domingo, 31 de janeiro de 2021

A DECADÊNCIA CULTUTRAL DA EUROPA. E O BRASIL?

A DECADÊNCIA CULTURAL DA EUROPA. E O BRASIL?
Percival Puggina

Durante anos, interrompidos agora pela covid-19 e suas cautelas, tive a graça de, com minha mulher, viajar de carro em roteiros europeus conhecendo centros históricos, cidades medievais e catedrais góticas. Foram verdadeiros encontros de comunhão com nossa cultura e com as raízes ocidentais do cristianismo, deixadas para nosso proveito num tempo em que os povos faziam arte para Deus. Em 2010, numa viagem pelos Alpes, comentei com minha mulher: “Depois de tanto ver belezas que os homens ofereceram ao Senhor, aqui estamos embevecidos com a insuperável beleza que Ele ofereceu aos homens”. Nos Alpes se sente a mão de Deus fazendo paisagismo.

Nessas ocasiões, atravessamos cidades e vilas, fugindo das autoestradas para melhor conhecermos o interior dos países e de suas regiões. A sequência era sempre esta: rodava-se no meio rural, chegava-se à periferia de transição, com casas simples, mas todas abastecidas de lenha para o inverno (quase sempre guardada sob um telheiro na frente de casa); entrava-se no meio urbano e saia-se numa repetição da cena anterior, voltando ao ambiente rural. Nunca vimos malocas. Nunca vimos miséria. Recentemente, porém, a Europa começou a mudar.

Não vou entrar na polêmica questão das causas da mudança. Quero apenas lembrar que esse continente, muitas de suas catedrais, de seu patrimônio material e sua economia foram destruídos por duas guerras no século passado. A fome era endêmica e se prolongou pelos anos 50. Anos de reconstrução! Quem conviveu com europeus oriundos desse período percebe o valor que dão a qualquer alimento. E ao trabalho.

O que me deixa perplexo é ver o pacífico Brasil, encalhado na superfície de problemas que precisaria resolver para desfrutar do privilégio de viver uma vida boa em ambiente nacional tão bem dotado para isso. A reconstrução da Europa ocorreu graças à qualidade de seus recursos humanos, à sua cultura, ao valor que seus povos atribuem à Educação e às suas boas instituições políticas. A maior fonte de riqueza de um país é a atividade criativa e produtiva de seu povo.

No Brasil desconsideramos nossas questões institucionais, exceto para falar mal delas, como se lhes coubesse dar jeito em si mesmas. Não atribuímos importância à nossa educação. Toleramos sua instrumentalização. Admitimos que o sistema se desinteresse pelo futuro de quem encerre ali seu ciclo de estudos. Fingimos não ver o quanto o sistema induz a estudar o mínimo (o que mais adiante equivale a tentar vencer na vida sem se esforçar). Estudar cansa. Ler é chato. Chegamos à cultura do lixo musical, do feio, do hediondo, do satânico, do “som”. E à morte da beleza, da harmonia e da poesia por indigência e abandono.

Certa feita, falando sobre isso num programa de TV, chamei de lixo o conteúdo musical geralmente disponibilizado nos meios de comunicação e colhi resposta indignada de um telespectador que me “insultou” chamando-me “crítico de arte”. Quem era eu para dizer se algo era arte ou não? Respondi felicitando-o pelo esplêndido dom com que fora agraciado. Para ele, tudo que chegava aos seus ouvidos era música e poesia. Fosse batida de porta, panelaço, motocicleta com descarga aberta, ou caminhão subindo a lomba.

Há problemas de concepção num sistema que prioriza os investimentos federais num ensino superior em que a mais bem conceituada universidade brasileira é a 115ª do mundo, a segunda melhor já pula para o 233º lugar e a terceira vai ao 380º lugar. Só para manter a roda girando estamos graduando milhares de jovens em cursos universitários de pouca ou nenhuma utilidade para eles mesmos. Esses problemas se revelam maiores quando se vê a posição do estudante brasileiro nos ensinos fundamental e médio. Entre 79 países, o Brasil alcançou, em 2018, o 57º lugar em leitura, 64º em Ciências e 70º em matemática. E viva Paulo Freire!

Fonte: http://fernandoalbrecht.blog.br

SOLO DE BATERIA

THE VENTURES
SOLO DE BATERIA DE LEON TAYLOR

Todo o mundo recebe tanta informação durante todo o dia que se perde seu sentido comum. (Gertrude Stein, escritora americana, 1874-1946)

LUGARES

COLMAR - FRANÇA

Colmar é uma comuna francesa, capital do departamento do Haut-Rhin, na região Alsácia. Era conhecida como Kolmar durante o período em que a Alsácia era parte da Alemanha. A cidade de Colmar foi fundada no século IX, sendo-lhe outorgado o status de Cidade Imperial Livre do Sacro Império Romano-Germânico em 1226. Era uma das dez cidades que formavam a Decápole da Alsácia. Foi tomada pelo suecos em 1632, durante a Guerra dos Trinta Anos, que a mantiveram dois anos sob controle. Após passar ao Império alemão pelo Tratado de Frankfurt, transformou-se na capital do distrito da Alta Alsácia no território imperial (Reichsland) da Alsácia-Lorena. Foi a última cidade francesa a ser liberada da ocupação alemã, em 1945, após uma longa resistência das forças alemãs. (wikipédia)

FRASES ILUSTRADAS


sábado, 30 de janeiro de 2021

PATENTES ACELERAM A INOVAÇÃO?

PATENTES ACELERAM A INOVAÇÃO?
Hélio Schwartsman

Sem alguma garantia de retorno, ninguém se meteria a desenvolver fármacos

Uma das razões do mau humor da Índia em relação ao Brasil é o fato de o governo Bolsonaro não ter apoiado o pleito indiano para que as patentes sobre vacinas fossem abolidas.

É claro que, se não houvesse proteção à propriedade intelectual sobre imunizantes, seu preço cairia, ampliando o acesso. A contrapartida, também óbvia, é que menos grupos se interessariam em desenvolver novas vacinas, o que poderia ser prejudicial para todos no longo prazo.

Eu receio, porém, que nada disso se aplique à Covid-19. O caráter altamente disruptivo da pandemia faz com que mesmo a mais cara das vacinas seja uma pechincha diante dos custos econômicos dos "lockdowns" e de outras medidas de distanciamento social.

Nenhum país viável está deixando de comprar imunizantes por considerá-los caros. No momento, o que limita o acesso é a capacidade de produção bem menor do que a demanda.

O que eu gostaria de discutir hoje, porém, não é a Covid-19, e sim o papel das patentes em geral como motor da inovação. Receio que elas funcionem muito melhor na teoria do que na prática. Quem chama a atenção para isso é Matt Ridley em "How Innovation Works", título que já comentei aqui.

Para Ridley, alguns séculos de evidências mostram que a proteção à propriedade intelectual fez pouco para estimular a inovação e, mais recentemente, começou a desencorajá-la. A uma dada altura, as patentes dificultam a livre circulação de ideias e criam barreiras a grupos que poderiam se interessar por pesquisar numa área já densamente patenteada.

Esse, porém, não é o fim da história. Ridley diz que em alguns poucos setores, como o farmacêutico, as patentes ainda podem justificar-se, não porque a inovação aqui siga regras diferentes, mas porque os custos para desenvolver um novo fármaco e provar por estudos que ele é seguro e eficaz são bilionários.

Sem alguma garantia de retorno, ninguém se meteria com drogas.

Fonte: Folha de S.Paulo
Agradar quando se cobram impostos e ser sábio quando se ama são virtudes que não têm sido concedidas aos homens. (Edmund Burke, escritor irlandês, 1729-1797)

LUGARES

AMARANTE - PORTUGAL
Amarante é uma cidade portuguesa pertencente ao Distrito do Porto, com cerca de 11.000 habitantes. Amarante teve provavelmente a sua origem nos povos primitivos que habitaram a serra da Aboboreira (habitada desde a Idade da Pedra), embora se desconheça exatamente o nome dos seus fundadores. Contudo, só começou a adquirir importância e visibilidade após a chegada de São Gonçalo (1187-1259), nascido em Tagilde, Guimarães, que aqui se fixou depois de peregrinar por Roma e Jerusalém. A este santo se atribui a construção da velha ponte sobre o Rio Tâmega. (wikipédia)

VINHOS

VINHOS
Jéssica Chiareli

Sete erros comuns que são verdadeiros crimes contra os vinhos

Registros históricos sugerem que o vinho surgiu há aproximadamente 10 mil anos, no sul da Ásia. De lá para cá, muita coisa mudou, exceto o fato de ele ainda ser uma das bebidas mais consumidas do mundo. Atualmente, estima-se que haja mais de 6 milhões de rótulos, divididos entre tintos, brancos, rosés, espumantes e vinhos fortificados. Em Portugal existe um tipo de vinho específico, o vinho verde, mas devido a sua acidez elevada é considerado uma categoria à parte. Diferentemente de outras bebidas, o vinho é bom para o paladar e também para a saúde, graças à sua constituição química. Estudos sugerem que o resveratrol — substância encontrada em alguns tipos de uvas — pode ajudar a reduzir os riscos de doenças cardiovasculares, AVC, diabetes, demência e alguns tipos de câncer.

Quando o assunto é vinho, para além dos cuidados com a saúde, há também alguns cuidados com a própria bebida, que devem ser adotados no momento do consumo. Afinal, grande parte dos apreciadores de vinhos cometem alguns erros básicos que podem ser facilmente evitados. Os deslizes são comuns para quem está começando a se aventurar pelas cartas da bebida, mas até os consumidores experientes podem acabar deslizando uma vez ou outra. Para ajudar no combate às gafes, e eliminar os erros que são verdadeiros crimes contra os vinhos, o site Vivino deu algumas dicas sobre o que nunca fazer.

Encher a taça até a borda
As taças de vinho nunca devem estar cheias por completo, mesmo que o conteúdo da garrafa seja abundante. O ideal é servir cerca de 150 ml, ou seja, aproximadamente 2/3 da taça. Uma taça muito cheia se torna pesada. Assim, será difícil girar o vinho, cheirá-lo ou bebê-lo com tranquilidade.

Segurar a taça de vinho pelo bojo
Não se serve o vinho em taças em vez de copos à toa. A haste das primeiras possui uma função importante, que é impedir que o vinho esquente. Quando a taça é segurada pelo bojo, o calor da mão aquecerá a bebida. Por outro lado, segurando-a pela haste, a temperatura do vinho é mantida.

Escolher o vinho pelo rótulo
Assim como não é uma boa ideia julgar um livro pela capa, comprar um vinho exclusivamente pelo rótulo pode não acabar muito bem. Afinal, o conteúdo pode ser bem diferente do que o esperado.

Sempre beber os mesmos vinhos
Apesar de cada um ter as suas preferências, não é recomendável beber sempre um determinado tipo de vinho, ou apenas os vinhos produzidos em certas regiões. Com milhares de vinhos diferentes disponíveis, fechar-se em apenas alguns deles cria uma barreira que impede o seu aprendizado sobre a bebida de avançar.

Seguir sempre as regras clássicas de harmonização
Existem algumas regras de harmonização de vinho com comidas que podem ajudar inicialmente, como vinho tinto com carne vermelha, ou vinho branco com frutos do mar. No entanto, as regras não podem se tornar amarras. Aproveite novas ocasiões para experimentar novas harmonizações. Se você gosta de beber vinho branco com carne vermelha, siga o seu coração, ou melhor, o seu paladar.

Beber muito rápido
Às vezes o vinho é tão bom que o bebemos com muita rapidez e não sobra tempo para apreciá-lo melhor. Beber devagar é uma maneira de conhecer melhor a bebida. Ao experimentar um novo vinho, questione quem o produz, de onde ele é, que gosto tem, o que você gosta ou não gosta nele. Desacelerar é uma maneira de aumentar o seu conhecimento sobre vinhos.

Dissecar o vinho na primeira dose
Quando o garçom serve uma dose de vinho, para que você verifique se o sabor é agradável, ele só quer saber se o vinho está contaminado com a rolha ou se há algum outro problema com a bebida. Sendo assim, um gole e uma cheirada rápida são suficientes. Caso o vinho esteja bom, deixe que ele sirva o restante dos convidados, e só então disseque o vinho e analise com mais profundidade as suas características.

Fonte: revistabula.com

FRASES ILUSTRADAS


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

VOTO FACULTATIVO?

VOTO FACULTATIVO?

Já votamos 20 vezes e ainda não estamos maduros para o voto facultativo?

É preciso superar nossa cultura paternalista e apostar na autonomia dos cidadãos

Pesquisa Datafolha recente revelou que 56% dos brasileiros são contra o voto obrigatório. O tema é relevante e faz parte de um conjunto de reformas institucionais que o país precisa enfrentar, e é bom que seja discutido.

O ministro Luís Roberto Barroso parece concordar com essa ideia, mas com ressalvas. Ele diz que nessas eleições começamos uma "transição" para o voto facultativo, com um porém: que ainda somos uma "democracia jovem" e tudo deve ficar para "um futuro próximo". Quanto tempo ainda para amadurecermos? Sabe-se lá. 

Pelé dizia coisa parecida nos anos 1970: "O povo não está preparado pra votar". Cresci com essa frase na cabeça, que soava como uma verdade intransponível. Por alguma métrica que desconheço, as pessoas, inclusive um sujeito brilhante como o ministro Barroso, continuam acreditando que o povo não sabe votar, mesmo que um dia possa aprender. 

Se não sabe, é lógico ter um "nudge". Uma sanção leve, tipo uma palmadinha na bunda para criança se comportar. No nosso caso, é a chatice de fazer o "requerimento de justificativa eleitoral", bloquear documentos, pagar a multinha de R$ 3,51. Só uma palmadinha, até a gente amadurecer. 

O curioso é que já votamos 20 vezes desde a volta da democracia. Elegemos oito presidentes, fizemos uma Constituição, dois plebiscitos. Com um sistema de votação exemplar. Mas, por alguma razão, a frase de Pelé continua grudada na nossa cabeça. 

Há quem diga que o assunto é irrelevante. Dias atrás alguém me deu este argumento: "Não precisamos nos preocupar com isso", disse o sujeito, "o voto já é quase facultativo. Veja a abstenção nessas eleições"

Talvez ele tenha razão. Num país infestado de burocracia, qual é o problema em ter mais uma multinha? Alguns dizem que o mais importante são os riscos do fim da obrigatoriedade. E se só radicais forem votar? E se o comparecimento for baixo, minando a "qualidade da democracia"? 

Argumentos difíceis. A maioria das democracias consolidadas na Europa adotam o voto facultativo, enquanto a obrigatoriedade tende a ser padrão na América Latina. Difícil dizer que nosso modelo melhora a democracia. Há bons exemplos, também na direção oposta, como o da Austrália. 

Quanto à legitimidade, daria muito pano pra manga. Na eleição de 1996, nos Estados Unidos, o comparecimento eleitoral foi de 49%. Nesta última foi acima dos 66%. Biden terá mais legitimidade do que Bill Clinton? O não comparecimento indicaria "recusa de consentimento" aos governos? Lembrei-me das lições de Norberto Bobbio, para quem a abstenção pode significar exatamente o contrário: a saúde do sistema ou uma "benévola indiferença" em relação aos candidatos. 

Um bom argumento que escutei dizia que "a obrigatoriedade protege a todos". Evitaria o coronelismo e o cabresto em um país que ainda se parece, em muitas regiões, com a República Velha. Não me perguntem como medir isso, ainda que o argumento tenha certo apelo. 

De minha parte o incômodo é outro. É a reiterada ideia de que "não sabemos". A crença difusa de que o cidadão comum é, de algum modo, um incapaz. Ela vem do fundo de nossa cultura autoritária. E de lugar nenhum, visto que ninguém até hoje inventou um "incapacitômetro" para medir o grau de maturidade dos cidadãos. 

Intuo que é a mesma crença que diz que os mais pobres não podem escolher a escola dos filhos, como aplicar o fundo de garantia e tantas outras coisas. 

Crença que está na base de nosso Estado paternalista. Nos últimos anos avançamos um pouco. Exemplo foi a decisão, meio que por milagre, de que os brasileiros podem decidir se querem ou não pagar o seu sindicato.

Mas a verdade é que a estrada é longa e o voto facultativo, para além de nos livrar do cartório, afirma um tipo de valor. O valor da autonomia dos cidadãos. A ideia de que as pessoas comuns podem aprender e tomar decisões por conta própria. E que sempre que alguém com o poder de ditar as regras do jogo disser o contrário, devemos desconfiar.

Fonte: Folha de S.Paulo
A vida é um hospital onde cada enfermo está tomado pelo desejo de mudar de cama. (Charles Baudelaire, poeta francês, 1821-1867)

LUGARES

SANTIAGO DE COMPOSTELA - ESPANHA

MR. MILES



QUEM CONHECE MAIS PAÍSES?

Sinto informar-lhe: Mr. Miles não é o homem (como ser humano) mais viajado do mundo. Mongólia foi o meu 230º país visitado (segundo a contagem do Travelers Century Club). Dia desses, voltando do Qatar, pela Qatar Airways, tive a oportunidade de ler, a bordo, a divertida coluna do “very clever” personagem Mr.Miles. Acontece que, a afirmação no rodapé da coluna, “...É o homem mais viajado do mundo...” é um tanto enfática, visto que, nunca foi feita uma pesquisa, entre os viajantes, que comprovasse essa assertiva. Acredito que, a informação sobre “Mr.Miles”, apesar de fictícia, seria mais modesta se fosse colocada como: “...É um dos homens mais viajados do mundo.” Atenciosamente 
Márcia Pavarini, por email

Well, congratulations, my dear! Duzentos e trinta países é um número e tanto!

Mas, como você sabe, não sou um colecionador de países. Apenas um interminável viajante em busca de emoções e conhecimentos. Esse epíteto de "o homem mais viajado do mundo" foi-me atribuído, anos atrás, pelo San Francisco Chronicle. E, como já tive a oportunidade de confessar nesse mesmo espaço, foi apenas um pretexto para marcar um novo encontro com a linda jornalista que me entrevistou sobre a arte de viajar. Ao informar-lhe que não sabia quantos países havia visitado, prometi um levantamento em dois dias. Shame on me!

Escolhi um número qualquer apenas para revê-la, em uma noite que, I must say, acabou inesquecível. 

Como nunca fui de colocar alfinetes em um mapa-mundi, eu realmente não tinha ideia de quantos países havia visitado. Até porque, my dear, viajar não significa colocar um pé (ou mesmo os dois) em um território qualquer, para agregá-lo às estatísticas pessoais. Viajo e viajei muito. Mas, I'm sorry to say, são poucos os países que considerado conhecidos. Ainda espero voltar a eles muitas vezes para conquistar sua intimidade e ouvir os seus segredos.

Anyway, darling, há algum tempo, sempre instado por leitores como você, fui à casa de minha tia Harriet, que tem o mapa-mundi mais atualizado que conheço.

Passei uma tarde inteira vendo os lugares e comparando-os com as minhas lembranças. Qual não foi a  minha surpresa ao descobrir que, in fact, eu já estive mesmo em todos os países modernos, além de ter visitado muitos deles quando tinham outros nomes. Por exemplo: fui à Burkina Faso e fui, antes, a Alto Volta, que vem a ser o mesmo lugar.

However, lendo a relação de países mencionados pelo Travelers Century Club, que mistura países, regiões, ilhas avulsas, territórios pouco explorados e muitos mais, acho que deveria adicionar mais uns cem "países" no rodapé desta página. Tomo a liberdade de reproduzir, abaixo, alguns dos considerados países pelo seu Club: Ajman, Andaman-Nicobar, Atafu, Cabinda, Ilhas Canárias, Corfu, Córsega, Egito da Ásia e Egito da África, Fernando de Noronha, Fujeirah, Ilha Hainan, Irian Jaya, Ilha de Man, Kalaalit Nunaat, Kalimantan, Lakshadweep, Lampedusa, Lord Howe Island, Mayotte, Nakhichevan, Nueva Esparta, Niue, Nukualofa, Nunaat, Ogasawara, Ras al Khaimah, Sharjah, Srpska, Trans Dniester, Umm al Qaiwain, Ilha de Wake e Zil Elwannyen Sesel.

Do you know what I mean?

Fonte: O Estadão

FRASES ILUSTRADAS


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
José Horta Manzano

É curioso que certas notícias envolvendo interesses brasileiros circulem somente na mídia estrangeira. Pela rádio pública francesa, fiquei sabendo de uma denúncia criminal contra Jair Bolsonaro, oferecida estes dias ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Os autores são indígenas brasileiros de etnias amazônicas. Entre eles, está o conhecido cacique Raoni.

A base da acusação são alegados crimes ambientais e genocídio dos autóctones. O único veículo brasileiro que deu a informação foi o portal Pública. A denúncia tem 69 páginas e está muito bem documentada. Uma cópia confidencial do texto completo, traduzido para o português, está aqui.

Não se sabe ainda se a demanda será aceita pelo TPI. Se for, doutor Bolsonaro tem de começar a se preocupar. Não imagino que venham colhê-lo dentro do Palácio do Planalto para confiná-lo nas masmorras de Haia (Holanda). Enquanto for presidente, corre outros perigos, mas não este.

No entanto, assim que deixar o cargo, que tome cuidado. Livre de viajar dentro do país mas não lá fora, estará na esdrúxula situação dos que têm muito dinheiro mas só podem se locomover dentro do próprio país, como é o caso de Paulo Maluf. É que, se for dançar um tango em Buenos Aires ou andar de xícara na Disneylândia, periga ser detido e despachado para o TPI. Vai acabar provando do mesmo prato que já foi servido a outros antigos presidentes – Lula e Temer.

Reparem que, no Brasil, uma temporada (longa ou curta) na prisão está se tornando passagem obrigatória no ritual pós-presidencial. Dilma escapou por pouco. Bolsonaro só vai escapar por milagre.

Fonte: brasildelonge.com
Muitos daqueles que não querem ser oprimidos querem ser opressores. (Napoleão Bonaparte, imperador francês, 1759-1821)

LUGARES

ESTRASBURGO - FRANÇA

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


ABREVIATURAS EM CORRESPONDÊNCIA E NÃO USO DE ILMO.

Antes de apresentar algumas dúvidas dos leitores, acho pertinente transcrever um parágrafo de Millôr Fernandes sobre “como convenções centenárias continuam dominando” grande parte das nossas cartas e ofícios. Foi em 1996 que Millôr escreveu:

“Muito de minha correspondência começa com Ilmo., ilustríssimo, por extenso. Ilustríssimo eu? Ilustríssimo você? Ilustríssimos por quê? Estão me gozando? Estão te gozando? Mesmo não sendo essa a intenção já não está demasiado gagá essa ilustrização de qualquer pessoa? Não bastaria um prezado, ainda que com um leve tom de falsidade, mas mais brando? Não sendo o cavalheiro em questão (eu) nem prezado, nem estimado, nem ilustre, nem ilustríssimo, nem ilustrado – por que não me tratar simplesmente por senhor?”

Devo esclarecer que antes disso – em 1991 – tal fórmula já tinha sido oficialmente abolida, quando a Presidência da República publicou seu “Manual de Redação”, onde se lê à página 24: “(...) fica dispensado o emprego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o uso do pronome de tratamento Senhor”. Na mesma ocasião se aboliu o uso de digníssimo (DD.) sob o argumento de que “a dignidade é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público, sendo desnecessária sua repetida evocação”.

--- Gostaria de saber qual a abreviatura correta do termo “atenção”, no sentido de aos cuidados de... utilizado em cartas profissionais. Vanessa Mendes, São Paulo/SP

Há duas opções para abreviar “à atenção de”: AT. ou At.

--- Como escrever no envelope: em mãos ou em mão? R. M. V. M., Belo Horizonte/MG

Tanto faz. E/M é a abreviatura de em mão ou em mãos (pode-se entregar com uma só mão ou com as duas, não?). No Grande Manual de Ortografia Globo consta também: E.M.P. – em mão própria.

--- Existem alguns corretores ortográficos que utilizam abreviaturas como V.Ex.a e V.S.a com o ponto no meio das letras e não no final como estamos acostumados a ver, ou seja, V.Exa. e V.Sa.  Qual abreviatura é a correta? Marcelo Campos Pires, São Paulo/SP

A opção melhor e mais moderna é abreviar palavras sem ponto no meio e sem elevar nenhuma letra: V. Exa. , V. Sa. , Profa., Dra., Sra. etc. Mas também se admite V. Ex.ª e V. S.ª, como é ainda muito usado em Portugal, pelo que observei.

--- Qual é a forma correta dos pronomes de tratamento e respectivas abreviaturas? Por exemplo: a senhora/ a Senhora/ a sra./ a Sra. Maria. Nino Akio, São José dos Campos/SP

O usual quanto aos pronomes de tratamento como senhor, senhora, doutor, dona, dom, senhorita, professor, você etc. é empregar letras minúsculas quando por extenso e inicial maiúscula nas formas abreviadas:

A Sra. Maria – A senhora Maria está aqui.
A D. Marta –  A dona Marta já chegou.
O Sr. Prof. Dr. José – O senhor professor doutor José se aposentou.
V. me traiu. – Não sei se você me traiu.
Louvaram S. Exas. – Louvaram suas excelências.


Embora muitos textos jornalísticos adotem somente as minúsculas, nas repartições públicas a praxe é empregar as maiúsculas em ambas as situações: V. Exa. ou Vossa Excelência recebeu a nota...  Enviamos a V. Sa. ou Vossa Senhoria o boletim.

Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

QUE O VÍRUS DO ÓDIO NÃO NOS MATE A DEMOCRACIA

QUE O VÍRUS DO ÓDIO NÃO NOS MATE A DEMOCRACIA
Erberth Vêncio

Achava patética aquela coisa de bater panelas como forma de protesto político. Contudo, era líquido e certo que o governo estava, sim, a merecer os apupos do povo, pois, cometia uma série de desserviços à nação, principalmente, uma escandalosa inércia quanto à pandemia que apavorava o país matando gente a rodo. Tive a leitura interrompida pelo ribombar dos utensílios. Fui até a varanda e um punhado de gente batia panelas nos apartamentos. Lembrei-me da canção “Pelas tabelas”, de Chico Buarque. Tinha tudo a ver com o momento. Por que não nasci com olhos azuis?

Após um lapso literário abissal, eu lia 1984, de George Orwell, o tipo de livro que reitera a absoluta e crucial necessidade de defender a democracia e a liberdade de expressão com unhas e dentes. Ditadura é osso. Contra o autoritarismo vale tudo, inclusive, bater panela, protestar pelado na rua ou trepar nos velhos monumentos da república cagados pelos malditos pombos. Calma lá, meus irmãos: “trepar”, no sentido de “escalar”, se é que me entendem.

Quisera padecer de ejaculação retardada. Mas, não. Há anos atrasado, somente agora estava a concluir a leitura de “1984”, a obra mais famosa e emblemática do escritor George Orwell. São craques em literatura esses britânicos. “1984” é um clássico; o autoritarismo, idem, lamentavelmente. Não dá para brincar com calhordas que flertam com a ditadura.

Publicado em 1949, o incensado romance de Orwell fisgou-me pelos olhos, desde as primeiras linhas. Foi uma leitura, ao mesmo tempo, reflexiva, aterradora e cativante.

Não vou me alongar escrevendo uma resenha. Vários críticos literários já o fizeram, reiteradas vezes, com a devida propriedade. Muito resumidamente, apenas para o conhecimento daqueles que ainda não o leram, trata-se de um romance inspirado em fatos históricos como o nazismo de Hitler e a revolução russa, retratando com contundência, sarcasmo, criatividade e doses homeopáticas de humor negro, o totalitarismo, ao extrapolar todas as suas nuanças: partido único, arbitrariedade, perseguições políticas, prisões ilegais, torturas, execuções, sumiços de opositores, lavagem cerebral, alienação, espionagem estatal, nepotismo, loucura, etc. É uma história ficcional medonha, sofrível de se imaginar na vida real. Talvez, nunca estaremos livres do risco potencial das malevolências e das iniquidades descritas em “1984”.

Entrei com bola-e-tudo na trama construída, magistralmente, por George Orwell. Eu me permiti ser transportado para dentro da ficção e sofri, psicologicamente, imerso naquele contexto tóxico, rígido, particularmente caracterizado pelo absoluto impedimento das liberdades individuais, do livre-pensar e do ir-e-vir. Na sociedade descrita por Orwell há vigilância total e diuturna dos cidadãos, com as ferramentas estatais de bisbilhotar praticamente penetrando na mente das pessoas, uma insanidade fabricada. “1984”, que lembra Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, é um dos livros mais impressionantes e escabrosos que já li. Indico-o, fortemente. Impossível sair incólume de sua leitura.

Estava no epílogo do romance quando fui interrompido pelo panelaço. Há sempre uma enorme vantagem em permanecer quieto a observar o comportamento das pessoas, em geral, impressionante, bisonho, risível ou reprovável. A adesão ao protesto era alta. Bom sinal. Até Dona Eloá, a centenária velhinha do 301, que vivia morrendo de medo de morrer pelo Covid-19, que não punha os pés fora do apartamento fazia quase um ano, enfrentava a artrose, ao repicar animada a colher-de-pau no fundo de uma frigideira. A doce senhora, revolucionária desde o século passado, tinha mais elã do que eu, uma graça. Injuriada com o tumulto no horário nobre, a vizinha do 502, bela, liberal na economia e nos costumes, reacionária até os cornos, trovejava insultos da sacada, trajando a tradicional lingerie com as cores da bandeira nacional, contudo, balançando uma flâmula estadunidense — eu já não estava entendendo mais nada sobre aquele seu protesto particular —, mais apetitosa do que uma chuleta mal passada, a nora que mamãe não pediu a Deus. Eita, mãe, você bem que podia. Quisera ser torturado por aquelas tetas siliconadas. O colérico vizinho asiático do 704, que costumava alvejar gatos, cachorros e outros bichinhos de estimação com esferinhas metálicas desferidas por uma espingarda de pressão, agora, centrava artilharia contra paneleiros, esbanjando contentamento.

Liguei a TV, sintonizei no noticiário das 8 e o Bonner já repercutia as imagens dos manifestos domiciliares por todo o país. Andava apanhando muito o Bonner, desde os remotos tempos dos governos petistas. Aliás, a imprensa, de maneira geral, estava sendo desacreditada, escorraçada pelo presidente, pelos seus asseclas palacianos e pela malta raivosa que descarregava o verbo, turbinando publicações ilegais extremamente eficientes nas redes sociais do ódio.

O paralelo entre o romance distópico de George Orwell e a vida real cotidiana foi imediato. Já fazia algum tempo que eu andava acabrunhado com os rumos da política no país. Depois de ler “1984”, os meus receios só recrudesceram. Temores de um retrocesso político rondavam a minha mente. Parecia ridículo bater panelas da janela de casa, embora, dentro de um contexto pandêmico que exigia distanciamento social, tinha alguma lógica. Já haviam feito isso para derrubar a presidente mulher.

São grandes as incertezas na minha cabeça. Se a peste vai me pegar. Se sairei vivo da pandemia. Se o presidente vai renunciar, se vai tentar um golpe de estado, se vai ser afastado pelo parlamento. Se vou transar com a vizinha neofacista do 502. Não. Isso não. Não foi isso que mamãe pediu a Deus. E Deus, todo mundo já sabe, é brasileiro.

Fonte: revistabula.com
Sexo é o único esporte que não é cancelado quando falta luz. (Laurence Peter, Escritor)

LUGARES

FLORENÇA - ITÁLIA


ASSOBIO NA LEGALIDADE

ASSOBIO NA LEGALIDADE
Ruy Castro

O passarinho da gaiola numa árvore diante do seu prédio está sob a proteção do Ibama

Escrevi outro dia sobre um passarinho cujo fiu-firiu me entra pela janela toda manhã e, apesar do repertório relativamente limitado (pelo visto, só conhece aquela frase), me ajuda a saltar da cama e a encarar o dia. Além disso, causa-me inveja porque sabe fazer uma coisa que não sei, que é assobiar. Entre as várias disciplinas que nunca consegui dominar —sapatear, trocar pneu, plantar bananeira—, assobiar é a que mais lamento não ter aprendido.

Uma pessoa que sabe assobiar leva grande vantagem. Primeiro, é capaz de produzir música sem depender de vitrolas ou instrumentos. Segundo, assobiar é uma forma auto-suficiente de expressão --- permite à pessoa dialogar consigo mesma, dispensando interlocutores. Terceiro, enquanto se assobia não se consegue pensar, o que, em nosso tempo, pode ser um alívio, desde que não se passe o dia inteiro assobiando. Claro que, ao contrário dos pássaros, dificilmente um homem poderá assobiar pousado num fio elétrico sem levar choque.

Como contei na coluna, consegui identificar o passarinho. Consultei meu porteiro João e ele me informou que se tratava do curió de seu colega do prédio ao lado, cuja gaiola é pendurada todas as manhãs na árvore em frente. Foi o que motivou o protesto de alguns leitores: a manutenção de passarinhos em gaiolas.

Voltei a consultar João e ele me disse que sim, é uma preocupação justa, mas o Ibama é rigoroso quanto a isto. Não apenas exige que os proprietários de passarinhos em cativeiro sejam registrados no órgão, como cada passarinho precisa ser identificado pelo nome científico, nome comum e data do nascimento. E que esse documento tem de estar à disposição do fiscal que passar pela gaiola.

E, então, a surpresa. Orgulhoso, João mostrou-me seu registro e o de seus próprios passarinhos —Magnata, um trinca-ferro de nove anos, e Curinga, um papa-capim que fará 11 no dia 24.

Fonte: Folha de S. Paulo

FRASES ILUSTRADAS


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

NÃO SE METAM

NÃO SE METAM
Carlos Brickmann (*)

Há cerca de um ano, o Brasil podia ter entrado na Covax, um grupo de 165 países que receberiam vacinas a preços menores, com cota de 200 milhões de doses. Uns meses depois, após hesitar muito (Trump não lhe havia dado a ordem), Bolsonaro entrou no programa, com cota de vinte milhões de vacinas.

Em agosto, a Pfizer ofereceu ao Brasil 70 milhões de doses, a entregar até janeiro deste ano. O Brasil não respondeu.

Em 20 de outubro, o general Cloroquina, o super-homem da logística que ocupa a Saúde, anunciou a compra de 46 milhões de doses da Coronavac. No dia seguinte, Bolsonaro desautorizou o Cloroca e disse que jamais compraria essa vacina.

Vamos somar: são 316 milhões de doses que Bolsonaro não quis comprar quando havia estoques e que hoje seriam suficientes para a população brasileira – e com duas doses.

E não seria preciso ajoelhar-se ante Índia e China para implorar vacinas.

Fonte: brasildelonge.com
O maior mal, com exceção da injustiça, seria o autor da injustiça não pagar pelo seu erro. (Platão)

LUGARES

FLORIANÓPOLIS

ROMANCE FORENSE

 
O LEITE DIVINO
Por Eudes Quintino de Oliveira Júnior,
promotor de justiça aposentado (SP), mestre em Direito Público.
(Charge de Gerson Kauer)
 
No interior de Goiás, o pastor com sobrenome de carro importado gostava de contar para seus seguidores uma história que marcou sua vida. Dizia que se encontrava em um bordel quando teve um amistoso encontro com Jesus, de quem recebeu uma missão: seria o responsável na terra pela “distribuição do leite sagrado”. Tal tarefa consistiria em espargir seu esperma para o maior número possível de mulheres, iniciando pelas fiéis de sua Assembleia até derramá-lo por todo o Estado.


O pastor dizia, com ares de profeta, que "seu pênis era abençoado, fonte que jorra leite e mel em abundância e quem dele fizer uso, receberá as benesses e os merecidos regozijos da vida terrena".

Sua fama se alastrou rapidamente, como Geraldo Viramundo, de Fernando Sabino. Logo no início da peregrinação, teve contato com algumas jovens. De forma convincente relatou suas proezas e as convenceu a praticar com ele sexo oral, com a promessa de que Deus somente poderia entrar em suas vidas pela boca. Hipnotizadas ou crédulas, não se sabe ainda, acabaram por ceder e receberam o "leite sagrado" prometido.

Em outra oportunidade, recolheu-se no fundo do terreno da igreja e se fazia acompanhar de algumas moças a quem pediu para fazer sexo oral até o "espírito santo" aparecer, o que ocorria com a ejaculação. "Sou o pastor de vocês, irei apascentá-las com meu néctar e nada lhes faltará, pois receberão com abundância todas as graças pedidas" - reprisava como refrão de um hino religioso.

O estelionatário sexual não foi muito longe e a satisfação de sua lascívia foi refreada pela intervenção policial. Em razão de inúmeras denúncias das jovens que aguardavam as promessas milagrosas do homem do pênis abençoado, foi preso em flagrante quando esfregava seu membro no rosto de uma comerciante, convencendo-a a receber o líquido divino que nela seria derramado com a finalidade de proporcionar um aumento expressivo de suas vendas.

Questionou os policiais e os advertiu do ato equivocado, pois prendiam um "servo do Senhor" e por isso iriam se arrepender pelo resto da vida. Um dos agentes, jocosamente, desejou ao pastor que continuasse seu belíssimo trabalho dentro da prisão. A ordem de prisão foi dada por uma delegada de polícia, o que confortou o conduzido.

No trajeto até a unidade policial, após certificar-se que se encontrava a sós com a diligente delegada, o pastor teve a ousadia de convidá-la para fazer parte do reino dos céus.

Fruto de uma benesse divina ou de um fraquejo da lei, o pastor prestou depoimento de três horas e foi liberado. Aguardará solto o julgamento.

eudesojr@hotmail.com

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS


segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

PERGUNTE A FRAN LEBOWITZ

PERGUNTE A FRAN LEBOWITZ
Ruy Castro

O mundo é um lugar difícil para quem ainda acredita que ele pode ser melhorado pela razão

“Faz de Conta que NY É uma Cidade”, a série da Netflix sobre Nova York, dirigida por Martin Scorsese e com a escritora Fran Lebowitz, não é uma série sobre Nova York, como vem sendo apresentada. É sobre Fran Lebowitz. E ela não é uma escritora, nem se apresenta como tal, mas uma mulher de estúpida inteligência —este não é um oximoro— que ganha a vida dando sua opinião sobre qualquer assunto que lhe perguntem em palestras ao vivo.

Isso significa que há tempos Fran não está ganhando a vida, já que, por causa da pandemia, não há palestras ao vivo e ela não pode dá-las online porque não usa celular nem computador. Significa que também não usa Facebook, Instagram ou Twitter, nem lhe fazem falta, e ela só toma conhecimento deles quando tem de se desviar de pessoas nas ruas que não olham por onde andam porque estão digitando em smartphones —inclusive crianças em carrinhos de bebê empurrados pelas mães.

Muita coisa em Nova York a irrita, mas ela não viveria em nenhum outro lugar porque, quando se mudou para lá, em fins dos anos 1960, não estava a fim de amabilidade, sossego e silêncio —tinha isso de sobra em seu burgo em Nova Jersey. Estava a fim de Nova York. E quando lhe perguntam se aquela Nova York era melhor que a de hoje, responde: “Claro. Eu tinha 50 anos a menos”.

Fran não vê lógica em leis que proíbem o cigarro e tornam a maconha quase obrigatória. Não que a maconha faça mal, diz. Ela tem amigos que fumam maconha desde aquela época e isso não os impediu de estarem hoje perfeitamente idiotizados. Não entende também porque os gays, depois de tantas lutas, insistem em se casar e entrar para o Exército —estão falando sério? E há anos ela deixou de ir ao cinema— 400 pessoas mastigando ao seu redor a afligem.

O mundo é um lugar difícil para pessoas como Fran e eu, que ainda acreditamos que ele pode ser melhorado pela razão.

Fonte: Folha de S. Paulo
Quando se sugerem muitos remédios para um único mal, quer dizer que ele não pode ser curado.  (Antón Checov, escritor russo, 1860-1904)

LUGARES

MONTEVIDEO - URUGUAI

FAXINA GERAL

Martha Medeiros

Há muitas coisas boas em se mudar de casa ou apartamento. Em princípio, toda e qualquer mudança é um avanço, um passo à frente, uma ousadia que nos concedemos, nós que tememos tanto o desconhecido. Mudar de endereço, no entanto, traz um benefício extra. Você pode estar se mudando porque agora tem condições de morar melhor, ou, ao contrário, porque está sem condições de manter o que possui e necessita ir para um lugar menor. Em qualquer dos dois casos, de uma coisa ninguém escapa: é hora de jogar muita tralha fora. E, se avaliarmos a situação sem meter o coração no meio, chegaremos a um previsível diagnóstico: quase tudo que guardamos é tralha.

Começando pelo segundo caso, o de você estar indo para um lugar menor. Salve! Considere isso uma simplificação da vida, e não um passo atrás. Não haverá espaço para guardar todos os seus móveis e badulaques. Se você for muito sentimental, vai doer um pouquinho. Mas não é crime ser racional: olhe que oportunidade de ouro para desfazer-se daquela estante enorme que ocupa todo o corredor, e também daquela sala de jantar de oito lugares que você só usa em meia dúzia de ocasiões especiais, já que faz as refeições do dia a dia na copa. Para que tantas poltronas gordas, tanta mobília herdada, tantos quadros que, pensando bem, nem bonitos são? Xô! Leve com você apenas o que combina e cabe na sua nova etapa de vida. O que sobrar, venda, ou melhor ainda: doe. Você vai se sentir como se tivesse feito o regime das nove luas, a dieta do leite azedo, ou seja lá o que estiver na moda hoje para perder peso.

No caso de você estar indo para um lugar maior, vale o mesmo. Aproveite a chance espetacular que a vida está lhe dando para exercitar o desapego. Para que iniciar vida nova com coisa velha? Ok, você foi a fundo de caixa e não sobrou nada para a decoração, compreende-se. Pois leve seu fogão, sua geladeira, sua cama, seu sofá e o imprescindível para não dormir no chão. Para começar, isso basta. Coragem: é hora de passar adiante todas as roupas que você pensa que vai usar um dia, sabendo que não vai. Hora de botar no lixo todas as panelas sem cabo, os tapetes desfiados, as almofadas com rombos, os discos arranhados, as plantas semimortas, aquela lixeira medonha do banheiro, os copos trincados, os guias telefônicos de três anos atrás, todas as flores artificiais, as revistas empoeiradas que você coleciona, a máquina de escrever guardada no baú, o aquário vazio e o violão com duas cordas. Tudo isso e mais o que você esconde no armário da dependência de serviço. Vamos lá, seja homem.

Caso você não esteja de mudança marcada, invente outra desculpa qualquer, mas livre-se você também da sua tralha. Poucas experiências são tão transcendentais como deixar nossas tranqueiras pra trás.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


domingo, 24 de janeiro de 2021

TSUNAMIS NÃO DÃO AVISO PRÉVIO

TSUNAMIS NÃO DÃO AVISO PRÉVIO
Antônio Britto 

Agenda do cercadinho distrai o país dos problemas reais, escreve Britto

Em um governo ao menos sensato, a existência de qualquer crise levaria à busca imediata de soluções. No padrão Bolsonaro, comportamento reiterado ao longo desses 2 anos, a crise leva a um modelo fixo de reação: transferência imediata de responsabilidades, busca de culpados e insinuações autoritárias tentando colocar as Forças Armadas a serviço dos interesses do presidente, o que não deveria ser novidade para o Exército.

Na prática, tornou-se uma forma de saber como Bolsonaro avalia a própria popularidade ou as dificuldades que enfrenta. Se são realmente grandes e prejudicam seus índices de aceitação, no próximo cercadinho as Forças Armadas serão usadas por ele. Esta semana não foi diferente: pressionado pelo crime de Manaus, o fracasso na vacinação e as dificuldades para a retomada econômica, Bolsonaro deu uma inesquecível contribuição à ciência política determinando que são as Forças Armadas que definem a existência da democracia entre nós.

Como deveria saber o ocupante da Procuradoria Geral da República, e como mostraram os norte-americanos ainda neste mês, a democracia mantém-se pela força das instituições, a resistência da sociedade e a submissão de todos à Constituição. Estamos, nisto sim, vacinados. Episódios semelhantes, vividos recentemente com o mesmo Bolsonaro, mostraram que nossa democracia já possui resiliência suficiente para enfrentar as bravatas autoritárias de um presidente em apuros ou a traição cometida pelo procurador-geral da República à história da sua instituição. Assim, ainda que indispensável ficarmos todos atentos e, quando necessário, barulhentos, a maior ameaça neste momento não é um retrocesso institucional.

A insinuação de que existem “as minhas Forças Armadas” serve mesmo para atingir fortemente a imagem de profissionalismo que a Constituição determina e que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica procuram construir no período democrático. E que se soma, infelizmente, ao desgaste consentido pelo Exército com a inaceitável participação de um oficial general da ativa em uma função política, com resultados historicamente desastrosos. Na falta de uma legislação que impeça essa participação, o Exército poderia valer-se do Conselho Acacio: se é da ativa, não pode exercer esse tipo de função. Se exerce, não pode ser mais da ativa…

Não devemos porém cair na cilada de adotar a agenda do cercadinho e perder de vista os 3 problemas urgentes e graves do país: a incompetência e a falta de respeito humano com que governantes, não apenas em Brasília, tratam a pandemia o que adia e reduz a perspectiva de uma retomada econômica. E, por consequência, o aprofundamento da crise social gerando demandas urgentes por políticas públicas que a asfixia fiscal dos governos está longe de permitir.

São estes fatores, ligados ao Brasil real, que definirão o futuro de Bolsonaro entre opções como reeleição ou impeachment, ambos hoje ainda incertos. Temas como as escolhas das novas mesas do Congresso Nacional, por mais que entretenham a atenção da mídia e forneçam indícios importantes sobre a situação política, desmancham-se no ar quando (e se) o agravamento da crise determinar.

Para não ir longe: o noticiário político, em abril e maio de 2013, não registrava nas declarações da elite brasileira a mínima noção do que ocorreria dias depois –a explosão de protestos populares que em poucas horas colocaram de cabeça para baixo a conjuntura política.

Hoje, nas águas sempre profundas da opinião pública, fermentam, com desfecho ainda desconhecido, o sentimento de que a crise econômica vai demorar ainda mais; que desempregados e empresas têm longos meses de sofrimento pela frente; e, especialmente, a indignação com a gestão da pandemia, catapultada pela facilidade com que governos batem fotos alegres de raros braços vacinados enquanto na mesma hora o Brasil vive um dos mais vergonhosos episódios da sua história –o crime cometido contra brasileiros do Amazonas, condenados a uma morte indigna sem poderem sequer gritar que não podem respirar.

Ainda recentemente, um só grito destes –o de George Floyd– sacudiu os Estados Unidos e teve papel importante na queda de Trump. Aqui, até por conta das restrições da pandemia, as manifestações de indignação e revolta não caracterizam ainda um tsunami. Mas tão precipitado quanto assegurar que ele chegará seria desconhecer que tsunamis não avisam com antecedência.

Fonte: https://www.poder360.com.br

HOLY MOTHER

ERIC CLAPTON / PAVAROTTI


Um homem é infinitamente mais complicado que seus pensamentos. (Paul Valèry, Poeta francês, 1871-1945)

LUGARES

ESTOCOLMO - SUÉCIA

FRASES ILUSTRADAS


sábado, 23 de janeiro de 2021

AVANÇO DA VACINAÇÃO

AVANÇO DA VACINAÇÃO
José Horta Manzano

Eu gostaria muito que 300 milhões de doses de vacina chegassem semana que vem ao Brasil e que, antes da Páscoa, todos os habitantes estivessem imunizados.

Mas o que se vê na Europa é inquietante e não permite excesso de otimismo. Até mesmo países que foram prudentes e encomendaram vacinas com grande antecedência estão recebendo a conta-gotas.

O gargalo está na produção. Pelo que se vê, os laboratórios não dão conta da monstruosa demanda. Os primeiros a encomendar são os primeiros a ser atendidos, diz a prática comercial.

Se essa lógica for realmente seguida, o Brasil, que bobeou e só começou a encomendar agora, vai ter de ser paciente. Quando 2021 terminar, só uma (pequena) parte da população terá sido vacinada. Os demais vão ter de esperar 2022.

Avanço da vacinação no mundo
(Situação em 21 janeiro 2021)

Israel, o campeão da rapidez, encabeça a lista: já vacinou 37% da população. Seguem-se pequenos países, como Emirados Árabes, Gibraltar, Seychelles, Samoa, que já imunizaram mais de 10% da população.

Os primeiros países importantes vêm a seguir: República Tcheca e Reino Unido, ambos com 7,5%. Logo após, aparecem os EUA, que já vacinaram 5,4% dos habitantes.

Daí para baixo, a porcentagem vai diminuindo. Alguns exemplos:

Espanha 2,2%
Itália 2,1%
Canadá 1,9%
Alemanha 1,6%
Suíça 1,3%
França 1,2%
Portugal 1,0%
Argentina 0,6%
Chile 0,3%

O Brasil aparece no finzinho da lista, com 0,07% da população imunizada. Falta um bocado.

Mas não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe. Ânimo!

Fonte: brasildelonge.com
Lembra que és tão bom como o que de melhor tiveres feito na vida. (Billy Wilder, cineasta americano)

LUGARES

FONTAINEBLEAU - FRANÇA
Fontainebleau é uma cidade na França, antiga sede do departamento Seine-et-Marne, na região administrativa da Ilha de França. Dá-se o nome de Escola de Fontainebleau a um grupo de artistas animados pelos italianos que Francisco I de França contratara para decorar o Castelo de Fontainebleau, os quais tiveram como seguidores Jean Goujon, Jean Cousin, Antoine Caron. (wikipédia)

AS RAZÕES DO AMOR

AS RAZÕES DO AMOR
Rubem Alves

Os místicos e apaixonados concordam em que o amor não tem razões. Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa: “A rosa não tem ‘porquês’. Ela floresce porque floresce.”

Drummond repetiu a mesma coisa no seu poema “as sem-razões do amor”. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento. “Eu te amo porque te amo…” – sem razões… “Não precisas ser amante, e nem sempre saber sê-lo”.

Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fossem assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra.

“Amor é estado de graça e com amor não se paga.” Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que “amor com amor se paga”. O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa floresce, eu te amo porque te amo.

“Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários… Amor não se troca… Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo…”

Drummond tinha de estar apaixonado ao escrever estes versos. Só os apaixonados acreditam que o amor seja assim, tão sem razões. Mas eu, talvez por não estar apaixonado (o que é uma pena…), suspeito que o coração tenha regulamentos e dicionários, e Pascal me apoiaria, pois foi ele quem disse que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Não é que faltem razões ao coração, mas que suas razões estão escritas numa língua que desconhecemos. Destas razões escritas em língua estranha o próprio Drummond tinha conhecimento e se perguntava: “Como decifrar pictogramas de há 10 mil anos se nem sei decifrar minha escrita interior? A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco.” O amor será isto: um soco que o desconhecido me dá?

Ao apaixonado a decifração desta língua está proibida, pois se ele a entender, o amor se irá. Como na história de Barba Azul: se a porta proibida for aberta, a felicidade estará perdida. Foi assim que o paraíso se perdeu: quando o amor – frágil bolha de sabão -, não contente com sua felicidade inconsciente, se deixou morder pelo desejo de saber. O amor não sabia que sua felicidade só pode existir na ignorância das suas razões. Kierkergaard comentava o absurdo de se pedir dos amantes explicações para o seu amor. A esta pergunta eles só possuem uma resposta: o silêncio. Mas que se lhes peça simplesmente falar sobre o seu amor – sem explicar. E eles falarão por dias, sem parar…

Mas – eu já disse – não estou apaixonado. Olho o amor com olhos de suspeita, curiosos. Quero decifrar sua língua desconhecida. Procuro, ao contrário de Drummond, as cem razões do amor…

Vou a Santo Agostinho, em busca de sua sabedoria. Releio as Confissões, texto de um velho que meditava sobre o amor sem estar apaixonado. Possivelmente aí se encontre a análise mais penetrante das razões do amor jamais escritas. E me defronto com a pergunta que nenhum apaixonado poderia jamais fazer: “Que é que eu amo quando amo o meu Deus?” Imaginem que um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: “Que é que eu amo quando te amo?” Seria, talvez, o fim de uma estória de amor. Pois esta pergunta revela um segredo que nenhum amante pode suportar: que ao amar a amada o amante está amando uma outra coisa que não é ela. Nas palavras de Hermann Hesse, “o que amamos é sempre um símbolo”. Daí, conclui ele, a impossibilidade de fixar o seu amor em qualquer coisa sobre a terra.

Variações sobre a impossível pergunta: Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no teu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios…Como Narciso, fico diante dele… “No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura…” (Cecília Meireles). Por isto te amo, pelos peixes encantados…

Mas eles são escorregadios, os peixes. Fogem. Escapam. Escondem-se. Zombam de mim. Deslizam entre meus dedos. Eu te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de os possuir. Tu és o lugar onde me encontro com esta outra coisa que, por pura graça, sem razões, desceu sobre ti, como o Vento desceu sobre a Virgem Bendita. Mas, por ser graça, sem razões, da mesma forma como desceu poderá de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. E minha busca recomeçará de novo…

Esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. A paixão se recusa a saber que o rosto da pessoa amada (presente) apenas sugere o obscuro objeto do desejo (ausente). A pessoa amada é metáfora de uma outra coisa. “O amor começa por uma metáfora”, diz Milan Kundera. “Ou melhor: o amor começa no momento em que uma mulher se inscreve com uma palavra em nossa memória poética.”

Temos agora a chave para compreender as razões do amor: o amor nasce, vive e morre pelo poder – delicado – da imagem poética que o amante pensou ver no rosto da amada…

– Rubem Alves, no livro “O retorno e Terno” (Crônicas). 27ª ed., Campinas|SP: Editora Papirus, 2008.

Fonte: revistaprosaversoearte.com

FRASES ILUSTRADAS


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

DO CENTRAL PARK AO APARADOS DA SERRA

DO CENTRAL PARK AO APARADOS DA SERRA: O QUE PODEMOS APRENDER
Fernando Schüler

Brasil tem sido procrastinador na melhoria da gestão pública, mas há novidades interessantes a observar

Ainda me lembro de quando visitei pela primeira vez, lá pelos anos 1990, os cânions de Aparados da Serra. Lembro-me do encanto que já surgia depois de São Chico de Paula, na direção de Cambará do Sul. Passei anos, como muita gente do Sul, pensando em como aquele lugar mágico podia ser mais visitado e seu "potencial" no desenvolvimento da região.

Agora vejo a notícia, quase apagada em meio ao bate-boca político brasileiro, de que a gestão do parque foi concedida, via leilão, a um investidor privado. O grupo vencedor pagou 27 vezes o valor mínimo da outorga, com previsão de R$ 260 milhões de investimento ao longo dos 30 anos de contrato

A concessão dos parques nacionais não é propriamente uma novidade. A maioria talvez não saiba, mas o parque das Cataratas do Iguaçu é gerenciado há 22 anos por uma concessão privada. Modelo similar ao parque da Tijuca, no Rio de Janeiro. Gestão profissional, enorme visitação, custo zero para os cofres públicos e uma receita robusta para o Instituto Chico Mendes, responsável pelo gerenciamento de 334 unidades de conservação brasileiras. 


O relatório anual do instituto, de 2019, mostra que apenas quatro concessões geraram R$ 79 milhões ou 56% da arrecadação própria da instituição. E parte relevante de sua capacidade de investimento. 

Não precisa ir muito longe para ver o potencial desse tipo de parceria. Gestão mais eficiente dos parques, mais recursos para investimento nas unidades com menor potencial turístico, incremento do turismo e geração de expertise executiva que pode ser replicada em inúmeros experimentos inovadores de gestão país afora. 

Parcerias como essas frequentemente geram controvérsia política, mas não deveriam. Além de seguir uma tendência global da governança pública, elas servem para resolver problemas bastante objetivos que o país tem na prestação de serviços públicos. 

Estudo realizado pelo Instituto Semeia com 266 gestores de parques públicos é autoexplicativo. Apenas 34% deles estão com a sua área regularizada; 60% dos gestores dizem não ter recursos necessários para realizar seu trabalho; 22% das unidades sequer fazem contagem de visitantes. 

A culpa dessa situação é dos funcionários? Desse ou daquele governo? Na conversa fiada política pode até ser, mas o problema está no modelo. É um erro esperar que a pesada e disfuncional burocracia pública, em um ambiente não concorrencial, seja boa gestora de serviços. Assim como imaginar que fazendo tudo como sempre fizemos vamos obter resultados muito diferentes. 

A boa notícia é que vêm surgindo alternativas que podem mudar esse panorama. Recentemente o parque do Ibirapuera, no coração de São Paulo, foi concedido, com um valor de outorga de R$ 70 milhões, em um modelo no qual a empresa vencedora gerencia outros cinco parques com menor potencial de receita. 

A concessão é apenas um tipo de parceria possível. Há outros. Quem sabe o modelo ícone adotado na gestão do Central Park, na Big Apple. A concessão lá é com uma organização privada sem fins lucrativos, a Central Park Conservancy, que gira um orçamento de U$ 75 milhões e uma cesta de fundos de endowment (hoje são 86), que logo dará completa autonomia financeira à gestão do parque. 

Conheço muita gente que acha o Central Park uma beleza, até casório faz lá, mas acharia um horror se adotássemos aqui nos trópicos o mesmíssimo modelo de gestão. Na verdade não é nem um horror nem solução mágica. São apenas alternativas que temos que colocar na mesa e avaliar. O que não dá é para continuar confundindo esfera pública com burocracia estatal. 

O Brasil demorou 26 anos, se contarmos desde a lei das concessões, de 1995, para conceder a gestão de alguns poucos parques públicos. Somos um país procrastinador, dado a muita retórica fora do lugar, muito mando corporativo e essas coisas. Mas, de alguma forma, há boas notícias, felizmente longe do radar político, às quais vale a pena (em especial os prefeitos que acabaram de assumir) prestar atenção.

Fonte: Folha de S. Paulo
Para enxergar claro, basta mudar a direção do olhar. (Antoine Saint-Exupéry, escritor francês, 1900-1944)

LUGARES

BARCELONA - ESPANHA

MR. MILES



Saídas para a claustrofobia

Querido mr. Miles: cada vez que leio seus artigos fico com mais vontade de viajar. Meu marido, porém, sofre de claustrofobia e não entra, nem amarrado, em aviões ou navios, de modo que meu horizonte é diminuto. O que você sugere?
Carolina Peters Azevedo, por email

Well, well, my dear Caroline, eis uma questão delicada. A claustrofobia, as you know, é um distúrbio de intensidade variável, cuja superação é possível, mas, sometimes, longa e penosa. Tenho alguns amigos que padecem desse mal, com reações distintas. O caso mais radical que conheço é de um antigo comandante de submarinos da Royal Navy, que, após anos de imersão, pediu baixa e decidiu nunca mais entrar em qualquer recinto fechado. Hoje, Riddick — esse é seu nome —, é personagem popular em Chesil Beach, no sul da Inglaterra. Dorme nas praças, jamais entra em qualquer recinto fechado e quando quer beber uma Guinness ou comer uma kidney pie, faz seu pedido pela janela dos pubs que já o conhecem.

O caso de Riddick é incorrigível, my dear. Mas há outros que, apesar do sofrimento, não permitem que o mundo lhes feche a porta. My good friend Tony Queiroga, também chamado Tony on the Rocks, por seu apreço a bebidas com gelo, não entra em elevadores ou aviões. Contudo, darling, para não diminuir seus horizontes, tomou two very wise decisions. Abriu uma hospedaria, onde recebe gente do mundo todo e comprou uma motocicleta Triumph, com a qual tem viajado fartamente. É uma logística engenhosa. Ele parte para um determinado destino na companhia de seu springer spaniel Jimmy Hendrix (que usa o capacete sem ganir) e, ao chegar, vai direto ao aeroporto para encontrar a esposa que, of course, viaja de avião.

I don’t know, my dear, se seu marido tem o espírito criativo de Tony ou a triste apatia de Riddick. Mas lembro-me, vagamente, de que o casamento tem algo a ver com compartilhar alegrias e tristezas. Se você tem compartilhado a triste realidade da claustrofobia de seu companheiro, é justo que ele se esforce para compartilhar a sua alegria de viajar, buscando auxílio profissional ou soluções criativas.

Em último caso, I must say, viajar sozinha pode ser uma ótima alternativa. Converse com ele e, for sure, as coisas se arranjarão.

Ou estariamos diante do primeiro caso de claustrofobia infecciosa jamais descrito?

Fonte: O Estadão