Pedro Hallal
Pelo menos por enquanto, a imunização está vencendo o cabo de guerra contra a variante delta, e a mortalidade segue caindo no Brasil
Desde o início da pandemia, todos nós, pesquisadores, temos cuidado com a maneira de revelar as boas notícias para a população. Exatamente por isso, alguns nos acusam de catastróficos, dizem que “torcemos contra”, que somos da turma do “quanto pior, melhor”. A verdade é outra: sempre temos cuidado porque as boas notícias, no caso da Covid-19, muitas vezes estimulam as pessoas a adotarem comportamentos que podem comprometer as próprias boas notícias que elas pretendem comemorar.
Inúmeras vezes, nesta coluna, mencionei que a vacinação salva vidas. Em outra ocasião, previ que a nossa vida voltaria ao “normal” na virada dos anos de 2021 e 2022. Esses textos sempre atraíram muitos leitores e geraram intensos debates. Alguns diziam que eu estava sendo excessivamente otimista. Estranhamente, outros diziam exatamente o contrário.
Pois bem, o gráfico que acompanha esta coluna mostra a evolução da média móvel de mortalidade por 1 milhão de habitantes no Brasil desde o início da pandemia. Os dados são extraídos da plataforma Our World in Data (nosso mundo em dados).
O gráfico mostra uma queda acentuada da mortalidade por Covid no Brasil, fazendo com que nosso patamar esteja próximo do observado ainda no primeiro semestre de 2020, quando a curva começou a subir de forma mais intensa. A média móvel de óbitos no Brasil, que já esteve estagnada em 1.000 e até 2.000 óbitos por dia, agora é abaixo de 500 mortes por dia. Ainda é muito, mas também é muito menos do que já foi no passado recente.
Essas notícias são excelentes e precisamos comemorá-las.
Mas o quê isso significa na prática?
Essa tendência de queda, quando combinada com razão de transmissão abaixo de 0,7, deveria tornar obrigatória a retomada das aulas presenciais, em todos os níveis de ensino. Obviamente, as aulas devem ocorrer com protocolos sanitários rigorosos;
Caso a queda persista até o final do mês de setembro, será possível elaborar protocolos mais flexíveis quanto ao uso de máscaras, especialmente em espaços abertos;
Precisamos avançar rapidamente nos passaportes sanitários, estimulando as pessoas a estarem em dia com a vacinação contra a Covid. Aqueles que optarem por manter sua liberdade individual de não se vacinar, também terão que aceitar que não terão acesso a alguns ambientes, não poderão usar transporte coletivo, entre outros.
A pandemia não acabou, mas precisamos reconhecer o avanço obtido em função da vacinação, e planejar os próximos passos. Os mesmos que ouviram a ciência no momento dos fechamentos precisam agora ouvir a ciência no momento das reaberturas. A ciência não pode ser valorizada somente quando é conveniente. Nesse momento, felizmente, a vacinação está ganhando o cabo de guerra contra a variante delta no Brasil.
Fonte: Folha de S. Paulo
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