terça-feira, 31 de agosto de 2021

O QUE NOS ESPERA

O QUE NOS ESPERA
José Horta Manzano

Estampadas lado a lado, as duas notícias de ontem seriam até cômicas se não representassem um forte risco de escorregão para nosso país.

Por um lado, temos o atual presidente incentivando o povo a se armar, na boba ilusão de que o armamento da população aumentará necessariamente o número de devotos de sua minguada seita.

Por outro, temos o antigo presidente garantindo que, desta vez, vai: instalará a censura. Também este navega na doce ilusão de que ainda vivemos na era pré-internet, em que toda informação passava pelo rádio, pela tevê e pelos jornais.

O objetivo de cada um deles está fadado ao fracasso. No entanto, na mente maligna desses dois estropícios, vale qualquer meio de se manter eternamente no poder, seja pela imposição, seja pela obrigação. Atrás das armas de um e da censura do outro, virão ideias piores, pode ter certeza.

Só há um jeito de escapar desse destino perigoso – sem pegar em armas e sem censurar ninguém, naturalmente. É enxotar a ambos pelo voto.

Qualquer candidato que não seja um deles será, em princípio, menos daninho. Pra tirar os dois do caminho, o distinto leitor tem ampla escolha: Marina, Ciro, Huck, Leite, Doria, Moro, Mandetta, Dino, Pacheco e quem mais aparecer. Qualquer um. Vale até o Cabo Daciolo.

Fonte: brasildelonge.com
A solidão é a mãe da sabedoria. (Laurence Sterne)

LUGARES

MÔNACO

ROMANCE FORENSE

peticao de namoro.jpg
Charge de Gerson Kauer

A petição de namoro

Por Mauricio Antonacci Krieger, advogado(OAB/RS nº 73.357).

Janile é uma bela morena de cabelos compridos e que tem, como principal característica, o dom de parar o trânsito. Mulher de sorriso lindo e divertida, a bela trabalha em um banco de Porto Alegre. No entanto odeia, com todas as forças, uma determinada “raça” chamada “advogados” - de quem ela tem o conceito de que todos são mentirosos.
Certo dia, Janile conhece o Dr. Kruel, um advogado competente, mesmo ainda estando em começo de carreira.

FRASES ILUSTRADAS


segunda-feira, 30 de agosto de 2021

O GOLPE HÍBRIDO DE BOLSONARO

O GOLPE HÍBRIDO DE BOLSONARO
Sérgio Abranches


Há um golpe em curso no país. Ele está em processo de execução. Bolsonaro coleta pretextos e provoca reações que deseja ver escalar até o que poderia classificar como desordem civil ou convulsão social. Não vejo porque a realidade deva se ater aos discursos, sejam eles para esconder as intenções dos atores da cena política, sejam eles para explicar situações concretas recentes. Bolsonaro e os comandantes militares negam a intenção ou a execução do golpe. Mas importam suas atitudes e não suas palavras. Os analistas descartam o golpe clássico, escorado em um pronunciamento militar, porque as transformações recentes de regimes democráticos em autoritários se deram por desmonte interno dos regimes. Mentalidades autoritárias eleitas em pleitos abertos e competitivos usam a maioria obtida para desmontar as instituiçoes que sustentam a democracia.

Mas, o discurso analítico não afasta a realidade dos fatos. O modelo mental que dirige Bolsonaro é o do golpe clássico. O novo modelo, ele tentar executar, como cópia, sem originalidade. Mas, nada impede que Bolsonaro tente os dois e termine executando um híbrido. Bolsonaro tem apoio militar, exibido, a cada dia, de modo mais ostensivo e amplo. Mas, ele não tem maioria no Congresso, especialmente para fazer o principal, que seria mudar as regras do jogo a seu favor. Por que devemos considerar o que dizem os generais em off, ou os políticos que aderiram ao seu projeto de poder e desconsiderar os vários discursos que fez, como deputado, elogiando o golpe de 1964, a ditadura militar e a tortura? Prefiro acreditar que ele continua a desejar o retorno a este passado que idealiza e que produziu os seus heróis, como o coronel Ulstra, a cujo fantasma recorreu para ferir Dilma Rousseff mais fundo, ao votar a favor de seu impeachment.

Não creio que estejamos diante de duas vias excludentes para o autoritarismo. Vamos chamar a primeira via para a transformação autoritária, a que tem prevalecido no século 21, de estratégia do cavalo de Tróia. O candidato a ditador — ou liderança autoritária, se vale nas regras da democracia para chegar ao poder. Ao golpe clássico, vamos chamar de apelo aos tanques, mesmo que estes nem possam desferir um tiro, mas simbolizam a força militar e policial de prontidão.

Na estratégia cavalo de Tróia, o dirigente consegue se eleger e fazer a maioria no Congresso, da qual precisa para operar as mudanças necessárias a fim de neutralizar os mecanismos de freios e contrapesos da democracia e pôr em recesso os direitos individuais. Na Venezuela, Chávez fez assim para implantar o populismo autoritário e Maduro consegue se manter no poder usando o Legislativo e o Judiciário adestrados para seguir seus comandos. Viktor Orbán executou, com sucesso esta estratégia na Hungria. No Brasil, há um obstáculo importante a impedir esta via. O presidencialismo de coalizão, que praticamente impossibilita a um presidente controlar a maioria do Congresso, por meio de comandos hierárquicos. Para fazer a maioria, tem que negociar e, ao negociar, transfere poder. Para executar seu projeto a contento, Bolsonaro precisa de um recurso extra-parlamentar que, inclusive lhe permita domesticar o parlamento e, a partir deste, também enquadrar o Judiciário.

Não é que Bolsonaro deixe de tentar fazê-lo e superar o obstáculo da maioria que lhe falta. Ele e seus acólitos tentam com afinco. Conseguiu, por exemplo, aprovar na Câmara um código eleitoral que deveria ser batizado de código antieleitoral, pois reduzem a quase nada os crimes eleitorais, retiram poderes da justiça eleitoral e os tranfere àqueles a quem ela deve regular, abrem a possibilidade de fraudes eleitorais que já infelicitaram a democracia brasileira. Bolsonaro quer que se possa fraudar as eleições, só não deseja que se possa fazê-lo contra ele.

A ameaça de pedir ao Senado o impeachment de dois ministros do Supremo Tribunal Federal que o têm incomodado faz parte da tentativa de domar o Judiciário. Se tivesse sucesso, mas o STF não se deixasse intimidar, repetiria o expediente, até assumir o inteiro controle da Corte Suprema. A nomeação de Augusto Aras, procurador geral da República, foi outro movimento típico da estratégia cavalo de Tróia. Como o Ministério Público tem muito poder de inciativa, usou um procurador de carreira, para desmontar a autonomia e o poder de agência da instituição. O poder de agência se expressa no controle da iniciativa judicial e na faculdade que cada procurador tem de iniciar procedimentos investigatórios para cumprir a missão constitucional do MP. Aras centralizou os procedimentos na PGR para manejar como quiser a iniciativa e o poder de agência. Oriundo da fase anterior de organização do ministério público, que permitia, inclusive exercer a advocacia em simultâneo ao cargo, não tem lealdades na carreira.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro trabalha na operacionalização da estratégia de apelo aos tanques. Demitiu os comandantes militares porque não lhe prestavam a deferência e não se aproximavam do governo na medida em que ele desejava. Nomeou três comandantes dóceis, que lhe prestam toda a deferência e se alinham a seu projeto político. Este desvio para a política é que não desejavam os comandantes anteriores, ciosos da distância que as Forças Armadas, como instituições do Estado, deveriam guardar do governo. Transferiu para o ministério da Defesa, o general Braga Neto que já desmontrara perfeito alinhamento aos objetivos do chefe. Este, recentemente, forçou o retorno a Brasília, de blindados que esperavam em Formosa, para um exercício padrão, para que fizessem parada na Praça dos Três Poderes, de modo que Bolsonaro demonstrasse ao Congresso e ao Judiciário que ele mandava no "seu exército". Vai, desde modo, acumulando recursos para o golpe clássico.

Nenhum golpe acontece de repente. Ele pode ser finalizado numa madrugada, porém após bastante tempo de conspiração, seguida da implementação de suas várias etapas. Entre as etapas de preparação e operacionalização da tomada ilegítima do poder, estão: a disseminação de mentiras e teses conspiratórias para criar o clima de tensão e confronto que justifique uma intervenção; a conspiração nos bastidores, buscando aliados e apoios; a intimidação da oposição para neutralizar moderados e radicalizar setores de posições mais extremadas; ações concretas de agitação e provocação de confrontos de rua para criar o pretexto da desordem civil ou convulsão social que justifiquem uma intervenção mais definitiva; a tomada final do poder, seja por eleições controladas, seja pela força com apoio dos militares e de milícias. Várias dessas fases preparatórias podem ocorrer em simultâneo, não há, necessariamente, uma sequência temporal determinada, exceto entre as fases preparatórias e a de execução final.

Se, ao final, Bolsonaro terminar como protagonista de um golpe híbrido, combinando as estragégias do cavalo de Tróia e do apelo aos tanques, não se poderá alegar surpresa ou imprevisto. Não terá sido por falta de indícios e de pistas ao longo do trajeto. Só não vê, quem não quer.

Fonte: https://sergioabranches.com.br
O melhor espelho é um velho amigo. (George Herbert)

LUGARES

PARIS - FRANÇA

QUANDO UMA MULHER APARECE

Fabrício CarpinejarFabrício Carpinejar

É uma mulher sentar numa mesa só de homens que muda todo o clima. É um enigma que sentou na mesa. É o mistério que sentou na mesa. É o improvável que sentou na mesa.

O perfume modifica a paisagem, o tom de voz é diferente, mais sussurrado e pausado, paira no ar uma sensação de graça.

Graça, essa palavra pequena, mas essencial. Mulher tem graça. Rompe com aquela conversa monotemática masculina, de intimidade desaforada. Os assuntos são outros e mais desafiadores. O preconceito se esconderá debaixo das cadeiras como um cachorro entretido com as sobras.

Ela transformará o espírito da noite. Uma única mulher representa o universo inteiro sobrenatural das mulheres. Não há como determinar o rumo das horas. Antes nada aconteceria, seria basicamente trago e piadas, agora tudo espiritualmente pode acontecer, com reviravoltas no entendimento da vida.

Os homens presentes pensarão mais ao escolher as frases, tentarão agradar, serão mais submissos e obedientes ao silêncio.

É uma mulher aparecer, com seu domínio dos gestos, que esvazia o copo das palavras dos homens.

É uma mulher aparecer que os homens deixam de ser crianças.

É uma mulher aparecer que os homens ficam nervosos e se controlam.

É uma mulher aparecer que a sinceridade encontra os bons modos.

E haverá um espetáculo de delicadeza ao redor: ela empunhará o corpo com um cuidado místico, ela molhará os lábios como quem renova o batom, ela olhará nos olhos do garçom de igual para igual na hora de pedir o seu drinque.

É um novo ritmo coreográfico no balé dos guardanapos. Aliás, os guardanapos, até então intocados, passam a existir.

Ela conhece muito bem os cotovelos para não deixá-los perdidos entre os talheres - encaixa os braços como se estivesse no parapeito de uma janela.

Ela conhece muito bem a direção do vento para posicionar o rosto - capaz de discordar apenas ajeitando a franja.

Nada é aleatório, casual, assiste-se a uma aula de autenticidade. Vem o mundo interior à tona com uma simplicidade desconcertante. Os temas planos, opacos e superficiais vão desaparecendo para opiniões e crenças que realmente importam, do fundo dos temperamentos.
Uma mulher sentada é a graça de pé.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


domingo, 29 de agosto de 2021

MEU RECADO A ENDIVIDADOS E CREDORES

MEU RECADO A ENDIVIDADOS E CREDORES
Edijane Ceobaniu*

Em minha atividade como mediadora de dívidas, aprendi muitas coisas. A primeira é que negociar é uma arte, mas requer a disposição das duas partes. Tenho visto muitas pessoas em crise financeira e muitas empresas que não sabem mais como reaver seus créditos – e tenho um recado para todos vocês.

Após meses de crise financeira das famílias com a pandemia, agravou-se uma situação que gera um ciclo vicioso: a oferta de crédito irresponsável, com juros enormes, que, muitas vezes, levam o devedor a assumir novas parcelas, por vezes, altíssimas, a fim de se livrar das inúmeras cobranças e “limpar” o seu nome dos órgãos restritivos de crédito. Na impossibilidade de arcar com os pagamentos, a roda do endividamento nunca para de girar: no desespero, muita gente aceita repactuar contas em atraso por não ter conseguido pagar parcelas anteriores – colocando-se à margem do universo do consumo.

Não poder manter uma conta em banco ou um cartão de crédito são algumas das consequências. E como resolver essa situação sem negociação? Impossível!

Por isso, aos credores, gostaria de dizer o seguinte: por vezes você acha que um devedor, cuja renda pareça alta, conseguirá automaticamente pagar o que lhe deve – mas o que muitas vezes ignoramos é o quanto essa pessoa já deve para outras empresas. E se ela não consegue demonstrar a capacidade de honrar dívidas, a conversa acaba ali e você não irá reaver seu dinheiro – nem parte dele.

Fica minha sugestão: opte pela negociação humanizada. Acredite, você só tem a ganhar com ela. Existe uma mentalidade que hoje se tornou antiquada: a do ganha-perde, quando, para alguém ter uma vantagem, outro necessariamente precisa sair prejudicado. Hoje isso não funciona mais. Havendo pré-disposição para a negociação, ainda que isso lhe exija ceder um pouco – seja em valores ou prazos – é possível alcançar o ganha-ganha.

Devedor, ao não conseguir diálogo direto com seu credor, e havendo desejo de negociar e “ajeitar” sua vida – o que é recomendável! –, busque os centros de mediação do Judiciário para demonstrar sua capacidade de pagamento. Isso é possível graças à chamada Lei do Superendividamento, a qual ampliou o acesso à justiça, para a mediação de dívidas entre as duas partes, o que antes era exclusivo para os chamados credores.

A nova legislação veio dar a oportunidade de reorganizar a vida financeira do brasileiro, e essa é uma necessidade urgente. Este é meu recado às duas partes, e mais: a todos os brasileiros, sejam estes credores e/ou devedores, que desejam melhorar suas finanças.

*Advogada, professora universitária e fundadora da Reaver Cred.Sobre a Reaver Cred

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br

O SAL DO BENEDITO

O SAL DO BENEDITO
Fernando Albrecht

O senador mineiro Benedito Valadares, que deu nome à cidade mineira, tinha fama de burro, coisa que ele decididamente não era. Mas a fama ficou, e então esse povo danado tacou-lhe invencionices. Eis uma.

Nomeado interventor, a primeira coisa que fez foi reunir lideranças locais para saber o que faltava na cidade.

– Sal. Falta sal.

– Sal?

– Sim, falta sal.

Saiu da reunião e redigiu a minuta de um telegrama em que pedia “providenciamentos” do governo federal para que enviasse com urgência vagões com o precioso produto. Algum tempo depois chegou um trem com três vagões de…cal. Desenxabido, explicou o motivo da troca.

– Esqueci de botar cedilha no cê…

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br

Se quer ser amado, ame. (Séneca)

LUGARES

ALPES SUÍÇOS

MEIA NOITE EM PARIS


Este vídeo é o início do filme” Meia-noite  em Paris”  de Woody Allen. Um passeio pela Cidade Luz. 

FRASES ILUSTRADAS


sábado, 28 de agosto de 2021

RIO TINTO

RIO TINTO
José Horta Manzano

Você sabia?

Quando a gente acha que já viu de tudo, é aí que aparece coisa assombrosa. Olhe, pode parecer, mas hoje não estou falando do Bolsonaro e do espantoso desfile de desajustados que lhe fazem companhia. O capitão é sobressalto diário garantido, mas há coisas que, embora menos nocivas, também surpreendem.

Você já viu um rio de água vermelha? Não estou me referindo a um curso d’água que um dia tenha ficado vermelho por algumas horas em consequência de um acidente de caminhão-tanque(1). Não. Falo de um rio de águas permenentemente vermelhas. Que não mudam de cor há séculos.

Não existe? Não acredita? Pois sim, esse rio existe. Tem 100km de comprimento e fica no sul da Espanha, na província de Huelva. Nasce nas encostas da Sierra Morena e desemboca no Golfo de Cádiz. Não por acaso se chama Rio Tinto. Tinto, em espanhol, quer dizer vermelho. Essa, por sinal, é a razão de chamarmos o vinho vermelho de vinho tinto.

A cor de suas águas provém de uma mina polivalente, conhecida e explorada faz milênios. É rica em cobre e prata. Tem até um pouco de ouro. Essa profusão de metais confere à água um teor muito ácido (pH 2). A cor avermelhada se deve principalmente ao ferro dissolvido.

Não se tem certeza se o tom vermelho escuro foi sempre o mesmo, ou se foi agravado nos últimos séculos, pela exploração mineira. Seja como for, é uma curiosidade imperdível. Se um dia, passada a epidemia, o distinto leitor fizer uma viagem pela região, não deixe de tirar uma selfie(2).


(1) Em Portugal, usa-se mais “caminhão-pipa” ou “caminhão-cisterna”.

(2) O Volp tanto admite “um selfie” quanto “uma selfie”. Escolha. É acertar ou acertar.

Fonte: brasildelonge.com
Não existe uma ciência nacional, assim como não há uma tabuada nacional; o que é nacional não é mais ciência. (Anton Chekhov, escritor russo, 1860-1904)

LUGARES

VERONA - ITÁLIA

DANS LE PETIT-PAUL DE LA VIOLE

DANS LE PETIT-PAUL DE LA VIOLE
Ruy Castro

E se as estações do Metrô de Paris fossem batizadas pelos grandes nomes do samba em francês?

Há tempos, quando o Brasil ainda se conectava com o mundo, o carioca Reinaldo Figueiredo, cartunista, contrabaixista de samba-jazz e uma das estrelas do Casseta & Planeta, estava no metrô em Paris. Ao tentar se entender com o mapa da Linha 10, Reinaldo identificou a estação Mirabeau. Por ser em Paris, o nome se referia, claro, ao grande escritor e político conde de Mirabeau (1749-91).

Fosse no metrô do Rio, o dito Mirabeau teria de ser seu não menor xará Mirabeau Pinheiro (1924-91), autor de “Cachaça” (1953), “Tem Nego Bebo Aí” (55) e “A Turma do Funil” (56), imortais marchinhas do nosso Carnaval dedicadas ao leit motiv birita.

Intoxicado de Paris e como que vítima de uma alucinação passageira, Reinaldo pensou ver no mapa da Linha 10 os nomes de outros grandes do samba, como se eles batizassem as estações que passavam pela janela: Noël Rose, Nelson Cavaquigne, Jacob du Mandoline, Moacyr Lumière, Monarque, George de Aragon, J. Cascade, Paul de la Portelle, Charles Cachace, Madame Yvonne Lara, Wilson des Neiges, Petit Boulanger, Alcione la Marron, Petit-Paul de la Viole.

O delírio seguiu: Jean Gilbert, Maître Marçal, Dudu Noble, Joseph Kéti, Claire Nunes, Dong, Clementine de Jésus, Cartole, Louis-Charles de la Ville, Jean de la Baiane, Leci Brandon, Joveline Perle Noire, Robert Sans Bras, Thérèse Christine, Anicet de l’Empire, Hermine Beau de Chêne, Aldir Blanc Rouge et Bleu.

Parecia não ter fim: Petit-Martin de la Ville, Hector des Plaisirs, Arlind Croix, Beth Chêne, Assis Vaillant, Jamelon, Nelson Sargent, Joseph Pagodigne, Station Première de Manguier. E só então ele acordou do transe.

Este é apenas um dos achados de Reinaldo Figueiredo em seu novo livro, “Paradas Musicais”, uma saraivada de quadrinhos, cartuns e textos sobre jazz, pop, rock e samba, com o humor, violência e sofisticação que já o tornavam único desde nossos tempos no Pasquim dos anos 70.

Fonte: Folha de S. Paulo

FRASES ILUSTRADAS


sexta-feira, 27 de agosto de 2021

CUBA SEJA AQUI

CUBA SEJA AQUI
Eduardo Affonso (*)

Você já foi a Cuba, companheiro? Não? Então, vá. Quem fez isso tem muita história para contar.

Fui ávido para mergulhar no Caribe e no comunismo. Encontrei-os em frente ao hotel. Um, aspergindo azul sobre o Malecón; o outro, na forma de um sujeito que veio oferecer charutos desviados das fábricas estatais. No, gracias. Será que eu não queria rum legítimo? Conhecer uma amiga dele? Um amigo, quem sabe? Essa cena se repetiu dezenas de vezes. Mas não era nos tempos de Fulgêncio Batista que o país se tornara o paraíso do contrabando e da prostituição? Cuba e seus paradoxos.

Nas sacadas dos sobrados da Habana Vieja (impossível estar em Cuba e não pensar na Bahia), há lembranças de uma já dilapidada elegância. Numa dessas quase ruínas, a orgulhosa militante faz questão de contar que falta manteiga, mas todos têm pão; que ela não teve boneca, mas a filha é cientista. Quantos no mundo — pergunta, retoricamente — podem dizer isso? Não sei. Adiante, na calçada onde se trocam tampas sem panela por panelas sem tampa, outra mulher, com dólares amarrotados na mão, me pede para comprar, numa loja exclusiva para estrangeiros, açúcar, sabonete, um pedaço de frango. Onde se aceita peso, falta quase tudo.

O analfabetismo foi praticamente erradicado. Mas educação, entendida como diálogo, reflexão, questionamento e construção ativa do conhecimento, isso não há. Há doutrinação — o oposto de preparar para o mundo, de proporcionar a experiência de saber o que existe mais longe.

Na teoria, em Cuba haveria livros a mancheias, edições baratas por causa do papel de baixa qualidade e do pouco- caso com direitos autorais. Na prática, bem fornidas só as prateleiras de marxismo. Mas tive experiências enriquecedoras em livrarias. Com um quê de filme de 007, elas tinham se tornado o lugar perfeito para câmbio ilegal. Trocavam-se olhares, acertava-se a taxa (dez vezes maior que a oficial) com gestos sutis. Pesos cubanos eram deixados entre as páginas ásperas de um volume sobre materialismo dialético, enquanto se encartava a cédula de dólar numa obra em papel-jornal sobre a concentração de capital. Depois, era só devolver os exemplares às estantes, disfarçar, e cada um folhear o livro alheio, recolhendo discretamente o que ali houvesse de valor.

Ensaia-se agora, no verão de lá, uma “primavera de Havana”, com o povo — alegre e generoso como poucos — indo às ruas exigir liberdade, oportunidade, dignidade, comida. Quem derrubou há 62 anos uma tirania saberá como fazer uma nova revolução, trocando “Patria o muerte” por “Patria y vida”.

Estive na Hungria de Kádár, na Tchecoslováquia de Husák, na Iugoslávia de Dizdarevic. No Mianmar de uma junta militar, na Cuba de Fidel. E, para variar, no Chile de Pinochet. Muita sorte teve, muita sorte terá quem andou por lá como viajante, sabendo que as restrições eram por poucos dias, não sem data para acabar.

Na última noite em Havana, me apareceu no hotel a cubana para quem comprei comida e com quem comentei não ter encontrado os livros que queria. Trazia numa sacola todos os de Alejo Carpentier e Nicolás Guillén da sua estante.

Por isso, Cuba seja aqui. Uma gente tão parecida com a nossa, que não quer saber de ditadura. Seja a de Castro, seja a de Ustra.

(*) Eduardo Affonso é arquiteto, colunista do jornal O Globo e blogueiro.

Fonte: brasildelonge.com
Cada frase que pronuncio não pode ser considerada uma afirmação e sim uma pergunta. (Niels Bohr, físico dinamarquês, 1885-1962)

LUGARES

BARILOCHE - ARGENTINA

MR. MILES


Outono, tempo de reflexões

Decidindo sobre o lugar aonde pretende passar o os próximos dez dias, Mr. Miles tem passado alguns dias lendo bons jornais e diz-se "chocado com a quantidade de bobagens que assola o Brasil". O provável é que ele não vá muito longe porque pretende estar em mais um aniversário de sua amiga, a rainha Elizabeth, que cumpre anos no dia 21 de abril. A seguir, a carta da semana:

Querido Mr. Miles: acabou-se o que era doce. Fim de verão, praia só no ano que vem. Concorda?
Larissa Gomes, por email

Well, my dear: o outono não é apenas uma temporada que antecede o inverno. É mais uma sensação, um desejo do que um periodo. É quando os dias de sol a pino vão, slowly, ganhando cores mais apagadas. O céu abaixa a ponto de que as nuvens parecem quase pentear nossos cabelos. Nada disso, however, surpreende — e poucos de meus amigos têm criticas a essa fase de muda, mais amável e mais amena. Uma intrigante estação de dúvidas e reflexões. Hora de trocar a pele, assim como as cobras. E, more then that, tempo de viajar.

Estou lhes escrevendo, of course, de minha pequena casa no Condado de Essex. Aqui é a primavera que começa. Em breve estarei vendo petúnias e begônias no meu backyard. Minha raposinha Trashie, oriunda como vocês sabem, da Sibéria, começa a resmungar para os termômetros que sobem. O verdejar dos parques, entretanto, anuncia: é hora de viajar também.

As semelhanças entre o que ocorre em ambas estações é evidente. Meu querido e saudoso amigo, Camus, (N.da R.: Albert Camus, escritor argelino, supostamente assassinado na França aos 46 anos de idade) dizia, com seu brilho habitual: "O outono é uma segunda primavera, em que cada folha vira uma flor". Esse fenômeno é sempre mais evidente nas regiões que distam do Equador, como o Canada ou a Patagônia. Florestas vermelhas, trilhas de cor púrpura, o suave som de andar sobre as folhas com a certeza de que outras virão muito em breve.

Há uma coisa que nunca entendi. A primavera é muito mais festejada do que o outono. Tem reputação melhor, mais likes (como é da moda afirmar) e ótima assessoria de imprensa. Posso tentar atribuir essa anomalia aos milhões de pessoas que enfrentam invernos longos e gélidos no hemisfério norte. Ocorre que livrar-se do calor escaldante, das roupas deselegantes e das chuvas torrenciais, é, também, uma grande conquista.

Se a primavera é um periodo que se abre à luz, o outono é uma ocasião que a ela se fecha. Se a primavera é propicia para quem planta, o outono foi feito para a colheita. É evidente que se antagonizam, mas são muito mais indicadas para conhecer o mundo do que o verão e o inverno. É tempo de um sol oblíquo que nos dedica sombras mais alongadas e cores menos distorcidas. Se você, my dear, já esteve em Roma no outono e na primavera, é certo que terá conhecido cidades distintas uma da outra. E essa é a maravilha da transformação dos dias longos para os dias curtos que, of course, sempre ampliam a beleza do ato de viajar. Não concordo, however, com suas considerações sobre as praias. Se tomar sol é um de seus programas preferidos, basta lembrar que, entre o Trópico de Capricórnio e o de Câncer, as estações são sempre parecidas. Isso serve, by the way, para mais da metade da área de nosso planeta.

Experimente, por exemplo, ir para o Rio de Janeiro em abril. Menos chuvas (as águas de março já fecharam o verão), sol mais ameno, 35 graus ao invés de quarenta, preços menores pela baixa estação. Wonderful! Mas, se o céu nublar com uma leve brisa soprando do sul, olhe para ele como se estivesse olhando para dentro de si.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


quinta-feira, 26 de agosto de 2021

OTIMISMO VERSUS NOVA VARIANTE

OTIMISMO VERSUS NOVA VARIANTE
Pedro Hallal

Precisamos ter paciência, mas hoje estamos mais próximos do final do que do início da pandemia

Em suas entrevistas coletivas diárias, o então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta costumava alertar que a pandemia de coronavírus seria longa. Aliás, quanta saudade daquela época, em que um dirigente do alto escalão do governo federal dialogava abertamente sobre a crise sanitária com a população, passando informações realistas sobre a pandemia. Por mais que as notícias não fossem boas, havia um direcionamento, uma voz lúcida, que não escondia a realidade.

Passado um ano e meio, a verdade é que a pandemia está exigindo muita paciência de todos nós. Cada vez que os números começam a cair, surge uma nova variante e parece que voltamos à estaca zero. Se continuar nesse ritmo, todos saberemos o alfabeto grego do início ao fim.

Mas o motivo de eu escolher esse tema para a coluna de hoje é exatamente mostrar para as pessoas que não voltamos à estaca zero e estamos mais próximos do final do que do início da pandemia. Precisamos ter paciência, mas temos que reconhecer que a situação hoje é melhor do que a vivida alguns meses atrás.

Como a ciência vem dizendo há muito tempo, sairemos dessa pandemia salvos pela vacinação. Quando algo entre 70% e 80% da população brasileira estiver vacinado com as duas doses, a situação vai melhorar muito. O número diário de mortes, por exemplo, talvez seja contado em dois dígitos, e não mais em três ou quatro, como infelizmente nos acostumamos. Os serviços de saúde estarão mais tranquilos e, aos poucos, vamos aprender a “tirar a rodinha da bicicleta” e voltar a viver normalmente.

É possível, e até provável, que tenhamos que tomar uma terceira dose. Também é possível que, dentro de alguns meses ou anos, tenhamos que nos vacinar contra Covid-19 novamente. Sim, mas tudo isso será feito numa situação de normalidade, sem desespero.

Mas para chegar lá, precisamos relembrar alguns conceitos importantes:

1. A pandemia não acabou. Portanto, use máscaras, evite aglomerações, mantenha distância segura e higienize as mãos.

2. A vacinação precisa ser completa. Se você ainda não se vacinou, faça isso logo. Se você tomou a primeira dose e não tomou a segunda, faça isso logo. E tente convencer seus familiares e amigos a fazerem o mesmo. Ninguém estará seguro enquanto todos não estiverem seguros.

3. Se apresentar sintomas gripais, faça um teste de RT-PCR e peça para as pessoas com as quais você teve contato na última semana fazerem o mesmo. A testagem precoce evita a disseminação do vírus.

Essas mensagens são repetitivas, mas extremamente importantes para evitarmos uma nova explosão de casos. A variante delta segue causando estragos e colocando em risco os benefícios da nossa campanha de vacinação. Não é hora de baixar a guarda.

Por fim, eu não poderia deixar de repercutir aqui a mensagem da FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos), que relembra que a ivermectina não deve ser utilizada para prevenir ou tratar Covid-19. Embora isso seja de conhecimento público há meses, ainda há alguns insistentes que seguem expondo às pessoas a esse devaneio do tratamento precoce.

Fonte: Folha de S. Paulo
A filosofia é composta de respostas incompreensíveis para questões insolúveis. (Henry Brook Adams)

LUGARES

GRINDELWALD - SUÍÇA
Grindelwald é uma comuna da Suíça, no Cantão Berna, com cerca de 4.166 habitantes. Estende-se por uma área de 171,1 km², de densidade populacional de 24 hab/km². (wikipédia)

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


EIS QUE, POSTO QUE

--- Qual o real significado da expressão “posto que”? É correto dizer “eis que”? Como exemplo: Ela não vai à escola eis que está doente.Alexandre Godoy, Campinas/SP

POSTO QUE é uma locução conjuntiva de valor concessivo e também, modernamente, de valor explicativo ou causal.

Originalmente, posto que se enquadrava apenas nas conjunções concessivas, as quais dão a ideia de concessão [posto que = pondo-se (a concessão) que...]. Como tal, rege o subjuntivo e tem como “irmãs”: embora, ainda que, se bem que, conquanto, mesmo que.
  • Posto que seja fácil, sempre tenho dúvidas. [Ainda que seja fácil]
  • O trabalho, posto que fosse árduo, acabou no prazo. [embora fosse árduo]
  • Aceitamos o acordo, posto que não agrade a todos. [conquanto desagrade a todos]
Entretanto, vejamos outro tipo de frase relativamente comum, em que as orações introduzidas por “posto que” não traduzem a mesma ideia das concessivas acima:
  • Aceitamos o acordo posto que agrada a todos.
  • A denúncia foi julgada improcedente, posto que não havia prova da contravenção.
Observe que, diferentemente das concessivas, o verbo está no modo indicativo. Neste caso seu sentido é explicativo/causal:
  • Aceitamos o acordo, pois / já que / porque agrada a todos.
  • A denúncia foi julgada improcedente, visto que não havia prova da contravenção.
Se a conjunção não pudesse ser causal, como é que iríamos interpretar o Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes? Relembremos seus últimos versos:
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Não se pode precisar quando e por qual razão o posto que concessivo foi desembocar no posto que causal. Mas pode ter sido por influência castelhana: puesto que é explicativa/causal. Aliás, o mesmo fenômeno evolutivo aconteceu no espanhol, em cuja literatura clássica se encontra “puesto que” com valor concessivo.

B. EIS QUE é uma locução que originalmente tinha o sentido temporal, equivalente a quando e a eis senão quando:
  • Seguia o monge pelo caminho, meditando com a natureza, eis que um asno lhe interrompe a concentração e o andar.
  • Aconteceu com essa expressão um fenômeno semelhante a posto que: de temporal, eis que passou a causal, sobretudo nos meios forenses. O seu significado, neste caso, é igual a visto que, já que, uma vez que, porquanto:
  • Foi-lhe dado o direito de aduzir suas razões, eis que a ampla defesa é essencial à legitimidade do processo.
Mais uma vez ficou claro que há muitos palpiteiros no campo do Direito Desportivo, eis que o texto do art. 93 da LGSD, na redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.981/00, é de clareza irretorquível. 

Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS


quarta-feira, 25 de agosto de 2021

ROUBO DE AREIA

Praia Rosa, Sardenha
ROUBO DE AREIA
José Horta Manzano

Me lembro que, de criança, a gente gostava de procurar conchinha na areia da praia. Naquela época, encontrava-se muita concha quebrada. Havia também daqueles caramujos grandes que a gente encostava no ouvido pra ouvir o ruído do mar. Faz tempo que não vou à praia, mas imagino que as crianças de hoje continuem praticando o mesmo esporte.

Conchinha, a gente levava pra casa. Quanto à areia, não me lembro de ter visto alguém levar nem um punhadinho de lembrança pra casa. Dizendo assim, até parece coisa de maluco: com tanta concha pra catar e tanto artesanato pra comprar, quem é que vai ter o mau gosto de botar areia na bagagem de volta?

Pois há lugares do mundo em que isso se faz. As praias cinematográficas da ilha da Sardenha (Itália) são vítimas dos aficionados desse estranho esporte. E não é de hoje. Já faz décadas que forasteiros enchem garrafas, baldes e sacos de plástico com areia e carregam pra casa. Nem sempre se conhece a finalidade do roubo. Há quem faça comércio. Parece até que há anúncios na internet de gente oferecendo 1kg de areia da Sardenha contra 1kg de areia das Bahamas, coisas desse tipo. Não posso garantir, porque nunca comprei.

Tanto fizeram, que o governo provincial resolveu legislar pra dar um basta. Já nos anos 1990, a pequena Praia Rosa (na região de Budelli, Sardenha) foi declarada zona de proteção ambiental, e as visitas, proibidas. É que, se bobeassem, a areia sumiria em pouco tempo. Essa praia tem uma particularidade: a cor rosada de sua areia. Ela é conferida por um microorganismo cor-de-rosa que vive dentro das conchinhas. Com o passar do tempo, os moluscos morrem, as conchas se partem em mil fragmentos que acabam chegando à areia da praia dando-lhe a cor característica. Que se saiba, esse fenômeno não ocorre em outros lugares.

Atualmente, só se pode ver a Praia Rosa de longe, em excursões a bordo de pequenas embarcações controladas e vigiadas. Elas têm permissão de se aproximar a, no máximo, 70m do litoral, mas ninguém pode desembarcar, nem a nado. Na pequena ilha, ninguém entra; lá só mora o vigia do parque natural.

Assim mesmo, turistas desavisados (ou que se fazem de bobos) continuam levando areia de outras praias sardas. É impossível saber a quantidade exata, mas se calcula que toneladas e toneladas são roubadas todos os anos e transportadas para toda a Europa. As bagagens que passam pelo aeroporto são fiscalizadas, mas a maior parte dos turistas vêm de veículos tipo motorhome, trailer ou camping car. Esses escapam quase sempre, dada a impossibilidade de inspecionar cada recanto de cada veículo.

Assim mesmo, não é aconselhável arriscar. Para quem for apanhado em flagrante, o castigo é pesado: multa que varia entre 500 e 3.000 euros (R$ 30 mil a R$ 190.000), dependendo da gravidade e do volume do roubo. A penalidade tem de ser paga imediatamente, por cartão de crédito. Se não houver fundos, veículos e passageiros serão retidos até resolução do problema.

Fonte: brasildelonge.com
Respirar é uma doença! (Charles Bukowski)

LUGARES

BARCELONA - ESPANHA
O Parque Güell é um grande parque urbano com elementos arquitetónicos situado no distrito de Gràcia da cidade de Barcelona, na vertente virada para o Mar Mediterrâneo do Monte Carmelo. (wikipédia)

TER UM HOBBY É TÃO IMPORTANTE QUANTO TRABALHAR


TER UM HOBBY É TÃO IMPORTANTE QUANTO TRABALHAR

Existem hobbies para todos os gostos e bolsos, então nunca desista de se deleitar nestas pequenas ilhas de liberdade em que o habitante mais importante é você.

É bem verdade que equilibrar a vida profissional, família e tarefas domésticas toma um tempo considerável e sempre nos colocamos por último, nos conformamos em sermos engolidos pela rotina.

Estamos acostumados a falar: “não tenho tempo para hobbies”.

Entretanto, psicólogos e profissionais da saúde garantem que é muito prejudicial não estipular algumas horas somente para você. Este é o verdadeiro tempo livre.

Nesta solidão produtiva fazemos o que mais gostamos e nos desconectamos.

São momentos em que não estamos preocupados com ganhar dinheiro ou ter que varrer o quintal porque hoje é sábado.

Os benefícios

Ter um hobby melhora a qualidade de vida, promove o equilíbrio da saúde física, mental e emocional e também é uma oportunidade de se descobrir.

Se você já tem alguma habilidade, talento natural, praticar algo diferente do que você já sabe, pode te revelar novos potenciais.

É um grande desestressante, que exerce um papel importante no combate à depressão e à ansiedade.

Quando algum hobby faz parte da sua vida, ele se torna um estímulo à criatividade e também à capacidade de ter disciplina.

A prática permite ampliar as relações sociais, como por exemplo, os grupos de artesanato.

No momento em que nos concentramos em algo prazeroso, nos afastamos dos problemas e nos recarregamos para depois enfrentar a rotina.

A autoestima se torna mais robusta e aumenta a capacidade de definir metas e a vontade de melhorar.

É uma oportunidade de estabelecer limites nas relações familiares e também nas do casal. É um momento só seu, lute por ele.

Sem pressões e cobranças, você vai manifestando a sua parte mais genuína.

Dicas para aproveitar um hobby

Apesar da rotina massacrante destes tempos modernos, ter um hobby nos enriquece como pessoa.

Tenha ousadia, esqueça as opiniões de terceiros e mergulhe naquilo que você gosta de fazer.

Uma atitude exploradora pode revelar outros talentos seus que estavam escondidos esperando a hora de emergir.

Converse com seus familiares e “demarque o seu território” e solte sua criatividade.

E nunca dependa do dinheiro, pois eleger um hobby caro, que não está de acordo com sua situação financeira, se tornará um pretexto para não praticá-lo.

Aqui vão algumas sugestões de hobbies: Cantar, pescar, pintar, jardinagem, escrever, marcenaria … então, mãos à obra e aventure-se.

FRASES ILUSTRADAS


terça-feira, 24 de agosto de 2021

THE HOLE

THE HOLE
José Horta Manzano

Primeiro, abro um parêntese. Aquilo que hoje se conhece como droga era chamado de entorpecente algumas décadas atrás. Droga era produto preparado por droguistas e vendido em drogaria, dentro de total legalidade. Cem anos atrás, quando a oferta de remédios de laboratório não era ampla como hoje, era costume o médico “dar a receita”, isto é, escrever num papel os ingredientes e o modo de preparar o medicamento. (Aliás, é por isso que se chama até hoje receita, exatamente como receita de bolo.)

Entregava-se à farmácia o papelzinho, fazia-se a encomenda e um droguista se encarregava de aviar a receita. Salvo caso de emergência, ficava pronta no dia seguinte. Repare que na polícia, até hoje, o departamento que cuida de heroína, cocaína, crac e outros bichos é o Setor de Entorpecentes, nunca um hipotético Setor de Drogas. Vamos fechar o parêntese.

No mundo todo, a todo momento, tem gente se esquivando da própria responsabilidade. É o policial que, após despachar o bandido para o outro mundo, explica que o fora-da-lei atirou primeiro e que ele, policial, só revidou em legítima defesa. É o estuprador que explica que só fez o que fez porque a moça, que era um demônio de saias, atiçou seus baixos instintos e deixou-o impossibilitado de resistir. É o aluno que, apanhado em flagrante quando ‘colava’ a prova do coleguinha da frente, informa que só fez isso porque, tendo o colega se ausentado pra fazer pipi e deixado o papel à vista, foi impossível desviar o olhar. Tratou-se de “cola involuntária”.

Estes dias, as manchetes da França deram, com destaque, a notícia de um adolescente de 14 anos que foi assassinado com uma rajada de metralhadora Kalachnikov. A investigação demonstrou que o jovem estava cumprindo sua missão de vigiar um ponto de venda de droga, à entrada de um conjunto habitacional da periferia de Marselha. Numa briga de gangues, dois desconhecidos encapuzados chegaram de moto, o infeliz acabou levando o tiro, enquanto o resto do bando escapou. E os assassinos fugiram na mesma moto em que tinham vindo.

Dia seguinte, o comentário do prefeito de Marselha foi lapidar. Lamentou-se ele de que “nesta cidade, compra-se uma metralhadora Kalachnikov com a mesma facilidade com que se compra um pãozinho de padaria”. (O “pãozinho de padaria” é invenção minha; no original, é “un petit pain au chocolat – um pãozinho de chocolate”, especialidade ultrapopular, apreciada por grandes e pequenos. Mas o efeito é o mesmo.)

Taí um desavergonhado exemplo de alguém que procura se desvencilhar da própria culpa. Em Marselha, como em qualquer lugar do mundo, os pontos de droga são pra lá de conhecidos das autoridades municipais. Se continuam funcionando, é porque têm permissão tácita para fazê-lo.

Quanto ao acerto de contas entre gangues rivais, a culpada não é a Kalachnikov, a arma do crime. O problema não vem da facilidade de aquisição da metralhadora preferida por 11 de cada 10 terroristas. Se fosse difícil comprá-la, qualquer outra arma teria servido: arco e flecha, coquetel Molotov, foice, tacape ou até um modesto bodoque. Se o adolescente morreu, a culpa certamente não é da arma.

The hole is further down (o buraco é mais embaixo).

Fonte: brasildelonge.com
É melhor ser invejado que lastimado. (Heródoto, historiador grego, 484-430-420 a.C.)

LUGARES

ROUEN - FRANÇA


ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
A mesa dura e o conforto das camas

O novel farmacêutico encontrou-se com a namorada e ambos partiram para o motel cujo nome lembra a Grécia. Ali, uma das atrações é a top suíte para 30 pessoas. Mas o casalzinho preferiu a suíte indiana, exclusiva para duas pessoas.

Vai daqui, vai dali, resolveram, em segundo turno, praticar o combate de Eros - o deus grego do amor - numa dura...mesa.

De repente, um ruído seco de estalidos de madeira se quebrando invadiu o aparente silêncio dos corredores do motel. O segurança ouviu o estrondo e ficou preocupado com a voz feminina que produzia frases incomuns para o ambiente:

- Ai minha perna, ai minha perna!

A gerência autorizou que o guarda batesse no aposento para averiguações, com o pedido para que a porta fosse aberta e que, antes, o casal se vestisse convenientemente.

O panorama interno era de uma mesa redonda de cerejeira destruída e da jovem parceira com escoriações na perna. Nada que umas pinceladas de um anti-inflamatório não resolvesse.

Na saída, a dura conta: diária, R$ 53; custo de uma mesa, R$ 400. Para evitar maiores problemas, o farmacêutico pagou e - ciente de seus direitos de consumidor - exigiu a nota fiscal. Poucos dias depois o caso estava no JEC do Posto da Ajuris.

As partes não transacionaram e o juiz leigo - depois da instrução - decidiu pela devolução dos exatos R$ 453. A sugestão de decisão foi homologada pela juíza togada.

O motel recorreu e a Turma Recursal concluiu que "inexistem provas da intencionalidade do consumidor em quebrar o móvel, que talvez já apresentasse defeitos anteriores ou algum dano que pudesse ocasionar a quebra". Mas os três juízes entenderam que "o valor da diária não deve ser devolvido, porque, bem ou mal, houve a ocupação e utilização do aposento".

A conta da condenação foi paga pelo motel, que devolveu os R$ 400 e ficou com o prejuízo da mesa redonda quebrada.

O estabelecimento agora inovou colocando nas suítes um aviso sutil: "As mesas não são próprias para atos sexuais. Quebrou, pagou! Prefira o delicioso conforto das nossas camas!".

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

FAKE NEWS

FAKE NEWS
Karine Borges de Liz
 
Fake News, empatia e uma pergunta: Em casa em que todo mundo grita, quem tem razão?

Na última terça, 17/08, um dos maiores estudiosos em desinformação no Brasil, o jurista @diogorais, participou de uma live sobre fake news na página @2022.ja.comecou, no Instagram.

Há muitas lições importantes em sua fala. Destaco uma: o enfrentamento eficaz das fake news exige compreender que elas trafegam em duas dimensões humanas, a racional e a emocional, e que o diálogo empático é o que poderá tornar possível e proveitosa a nossa convivência.

Um traço comum das fake news é o uso da manipulação para a sua feitura. De diversas formas, fatos, falas e situações passam por um processo de construção de uma versão falseada da realidade, direcionada a um propósito, no mínimo, potencialmente danoso.

Bastaria então demonstrar o que é falso numa fake news para desconstruí-la? Por vezes, não.

Mas desfeita a farsa que sustenta uma falsa notícia, por que ela permanece como “verdade” para algumas pessoas? Porque somos humanos.

E seres humanos possuem percepções diferentes de uma mesma realidade; não utilizam apenas mecanismos racionais para interagir com o mundo ao seu redor; e possuem razões psíquicas que fazem com que se afeiçoem a determinadas “verdades” e abominem outras.

Por esses e outros motivos, o enfrentamento das fake news é algo complexo e multidisciplinar. Por mais que se mostrem argumentos racionais sobre a improcedência de uma falsa notícia, em qualquer área, haverá pessoas convictas de que não querem se convencer do que lhe é mostrado.

O que as move nesse sentido, então? A paixão pelo que acreditam. E a paixão, sabemos, quase sempre sofre de cegueira. E as crenças habitam frequentemente zonas ainda insondáveis de nosso ser. Mas é bom lembrar, a razão também não dá conta de tudo no mundo.

Assim, desconsiderar essas questões é insistir em monólogos ensurdecedores, onde sobram opiniões e falta bom senso.

O diálogo, o respeito mútuo e a empatia são fundamentais para a concretização de um mínimo de dignidade pelo bem comum.
O importante não é fazer ler. O importante é fazer pensar! (Montesquieu)

LUGARES

ILHA DE CAPRI - ITÁLIA

SETE VIDAS

Martha MedeirosMartha Medeiros

Estreou recentemente a nova novela das 18h, Sete Vidas, que conta a história de um homem que, quando jovem, doava sêmen para se sustentar, e depois, adulto, descobre que tem sete filhos que não conhece. Não estou assistindo, mas confio muito no taco da autora, a ótima Licia Manzo. Comecei a coluna usando esse gancho a fim de promover outro tipo de doação que também pode gerar seis, sete, várias outras vidas: a doação de órgãos. Faço questão de apoiar a campanha lançada pela Santa Casa.

Quando alguém morre, é uma vida a menos. É assim que analisamos a morte: como uma perda. Porém, a gente se esquece de que essa vida a menos pode gerar muitas vidas a mais. Basta que se doem o coração, as córneas, o pâncreas, o fígado, os rins e o que mais puder ser aproveitado.

Quem de nós não gostaria de ter serenidade e tolerância diante da morte? Pois é, porém nenhuma religião conseguiu até hoje confortar plenamente os parentes e amigos que enfrentam o desaparecimento súbito de uma pessoa querida. A ausência definitiva de alguém próximo é de uma brutalidade que encarcera a todos num luto sofrido. O tempo não cura, apenas ajuda a administrar a saudade.

Mas há paliativos. No momento em que é preciso superar uma dor extrema, a doação de órgãos pode tornar-se mais eficiente do que as missas encomendadas. É o verdadeiro ato de fé que manterá viva aquela pessoa entre nós. Pense: o coração de alguém que morreu por causa de um aneurisma pode continuar batendo no peito de um estudante de Medicina, as córneas de quem viajou por lugares paradisíacos pode servir para um fotógrafo. É uma ressurreição possível, que sai das páginas da Bíblia para virar realidade entre nós.

Ninguém quer morrer, ninguém quer perder ninguém, ninguém quer nem mesmo tocar neste assunto, ainda mais estando tão atazanado com o trabalho e outros compromissos cotidianos. Temos tanta coisa a realizar, que necessitamos urgentemente da garantia de que viveremos por no mínimo cem anos. Mas, caso o destino resolva ser mais rápido no gatilho, é muito importante que tenhamos verbalizado para nossos familiares que somos favoráveis à ideia de sobreviver através do corpo de outra pessoa. Anunciemos em alto e bom som: sou doador de órgãos. Deixemos a declaração por escrito, se preciso for. Não é um tema mórbido. Estamos falando de esperança, de renovação, de generosidade. De uma multiplicação milagrosa de fato: uma pessoa valendo por duas, três, sete.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


domingo, 22 de agosto de 2021

VINHO DE ENCHENTE

VINHO DE ENCHENTE
José Horta Manzano

Você sabia?

As inundações que castigaram o noroeste da Alemanha no mês passado destruíram boa parte do vinhedo de Ahr, grande região produtora de vinho tinto. Não só as vinhas foram destruídas, mas a enchente, ao engolfar vilas e vilarejos, levou gente, casas e deixou porões debaixo d’água.

Com a baixa das águas, os sobreviventes descobriram um espetáculo de desolação. Móveis, utensílios e objetos pessoais estão perdidos. Mas os porões conservavam boa reserva de garrafas de vinho intactas, ainda estocadas nas prateleiras onde sempre estiveram. Com um detalhe: estão todas sujas de lodo e de barro seco.

Chamados para examinar, laboratórios deram o veredicto: o barro não é tóxico. Portanto o conteúdo das garrafas não está contaminado. O conteúdo está perfeitamente consumível, já que a sujeira se limita à parte externa.

O primeiro impulso foi de limpar as garrafas. Mas alguém teve a ideia de guardá-las tal como estão e fazer uma venda especial em favor dos vinhateiros da região. É bom exemplo do ditado “fazer das tripas coração”. Os vinhos dessa “safra” levam todos o nome de “Flutwein – vinho de enchente”(*).

Organizou-se uma espécie de “ação de crowdfunding”, em que cada comprador contribui para ajudar financeiramente os pequenos produtores a se levantarem do baque que os derrubou. Quem contribuir leva de brinde uma garrafa – ou mais de uma, conforme o valor da doação. O preço das garrafas varia de 10 a 500 euros, dependendo da qualidade e da raridade do conteúdo.

Quem se habilitar, que entre em contacto com a União dos Pequenos Vinhateiros da Região de Ahr. Dado que a catástrofe despertou forte sentimento de solidariedade no país inteiro, não garanto que ainda sobrem garrafas. De todo modo, o estoque era limitado.


(*) Flutwein é termo composto de Flut (enchente) + Wein (vinho). Reparem que Flut é cognato do inglês flood, de mesmo significado.

Fonte: brasildelonge.com

O ESPERTO DOUTOR CAMACHO

O ESPERTO DOUTOR CAMACHO
Fernando Albrecht

Muito bem conservada para a idade, mantendo um sotaque e os traços da sua fulgurante beleza quando jovem, dona Mercedes tinha história para contar antes de adotar este nome. Dona de pensão para mulheres honradas, gostava de licor Cointreau, papo com jovens e lembrar os tempos em que era “francesa” em um discreto bordel de luxo da Capital. Atuou nele no tempo em que Assis Chateubriand disse que o Rio Grande do Sul deveria importar mulher francesa e plantar capim, e o jornalista nascido no Rio Grande do Sul Justino Martins, da revista Manchete, escreveu que o sonho de todo gaúcho era ser cavalo ou avião da Varig.

Na real, nem francesas elas eram. Maioria vinha da Hungria, ia para Paris e de lá para terras pindoramas. O sotaque francês era fundamental. Pois foi numa dessas conversas regadas a Cointreau que ela contou a estranha história do doutor Camacho (*). Era um jovem advogado de sucesso, cujo maior amigo era abastado herdeiro de família de grande fortuna. Viviam colados nas atividades culturais e sociais. Em casa, o rapaz só falava nele para sua bela esposa.

Era doutor Camacho pra cá e pra lá a tal ponto que a mulher começou a desconfiar e a prestar atenção às fofocas dos salões de beleza. O bom doutor, aliás, arrancava suspiros das moças casadoiras, mas não dava pelota para olhares públicos e balanceio das ancas à procura de duas mãos que as agarrassem com volúpia. Atormentada pela dúvida, a esposa imaginava os dois mais juntos que o doce bem-casados. Até que um dia, fez-se a luz.

Estava ela em casa, rodeada pela aflição e ciúme quando bateram à porta. Ao abrir, deparou-se com uma belíssima jovem com olhar de rancor. Jogou uma trouxa contendo cuecas e meias do marido. Então falou.

– Eu sou o doutor Camacho. Seu marido a engana, não presta. Larga desse ordinário.

Não só não largou, como ficou aliviada. Então era isso. Bem que notara falta de cuecas do marido. Nada de doutor Camacho, o maridão não gostava de homem, era chegado mesmo em rabo de saia. O doutor era companheiro de farra, isso sim. Mas também não deixou barato. Chamou o marido para um particular, encheu-o de desaforos e jurou greve de sexo por um ano, ouviu seu safado? Não se separou dele, afinal a vil pecúnia falava mais alto.

Neste ponto da narrativa, a garrafa do licor estava quase na metade. A velha senhora rainha do lupanar esperava a inevitável pergunta: como sabia ela da história com tantos detalhes? Ela riu.

– Fui eu quem visitou a esposa.

Mais um tiquinho de Cointreau e um pouco de riso sem gelo.

– Fui contratada pelo doutor Camacho. Nunca fui amante do amante dele.

(*) Nome fictício

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
A amizade que acaba nunca principiou. (Publius Syrus)

LUGARES

ABADIA DE SAN GALGANO - ITÁLIA
A abadia de San Galgano é uma abadia cisterciense, situada na comuna de Chiusdino, província de Siena, a cerca de 25 km desta cidade italiana. A abadia fica num local ermo e encontra-se em ruínas, reduzida às suas paredes e muros. (wikipédia)

THREE-FINGERED LIGHTNING

DJANDO REINHARDT




FRASES ILUSTRADAS


sábado, 21 de agosto de 2021

O SETE DE SETEMBRO VEM AÍ

O SETE DE SETEMBRO VEM AÍ
José Horta Manzano

Um passeio por sites bolsonaristas – que há de montão, acredite! – ensina que os devotos estão animados. Prevêem que o próximo 7 de setembro será o 6 de janeiro tupiniquim.

Vamos pôr em termos claros. Os adeptos da seita presidencial entendem que, aproveitando a modorra que o sol do cerrado impõe, o povo armado invadirá a Câmara, o Senado e o STF. Tudo ao mesmo tempo, no Dia da Pátria, num decalque exato do que ocorreu em Washington em 6 de janeiro, quando uma turba ensandecida tentou tomar à força o Capitólio.

O capitão também deve acreditar na patacoada; assim mesmo, prefere pôr um pé atrás. Chegou a declarar, esses dias, que “não quer desfile nem festejos no 7 de setembro”. Com tal atitude, imagina não poder vir a ser acusado de incitar a turba – para o caso de dar tudo errado, naturalmente. Pra reforçar, declarou ontem que, no 7 de setembro, pretende estar na Avenida Paulista. Ninguém pode ter certeza, porque as afirmações do presidente são, digamos assim, flutuantes.

Toda a tecnologia atual, incluindo a I.A. (inteligência artificial) ainda é incapaz de prever, tim-tim por tim-tim, o desenrolar de fatos futuros. Portanto, estamos ainda no estágio de “quem viver verá”. Seja como for, é conveniente tomar pelo menos duas providências.

A primeira é reforçar a guarda desses três centros do poder. Não precisa lotar a praça de brucutus fumarentos nem cercar a cidade com cordão policial. Mas uma vigilância discreta não faz mal a ninguém.

A segunda providência é deixar repórteres e jornalistas de prontidão, armados com câmeras de alta definição posicionadas em pontos estratégicos, tanto no exterior quanto, principalmente, no interior dos recintos. Isso permitirá reconhecer os invasores e identificar seus líderes, o que pode ser útil para providências futuras.

Multidões enfurecidas não costumam ganhar guerras nem derrubar regimes. Pra conseguir reviravolta total, precisam do apoio de quem detém a força. Portanto, com multidão ou sem ela, se não houver empenho do Exército, nada muda. Inversamente, se o Exército estivesse interessado e coeso, não precisavam de multidão pra botar tudo de cabeça pra baixo. Já teriam feito.

Fonte: brasildelonge.com