terça-feira, 23 de março de 2021

SÍTIO

SÍTIO
José Horta Manzano

Situm é o particípio perfeito do verbo latino sínere, que tem o significado de pôr, colocar, deixar. Alguns descendentes aparecem em nossa língua. Situar, sitiar, situação e sítio estão entre eles.

O sítio aparece entre os sonhos crônicos do brasileiro. Um sitiozinho tranquilo, jeitoso, suficientemente longe de casa pra dar a impressão de ter viajado, mas suficientemente perto para a viagem não parecer uma chatice. Milhões gostariam de ter esse privilégio.

Em nosso mundo político atual, sítio também é palavra pra lá de especial. Por razões diferentes, o termo é particularmente caro a dois de nossos personagens mais estridentes: Lula e Bolsonaro.

Lula se enroscou por causa de um sítio em Atibaia. O irônico da coisa é que, depois de fechar o olho para a roubalheira desenfreada que marcou sua gestão, foi cair justamente por causa de uma propriedade que sequer em seu nome estava registrada. Um sitiozinho à toa, cujo luxo maior era um laguinho com pedalinhos. Coisa de principiante.

Bolsonaro, escolado, não periga aceitar o usufruto de chácara de terceiros. Sua relação com sítio é outra. O atual presidente é vidrado em estado de sítio. O nome é o mesmo, mas o panorama é mais sombrio. Ninguém se exclama: «O lago é uma delícia!», mas «Cuidado com a milícia!» – o que, convenhamos, é menos acolhedor.

Lula vai pensar duas vezes antes de se enfiar de novo em sítio alheio. Quanto ao capitão, está dando mostra de pouca familiaridade com o país em que vive. Seu sonho de estado de sítio não se realizará. Os que repudiam a ideia têm mais peso do que os que apoiam. Se ele continuar insistindo, vai dar-se mal.

Fonte: brasildelonge.com

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