OS IDIOTAS JÁ SÃO MAIORIA
Mário Assis Causanilhas
Nelson Rodrigues tinha razão: como os idiotas já são maioria, acabam nos governando
O jornalista e acadêmico uruguaio Leonardo Haberkorn desistiu de continuar dando aulas na carreira de Comunicação na Universidade ORT de Montevidéu, justificando sua atitude por meio de uma carta aberta que comoveu o mundo da Educação no Uruguai e vale para qualquer país do mundo.
O reduzido texto do professor universitário revela uma cruel realidade, porque ainda não tinha percebido que a situação chegara a tal ponto. É perigoso nivelar a sociedade por baixo. Como dizia Nelson Rodrigues, os idiotas são maioria e seremos governados por eles.
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É IMPOSSIVEL ENSINAR A QUEM NÃO QUER APRENDER
Leonardo Haberkorn
“Depois de muitos anos, hoje dei aula na faculdade pela última vez. Cansei de lutar contra celulares, contra WhatsApp e Facebook. Eles me venceram. Eu desisto. DeiteI a toalha fora. Cansei de falar de assuntos que me apaixonam perante rapazes e moças que não conseguem descolar a vista de um telefone que não cessa de receber selfies.
′Claro, é verdade, nem todo mundo é assim. Mas eles estão cada vez mais robotizados. Até três ou quatro anos atrás, a exortação a deixar o telefone de lado por 90 minutos – mesmo que fosse só para não ser rude – ainda tinha algum efeito. Já não tem mais.
Pode ser que seja eu, que tenha me desgastado demais no combate. Ou que esteja fazendo algo errado. Mas há uma coisa certa: muitos desses garotos não têm consciência do quão ofensivo e destruidor é o que eles fazem. Além disso, é cada vez mais difícil explicar como funciona o jornalismo perante as pessoas que não o consomem nem veem sentido a ser informado.
NINGUÉM SABE NADA – Essa semana, na aula saiu o tema Venezuela. Apenas uma estudante entre 20 pôde dizer o básico do conflito. O bem básico. O resto não tinha a mínima ideia. Perguntei se vocês sabiam que uruguaio estava no meio dessa tempestade. Obviamente, ninguém sabia.
Perguntei se vocês conheciam quem é o Vouga. Silêncio. Do fundo do salão, uma única garota balbuciou: Não era o chanceler?
É assim com tudo. O que está acontecendo na Síria? Silêncio. Que partido é mais liberal, ou está mais à ′′esquerda′′ nos Estados Unidos, os Democratas ou Republicanos? Silêncio. Sabem quem é Vargas Llosa? Sim, sim! Alguém leu algum dos seus livros? Não, ninguém.
ESCRAVOS DO CELULAR – Sinto muito que os jovens não podem sair do celular, nem mesmo na sala de aula. Conectar pessoas tão desinformadas com jornalismo é complicado.
É como ensinar botânica a alguém que vem de um planeta onde não existem vegetais. ′′ Em um exercício em que deviam sair para procurar uma notícia na rua, uma estudante retornou com a notícia de que ainda são vendidas jornais e revistas nas ruas.
Chega um momento em que ser jornalista te joga contra. Porque um é treinado a calçar os sapatos do outro, cultiva a empatia como ferramenta básica de trabalho.
ELES SÃO VÍTIMAS – E aí vê que esses garotos – que continuam a ter a inteligência, a simpatia e o aconchego de sempre – foram enganados, que a culpa não é só deles. Que a incultura, o desinteresse e a absorção não lhes nasceram sozinhos.
Que eles foram a matar a curiosidade e que, com cada professora que deixou de lhes corrigir as faltas de ortografia, eles aprenderam que tudo dá mais ou menos o mesmo. Então, quando você entende que eles também são vítimas, quase sem perceber você vai baixando a guarda. E o mau acaba sendo aprovado como medíocre; o medíocre passa por bom; e o bom, as poucas vezes que chega, comemora-se como se fosse brilhante.
Não quero fazer parte desse círculo perverso. Nunca fui assim e não serei. O que eu faço, sempre gostei de fazer direito. O melhor possível. E não suporto desinteresse diante de cada pergunta que faço e responde-se com o silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Eles queriam que a aula terminasse. Eu também.
Fonte: tribuna da Internet
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