando, pelas madrugadas, eu ouvia o barulho metálico das ferraduras batendo nas pedras da rua onde estava a minha casa. Era escuro. Em casa todos ressonavam, menos eu. Cuidadosamente eu me levantava e abria uma fresta da janela para ver. Eram muitos, soldados e cavalos. Iam a caminho de algum lugar, vagarosamente, carabinas ao lado dos arreios. E eu imaginava que eles eram seres descomunais, fortíssimos, centauros míticos. Seria um bom tema para um filme de Bergman.

Mudamo-nos para a cidade, mas mantivemos o tempo da roça. Na roça os relógios não eram necessários. Era o escuro da noite que dizia que era hora de dormir. Assim, ia-se para a cama logo depois da janta. Não havia razões para ficar acordado. A luz bruxuleante da lamparina de querosene não era própria para a leitura. Havia também o cansaço do dia que começara ao sol nascente. Além do que, todos sabiam que a noite era um tempo sinistro, quando os seres da escuridão saíam dos seus esconderijos para assustar aqueles que se atreviam a desafiá-la. De todas as horas, a meia-noite era a hora mais temida. Era a hora da magia. As coisas aconteciam sempre quando soava a décima segunda badalada…

Assim, jantávamos e íamos para a cama depois de rezar: “Agora me deito para dormir. Guarda-me, ó Deus, em teu amor. Se eu morrer sem acordar, recebe a minh’alma, ó Senhor. Amém.” A morte trabalha durante a noite. Na cidade seguíamos o mesmo tempo. Vezes sem conta ouvimos da cama o relógio da igreja bater as oito horas… Oito horas, noite profunda. Na minha imaginação, a cidade inteira deveria estar dormindo. E era então que eu ouvia a voz rouca de um menino que andava pela rua, a mesma rua por onde passavam os centauros armados: “Olha os pastéis, de carne e de queijo…” Ah! Não era só na roça que havia meninos abandonados. Na cidade também. Um, perdido na mata. O outro, perdido na rua vazia. E eu o imaginava na rua escura anunciando pastéis para pessoas que não havia. Ainda hoje ouço a sua voz de criança solitária e abandonada.

Depois nos mudamos para Varginha, cidade maior. A marcação do tempo mudou. Não mais íamos para a cama depois da janta, porque o trem de ferro passava bem defronte da nossa casa, guinchando trilhos, resfolegando e vomitando milhares de fagulhas. Era o trem das oito. Muito antes que ele aparecesse na curva, a gente sabia que ele estava chegando, porque vinha apitando. Era um trem alegre porque nele vinha o meu pai voltando de suas viagens. A noite passou a ser um escuro feliz. Barulho, apito e fagulhas: tudo era alegria. Acresce o fato de que agora já tínhamos um rádio Phillips para ouvir as novelas, a dupla de violeiros Jararaca e Ratinho e o programa do nhô Totico. A noite ficou mais amiga. Mas na cama, apagadas as luzes, feito o silêncio, sozinho, as imagens de abandono retornavam. Não mais os dois meninos. Eu mesmo. Lembro-me de que, numa dessas noites, eu chorava baixinho. Chorava de angústia. Minha mãe ouviu o meu choro e veio assentar-se ao meu lado para saber o que me fazia sofrer. Expus-lhe, então, a minha aflição. “Mãe, quando eu crescer, como é que vou fazer para arranjar uma mulher?” “Mãe, quando eu crescer como é que vou fazer para ganhar a vida?”

Quem tomar essas perguntas no seu literalismo se rirá delas. Não é engraçado que problemas tão distantes façam uma criança chorar? Mas o seu sentido não se encontra na letra. Ele se encontra no não dito, na noite escura de onde surgiram, noite da minha alma, aquela noite quando seria inútil chamar por pai ou por mãe, porque não haveria ninguém para ouvir. Naquela noite eu chorava pela minha solidão, pelo abandono que me esperava, quando eu seria como o menino da mata ou o menino na rua vazia.

O menino abandonado não me abandonou. Entrou dentro de mim e mora comigo. Me faz sofrer. Me dá ternura. Sempre que vejo uma criança abandonada, eu sofro. Quereria poder protegê-la, cuidar dela. Eu me enterneço porque a criança abandonada que mora em mim está sofrendo. Afinal, todos somos crianças abandonadas. Nos momentos de solidão noturna, de insônia, tomamos consciência de que estamos destinados ao abandono, àquele tempo quando será inútil chamar “meu pai” ou “minha mãe”. Os negros norte-americanos conheciam esse sentimento. E com ele compuseram um spiritual em ritmo de canção de ninar que diz assim:

Por vezes eu me sinto como uma criança sem mãe,
por vezes eu me sinto como uma criança sem mãe,
longe, muito longe de casa…*

É assim que me sinto, às vezes. Tenho, então, vontade de chorar…

Fonte: https://www.revistaprosaversoearte.com

FRASES ILUSTRADAS


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

PARA ARAS LER NA CAMA

PARA ARAS LER NA CAMA
Ruy Castro

Teme-se que a leitura do relatório da CPI o faça dormir. Mas, desta vez, Aras pode perder o sono

Sim, nós sabemos que Augusto Aras, procurador-geral da República, passa o dia ocupado ignorando ou indeferindo pedidos de investigação dos crimes do governo, inclusive os praticados por apoiadores como políticos, médicos e advogados de aluguel, pistoleiros condecorados e incansáveis newsfakers ou, em faria-limês, influencers. Donde será demais exigir que se debruce durante o expediente sobre as 1.287 páginas do relatório do CPI da Covid, que pede o indiciamento de seu chefe Jair Bolsonaro por mais crimes que uma única vida seria capaz de pagar.

Mas nada impede que Aras, dedicado cumpridor das funções que lhe garantem o salário, leve a papelada para ler na cama. Muita gente lê antes de dormir, e Aras poderá pedir a um membro de sua equipe para organizar o material em blocos que lhe facilitem a leitura. Uma ideia seria separá-lo por tópicos, cada qual tratando de um dos nove crimes atribuídos a Bolsonaro: contra a saúde pública, incitação à morte, prevaricação, charlatanismo etc.

Depois de vestir o pijama de alamares e tomar sua gemada noturna, Aras afofará os travesseiros e, certificando-se de que está com os óculos na ponta do nariz, mergulhará na documentação. Muito do que lerá certamente lhe será novidade —as aglomerações que Bolsonaro provocou para induzir ao contágio do vírus, a pregação contra o distanciamento, a aversão à mascara e a compra maciça de cloroquina em vez de vacina, ajudando a matar, até agora, 606 mil brasileiros.

De nada disso Aras tomou conhecimento quando estava acontecendo. Até mesmo a fabulosa afirmação recente de Bolsonaro, de que a vacina provoca Aids, deverá surpreendê-lo. É normal —um procurador-geral não é obrigado a saber tudo o que acontece, bolas.

Teme-se que Aras durma no segundo parágrafo, vire para o canto e ronque. Eu não. Para mim, desta vez ele lerá algo que o fará perder o sono, e será bem feito.

Fonte: Folha de S. Paulo
Amigos são aquelas pessoas raras que nos perguntam como estamos e depois ficam à espera da resposta. (E. Cunningham)

LUGARES

QUIMPER - FRANÇA

Quimper é uma comuna francesa na região administrativa da Bretanha, no departamento Finistère. A zona de Quimper é conhecida pelas suas excelentes condições para a prática de qualquer desporto de vento.

MR. MILES


VESTIDOS PARA VIAJAR
Mr. Miles: é impressão minha ou os turistas são os seres mais deselegantes e mal-vestidos que existem?
Ilda Maria Novaes, por email

Not all of them, my dear. Mas, no atacado, você está, indeed, muito próxima da verdade. Basta caminhar pelas ruas de uma cidade invadida por excursões para observar discrepâncias estilísticas de todas as espécies. Chama a atenção, as well, o grau de amarfanhamento das vestes e a notável desarmonia de cores. Isso não significa, however, que quem viaja não sabe se vestir. Uma conclusão sofismática desse tipo seria um ultraje inaceitável.

What really happens, darling, é que o ato de transportar indumentárias em malas ou mochilas tem efeitos devastadores sobre a elegância dos viajantes. Anos atrás, I remember, viajavamos com grandes baús que continham trajes adequados para cada situação. Havia, porém, uma generosa oferta de serviçais para transportá-los de um lugar para o outro, além de um séquito de criados encarregados da manutenção de luvas e chapéus.

Os tempos mudaram e, as you know, a herança de minha tia Hildegard foi, as you say, ‘to the swamp’. (N.da R.: tradução livre de “para o brejo”.) Unfortunately, nem todos têm tempo ou reservas financeiras para mandar lavar e passar suas roupas enquanto perambulam.

Os humores do clima também variam, obrigando os viajantes a improvisações de resultados calamitosos. Besides, adornos como máquinas de fotografar, mochilas, guias de viagem, garrafas de água, binóculos e pacotes de lembrancinhas não ajudam nada na composição do visual. Mas, pensando bem, who cares about it?

Quem percorre o mundo com o espírito aberto e não deixa apagar, dentro de sí, a volúpia pela descoberta estará sempre bem vestido, ainda que esteja nu. Don’t you agree?

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

BOLSONARO VIOLA SEPARAÇÃO ESTADO-IGREJA

BOLSONARO VIOLA SEPARAÇÃO ESTADO-IGREJA
Hélio Schwartsman

Feriu o artigo 19 quando indicou Crivella em junho e fere de novo agora

Reza o artigo 19, inciso I da Constituição: "É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público". Em mais uma de suas múltiplas violações à Carta, o presidente Jair Bolsonaro telefonou para seu homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, e lhe pediu que desse luz verde à indicação de Marcelo Crivella para o cargo de embaixador em Pretória.

Crivella, ex-prefeito do Rio, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e sobrinho de seu proprietário, Edir Macedo, não é conhecido por seus dotes diplomáticos. Segundo colunas de bastidores, foi indicado para o posto como gesto de agrado de Bolsonaro à Iurd. Acredita-se que sua presença como representante do Brasil no continente africano ajudaria a Iurd, que vem enfrentando problemas em vários países da região, notadamente em Angola.

Bolsonaro feriu o artigo 19 quando indicou Crivella em junho e de novo agora, quando pressiona Ramaphosa. Se ainda dá para admitir que o Itamaraty ajude empresas brasileiras no exterior, já que seu êxito se converte em mais impostos arrecadados, que serão usados em favor do país, o mesmo não se pode afirmar de igrejas, que gozam de imunidade tributária. Institucionalmente, o Brasil é indiferente ao sucesso ou fracasso da Iurd ou de qualquer outra fé.

Em matéria de religião, o papel do Estado é apenas assegurar que cada cidadão possa rezar para os deuses que preferir, sejam espíritos da floresta, Apolo ou o Deus cristão. A liberdade religiosa interessa muito mais às pessoas que têm fé do que a ateus. Aliás, os evangélicos só tiveram oportunidade de se multiplicar no Brasil porque o Estado deixou de usar seus poderes para favorecer o catolicismo.

Fonte: Folha de S. Paulo
Ninguém pode ser bom por muito tempo se não houver uma demanda por bondade. (Bertolt Brecht, dramaturgo alemão, 1898-1956)

LUGARES

VIENA - ÁUSTRIA

NÃO TROPECE NA LÍNGUA

ESTADA OU ESTADIA, SPA, IOGA

--- A palavra correta é estada ou estadia quando você quer dizer a permanência em um hotel ou outro lugar? Maria Helena Prezoto Ferrari, São Paulo/SP

Tanto faz. Já se foi o tempo em que era rigorosa a distinção entre os dois termos: estadia era só para navio, estada para os demais casos. Mas, até por uma questão de eufonia, passou-se a usar estadia para qualquer tipo de permanência, de carro em estacionamento a pessoa em hotel. Finalmente, eis que o dicionário Houaiss avaliza o uso corrente:

ESTADA é o ato de estar, de permanecer em algum lugar:
  • Durante a sua estada no poder, o Presidente fez várias viagens ao exterior.
  • Sua estada na ilha foi gratificante, disse ele.
  • Consideramos nossa estada na Inglaterra muito proveitosa em termos culturais.
ESTADIA significa “permanência, estada por tempo determinado”; ou período de tempo autorizado de um navio mercante num porto, o mesmo que estalia. Exemplos:
  • A Secretaria a Saúde vai custear sua estadia em Curitiba durante o curso.
  • estadia no campo deixou o pessoal mais relaxado.
Um dos momentos mais emocionantes da estadia do cantor em Baltimore foi quando ele viu o vídeo de um show que Leonardo fez sozinho em Santa Catarina.

--- Há vários anos, tenho tentado, através de leitura, indagações e consultas variadas, saber o que significam as letras de SPA. Um sem-número de pessoas pronunciam e repetem spa's e nunca mencionam o significado das letras. Vocês poderiam desvendar-me esse mistério? Amilton de Moraes Varella, São Paulo/SP

SPA é o nome que se dá a uma estância hidromineral, hotel distante das cidades ou grande estabelecimento comercial que oferece um tratamento integrado de saúde e beleza. Essa designação é comumente associada à cidade de Spa, antiga e famosa estância hidromineral localizada no leste da Bélgica. As três letras são as iniciais da expressão latina “Salutae Per Aquam”, que quer dizer “saúde ou cura pela água”. Observe o plural sem apóstrofo:
  • Fagundes conseguiu voltar à boa forma depois da permanência de três dias num spa. 
  • Simon & Cia. pretende investir na construção de dois spas em São Paulo.
--- Gostaria de saber se a palavra yoga ou ioga é usada no feminino ou masculino? Devo acentuá-la (yôga) como já vi? E qual a pronúncia correta? Adroaldo de Andrade, São José/SC 

Em português a palavra é feminina e escrita com i. Sua pronúncia pode ser aberta /ióga/, pela nossa tendência a pronunciar o ó aberto, ou fechada /iôga/, como sabe todo bom praticante iogue, por causa de sua origem no sânscrito, língua em que não ocorre o som aberto ó. Também é a etimologia que explica a grafia com e o uso de o yoga, pois as palavras sânscritas terminadas em a geralmente pertencem ao gênero masculino.

Resumindo: em português brasileiro se diz a ioga; em “português-sânscrito”, o yoga (sem necessidade de se colocar o acento circunflexo informativo da pronúncia).

Ioga quer dizer “união”. Em sânscrito, yoga era palavra também utilizada para designar a canga ou jugo de madeira usado para prender uma junta de bois. Daí o significado de união: da natureza com o Espírito, do humano com o Absoluto, da alma com Deus.

Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O ZÉ SUAVE

O ZÉ SUAVE
José Horta Manzano

Às vezes aparecem na mídia notícias que não contam tudo, deixando em branco parte da história. Todos os jornais informaram que um cidadão conhecido pelo suave apelido de Zé Trovão “se entregou espontaneamente à PF de Joinville (SC)”.

Como o Brasil inteiro está sabendo, fazia semanas que o moço vivia sob ameaça de encarceramento, visto que pesava contra ele um mandado de prisão expedido diretamente pelo STF. Não é qualquer um que tem prisão decretada pela Corte Maior, deferência reservada para infratores da mais elevada categoria. Coisa fina!

Soube-se que o exaltado caminhoneiro, quando se viu acuado, não ousou enfrentar a Justiça para responder, peito aberto, de seus malfeitos. Decidiu dar um passeio no exterior. Chegou a pedir asilo político (sic!) no México. Não tendo sido atendido e não enxergando outra via de saída, achou melhor voltar pra casa.

É aqui que a história contada pela imprensa é vaga. Ninguém informa como é que o rapaz se virou pra voltar. Suponho que não tenha vindo do México a pé, nem de bicicleta através do que ainda resta de floresta amazônica. É quase certeza que veio de avião.

Esse avião terá pousado no Brasil, num aeroporto internacional, daqueles em que gente comum tem de fazer fila, passar pelo guichê e apresentar passaporte. Como é que ele fez? Como é possível que o suave Zé, procurado por todas as polícias do mundo e com o rosto estampado em toda a mídia do país, tenha passado em branco sem ser reconhecido por ninguém?

Tem mais. As notícias informam que ele se apresentou à PF de Joinville por ser morador daquela cidade catarinense. Sabe-se inclusive que deu as caras no posto de polícia às 14 horas. Aqui vai nova suposição minha: imagino que tenha passado a noite (ou pelo menos algumas horas) em casa.

Agora vem a pergunta: ninguém viu o homem chegar do exterior? Ninguém controlou nem verificou quando entrou em casa? De táxi, a pé, acompanhado de um cúmplice?

Como é possível que o domicílio de um afamado foragido da justiça não seja objeto de monitoramento 24h por dia? O domicílio é conhecido. O procurado é um indivíduo importante, visto ter prisão decretada pelo STF, o que não é pra qualquer capiau. E ninguém manda vigiar a casa do homem?

Se alguém tiver mais informações, peço encarecidamente que mande cartas para a Redação.

Fonte: brasildelonge.com

PASSAPORTE VACINAL E LIBERDADE INDIVIDUAL

PASSAPORTE VACINAL E LIBERDADE INDIVIDUAL
Pedro Hallal

O trend topic negacionista é ser contrário ao passaporte vacinal

Um total de 125 países exigem vacinação contra a febre amarela para os brasileiros que queiram visitá-los. Estranhamente, isso nunca foi questionado pelos negacionistas, que agora, de uma hora para outra, viraram defensores das liberdades individuais.

Muitas escolas exigem comprovante de vacinação para matricular as crianças. Estranhamente, isso nunca foi questionado pelos pseudocientistas, que utilizam o WhatsApp para circularem as mais recentes "descobertas" da ciência.

Aqui na Califórnia, de onde escrevo essa coluna, o passaporte vacinal já é realidade. Muitos eventos esportivos, cinema, supermercados, shows de música, entre outros, exigem o comprovante de vacinação.

O motivo é simples: a vacinação já evitou centenas de milhares de mortes por Covid-19. Aliás, se as vacinas da Pfizer e a Coronavac tivessem sido compradas logo que foram oferecidas pela primeira vez, o Brasil teria evitado cerca de 100 mil mortes por Covid-19. A vacinação fez com que a média móvel, que chegou a mais de 2 mil mortes por dia, hoje seja abaixo de 400 mortes por dia.

Mesmo assim, o "trend topic" negacionista é ser contrário ao passaporte vacinal. O argumento é que a liberdade individual, de ser ou não vacinado, deve ser respeitada.

Vamos aprofundar um pouco o assunto. Qual das situações abaixo você julgaria aceitável?

1) Um fumante deseja exercer a sua liberdade individual de fumar dentro do avião;

2) Um indivíduo deseja exercer sua liberdade individual de tomar um porre e dirigir;

3) Um motorista deseja exercer sua liberdade individual de andar de carro à noite com todos os faróis queimados.

Em todos os casos, a resposta é a mesma: é proibido uma pessoa exercer sua liberdade individual se essa escolha coloca outras pessoas em risco.

O caso da vacina contra a Covid-19 é absolutamente idêntico. Não há qualquer dúvida na literatura de que pessoas não vacinadas possuem maior risco de contágio e de transmissão em comparação aos não vacinados.

Todos os motoristas bêbados causam acidentes? Obviamente que não, da mesma forma como nem todos os não vacinados se infectam com Covid-19 e transmitem a doença. Mas é lógico também que motoristas bêbados têm maior risco de causarem acidentes, assim como pessoas não vacinadas têm mais risco de transmitirem Covid-19.

Talvez ainda chegue o dia em que não seja necessário proibir as pessoas de fumarem em avião, ou de dirigirem bêbadas, ou de dirigirem com os faróis apagados à noite, pois as pessoas farão isso por conta própria, compreendendo que suas liberdades não podem colocar os outros em risco.

Mas esse dia ainda não chegou. E por isso, o passaporte vacinal é obrigatório.

Quem quer exercer sua liberdade individual de não se vacinar, infelizmente, não poderá ir ao estádio de futebol, ao cinema, ao baile de Carnaval, viajar de avião, visitar outros países, sentar em bares e restaurantes.

A outra opção é deixar de ser negacionista e tomar a vacina logo.

A liberdade para escolher é sua!

Fonte: Folha de S. Paulo
Aquele que luta contra nós fortalece nossos nervos e aprimora nossas qualidades. Nosso antagonista trabalha por nós. (Edmund Burke, escritor irlandês, 1729-1797)

LUGARES

CAMINITO - BUENOS AIRES


A VOLTA TRIUNFAL DO K, DO W E DO Y

A VOLTA TRIUNFAL DO K, DO W E DO Y
Ruy Castro

Banidas do alfabeto durante décadas, são essas letras que agora dão nome aos brasileiros

Começou há pouco. Ao ver os jornais e revistas tomados por celebridades chamadas Warlley, Weverton e Whindersson, dei-me conta de que os brasileiros estão deixando de se chamar, digamos, Ivo, Ivone ou Ivan, e recebendo nomes inusitados, ricos em K, W e Y, consoantes dobradas e sons ousados. Intrigado, passei a anotá-los. Pois aí vai uma lista parcial. Você reconhecerá vários.

Abdulay, Ádria, Alana, Alerrandro. Bethe. Chely, Clairton, Crayton. Daliléa, Dawhan, Daiane, Dayane, Deiveson, Deolane, Derick, Deyverson, Dhiego, Dyego, Dyorgines. Edwarda, Ericka, Erison, Erom. Geddel, Genifer, Geová, Geuvânio, Geyse, Glaidson, Glover, Gusttavo. Hacran, Hayner, Heverton, Huendel. Illarde, Irandhir, Istela, Ivonei. Jandrei, Jardênia, Jardiel, Jayse, Jennyfer, Jiddu, Joelinton, Johnnathan, Jonatha, Jonh, Jovane, Jovelthy, Justier.

Kaik, Kaiky, Kaio, Kalindra, Karinah, Karlailly, Karol, Karolayne, Karolina, Kassio, Kathellen, Kayser, Keiner, Keirrison, Keyty, Khellven, Klara, Klebber, Klébio, Kley, Klidson, Kron. Laiana, Laienny, Lailla, Leomon, Lorenne, Lorraine, Lusandra, Lyanco, Lyoto. Maichael, Maikon, Maique, Marconny, Markus, Marllon, Marllone, Maurren, Mayane, Mikael, Moyseis. Natielly, Nyeme.

Pabllo, Paolla, Phelype, Pryscila, Pyerre. Randolfe, Rani, Raniel, Raulian, Rayane, Rayssa, Rhodolfo, Roan, Rodinei, Ruan, Rúlio. Saimon, Sandry, Sheymon, Sikêra, Styvenson. Taison, Talisson, Talytha, Thaeme, Thaila, Thammy, Thiarles. Udson, Uendel, Uillian, Uilson, Uýra. Os já citados Warlley, Weverton e Whindersson. Xanddy. Yeltsin, Yeni, Yesus, Ykaro, Yúdi. Zezeh.

Velho portador de um Y, levei décadas na clandestinidade com essa letra banida do alfabeto. É bom sabê-la legalmente de volta, assim como o K e o W. Mas não me iludo —a continuar essa tendência à criatividade, o Y não impedirá que, um dia, Ruy, assim como Ivo, Ivone ou Ivan, seja um nome que só se verá em cemitérios.

Fonte: Folha de S.Paulo

FRASES ILUSTRADAS


terça-feira, 26 de outubro de 2021

RUDEZA VS. SENSIBILIDADE

RUDEZA VS. SENSIBILIDADE
Ruy Castro

Em Santos, o ovo atirado contra um violoncelo resume a selvageria do Brasil em que vivemos

Há dias, o garoto Luiz Felipe Salinas Almeida, 20 anos, tocava seu violoncelo numa rua de Santos quando ouviu algo se chocando contra a madeira do instrumento. Sem parar de tocar, examinou-o e viu a baba escorrendo. Alguém o alvejara com um ovo. Diante da gratuita brutalidade, Luiz Felipe teve vontade de chorar. Mas se segurou e continuou tocando. Os transeuntes que o ouviam olharam em torno tentando identificar quem fizera aquilo. Não conseguiram --o ovo poderia ter vindo de alguma janela. Outros perceberam a agressão e aproximaram-se, solidários. Isso só ampliou a humilhação de Luiz Felipe. Como ele disse depois, não queria ser objeto de piedade.

Não era a primeira agressão que sofria. Luiz Felipe toca nas ruas para viver e para pagar a pensão alimentícia de seu filho Valentim, de um ano. Seu palco são as cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais. Em algumas, o comércio ao alcance de sua música já chamou a polícia para tirá-lo dali e apreender seu instrumento.

Luiz Felipe pode não ser um virtuose como o catalão Pablo Casals e o russo Mstislav Rostropovich, duas lendas do violoncelo, ou o sino-americano Yo-Yo Ma, um prodígio contemporâneo. Mas o violoncelo não é um instrumento agressivo. Seu território é o clássico e, sempre que emprestado à música popular, deu a esta uma sobriedade e classe que ela poderia ter incorporado de vez --vide o americano Kronos Quartet tocando Thelonious Monk e o nosso trio Paula e Jaques Morelenbaum e Ryuichi Sakamoto tocando Jobim. Numa época de música em decibéis intoleráveis para o ouvido humano, é impossível a um menino armado com um arco e quatro cordas, como Luiz Felipe, ferir a sensibilidade de alguém.

Resta ver até quando nossa sensibilidade resistirá à selvageria oficial, emanada dos atuais ocupantes do poder. Nunca o Brasil foi reduzido a tal rudeza e sordidez.

A pessoa que atirou o ovo personifica esse Brasil.

Fonte: Folha de S.Paulo
Em seus tratos com o homem, o destino jamais liquida suas contas. (Oscar Wilde, escritor irlandês, 1854-1900)

LUGARES

SPLIT - CROÁCIA

ROMANCE FORENSE

Imagem da Matéria Qual o seu canal preferido de tevê?

Audiência de tentativa de conciliação em ação de separação litigiosa, em comarca gaúcha, o juiz pergunta aos separados qual fora, afinal, a causa do rompimento, já que não havia alegação de maus tratos, infidelidade etc.

O varão então conta que, certa noite - o casal já deitado - ele zapeava o televisor entre dois canais: o SporTv e o Sexy Hot. Mudava, com insistente frequência, entre um jogo ao vivo pela Libertadores e um filme pornô que mostrava um casal ´mandando bala´...

Indeciso - e talvez insinuando pretender a intimidade profunda - o varão teria comentado com a mulher:

- Não sei em que canal fico: o jogo emocionante ou o filme criativo...

A resposta da mulher teria sido o motivo do rompimento.

- Ora, sem dúvida, assiste ao filme pornô para tentares aprender, porque futebol tu já sabes jogar! No resto, não passas de um aprendiz, ou de um aluno reprovado...

Por mais que o magistrado insistisse, o máximo que ele conseguiu foi transformar a separação de litigiosa em consensual.

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

PLANO B

PLANO B
Ascânio Seleme (*)

Bolsonaro não desistiu da reeleição. Com o auxílio emergencial acha que consegue sobreviver e crescer ao longo dos primeiros meses do ano que vem.

Mas o plano B está mantido. Se mais adiante as pesquisas apontarem um inevitável fracasso eleitoral, ele retira sua candidatura como forma de inviabilizar Lula. E dirá alto e claramente que deixa a disputa para impedir que o PT ganhe a eleição.

A saída de Bolsonaro não derrota automaticamente Lula, mas sua candidatura se enfraquece diante de um candidato de centro que atraia os eleitores da direita bolsonarista. Claro que, antes de sair, Bolsonaro tentará um acordo de blindagem para si e seus filhos.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 23 out° 2021.
Quando sinto uma terrível necessidade de religião, saio à noite para pintar as estrelas. (Van Gogh,pintor holandês, 1853-1890)

LUGARES

FRANKFURT - ALEMANHA


MAL NA FOTO

Martha MedeirosMartha Medeiros

Não sou muito fã de selfies porque, como se sabe, de perto ninguém é normal a distância sempre induz a uma avaliação mais favorável. Uns dois metros pra trás resolveriam o problema (o problema da espinha no queixo, da cara de sono, daquela pelancazinha danada no pescoço), mas a ordem é ficarmos todos embolados uns nos outros. Chegue aqui, dê um abraço e olhe pra câmera. Agora sorria.

Pronto. Somos dois enquadrados no mesmo click. O grude é obrigatório. O braço estendido e o celular virado pra você e seu mais novo amigo de infância é uma declaração ao mundo: não sou um desgarrado, não sou um papagaio de pirata, não sou um desconhecido que estava passando – eu e a figura aqui somos assim, ó (os dois dedos indicadores lado a lado se roçando).

Selfie, basicamente, é isso: um testemunho de intimidade – se ela existe, de fato, são outros quinhentos. Confesso que já paguei alguns (poucos!) micos ao lado de artistas que admiro. Quem nunca caiu em tentação, tendo a facilidade de um registro para a posteridade? Hoje em dia, faria uma selfie com o papa Francisco fácil, fácil. E com qualquer um dos Beatles e dos Stones. E com aquele cineasta octogenário, baixinho e de óculos que todos sabem que eu venero. Aliás, com qualquer ganhador do Oscar, incluindo OJ Simpson, o negrão cujo julgamento foi tema do documentário premiado este ano.

Ops. Derrapei no politicamente incorreto? Não deveria ter usado a palavra negrão?

Pra muita gente, a derrapagem teria sido só esta, pois se há quem tire selfie com Eike Batista, com o goleiro Bruno, com o Guilherme de Pádua e outros célebres, uma selfie com um ex-astro do futebol americano (que matou duas pessoas, mas isso é um detalhe bobo) seria mais do que compreensível.

Caso não tenha ficado claro: esse último exemplo foi apenas para provocar.

Você é íntimo do seu irmão, e também do seu amigo Zé e, claro, da sua cara-metade, mas você não quer passar a vida postando fotos apenas com eles, e sim com algum homem ou mulher que tenha escapado do anonimato e se tornado "alguém". Se essa criatura costuma aparecer na tevê e você aparece junto com ela na sua página do Face, está feita a ponte: você também passa a ser um pouquinho especial.

Nunca foi tão fácil romper a barreira da invisibilidade, basta um breve momento de tietagem com um ator famoso, um músico famoso ou um assassino famoso. Numa época em que valores essenciais caíram em desprestígio, alguém vai se preocupar com critérios éticos e perder a oportunidade de causar?

Uns e outros se diferenciam, mas a sociedade, como um todo, está mal na foto.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


domingo, 24 de outubro de 2021

BOLSA COMBUSTÍVEL

BOLSA COMBUSTÍVEL
José Horta Manzano

Por razões que não cabe aqui analisar, o preço dos derivados de petróleo tem aumentado sensivelmente estes últimos meses. O fenômeno é mundial. No final das contas, a população toda sente os efeitos desagradáveis, visto que o preço de todos os bens aumenta.

Os profissionais do volante – taxistas, caminhoneiros, motoboys – estão na linha de frente: sentem o impacto diáriamente no posto de gasolina. São os primeiros a reclamar, e seu grito pode ecoar num país inteiro.

Anos atrás, quando ainda não detinha as rédeas do poder, Bolsonaro, por razões eleitorais ou por propensão inata à rebeldia, pôs-se ao lado dos caminhoneiros e apoiou uma greve que durou dias e paralisou o país.

Agora a grita dos estradeiros se alevanta de novo, só que, desta vez, o capitão está do outro lado do balcão. Tudo o que ele não quer é um país parado, estradas bloqueadas, fome e inflação piorando. Receia ser acusado de mais uma marretada.

Ofereceu 400 reais aos caminhoneiros, que cuspiram em cima da oferta e a qualificaram de “esmola”. O preaviso de greve continua de pé. A não ser que caia do céu uma solução, o movimento será no começo de novembro.

Na França, o governo está enfrentando problema parecido. Não se pode dizer que seja idêntico, porque o povo de lá não vive nas mesmas condições do povo de cá. Assim mesmo, aumento constante no preço do combustível dói no bolso de quem precisa usar o carro diariamente.

Nem todos os franceses vivem em Paris, com metrô na esquina de casa; grande parte da população mora em vilarejos espalhados pelo país, onde ônibus não passa e trem não chega. Para essa gente, o carro é essencial; sem ele, não teriam como se dirigir ao trabalho.

Antes que os coletes amarelos despertem do torpor em que se encontram e decidam retomar passeatas e manifestações, o governo francês acaba de anunciar que, daqui para o fim do ano, um bônus de 100 euros (660 reais) será distribuído aos cidadãos de menor poder aquisitivo.

Quem são? São aqueles cujos rendimentos se situam abaixo de determinado valor, e que são as maiores vítimas da subida de preço dos combustíveis. Mas atenção: não é uma bolsa mensal; trata-se de um valor único, igual para todos, dado uma vez só.

Para chegar a esse montante, tomaram o aumento de preço dos combustíveis este ano e multiplicaram pela média anual de quilômetros percorridos pelos automobilistas franceses.

Estima-se que 38 milhões de pessoas terão direito ao vale combustível. Quase € 4 bi serão assim distribuídos (R$ 26 bi), uma bela quantia. É bom ter em mente que 2022 é ano eleitoral tanto na França quanto no Brasil, o que explica essa generosidade nos dois países.

É permitido acreditar que os motoristas franceses não se contentarão com o “bônus combustível”. É igualmente provável que os caminhoneiros brasileiros não se satisfarão com a “esmola” bolsonárica. Vamos ver o que acontece.

Fonte: brasildelonge.com

A CURIOSA HISTÓRIA DO QWERTY

A CURIOSA HISTÓRIA DO QWERTY
Por que seu teclado não está em ordem alfabética?
Guilherme de Souza

É provável que você mal olhe para o teclado enquanto digita, já que se acostumou com a localização das teclas. Ainda assim, talvez já tenha se perguntado qual a lógica por trás dessa disposição. Não seria mais fácil deixar as letras em ordem alfabética, por exemplo?

Em texto recente, Jimmy Stamp, colaborador do Smithsonian, falou sobre teorias por trás do modelo de teclado mais usado no ocidente – o QWERTY (nomeado a partir das 6 primeiras letras do teclado).

A história começa na década de 1860 nos Estados Unidos, quando o político, jornalista, impressor e inventor Christopher Latham Sholes criou, junto com três colegas, uma das primeiras máquinas de escrever. Inicialmente, o teclado se assemelhava ao de um piano, e as letras estavam dispostas em ordem alfabética. É a partir daqui, segundo Stamp, que a história do QWERTY fica meio “nebulosa”.

“A teoria popular afirma que Sholes teve de replanejar o teclado em resposta a falhas mecânicas nas primeiras máquinas de escrever”, explica. “Se um usuário teclasse rapidamente uma sucessão de letras próximas, a delicada máquina estragaria”. Teoricamente, o modelo seguinte separaria as combinações de letras mais comuns na língua inglesa, como “th” e “he” e “in”. Contudo, há uma falha nessa teoria, já que a combinação “er” (a 4ª mais comum em inglês) está junta no teclado, na primeira linha.

A explosão do QWERTY

“Lá por 1873”, continua Stamp, “a máquina de escrever tinha 43 teclas e um arranjo de letras decididamente contra-intuitivo, que supostamente ajudava a garantir que as máquinas não quebrassem”.

No mesmo ano, Sholes e seus colegas firmaram uma parceria com a empresa Remington, que até então fabricava armas (com o fim da Guerra Civil dos Estados Unidos, a Remington precisava ganhar outros mercados). Anos mais tarde, o sucesso da parceria ficou evidente: nos Estados Unidos, em 1890, havia em uso cerca de 100 mil máquinas de escrever com esse layout de teclado, produzido pela Remington. Três anos mais tarde, ela se juntou a outras empresas do ramo (Caligraph, Yost, Densmore e Smith-Premier) para formar a Union Typewriter Company, que adotou o layout QWERTY.

Uma das explicações pela manutenção desse arranjo de letras, aponta Stamp, estaria no fato de que a Remington, antes de se juntar às outras companhias, oferecia (a um pequeno preço, claro) treinamento para datilógrafos, criando uma dependência maior entre usuários e empresa – algo parecido com o que a Apple faz hoje em dia, dando oficinas em lojas e empresas para ensinar os consumidores a aproveitar melhor seus produtos.

Então, é isso: o sistema provavelmente surgiu para evitar falhas mecânicas e foi adotado como padrão graças a interesses comerciais da Remington?

Talvez não. Em artigo publicado em 2011, pesquisadores da Universidade de Kyoto (Japão) analisaram a evolução dos teclados de máquinas de escrever e concluíram que o modelo surgiu a partir de sugestões e críticas dos profissionais responsáveis por testá-los. Entre essas pessoas, estariam decodificadores/receptores de Código Morse, que precisavam digitar com rapidez.

“A velocidade do receptor deveria ser igual à do emissor (…). Se Sholes realmente organizou o teclado para diminuir a velocidade do operador, este se tornou incapaz de acompanhar o emissor. Não acreditamos que Sholes tivesse uma intenção tão sem sentido durante o desenvolvimento das máquinas de escrever”, explicam os autores.

Seja como for, Sholes continuou criando outros layouts de teclado mesmo depois de ter passado o QWERTY para a Remington – um indício de que mesmo ele não considerava o sistema ideal.

Na década de 1930, foi desenvolvido um grande rival do QWERTY, chamado Dvorak (o nome vem de seu inventor, August Dvorak). Mesmo caindo na preferência de alguns usuários (seu arranjo de letras permitiria que se digitasse mais palavras sem deslocar tanto os dedos em relação à posição “inicial”), já era tarde para tentar tomar o lugar do QWERTY, que hoje continua soberano – mesmo sem a necessidade de digitar devagar para que o equipamento não quebre.

Sistema Dvorak

Recentemente, um novo layout, chamado KALQ, foi desenvolvido para facilitar a digitação a partir dos polegares (em tablets e smartphones). Será que vai vingar?[Smithsonian, Zinbun]

Fonte: https://hypescience.com
Aquele que quer reconhecer o caráter efêmero do mundo deveria ler jornais antigos para ver quão insignificante resulta o que em seu dia foi tão importante. (William Somerset Maugham, escritor inglês, 1874-1965)

LUGARES

AMSTERDAM - HOLANDA

KOHAR WITH STARS OF ARMENIA


Cohar es una orquesta sinfónica de Armenia que ha recorrido el mundo dando a conocer su música tradicional con un espectáculo musical que incluye coros y danzas de ese país. Este concierto que se celebró en la Plaza de La Libertad de Yerebán en el 2011, cerró con este numerito de Jazz-Swing con el que se han cocinado este superfenomenal video montaje, seleccionad calidad 1080p y visualizar a pantalla completa ¡NO TIENE DESPERDICIO!

FRASES ILUSTRADAS


sábado, 23 de outubro de 2021

BOLSONARO FICOU INTELIGENTE?

BOLSONARO FICOU INTELIGENTE?
Hélio Schwartsman

Ele sabe traçar objetivos, como a busca pela reeleição

Jair Bolsonaro é inteligente? De quando em quando lanço essa pergunta, sempre definindo inteligência como a capacidade de traçar objetivos e seguir uma estratégia elaborada para alcançá-los.

O presidente passa com facilidade pela primeira parte do teste. A meta que ele se propôs é a reeleição. Faz sentido. É o melhor caminho para evitar a cadeia depois que ele perder as imunidades e o foro especial. O plano B seria obter um passaporte italiano e voar para Roma no dia 31/12/2022. A Itália, como o Brasil, não extradita nacionais.

É na segunda parte do teste que os cálculos presidenciais se tornam mais duvidosos. Até que ele começa bem. Tenta viabilizar a reeleição turbinando o Bolsa Família e o rebatizando com um nome mais facilmente identificável à sua administração. É meio simplório, mas já deu certo no passado. O próprio Bolsonaro experimentou um pico de popularidade no ano passado, enquanto o governo pagava o auxílio de R$ 600.

O presidente escancara suas limitações cognitivas quando, no dia em que a CPI apresentaria o relatório que lhe imputa nove crimes, anuncia que o Auxílio Brasilserá de R$ 400, mas não explica como chegará a esse valor sem furar o teto de gastos. O resultado, que até um estudante de ensino médio poderia prever, é alta do dólar e dos juros, o que significa mais inflação, que é, hoje, um dos principais obstáculos à recondução.

Particularmente grave é o fato de que há mais de ano se sabia que Bolsonaro teria de equacionar uma fórmula de ajuda —por causa da reeleição e porque os pobres precisam comer—, mas o presidente nada fez. Quer dizer, fez, sim. Ele descartou soluções mais racionais, que passariam pelo corte de despesas menos necessárias ou menos eficientes.

Meu diagnóstico é que Bolsonaro tem grande dificuldade para pensar algumas casas à frente e se limita
a reagir às situações que se lhe apresentam. Não chamaria isso de inteligência.

Fonte: Folha de S. Paulo