sábado, 28 de agosto de 2021

DANS LE PETIT-PAUL DE LA VIOLE

DANS LE PETIT-PAUL DE LA VIOLE
Ruy Castro

E se as estações do Metrô de Paris fossem batizadas pelos grandes nomes do samba em francês?

Há tempos, quando o Brasil ainda se conectava com o mundo, o carioca Reinaldo Figueiredo, cartunista, contrabaixista de samba-jazz e uma das estrelas do Casseta & Planeta, estava no metrô em Paris. Ao tentar se entender com o mapa da Linha 10, Reinaldo identificou a estação Mirabeau. Por ser em Paris, o nome se referia, claro, ao grande escritor e político conde de Mirabeau (1749-91).

Fosse no metrô do Rio, o dito Mirabeau teria de ser seu não menor xará Mirabeau Pinheiro (1924-91), autor de “Cachaça” (1953), “Tem Nego Bebo Aí” (55) e “A Turma do Funil” (56), imortais marchinhas do nosso Carnaval dedicadas ao leit motiv birita.

Intoxicado de Paris e como que vítima de uma alucinação passageira, Reinaldo pensou ver no mapa da Linha 10 os nomes de outros grandes do samba, como se eles batizassem as estações que passavam pela janela: Noël Rose, Nelson Cavaquigne, Jacob du Mandoline, Moacyr Lumière, Monarque, George de Aragon, J. Cascade, Paul de la Portelle, Charles Cachace, Madame Yvonne Lara, Wilson des Neiges, Petit Boulanger, Alcione la Marron, Petit-Paul de la Viole.

O delírio seguiu: Jean Gilbert, Maître Marçal, Dudu Noble, Joseph Kéti, Claire Nunes, Dong, Clementine de Jésus, Cartole, Louis-Charles de la Ville, Jean de la Baiane, Leci Brandon, Joveline Perle Noire, Robert Sans Bras, Thérèse Christine, Anicet de l’Empire, Hermine Beau de Chêne, Aldir Blanc Rouge et Bleu.

Parecia não ter fim: Petit-Martin de la Ville, Hector des Plaisirs, Arlind Croix, Beth Chêne, Assis Vaillant, Jamelon, Nelson Sargent, Joseph Pagodigne, Station Première de Manguier. E só então ele acordou do transe.

Este é apenas um dos achados de Reinaldo Figueiredo em seu novo livro, “Paradas Musicais”, uma saraivada de quadrinhos, cartuns e textos sobre jazz, pop, rock e samba, com o humor, violência e sofisticação que já o tornavam único desde nossos tempos no Pasquim dos anos 70.

Fonte: Folha de S. Paulo

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