quinta-feira, 24 de junho de 2021

ARRANCADA VACINAL

ARRANCADA VACINAL
Hélio Schwartsman

A ciência fez milagre ao nos proporcionar tantas vacinas em tão curto de tempo, e é nossa obrigação agora aplicá-las rapidamente e derrotar a pandemia

Apesar de falhas esporádicas, como a que acabamos de ver em algumas capitais, faz sentido a diretriz para que os gestores vacinem com a primeira dose o maior número de pessoas o mais rápido possível. No caso dos imunizantes da AstraZeneca e da Pfizer, a primeira dose já oferece algum nível de proteção.

Para seguir essa diretriz, os gestores têm de operar com estoques de vacinas reduzidos e devem ampliar o intervalo entre as doses da AstraZeneca e da Pfizer de três ou quatro semanas, conforme previam as bulas originais, para três meses. No caso da AstraZeneca, há um trabalho sugerindo que o intervalo mais dilatado entre as inoculações amplia a eficácia do fármaco.

Há, é claro, riscos. Para que a estratégia funcione, é preciso, antes de mais nada, que não ocorram rupturas no calendário de entrega dos imunizantes. Ajudaria também se o presidente Jair Bolsonaro e parentalha não falassem mal dos chineses, o que costuma provocar atrasos no despacho dos IFAs.

Existe ainda o risco teórico de que o prolongamento do período em que as pessoas ficam com uma imunização incompleta possa favorecer o surgimento de cepas com escape vacinal. Mas, dado que a circulação do vírus ainda é muito alta no país, esse perigo parece menor do que o de deixar a epidemia seguir seu curso natural.

Numa nota mais positiva, existe a possibilidade de intercambiar o fabricante na segunda dose, o que reduziria as incertezas sobre a disponibilidade futura. Essa prática, embora ainda não tenha sido autorizada no Brasil, já está ocorrendo em vários países e é objeto de estudos, cujos resultados devem sair em breve. Em teoria, é possível que a mistura também amplie o nível de proteção.

A ciência produziu um milagre ao nos proporcionar tantas vacinas eficazes num período tão curto de tempo. É nossa obrigação agora vencer o desafio logístico de aplicá-las rapidamente e derrotar a pandemia.

Fonte: Folha de S.Paulo

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