terça-feira, 3 de novembro de 2020

A SEGUNDA ONDA DA COVID

A SEGUNDA ONDA DA COVID
Hélio Schwartsman

Várias questões voltam a nos assombrar, mas a situação mudou bastante

A consolidação de uma segunda onda de Covid-19 na Europa e o anúncio de novos "lockdowns" nacionais trazem uma exasperante sensação de eterno retorno do mesmo, se é lícito usar a expressão celebrizada por Nietzsche.

Várias questões associadas à pandemia de fato voltaram a nos assombrar, mas eu hesitaria em classificá-las como retorno do mesmo. A situação mudou bastante em aspectos significativos.

O mais notável é que a segunda onda parece menos mortífera do que a primeira. Parte desse efeito se deve ao fato de os países avançados estarem testando mais e de a idade média dos pacientes da segunda leva ser menor que a da primeira, mas um bom pedaço é resultado do aprendizado dos médicos, que agora lidam melhor com as complicações da doença.

Um trabalho recém-publicado no "Journal of Hospital Medicine", com resultados ajustados para demografia, comorbidades e gravidade na admissão, mostrou que a mortalidade de pacientes internados em três hospitais de Nova York caiu de 25,6% em março para 7,6% em agosto.

Outra diferença importante é que vacinas, que eram apenas uma esperança no início do ano, agora existem e várias se encontram em fase final de testes. É razoável acreditar que, nos próximos meses, populações prioritárias começarão a ser imunizadas.

As primeiras vacinas talvez não propiciem níveis muito bons de imunidade, mas ajudarão a prevenir uma terceira e uma quarta ondas e devem contribuir para reduzir a gravidade no quadro dos que adoecerem.
A psicologia também é decisiva. Ainda que com falhas, as pessoas introjetaram mudanças de comportamento, como usar máscara e evitar aglomerações. Até revisaram a etiqueta de cumprimento. Não podemos relaxar muito nisso.

Tudo isso somado permite vislumbrar um futuro não muito distante em que a Covid-19, sem desaparecer, irá ocupar um espaço cada vez menor em nossos hospitais e em nossas mentes.

Fonte: Folha de S. Paulo

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