Hélio Schwartsman
No cômputo de custos e benefícios, seria melhor que não existissem
Estados necessitam de Forças Armadas? Alguns sim, outros não. Segundo a “World Population Review”, 36 dos 232 países e territórios do planeta abriram mão de exércitos.
A maioria são microestados como Andorra e as ilhas Maurício, que delegam a tarefa de proteção externa a vizinhos mais poderosos, mas há casos de nações maiores, como a Costa Rica e a Islândia, que renunciaram a manter Forças Armadas por razões políticas ou econômicas.
Especialmente a partir do século 20, com a incorporação de cada vez mais tecnologia à atividade militar, os conflitos se tornaram ridiculamente assimétricos. Forças Armadas como as brasileiras servem para dissuadir vizinhos belicamente mais fracos de tentar qualquer bobagem, mas não durariam semanas diante de uma potência militarmente sofisticada como os EUA.
Não estou dizendo que Washington é invencível. Os EUA acabam de perder uma guerra no Afeganistão. O que os derrotou, entretanto, não foi um exército regular e sim uma barafunda política insolúvel apoiada por uma guerrilha caótica, mas persistente.
Meu ponto é que a ideia de que Estados devem necessariamente manter Forças Armadas permanentes, estruturadas segundo um modelo padrão, não faz muito sentido. Cada país precisa, antes de mais nada, analisar suas reais necessidades. Há inimigos externos? Territórios em disputa? Planos intervencionistas?
Todo Estado que tenha litoral faz bem em manter uma guarda costeira, mas será que precisa também de uma marinha? Ela deve ter porta-aviões e submarinos nucleares? Decisões como essas cabem à sociedade, não aos militares. Assim como abrimos mão de desenvolver armas nucleares (está na Constituição), podemos renunciar a outras coisas que não nos convêm.
O que é inadmissível é que, em pleno século 21, militares sejam um foco de instabilidade institucional. Aí, no cômputo de custos e benefícios, seria melhor que não existissem.
Fonte: Folha de S. Paulo
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