José Horta Manzano
George-Louis Leclerc, conde de Buffon (1707-1788) foi um naturalista, biólogo, cosmólogo, matemático, filósofo e escritor francês. Brilhante intelectual, viveu numa época estimulante em que quase tudo estava ainda por descobrir e inventar. Era um tempo em que o conhecimento não estava à disposição de todos, como hoje. Sem internet e sem Wikipedia, quem buscasse o saber tinha de suar camisa.
A obra do conde sugere que ele tenha sido grande viajante, daqueles que deram a volta ao mundo. É impressão. Tirando o país natal, só viajou à Inglaterra e à Itália. Estudo, observação e talento fizeram o resto.
Buffon conseguiu a proeza de descrever espécimes exóticos da fauna mundial sem ter nunca saído da Europa. Assim foi com a onça-parda, espécie difusa em todo o continente americano, do Canadá à Patagônia. Conforme a língua, o nome do felino varia. O termo espanhol – puma – foi adotado pela maioria das línguas. Já o francês e o inglês seguiram caminho diferente. E é esse caminho que tem a ver com nosso conde francês.
A história marca que os primeiros europeus a terem contacto com a onça-parda foram os portugueses. Como é o caso de muitos animais da nova terra, os europeus recolheram e adotaram o nome indígena, que era suçuarana. Foi com esse nome que o felino chegou ao conhecimento de Buffon. Só que, nesse ponto, houve um probleminha de grafia.
Diferentemente de quase todas as outras, a língua portuguesa tem cê cedilha. Por falta de familiaridade, a cedilha é muitas vezes esquecida pelo caminho. Assim como os Gonçalves, quando deixam a terra natal, costumam virar Goncalves, o nome da onça foi mutilado. Naqueles longínquos anos 1500, o nome suçuarana (mais provavelmente çuçuarana) chegou à França como cuguacuarana, devido à perda da cedilha e à confusão das consoantes s, c e g.
À medida que os séculos passaram, o comprido nome do bicho foi sendo podado e corroído até desembocar no couguar do francês atual. Em algum ponto do caminho, os britânicos tomaram a forma emprestada e ainda reduziram um bocadinho mais. Ficou cougar, palavra utilizada até hoje em inglês pra dar nome ao bicho. Até que ficou elegante e, principalmente, mais fácil de pronunciar do que o original tupi. O termo soa tão bem que já foi usado até pra nome de modelo de automóvel (Mercury Cougar); aliás, um carro com certa presença.
Trata-se de um dos numerosos casos em que uma palavra exótica, transportada pelo português, veio enriquecer outras línguas europeias.
https://brasildelonge.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário