A SALVAÇÃO PELA SIRENE
Fernando Albrecht
Entre as várias histórias que cercam maridos que pulam a cerca e se veem em maus lençóis pelas circunstâncias adversas repentinamente surgidas, está a do marido que teve problemas de coração. Na verdade, dois corações, considerando o dele e o da travessa e libidinosa amante. Os dois se encontravam em locais públicos, como eventos e vernissages, mostra artística muito popular nos anos 1970. E dali partiam para os finalmentes em algum receptáculo imobiliário amoroso.
Em um desses eventos, os comes e bebes foram longe, principalmente os bebes, porque os comes eram poucos e ridículos em sabor e grandeza. Em resumo, o álcool pegou um elevador muito rápido. Quando finalmente chegaram ao ninho de amor, houve um desfalecimento alcoólico a dois. E aí as coisas ficaram ruins.
Ele acordou de manhã. Da boca com gosto de cabo de guarda-chuva saiu a frase que até ateus usam em emergências.
– Meu Deus!
Se não foi Ele, certamente o Capeta o ajudou. Fiat lux. Ligou para um pronto-socorro cardiológico.
– Pois não?
– Eu queria alugar uma ambulância. E com jaleco de doente.
– Como assim, alugar? Onde está o doente?
– O doente sou eu. Quero uma para me levar em casa.
Depois de muita explicação, o atendente da clínica concordou. Afinal, seria corrida curta e sobrava ambulância. E o dinheiro era bom. O dorminhoco chamou um táxi para a codorminhoca e esperou a viatura. Deitou na maca e se foi para casa. Assim que chegou, saiu do carro com luzes vermelhas piscando, vestido com uniforme de doente e abriu o bocão.
– Mulher, quase ficaste viúva!
E se pôs a louvar a medicina e os médicos que salvaram sua vida. Exames mostraram que não houve nada sério, embora o desmaio e ajuda dos amigos que acionaram o recurso quando o viram desmaiar. Puro estresse.
Foi a única verdade contada.
Fonte: fernandoalbrecht.blog.br
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