sexta-feira, 30 de abril de 2021

QUEM COM FERRO FERRA

QUEM COM FERRO FERRA
Ruy Castro

Ferrar, diz o Aurélio, significa aplicar ferraduras. É o que Bolsonaro faz com seus aliados

Os generais, quando longe dos olhos e ouvidos dos paisanos, dispensam-se os beija-mãos da farda. Daí que, há pouco, em Brasília, um irritado Edson Pujol, ex-comandante do Exército, ao encontrar-se com um abestado Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, fulminou-o: "Pô, Pazuello, quando o Bolsonaro lhe proibiu de comprar as vacinas você devia ter pedido demissão. Obedecendo, você se ferrou e nos ferrou junto!". Por "junto" referia-se ao Exército.

Modéstia do general Pujol. O Exército já está ferrado desde que Jair Bolsonaro fez dele avalista, sócio e cúmplice de seu governo, ao presentear milhares de fardados com funções no Estado para as quais não tinham nenhum preparo. Com isso, Bolsonaro deu um colorido verde-oliva ao seu conceito particular de mamata e, em troca, pode proclamar que vai chamar o Exército para ajudá-lo a acabar de ferrar o Brasil. Claro, o Exército é "dele".

Ferrar, segundo os dicionários, significa também "marcar a ferro, como se faz com o gado", e Bolsonaro imprime suas iniciais nos que se ajoelham à sua cruzada em prol da pandemia. Enquanto, internamente, o Exército aplica aos seus os protocolos de higiene, distanciamento e máscara, Bolsonaro desfila alegremente sua política de contágio, doença e morte sob o silêncio aprovador dos generais. Ou faz deles fabricantes e distribuidores de cloroquina, produto tão eficaz contra a Covid quanto xampu de ovo.

E a que o cinismo de Pazuello, ao circular sem máscara por um shopping de Manaus, nos leva a pensar? Que, um dia, esse homem aceitou que Bolsonaro o montasse e fizesse dele formalmente o responsável pela Saúde no Brasil.

É bom ler dicionários. No Aurélio, o verbo ferrar, significando "causar dano ou prejuízo", como o general Pujol o usou, é apenas a sétima acepção; no Houaiss, é a 14ª. Em ambos, a principal acepção é "pôr ferraduras (em cavalgadura)". Com todo respeito.

Fonte: Folha de S. Paulo
A própria virtude precisa de limites. (Montesquieu, filósofo francês, 1689-1755)

LUGARES

LOCRONAN - FRANÇA
Locronan é uma comuna francesa na região administrativa da Bretanha, no departamento Finisterra.   Pertence à rede das "As mais belas aldeias de França". (wikipédia)

MR. MILES

Desperdício

Mr. Miles: qual é a pior maneira de gastar dinheiro numa viagem?

Well, my dear Juliana. Existem inúmeras maneiras de jogar dinheiro pela janela numa viagem: compras inúteis, restaurantes pega-turistas and much more. Suspeito, porém, que não há nada pior do que gastar dinheiro com telefonemas inúteis.

Por inútil, my dear, entenda-se aquela chamada sem conteúdo, em geral perpetrada dois ou três dias depois da partida que, quase sempre, acaba em dezenas de dólares de prejuízo, especialmente quando é feita de um hotel. Last year, em Tunis, tive a indelicadeza de escutar uma jovem brasileira, recém-chegada para suas férias, conversando com o marido no saguão de um hotel desses que cobram taxas extorsivas de turistas incautos. Vou tentar reproduzi-la, para ver você me compreende.

- Alô… amor, ai que saudades.

- Puxa, você já chegou… tudo bem por aí ? (I presume!)

- Tudo ótimo. Estou adorando. Eu te conto quando voltar. Ué, quem está com você ?

- Ninguém…, quer dizer só aquela argentina? (I presume)

- De novo a argentina? Como é essa argentina?

- Ah, é só uma mulher. Mas e aí, e o tempo?

- Porque você está mudando de assunto?

- Amor, isso é uma ligação internacional. Você já deve ter gasto uns dez dólares.

- O tempo está lindo, a comida é mais ou menos,mas eu não engolí essa história de argentina. Você não está me falando tudo.

- Não tenho nada para falar! Eu só estou feliz de ouvir a sua voz.

- Eu também, que saudades. Você jura que me ama.

- Eu te amo.

- Porque você disso isso assim, frio desse jeito?

- Frio, como. Eu te amo, já disse.

- Não, eu conheço teu tom de voz. O que está acontecendo, Marcelo ?

- Nada, na volta a gente fala. Já passou de vinte dólares.

- Quem está ligando sou eu. O dinheiro é meu e eu estou ligando para te agradar. Quer saber: vou desligar. (….)

Well, Juliana, a moça bateu o telefone no gancho, foi até um grupo de amigas, chorou um pouco e, believe it, dois minutos depois estava de novo no aparelho:

- Alô, Marcelo, desculpa, por favor. É que eu estou com tantas saudades. E o fuso também deixa a gente esquisita.

- Eu também, amor. Desculpa eu. (I presume)

- Depois me escreve para falar sobre essa história da argentina.

- Tá bom, mas não se preocupe. Que bom que você ligou…

- Fala que você me ama.

- Eu te amo

- Fala de novo

- Eu te amo.

- Ah, que bom… amanhã eu te ligo de novo.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


quinta-feira, 29 de abril de 2021

SINA

SINA
José Horta Manzano

Internet e redes sociais têm seu lado bom. Se assim não fosse, não teriam conquistado tantos adeptos. A informação instantânea (que hoje convém dizer “em tempo real”) é bom exemplo dos benefícios.

Nos tempos de antigamente, um meio muito utilizado de transmitir informação era o “telefone sem fio” ou “boca a boca”. Não era sofisticado, mas tinha sua graça. Logo após ter se inteirado de uma notícia, a gente corria pra informar algum conhecido.

– Você soube da novidade?

– Não. O que é que foi?

Neste ponto, o bom da coisa era contar o que tinha ocorrido e parar pra observar a cara de espanto do interlocutor. Era uma sensação impagável.

– Noooossa! Não diga!

– Digo, sim. E digo mais.

E aqui se acrescentava algum comentário pessoal. Como se sabe, quem conta um conto aumenta um ponto.

E assim seguia. Terminada a conversa, cada um seguia seu caminho pra continuar a espalhar a notícia.

Diálogos assim, hoje, são mais raros. Com o celular sempre no bolso, (quase) todos ficam sabendo de (quase) tudo ao mesmo momento. Não tem mais graça perguntar “– Soube da novidade?”. Normalmente, a resposta será “– Soube, sim.”

Nem tudo, porém, é cor-de-rosa. Há gente que exagera na dose e tem nas redes sociais seu único canal de informação. Não é o caso do distinto leitor, naturalmente, visto que chegou a este blogue caminhando com as próprias pernas. Está ficando cada vez mais raro ver gente que usa as próprias pernas para andar; muitos por aí andam caminhando com as pernas alheias. Parece cômodo, mas pode ser nocivo a longo prazo. Massa cinzenta pouco utilizada acaba se atrofiando.

Essa dedicação exclusiva e em tempo integral às redes pode causar distorções em certos momentos. Em política, na hora de escolher candidato para eleição majoritária (presidente, governador, prefeito), esse hábito trabalha contra o eleitor, visto que limita sua liberdade de escolha.

A frequentação permanente das redes acaba por fagocitar outros canais de comunicação que costumavam ser usados entre candidatos e eleitores. Debates, por exemplo, em que cada pretendente tem ocasião de expor as próprias ideias, estão em processo de rápida perda de importância.

Esse estreitamento dos canais de informação dificulta o aparecimento e a ascensão de novos candidatos, enquanto favorece a reeleição dos nomes mais conhecidos. Para as presidenciais de 2022, o quadro se delineia cada dia com maior nitidez.

Um terceiro candidato, fora do binômio Lula x Bolsonaro, tem pouca chance de se fortalecer eleitoralmente. Esses dois personagens são tão conhecidos, que um terceiro será naturalmente menos popular do que eles. E terá menos espaço nas redes, o que limitará suas chances de sucesso.

Salvo acontecimento extraordinário, os dois nomes que o país inteiro conhece – o do ex-presidente (e ex-presidiário), e o do atual presidente (e futuro presidiário?) – têm todas as chances de aparecer na cédula do segundo turno.

Eta carma pesado, o nosso!

Fonte: brasildelonge.com
Suporta-se com muita paciência a dor no fígado alheio. (Machado de Assis)

LUGARES

BERGEN - NORUEGA

NÃO TROPECE NA LÍNGUA



SE SE SABE OU SE SE SENTE...

Elizabeth Daxer, de São Paulo/SP, apresenta duas frases interessantes onde aparece duplo se, que ela pergunta se é uma conjunção condicional e se “devo usá-la apenas uma vez?”:
1) Paulino Jacques também faz uma crítica a essa terminologia, advertindo que é ambígua porque não se sabe se se trata de um novo direito ou do próprio direito do trabalho.
2) Se se aplicasse ao direito do trabalho a simples divisão usual do Direito em público e privado, separar-se-ia aquilo que vive em união interna.

Já o leitor Rubens Viana, de São José dos Campos/SP, quer saber se “é um jogo de palavras? pronome pessoal e condicional?” e extrai um exemplo da coluna Não Tropece na Língua 91:
3) Nessas frases haveria clareza se se observasse a regra citada.

E Ronaldo Nogueira, de Fortaleza/CE, acrescenta sua dúvida: Escrever dois se junto está certo? Qual seria a melhor maneira de escrever esta frase:
4) Se se tratar da entrada, informe o responsável pelo setor de compras.
As frases acima, de 1 a 4, estão corretas, perfeitas. Em 2, 3 e 4 seria possível trocar o primeiro SE, que é conjunção condicional, por “caso”, o que contudo não significa melhor estilo, mas apenas uma alternativa de redação:
2) Caso se aplicasse ao direito do trabalho a simples divisão...
3) Haveria clareza caso se observasse a regra citada.
4) Caso se tratar da entrada, informe o responsável...

No mais, é impossível a ênclise (o pronome depois do verbo) porque a conjunção subordinativa se atrai o pronome. E atrai justamente por questões de eufonia. Vejam como soaria mal: *Não se sabe se trata-se... *Se aplicasse-se... *Haveria clareza se observasse-se...


Não é à toa que Camões, há mais de quatro séculos, escreveu estes versos: “Se se sabe ou se se sente, não (n)a digo a toda a gente”... – provocando intencionalmente essa sonoridade. Observem que o usual é pronunciar se no 1° e si no 2°, evitando-se o cacófato se-se.


Eis a explicação gramatical para o caso:
O 1º se é sempre conjunção condicional.
O 2º se é pronome, que pode ter três funções:

- partícula apassivadora:
Se se aplicasse a divisão... [= se fosse aplicada a divisão]
Se se observar a regra...  [= se a regra for observada]

- indicativo de verbo pronominal:
Não sabe se se despede agora ou não, se se casa ou se se deita e espera.

- índice de indeterminação do sujeito:
Para saber se se trata de entrada, é preciso analisar todo o material.
  • Se se trata de novo direito, saberemos.
  • Se se ama, sente-se saudades.
Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS


quarta-feira, 28 de abril de 2021

EUROINGLÊS

EUROINGLÊS
José Horta Manzano

Diante do drama linguístico que vive hoje a União Europeia, convém recordar as palavras pronunciadas em 1962, numa coletiva de imprensa, por De Gaulle, presidente da França. O velho general tinha o dom do espetáculo; as credenciais para assistir a suas entrevistas eram disputadas a tapa pelos jornalistas. Naquele dia, ele pareceu ainda mais inspirado que de costume. Lá pelas tantas, citou Dante, Goethe e Chateaubriand e declarou que, se esses autores são venerados até nossos dias, é justamente porque cada um deles, ao se expressar na língua materna, guardou o espírito de seu país. Disse ainda que eles não teriam sido de nenhuma valia para a Europa se tivessem se exprimido “num esperanto ou num volapük qualquer”.

Não foi por acaso que o general mencionou duas línguas artificiais. Não foi sem razão que se referiu a elas em tom de desprezo, como se não passassem de brincadeira infantil do tipo língua do pê. É que, naquela altura, as lembranças da Segunda Guerra ainda estavam frescas na memória. Num Mercado Comum formado por apenas seis nações, a paisagem linguística era simples. Apenas três países eram grandes: França, Alemanha e Itália. Dos três, dois estavam em posição frágil, por serem os derrotados de 1945. Sobrava a França. Na lógica do general, a língua francesa se imporia naturalmente como lingua franca. Daí ter rejeitado toda ideia de língua neutra.

Passaram-se quase 60 anos, De Gaulle se foi, o mundo mudou. A União Europeia saltou de meia dúzia de membros para os 27 atuais, o que complicou o panorama linguístico. As línguas oficiais passaram de 4 a 24. E a tática do general furou: o francês não se impôs como língua de comunicação entre os europeus. Com o passar do tempo, foi o inglês que acabou por se impor.

Na administração da UE, a primazia da língua inglesa é fato incontestável. Em 2015, a Comissão traduziu 1.600.000 páginas para o inglês e apenas 72.000 para o francês, a segunda língua mais procurada. O domínio do inglês é brutal. Com sua estratégia de barrar línguas neutras, De Gaulle acabou facilitando a entrada do inglês. O que ele temia aconteceu: a língua de Shakespeare suplantou as demais.

O Brexit levou o Reino Unido para o outro lado da fronteira e deixou a UE numa situação linguística peculiar. Tirando Malta e a Irlanda, países de importância muito relativa, nenhum outro membro dá ao inglês estatuto oficial. No entanto, o inglês é de facto o idioma de todos os dias. No Parlamento, o número de intervenções em inglês equivale às falas em francês, espanhol e alemão somadas. A Inglaterra foi-se, mas o inglês ficou.

Depois do desaparecimento do sabir, um pidgin que serviu de lingua franca na bacia do Mediterrâneo desde a Idade Média até meados do século 19, é a primeira vez que um consórcio de povos adota, para a comunicação do dia a dia, uma língua estrangeira que não a do antigo colonizador – mesmo porque de descolonização não se trata. Não se trata tampouco de imposição de quem quer que seja. A adesão espontânea ao inglês teve crescimento vigoroso a partir da admissão de países da Europa Oriental, em 2004.

Chega-se agora a uma situação curiosa. Há uma corrente propondo que se oficialize o inglês como segunda língua dos europeus, junto à língua materna. Se isso ocorrer, a língua inglesa assumirá importância superior à do latim medieval, que se restringia ao posto de língua de cultura, sem jamais perpassar a fala popular. A moderar os ardores dessa corrente, surgem vozes que, sem renegar a realidade, recomendam que o futuro inglês europeu – euroinglês, provavelmente – lance, de certo modo, seu grito de independência: “Que se afrouxem as amarras que me prendem à tirania do inglês britânico!”.

O pleito faz sentido. Não é confortável nem admissível que um inglês oficializado na UE continue sob a tutela de Cambridge ou de Oxford. Nenhum parlamentar europeu deveria se envergonhar de não dominar o idioma como um nativo. Não se pode esperar que um lituano, um espanhol ou um húngaro manejem o inglês como se fossem ingleses. Ainda que puristas britânicos possam não apreciar, a futura lingua franca europeia será fruto do idioma de Shakespeare. Será fruto, é verdade, mas será também bastardo.

Fonte: brasildelonge.com
A liberdade é o direito de fazer tudo que as leis permitem. (Montesquieu, filósofo francês, 1689-1755)

LUGARES

ÉVORA - PORTUGAL

NELSON MANDELA

NELSON MANDELA

“Depois de me tornar presidente, pedi a alguns membros da minha escolta para ir passear pela cidade. Após o passeio, fomos almoçar num restaurante.

Sentamo-nos num dos mais centrais, e cada um de nós pediu o que lhe apetecia. Depois de um tempo de espera, apareceu o empregado trazendo os nossos menus. Foi aí que eu percebi que na mesa que estava na nossa frente, havia um homem sozinho, a espera de ser atendido.

Quando foi servido, eu disse a um dos meus soldados: Pede aquele senhor que se junte a nós.

O soldado foi e transmitiu-lhe o meu convite. O homem levantou-se, pegou no prato e sentou-se ao meu lado.

Enquanto comia as suas mãos tremiam constantemente e não levantava a cabeça do seu prato. Quando terminamos, ele despediu-se de mim sem olhar, apertei-lhe a mão e partiu.

O soldado comentou:

Madiba, esse homem devia estar muito doente, já que as suas mãos não paravam de tremer enquanto comia.

- Não, não estava doente! A razão dos seus tremores é outra. Eles olharam para mim de forma estranha e eu expliquei-lhes:

- Aquele homem era o guarda da minha cela na prisão onde eu estava; muitas vezes, depois das torturas a que me submetiam, eu gritava e chorava pedindo um pouco de água, ele vinha, humilhava-me, ria-se de mim e em vez de me dar água, urinava na minha cabeça.

Não, ele não estava doente, estava assustado e tremia talvez porque esperava que eu, agora que sou presidente da África do Sul, o mandasse prender e lhe fizesse o mesmo que ele me fez; torturá-lo e humilhá-lo. Mas eu não sou assim, essa conduta não faz parte do meu caráter, nem da minha ética. Mentes que procuram vingança destroem estados, enquanto as que procuram a reconciliação constroem nações."

Fonte: Entrevista ao diário londrino The Observer, em na sua casa de Cape Town em 2007.

FRASES ILUSTRADAS


terça-feira, 27 de abril de 2021

NOSSO DESTINO É A ESTUPIDEZ

NOSSO DESTINO É A ESTUPIDEZ
Ruy Castro

Em 1964, o Brasil ficou impossível para Celso Furtado ---que os outros países, agradecidos, acolheram

Um mês e meio depois do golpe militar de 1º de abril de 1964, o economista Celso Furtado teve de deixar o Brasil. Seu nome estava na primeira leva de brasileiros com os direitos políticos e civis cassados. De uma lista aberta pelo presidente deposto João Goulart e pelo deputado Leonel Brizola, Celso era já o 26º. Entre os motivos para isto estavam sua passagem pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), a criação e presidência da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e ter sido o primeiro ministro do Planejamento do país. No Brasil dos generais, o ex-pracinha Celso Furtado não podia ser deixado à solta. Estava com 43 anos.

Seu primeiro destino foi Santiago do Chile. Mas não passou muito tempo por lá. Tinha convites de três universidades americanas para lecionar economia: Harvard, Columbia e Yale. Escolheu Yale, onde ficou de setembro daquele ano a junho de 1965, e só saiu porque o governo brasileiro pressionou a congregação para não renovar seu contrato. Foi para Paris, contratado pela pós-graduação da Sorbonne, em ato assinado pelo presidente De Gaulle, para ensinar economia do desenvolvimento. Somente em 1968 teve 15 convites para ser paraninfo de turma.

Em 20 anos de Sorbonne, Celso formou futuros presidentes da República e ministros de Estado, publicou livros e trabalhos, falou para governos e privou com potestades como Bertrand Russell, Jean-Paul Sartre, James Baldwin, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Octavio Paz, Jürgen Habermas —alguns, seus amigos.
As cartas que mostram essa extraordinária trajetória estão no livro recém-lançado “Celso Furtado - Correspondência Intelectual 1949-2004”, organizado por Rosa Freire d’Aguiar.

Os militares o condenaram a levar seu conhecimento a plateias alheias ao seu coração. O que o Brasil dispensou, o mundo, agradecido, acolheu. Nosso destino é a estupidez —vide hoje.

Fonte: Folha de S.Paulo
A ciência será sempre uma busca, jamais um descobrimento real. É uma viagem, nunca uma chegada. (Karl Popper, fiilósofo austríaco)

LUGARES

ALPES SUÍÇOS

ROMANCE FORENSE

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Incríveis histórias da Advocacia

O empresário recém descasado costumava fixar os olhos na gerente da agência bancária onde era cliente.

Vai daí, vai daqui, em junho de 2011, ao sentar-se à mesa dela, o homem comentou sobre o inverno que atormentava Porto Alegre e sobre o clima ameno em New York e abriu o jogo:

- Gosto muito de Manhattan e estou ansioso por voltar lá e curtir, bem acompanhado, amenas caminhadas no Central Park, olhar vitrines na 5ª Avenida etc. Só ainda não me programei porque New York é uma cidade para ser curtida a dois. E como estou só...

A gerente sentiu a oferta, mas foi econômica no comentário:

- Eu também gostaria de ir, mas...

Vai daí, vai daqui, alguns dias depois o empresário comprou duas passagens de ida-e-volta. Ele foi logo, de novo, à agência bancária, exibindo - como imprescindível primeiro passo para a etapa seguinte - os tickets eletrônicos de viagem. Assegurou a ela que já fizera reserva de hotel, "bem ali na Broadway, na maravilhosa zona dos teatros".

A gerente conseguiu férias de oito dias e a viagem saiu no dia marcado. Na chegada ao hotel novaiorquino, o empresário sentiu um "frio na espinha" e fez cara de espanto. Deu-se conta de que havia "esquecido" todos os seus cartões de crédito em Porto Alegre.

Pedir o envio de novos cartões e enviá-los a New York demandaria uma semana - justo o período da viagem.

A gerente bancária foi solidária e resolveu o impasse:

- Que não seja por isso! Minha conta bancária é mais modesta que a tua, tenho apenas dois cartões, mas pago tudo aqui e na volta tu me reembolsas.

A hospedagem no Novotel foi maravilhosa, os passeios encantadores, as noitadas incluiram jazz no Blue Note e um show de música gospel no Harlem. Tudo pago com os dois cartões de crédito da gerente.

Durante o voo de retorno, o novel casal se desentendeu. Já em Porto Alegre, tocou exclusivamente a ela o pagamento de exatos 5.889 dólares de hospedagem, refeições, espetáculos etc. O empresário, decisivamente, não se coçou.

* * * * *
 
Era agosto do ano seguinte - em plena Semana do Advogado - a gerente procurou um ativo escritório, pedindo uma ação cível contra o empresário. O profissional da Advocacia indagou minúcias, viu as contas pagas pela mulher e vaticinou:

- A ação será de insucesso total. Afinal, o empresário entrou com as passagens. Tu entraste com o teu corpo, em todos os sentidos, e, na volta, com o pagamento das contas dos sete dias de intenso romance. Mas, consola-te: foi em Manhattan! E eu vou poder incluir esta tua história num livro que vou escrever quando me aposentar.

Título da futura obra: "Incríveis histórias da Advocacia". 

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS


segunda-feira, 26 de abril de 2021

MARINA E A PERERECA

MARINA E A PERERECA
Ascânio Seleme (*)

Lula tem razão. Ele e Gleisi assinaram artigo na “Folha” mostrando preocupação com o meio ambiente e batendo na política criminosa de Bolsonaro para o setor.

Mas é bom não esquecer que o maior ícone ambientalista nacional, a ex-senadora Marina Silva, pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente no governo Lula por falta de “sustentação política” para tocar sua pauta.

Também não custa lembrar que Lula sempre se queixou da “poderosa máquina de fiscalização” ambiental. Por isso disse, no longínquo 2010, que o Brasil não podia “ficar a serviço de uma perereca”. Criticava a paralisação das obras do Arco Metropolitano do Rio em favor da preservação de um anfíbio que habitava um charco por onde passaria a estrada.

(*) Ascânio Seleme é jornalista. Trecho de artigo publicado no jornal O Globo de 24 abril 2021.

Fonte: brasildelonge.com
Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário. (George Orwell)

LUGARES

ANNECY - FRANÇA

PARA NÃO ESQUECER

Martha Medeiros

Quando completei 10 anos de idade, meus pais resolveram organizar uma festa para comemorar. Naquela época festa de criança tinha bolo feito pela avó, cachorro-quente, refrigerante, parabéns a você e os amiguinhos iam assim mesmo, juro por Deus, mesmo sem bufê contratado, decoração milionária, fogos de artifício e show da Anitta. Era simples e era bom.

Só que eu nasci no mês de agosto, quando o inverno de Porto Alegre resolve ser mais malvado que o habitual. E naquele dia específico, além de fazer uns quatro graus, chovia o suficiente para encher todas as represas do país e evitar qualquer ameaça de racionamento de água até o próximo milênio.

Eu não sofria bullying, mas tampouco era a Miss Sunshine do colégio. Sabia que minhas amigas mais íntimas não deixariam de ir, éramos grudadas, mas eu havia convidado umas 30 pessoas. Se aparecesse apenas meia dúzia daria uma trabalheira para reconstruir minha reputação.

Tudo dando errado. Justo na comemoração dos 10, minha primeira data redonda e de dois dígitos, logo no aniversário que eu mais ansiava, logo quando eu me sentia amadurecida para o que a vida me reservasse a partir dali — já era dramática desde pirralha, como se vê.

Faltava meia hora para às quatro da tarde, o horário marcado, e já não havia como enxergar a calçada, os bueiros transbordavam, eu parecia estar num navio e não num edifício. Olhava desconsolada pela janela do segundo andar e chovia, chovia, chovia. E o frio só piorava. E não tinha show da Anitta.

Foi quando vi um táxi se aproximando lentamente, levantando ondas enquanto estacionava — ou atracava, verbo mais condizente com a situação. Lá de dentro saltou um homem que correu em direção ao prédio com água entrando no sapato, água escorrendo pelo pescoço, água descendo pelas costas, e mesmo sem ele levantar o rosto, eu soube.

Era meu pai.

Não era para ele estar ali. Ele estava viajando a trabalho há dias e já tinha avisado que não voltaria a tempo. Mas voltou. Sorri por dentro. Eu não precisava mais de quórum nenhum.

Logo chegaram uma, duas, três amigas. Não precisava, não precisava.

Passou mais alguns minutos, chegaram a oitava, a décima segunda, a décima quinta. Apareceram 17 no total e mais o meu pai, que tinha me enganado direitinho dizendo que não poderia voltar, mas que voltou. Era o único homem da festa (o.k.,tinha também meu irmão de 8 anos, promovido rapidamente a segundo homem da casa). E mais as 17 amigas do colégio, minha mãe, minha avó, a empregada, duas primas também foram, e eu não lembro de ter me sentido tão amada naquele dia em que não apostei um níquel na minha sorte.

Não teve Anitta, mas teve show surpresa.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


domingo, 25 de abril de 2021

COMO VÃO AS INSTITUIÇÕES?

COMO VÃO AS INSTITUIÇÕES?
Hélio Schwartsman

Bolsonaro jamais teve ascendência sobre o Parlamento nem excedeu 40% de aprovação

Li nos jornais da quinta-feira (22) dois bons artigos dizendo mais ou menos o contrário um do outro. Na Folha, Fernando Schüler sustenta que Jair Bolsonaro foi enquadrado pelo sistema político (um pedacinho das famosas instituições) e se encontra agora em modo sobrevivência, sem constituir ameaça maior ao regime democrático.

Em O Estado de S. Paulo, Eugênio Bucci afirma não estar tão seguro de que o presidente não tentará um golpe, mas, mesmo que não promova nenhuma ruptura formal, ele, comendo pelas beiradas, já provocou tamanha deterioração em tantas instituições e esferas do Estado que a democracia brasileira está hoje bem pior do que no passado.

Por paradoxal que pareça, acho que os dois têm razão. Bolsonaro se vê politicamente enfraquecido, com pouca chance de desferir com êxito um golpe, mas já causou um estrago tão grande em tantas áreas que, se tudo der certo, levaremos anos para nos recuperar.

Mas por que Bolsonaro não deu um golpe, seja no estilo clássico, tão ao gosto dos militares, seja à moda húngara, desfigurando as instituições de controle até que elas percam a função original? Não foi por falta de pendor autoritário. Isso ele tem de sobra. O que não teve foi apoio político para aventuras mais ousadas.

Com efeito, a maioria dos autocratas modernos, como Viktor Orbán, Vladimir Putin, Recep Erdogan, chegou a essa condição porque soube aproveitar momentos de alta popularidade, em geral proporcionados por bonanças econômicas, para aprovar leis que lhes permitiram consolidar o poder.

Bolsonaro nunca chegou nem perto dessa situação. O presidente jamais teve ascendência sobre o Parlamento (agora é refém dele) nem excedeu os 40% de aprovação popular. Não há milagre econômico à vista para redimi-lo. Com seu arsenal, Bolsonaro consegue baixar decretos, segurar verbas, mover pessoal.

Dá para fazer um estrago formidável, mas não para redesenhar o Estado.

Fonte: Folha de S. Paulo

MESTRE CERVEJEIRO

MESTRE CERVEJEIRO

Houve um tempo em que a Cervejaria Antárctica andou adquirindo fábricas por todo o Brasil, mas o produto final não era padronizado. Segundo os entendedores, excelência em qualidade só mesmo aquelas produzidas em Ribeirão Preto e em Joinville. Nos mercados, a compra da cerveja passava pelo exame da tampinha das garrafas, a qual indicava a procedência do precioso líquido. Conheci o mestre cervejeiro da fábrica de Joinville, homem de hábitos simples, culto, e sempre bem humorado. Segundo ele a melhor temperatura para a cerveja, era aquela do gelo. Nem mais nem menos. Incontáveis eventos festivos foram acompanhados da deliciosa "faixa azul" joinvilense. Certa feita participei de um evento em São Francisco do Sul, o qual congregava diversas entidades da região. Ao final da reunião seria servido um churrasco. Era uma tarde quente de sábado e na medida em que as pessoas iam chegando ao salão de festas o lugar mais procurado era o bar. O consumo de cerveja, na ocasião, era o mais apropriado. O "seu" Muller estaria presente e por isto alguém teve a idéia, nem sempre original, de testar os conhecimentos dos entendedores de cerveja. A idéia, igualmente nada original, consistiu em trocar os rótulos de duas ou três garrafas de Brahma por rótulos da Antárctica. E assim foi feito. Quando o nosso querido mestre cervejeiro aproximou-se do grupo, acompanhou a todos bebendo daquelas garrafas "falsificadas". O ato criou uma expectativa mas nenhum comentário. Talvez em respeito à idade um tanto avançada do nosso mestre cervejeiro. Logo ele se retirou e foi cumprimentar outros convivas. Afastou-se dois ou três passos, virou-se para nós e disse: 
- Até que a Brahma está fazendo uma cervejinha boa... E saiu rindo com ares de vitória. 
Temos que parar de nos gabar que somos a maior democracia do mundo. Sequer somos democracia. Somos uma república militarizada. (Gore Vidal)

LUGARES

PARIS - FRANÇA

DUKE ELLINGTON, GRÃO-DUQUE DO JAZZ

DUKE ELLINGTON, GRÃO-DUQUE DO JAZZ
Flávio de Mattos

Suas peças se tornaram standards do jazz e são constantemente reinterpretadas em novas leituras a cada momento

O filho do mordomo do presidente Theodore Roosevelt, na Casa Branca, Edward Kennedy Ellington ganhou, ainda na infância, o título nobiliário que o imortalizou: Duke Ellington. Aos dez anos, sua maneira de vestir e de comportar-se chamava a atenção dos colegas no bairro de West End, na sua Washington natal.

Nascido em 1899, Ellington já estudava piano desde os sete anos. Além de tudo, sua mãe, filha de escravos, lhe dava lições de etiqueta e boas maneiras, para poder frequentar o palácio. Não é difícil de entender porque os amigos lhe apelidaram de Duque.

Na adolescência, porém, o interesse do jovem era mais o beisebol do que o piano, pois achava que não tinha talento para a música. Com quatorze anos, matava aulas para ir ver as partidas e, também, para jogar sinuca em bares de bilhares.

Esses bares costumavam ter música e Ellington começou a prestar atenção no que tocavam os pianistas. Descobriu que era aquele o tipo de música que gostaria de fazer. E voltou às aulas, dessa vez com uma motivação nova, aperfeiçoar sua técnica para poder compor e tocar suas peças ao piano.

Aos 17 anos, Duke Ellington tocava em bares, bailes e festas por toda Washington. Mas sua carreira ganha fôlego quando, em 1923, se muda para Nova York com seu quinteto, The Washingtonians. Sua fama cresce e ele monta sua própria orquestra, com doze instrumentistas. A partir daí foram mais de 50 anos contínuos liderando uma big band.

Duke Ellington foi o mais prolífico compositor do século XX. Tem registradas cerca de três mil composições em seu nome. Transitou por todos os estilos e gêneros possíveis, desde o ragtime, foxtrote, blues, jazz e até o erudito. Suas influências vêm tanto de Fats Weller e Willie Smith, no jazz, quanto de Delius, Debussy e Ravel, de seus estudos clássicos.

As composições de Duke Ellington, de alguma maneira, estabeleceram uma nova linguagem para a música popular norte-americana. Os arranjos complexos, mas ao mesmo tempo, diretos e atraentes, conquistaram o grande público. Nos anos 40, o músico tornou-se um especialista em escrever peças de três minutos, o tempo de um lado dos discos de 78 rotações, que tocavam nos rádios.

Duke Ellington transformou sua banda em um laboratório musical. Escrevia suas composições especialmente para serem executadas pelos grandes talentos que integravam a orquestra. Em cada tema se destacava algum dos solistas, para quem a peça foi pensada.

O legado de Duke Ellington está presente no cancioneiro popular norte-americano e em todo o mundo. Suas peças se tornaram standards do jazz e são constantemente reinterpretadas em novas leituras a cada momento. Como exemplo de um clássico, temos o encontro de Ellington com Louis Armstrong em It don´t mean a thing, gravado em 1961. Já com o trompetista brasileiro Claudio Roditi, temos uma releitura samba jazz de In a sentimental mood, de 1995.

E no vídeo abaixo uma performance da Orquestra de Duke Ellington em seu carro chefe Take the “A” train, composição de seu mais fiel colaborador Billy Strayhorn. No vocal a cantora Betty Roché. A música está na trilha sonora do filme Reveille with Beverly, de 1943.


Fonte: Blog do Noblat

FRASES ILUSTRADAS


sábado, 24 de abril de 2021

VICE-PRESIDENTE

MOURÃO PROVA NA PELE QUE VICE-PRESIDENTE PARA POUCO SERVE
Ricardo Noblat

Comandante do Conselho da Amazônia é posto à margem da Cúpula do Clima

Tão logo o presidente Jair Bolsonaro indicou seu vice, o general Hamilton Mourão, para comandar o Conselho da Amazônia, assessores de Mourão, em júbilo, se apressaram em confidenciar a jornalistas que o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, conheceria doravante “o que é bom para tosse”.

Queriam dizer que Salles perderia o protagonismo em uma área em que reinava soberano com a ajuda dos filhos de Bolsonaro e o aval do presidente da República. Mourão animou-se. Fora-lhe dada, afinal, uma boa ocupação depois de amargar tantos meses sem ter o que fazer – salvo sonhar com a renúncia de Bolsonaro.

Vice-presidente é nada. No Brasil, é só expectativa de poder. Mesmo assim, o destino deles, do fim da ditadura militar de 64 para cá, não tem sido tão infeliz. José Sarney sucedeu a Tancredo Neves, que morreu sem tomar posse. Itamar Franco a Fernando Collor, derrubado. Pela mesma razão, Temer a Dilma Rousseff.

A oposição ao governo Bolsonaro prefere que ele sangre até o seu último dia de mandato a ver Mourão no seu lugar. É o trauma da farda que por 21 anos governou o país. E se Mourão desse certo? E se, por dar certo, ele tentasse se reeleger? E se os militares o apoiassem para continuar mandando no país? Fica, Bolsonaro!

O possível brilho de Mourão no comando do Conselho da Amazônia durou pouco tempo. A ele, Bolsonaro prefere a companhia de Salles. Mourão não foi ouvido nem cheirado sobre a posição que o Brasil deveria adotar na Cúpula do Clima que começa hoje. Limitou-se a dizer para desagrado de Bolsonaro:

– O Brasil não deve se comportar como mendigo.

É como deverá comportar-se.

Fonte: veja.abril.com.br/blog/noblat
O amigo é um outro eu. Sem amizade o homem não pode ser feliz. (Aristóteles)

LUGARES

PONTE DE LIMA - PORTUGAL
Ponte do Lima é uma vila portuguesa no Distrito de Viana do Castelo, região do Norte e sub-região do Minho-Lima, com cerca de 5125 habitantes. É caracterizada pela sua arquitetura medieval e pela área envolvente, banhada pelo Rio Lima. Wikipédia