COMÉRCIO DE GIBIS
Como acontece em todos os campeonatos mundiais de futebol, as editoras lançam álbuns de figurinhas estampando as fotos dos jogadores das seleções participantes do evento.
Na Copa realizada no Brasil meu neto contava com seis (6) anos de idade. Já tinha discernimento para colecionar as tais fotografias, eis que conseguia identificar as seleções e seus craques.
Meu filho comentou que deu um presente ao Daniel, levando-o até um local onde colecionadores de figurinhas se encontravam para praticar o escambo, o troca-troca, talvez a mais primitiva forma de comércio.
De certa forma fiquei surpreso. Também tive os meus momentos de colecionador de figurinhas. Quem é sexagenário ou mais, haverá de lembrar dos termos "figurinha carimbada" e "figurinha difícil", que eram as estampas mais disputadas.
Convido-os para uma viagem nostálgica, começando pelas "Balas Atlas". Eram coleções com motivos culturais. Colecionavam-se as bandeiras do estados brasileiros, personagens da história brasileira, fauna, flora, etc. Mas não recordo de troca-troca com local determinado. Trocávamos, sim, mas de forma incipiente, primária, sempre entre amigos. Também entre amigos, jogava-se o "abafa" com as figurinhas, nunca, porém, utilizando as mais procuradas.
O troca-troca que conheci e pratiquei em lugares determinados, era de revistas em quadrinhos, conhecidos por "gibis". Acontecia nos domingos à tarde, nas famosas matinês, quando os cinemas da cidade exibiam dois filmes. O cinema Central, depois do segundo filme, ainda exibia um capítulo do seriado, uma espécie das novelas de hoje. Cada capítulo durava cerca de meia hora e terminava, invariavelmente, com o mocinho em situação de perigo. Durante toda a semana a expectativa era adivinhar como ele se livraria de mais uma armadilha preparada pelos vilões. Tudo sempre acabava bem.
Antes da sessão cinematográfica e mesmo no intervalo ente um e outro filme, caminhava-se pelos corredores da sala de exibições com as revistas disponíveis para troca.
Mas era no final da sessão, defronte ao cinema, que o "comércio" tomava grandes proporções. O valor das revistas era medido pela sua atualidade e pelo seu estado físico, além, é claro, pelo herói de cada revista.
E os heróis eram muitos: Batman, Super-Homem, Fantasma, Capitão América e o sempre aplaudido e disputado Tarzan. Havia também a turma do velho oeste: Zorro, sem capa e espada e seu fiel escudeiro, o índio Tonto. Lembro também de Roy Rogers, Gene Autry, Rock Laine, Flexa Ligeira e tantos outros. Os bem mais antigos que eu hão de lembrar de Tom Mix e Hopalong Cassidy.
Dependendo do rumo dos negócios, chegava-se em casa com quatro ou cinco revistas novas para garantir a leitura da semana. Algumas vezes, as histórias de bang-bang serviam de modelo para que as interpretássemos nas nossas brincadeiras de bandido e mocinho.
O troca-troca de gibis, com certeza, era muito mais atraente do que colecionar figurinhas, além do que, era um excelente aprendizado para o futuro próximo, sem fantasias.
Chegariam os dias em que os sonhos de criança seriam afastados definitivamente pelas responsabilidades da vida de adulto, que chegava muito, mas muito mais cedo do que nos dias atuais.
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