José Horta Manzano
“Eu não vou tomar vacina e ponto final. Minha vida está em risco? O problema é meu.”
A declaração foi dada por Jair Bolsonaro terça-feira última.
O jornalista Rafael Barifouse, da BBC Brasil, relata a conversa que teve com dois eminentes infectologistas sobre a displicente declaração presidencial.
“Quem diz que não vai se vacinar porque é decisão individual diz isso por ignorância. Vacinação não é nem nunca foi uma preocupação individual”, é o que afirma a infectologista Raquel Stucchi, da Unicamp.
Ela explica ainda que o objetivo da vacinação é conferir proteção contra um vírus a uma parcela da população suficientemente grande, para impedir que a doença continue a se disseminar.
Quanto maior o número de pessoas vacinadas, mais fácil será controlar a propagação. Se poucas pessoas se vacinarem, ela se alastra facilmente.
“É diferente de um câncer, por exemplo. Se eu não me tratar, só eu vou sair prejudicada porque vou morrer mais cedo. A decisão de não se vacinar tem impacto na saúde coletiva”, acrescenta a infectologista.
O percentual de pessoas que têm que ser vacinadas para conseguir a imunidade coletiva – bloqueando a disseminação de um vírus ou bactéria e evitando epidemias – varia. Depende da taxa de contágio, ou seja, a facilidade com que o patógeno passa de uma pessoa a outra. Depende também da eficácia da vacina, quer dizer, da proporção de pessoas que ficam protegidas ao serem vacinadas.
O infectologista Alberto Chebabo, diretor do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (RJ), esclarece que, para bloquear uma uma doença altamente infecciosa como o sarampo, a taxa de pessoas imunizadas tem de ser de 95%.
Para a covid-19, ainda não se sabe ao certo qual é esse índice, porque ainda é preciso verificar se a eficácia dos estudos será confirmada pela vacinação em massa e quanto dura a imunidade. Assim mesmo, estima-se que será necessário vacinar entre 70% e 80% da população para reduzir a circulação do coronavírus e acabar com a pandemia.
“Temos que lembrar que sempre haverá uma parte da população que não poderá ser vacinada, como grávidas, para quem hoje não é recomendado, quem tem alergias graves e outras contraindicações”, diz Chebabo.
Para os que não puderem se vacinar, a imunização em massa é essencial para evitar que sejam infectadas. O mesmo vale para os que não tiverem uma resposta ideal à vacina.
“Uma postura como a do presidente é atitude egoísta, de quem só pensa em si próprio e não em proteger quem está à sua volta”, diz o infectologista. Chebabo diz ainda que se vacinar será importante mesmo para pessoas que já tiveram covid-19, como Bolsonaro, porque há cada vez mais casos de reinfecção, às vezes deixando o paciente em estado pior do que antes.
Os cientistas ainda não sabem ao certo quanto dura a imunidade adquirida pelos que tiveram a doença. Por isso, uma parte destas pessoas, ou mesmo todas elas, podem ainda ser vulneráveis ao coronavírus.
“A recomendação é que todos se vacinem”, diz Chebabo.
Fonte: brasildelonge.com
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