quarta-feira, 16 de junho de 2021

O BRASIL NOS RANKINGS MUNDIAIS

O BRASIL NOS RANKINGS MUNDIAIS
Pedro Hallal

Brasil ocupa a 9ª posição dentre 185 países no ranking de mortes por Covid; 176 países têm menos óbitos

No final de semana, o sérvio Novak Djokovic conquistou seu 19º título de Grand Slam, o conjunto dos quatro torneios mais importantes do tênis mundial. Com esse título, ele fica apenas um título atrás dos líderes desse ranking: o suíço Roger Federer e o espanhol Rafael Nadal possuem, cada, 20 títulos de Grand Slam. Aliás, no ranking mundial de tênis, o brasileiro mais bem colocado é Thiago Monteiro, na 83ª posição. Por mais apaixonado por tênis que eu seja, a Folha de S.Paulo não me convidou para escrever uma coluna sobre tênis, e sim sobre ciência. E nos rankings da pandemia, nossa situação é ainda pior do que no tênis. Vamos aos números.

Comecemos pelo ranking de mortes. Os 19 países mais bem classificados, ou seja, com menos mortes, apresentam mortalidade abaixo de 10 pessoas por 1 milhão de habitantes. Se o Brasil tivesse uma mortalidade nesse nível, teríamos perdido 21.500 vidas para a Covid-19. Isso mesmo: se estivéssemos no seleto grupo dos 19 países com menor mortalidade por Covid-19 do mundo, teríamos poupado a vida de mais de 450 mil brasileiros. No ranking de mortes por Covid-19, o Brasil ocupa a 9ª posição de um total de 185 países. Isso mesmo, 176 países têm menos mortes do que o Brasil.

E mesmo que não estivéssemos no G19, mas apenas na média mundial, teríamos perdido 104.920 vidas –a média mundial é de 488 mortes por 1 milhão de habitantes, contra 2.293 por 1 milhão no Brasil. Em janeiro de 2021, publiqueitexto na revista cientifica The Lancet dizendo que 3 de cada 4 mortes por Covid-19 ocorridas no Brasil até aquela época teriam sido evitadas se o Brasil estivesse na média mundial. Preciso agora atualizar esse número: são 4 de cada 5 mortes que poderiam ter sido evitadas. Ah, e sem dar muito spoiler para o pessoal da CPI, apenas informo que, se considerar a estrutura etária da população, a situação do Brasil é ainda pior.

Imediatamente os negacionistas dirão: isso é porque o Brasil é grande.

Não é bem assim.

No G19, temos países como a China (1,4 bilhão de habitantes), Vietnã (97 milhões de habitantes) e Congo (89 milhões de habitantes).

Então os negacionistas mudarão o discurso: isso é porque o Brasil é pobre.

Não é bem assim.

Dos 19 países, quase todos têm economia mais frágil do que a brasileira.

A verdade é que esses países enfrentaram a pandemia com seriedade: nenhum deles achou que fosse uma gripezinha, os chefes de Estado usam máscaras, há amplos programas de testagem, rastreamento de contatos e isolamento na maioria desses países, vacinas não são caluniadas e muito menos descartadas. Enfim, esses governos adotam políticas baseadas na ciência, e não políticas anticiência, como as adotadas no Brasil.

Vamos então ao ranking de vacinas. Aqui o indicador mais importante é o percentual da população que já recebeu imunização completa (duas doses no caso da maioria das vacinas, exceto a da Janssen). Nesse ranking o Brasil ocupa a 81ª colocação, bem pertinho da posição do nosso Thiago Monteiro no ranking dos tenistas (83º). É inadmissível que um país que esteja no top 10 das mortes não esteja sequer no top 80 das vacinas.

O mais grave é saber que essa vacinação lenta é culpa direta do presidente da República, que deixou de adquirir as doses ofertadas ao Brasil no ano passado. No caso da vacina da Pfizer, as doses sairiam pela metade do preço e com direito a ressarcimento integral caso a vacina não fosse aprovada nos testes. Essa vacina da Pfizer, que hoje praticamente acabou com a pandemia em Israel, é a mesma que o presidente sugeriu que poderia transformar as pessoas em jacarés. Até hoje, não há sequer um relato de humanos que tenham virado jacaré após receberem a vacina. E ainda teve a vacina do Butantan, que o presidente boicotou porque era chinesa e porque estava vinculada a um esforço liderado pelo governador de São Paulo, João Doria.

E por fim, depois do Queiroz, a pergunta é: onde está Wizard?

Fonte: Folha de S. Paulo

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