sábado, 31 de outubro de 2020

A ENOLOGIA É UMA FRAUDE?

A ENOLOGIA É UMA FRAUDE? 
Hélio Schwartsman

Estudos dos anos 60 só não acabaram com a reputação da enologia porque são pouco divulgados

Li no imperdível Marcos Nogueira a história dos "wall-streeters" que pediram um Château Mouton-Rotschild de R$ 11,2 mil num restaurante de Nova York, foram servidos com um vinho ordinário de R$ 100 e nem perceberam.

É que os garçons se atrapalharam com os decantadores. O casal da mesa próxima que pedira vinho da casa e acabou agraciado com a garrafa de colecionador também não percebeu. Escândalo?

O problema, como sempre, são os nossos cérebros. Quando eles não têm informações suficientes para emitir um juízo, catam qualquer pista que esteja à mão, seja ela relevante ou não, e proferem seu parecer como uma conclusão irrefutável.

A dificuldade, no caso da enologia, é que o paladar e o olfato humanos não são bons o bastante para julgar vinhos, pelo menos não no nível que os "sommeliers", com seu vocabulário rebuscado e esnobe, fazem crer que é possível. Aí o cérebro, para não ficar mal, apela para rótulos, preços, críticas etc.

Estudos da psicologia do gosto, iniciados nos anos 60 por Rose Marie Pangborn, só não acabaram de vez com a reputação da indústria enológica porque não são muito divulgados. Pangborn mostrou que bastava adicionar um pouco de corante a vinhos brancos para deixar os especialistas completamente perdidos.
Na sequência, outros trabalhos revelaram que, em copos escuros, estudantes de enologia não conseguem mais distinguir vinhos brancos de tintos e que basta trocar os rótulos das garrafas para que especialistas rasguem elogios a vinhos "objetivamente" medíocres.

No caso de Nova York, a pista mais conspícua era o preço. Os "wall-streeters" que pagaram R$ 11,2 mil sentiram um vinho de R$ 11,2 mil, e o casal que pediu a bebida de R$ 100 teve a experiência de R$ 100. Isso até o restaurante revelar o mal-entendido e não cobrar o vinho de nenhuma das duas mesas. Aí o par de namorados "viveu" um grande lucro, e os investidores, prejuízo.

Fonte: Folha de S. Paulo
Todas as coisas de que gosto ou são imorais e ilegais ou engordam. (Alexander Woollcott)

LUGARES

PARIS - FRANÇA

EFEITO DUNNING-KRUGER

EFEITO DUNNING-KRUGER

Efeito Dunning-Kruger e o paradoxo da ignorância: por que quem sabe menos, acredita que sabe mais?

Você já ouviu falar do efeito Dunning-Kruger ? É um viés cognitivo que leva as pessoas com menos habilidade e conhecimento a pensar que sabem mais do que as outras. Quanto menos elas sabem, mais pensam que sabem.

Muitas vezes, aqueles que têm esse problema tendem a impor suas idéias, em vez de simplesmente dar uma opinião, considerando-as verdades absolutas. Os outros são vistos como totalmente ignorantes e incompetentes, mesmo que não o sejam.

Como esse efeito foi identificado? Em 1995, McArthur Wheeler assaltou dois bancos consecutivos no mesmo dia na cidade de Pittsburg, na Pensilvânia, Estados Unidos. Detalhe: ele não usou nenhuma máscara para esconder seu rosto. Flagrado pelas câmeras, ele foi obviamente reconhecido e facilmente capturado. Ao ser preso, estava profundamente desolado. Ele havia passado suco de limão no rosto e acreditava que, com isso, teria ficado totalmente invisível.

Uns amigos seus o haviam “ensinado” o truque e ele tinha verificado: aplicou suco de limão no rosto e logo tirou uma fotografia sua. Ele pôde comprovar que a sua imagem não saia nela. No entanto, o mesmo limão o tinha impedido de ver que ele não tinha focado o seu rosto, mas sim o teto. “Como alguém pode ser tão idiota?”, perguntou-se David Dunning.”

A história chegou aos ouvidos do profissional de psicologia social da Universidade de Cornell, David Dunning, que se perguntou se a incompetência pode nos fazer desconhecer o quanto somos incompetentes. Então, iniciiou uma série de experimentos com seu colega Justin Kruger e foi esse estudo que deu origem ao efeito Dunning-Kruger.

Durante quatro experimentos, os dois psicólogos analisaram as habilidades de algumas pessoas no campo da gramática, raciocínio lógico e humor, pedindo-lhes para estimar seu nível de competência e, em seguida, realizando testes de avaliação..

Eles perceberam que, quanto mais incompetente era uma pessoa, menos consciente disso ela era. Enquanto as pessoas mais competentes se subestimavam.

Daí o efeito Dunning-Kruger, segundo o qual pessoas com baixo nível de competência tendem a pensar constantemente que sabem mais do que sabem, considerando-se mais inteligentes.

Por que se tem essa percepção distorcida? Porque se você não possui um mínimo de habilidades em uma determinada área, não pode fazer uma estimativa realista de seu desempenho e limites.

Todos nós podemos “sofrer” com essa percepção distorcida, como podemos sair dela? Os especialistas aconselham tentar primeiro estar cientes da existência desse viés cognitivo, estar aberto à dúvida e evitar impor o próprio ponto de vista, aceitando também o dos outros.

O efeito Dunning-Kruger é uma realidade contundente nesta era onde quase toda nossa interação pessoal acontece virtualmente, mas, não se limita à vida on line.

Perceber esse fenômeno em si mesmo e nos outros é um grande passo para a evolução do aprendizado (ler e ouvir de quem sabe mais!) e da melhoria no compartilhamento de informações úteis (evitar propagar dados não seguros e opiniões eivadas de emoção, que não condizem com a verdade).

Fonte: https://www.pensarcontemporaneo.com

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

SEGUNDA ONDA

SEGUNDA ONDA
Vinicius Torres Freire

Segunda onda na Europa é um alerta para a epidemia e economia do Brasil
Números gerais não permitem descartar um recrudescimento da epidemia por aqui

A segunda onda da epidemia nos grandes países da Europa ficou evidente na mesma data: começo de setembro. É quando acabam as férias de verão. Foi então que o número de mortes começou a aumentar de modo inegável. Em meados de outubro houve a disparada. Em países como Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido, as taxas mínimas de morte haviam ocorrido em julho, mais ou menos.

O número diário de novas mortes por milhão anda entre 2,5 e 3,5 nesses países, com exceção da Alemanha, onde está por volta de 0,5 por milhão (média móvel de sete dias). No Brasil, o morticínio agora está perto de pouco mais 2 novas mortes por milhão, em queda lenta, faz algum tempo. No pico da mortandade nesses países europeus, a taxa diária de mortes por milhão ficou em torno de 15 (com exceção, outra vez, da Alemanha (que chegou perto de 3).

É um alerta para o Brasil? Sempre é. Aprendeu-se que a epidemia é, até certo ponto e tempo, regional, o que é um aspecto muito significativo em um país do tamanho e população como o nosso. Ainda assim, convém dar uma olhada em estatísticas mais gerais, ao menos para dar a escola de grandeza do problema.

O número de mortes pode ser um indicador aproximado do tamanho da epidemia, do número total de infectados. Sim, existe grande controvérsia sobre a letalidade da doença. Isto é, quantas pessoas morrem entre aquelas que foram infectadas. Como se tornou evidente, as pesquisas na população têm dificuldade de estimar o número total de infectados. Logo, a taxa de letalidade da doença é motivo de polêmica.

Suponha-se que ela seja aproximadamente igual e que se leve em conta as diferenças demográficas (a Covid mata mais os idosos. Tudo mais constante, países com mais idosos terão mais mortes). A taxa de mortes por milhão no Brasil é maior do que a da Espanha, o país grande da Europa mais afetado. A do estado de São Paulo é ainda maior. Levando em conta a idade da população, a diferença aumenta.

A taxa de mortes do estado de São Paulo, sem qualquer ajuste, é de 866 por milhão. A da Espanha, 755. A julgar apenas pelo número de mortes e pela hipótese de que certo número de mortes esteja associado a uma taxa de infecção, seria possível especular que um recrudescimento da epidemia não pode ser descartado por aqui. O estado de São Paulo ainda conta 2 mortes diárias por milhão. A Espanha da segunda onda conta 3,3.

Nem de longe, claro, é prognóstico. Em meses de conversas com excelentes epidemiologistas do Brasil, muito cientista dedicado observou que levou dribles e outros bailes da epidemia. O que todos dizem é que não dá para relaxar, que cada medida de alívio das restrições tem de ser muito bem fundamentada, que aglomerações são insanidades, que se deve usar máscara, que é preciso fazer mais testes e tentar encurralar a doença.

A nova onda europeia ainda está longe de ser tão mortífera quanto em abril. Mas a mortandade afeta o mundo inteiro pela economia, é preciso e horroroso dizer. A percepção de riscos aumentados e a incerteza vão ecoar pelo mundo, como se viu nos mercados financeiros desta quarta-feira, e a segunda onda vai atingir a atividade econômica em alguma medida. Alemanha e França vão ter isolamentos duros durante novembro inteiro.

Os alertas estão aí. O controle da epidemia no Brasil foi vergonhoso; o governo federal não se ocupa nem ao menos do manual básico da economia. Estamos sem imunidade na política sanitária e na econômica.

Fonte: Folha de S. Paulo
Os criacionistas fazem com que uma teoria pareça uma coisa que se inventou depois de beber a noite inteira. (Isaac Asimov)

LUGARES

PONTE DE LIMA - PORTUGAL

MR. MILES




O QUE MR. MILES NÃO FAZ

Mr. Miles: leio atentamente suas crônicas e vejo que que o senhor está sempre disposto a tudo e faz as coisas com muito prazer. Existe alguma coisa que o senhor não faz?
Estevão L. Margolies, por email

Of course, my friend. Há inúmeras coisas que não faço e nem pretendo fazer porque são parte de minhas convicções, que, por sua vez, derivam da educação que me foi oferecida. Não roubo nem furto, for instance, até porque não sinto falta de nada que não me pertence. Aliás, confesso que sou até um pouco exagerado nesse aspecto. Jamais coloco a mão em objeto que não me pertença sem a devida autorização. Esse hábito, by the way, levou-me a uma situação constrangedora anos atrás, quando voltava de uma cansativa jornada no Saara. Louco para tomar um banho e descansar os ossos, encontrei um hotel nas imediações de Agadir.


Assim que entrei, observei que não havia ninguém na pequena recepção coalhada de moscas. Havia, sim, sobre o balcão, uma dessas sinetas geralmente utilizadas para chamar serviçais. Como, however, não havia nenhum cartaz autorizando o uso da engenhoca, decidi esperar. Quarenta minutos mais tarde, já com as moscas relaxando sobre meus bigodes, tomei coragem e resolvi premer o aparelho. Oh, my God! Em segundos surgiu o atendente que me apanhou ruborizado de vergonha. 

Há outras coisas que, unfortunately, não gosto de fazer — e só as faço quando pressionado pelas circunstâncias. Odeio filas. Não compreendo porque existem e como as pessoas se submetem a tal humilhação. Filas em restaurantes, for instance. Elas ocorrem até mesmo em cidades com milhares de opções como São Paulo e Nova York. It’s amazing, isn’t it? Filas para entrar em aviões, com assentos numerados e lugar para todos? Será que os passageiros pensam que, caso embarcarem depois dos outros, vão ter de viajar de pé, no corredor? It’s unbelievable!

Confesso que outra de minhas idiossincrasias é não marcar consultas médicas. Explico-me: com o desenvolvimento da medicina e, sobretudo, o das máquinas que vasculham o corpo dos pacientes em busca de suas mazelas interiores, é virtualmente impossível escapar ileso de um check-up. Minha querida tia Glenda, que pensa exatamente o contrário, vai mais ao médico do que à feira. Hoje ela é a maior cliente da farmácia de Groveland e, como sequer se lembra de todas as doenças que tem, decidiu, também, tomar remédios para amnésia.

Aunt Glenda, by the way, foi a responsável pelo meu último check-up, realizado nos anos 60. Convenceu-me, por persistência. Meus exames mostraram-se excelentes, mas o médico fez questão de me advertir que a ausência absoluta de sintomas pode ser um mal sinal. 

Outras coisas que não faço porque simplesmente não me atraem. Assistir campeonatos de golfe pela televisão (só é menos chato do que acompanhá-los ao vivo). Conversar, cara-a-cara, com pessoas que atendem várias vezes ao telefone celular ou ficam dedilhando mensagens para pessoas ausentes. Simplesmente peço licença e me retiro. Ou seja, my dear Estevão: há muitas coisas que mr. Miles não faz. Essas e várias outras que, oportunamente, voltarei a contar. Só não me estendo no tema, porque a função dessa coluna é falar sobre o que faço. E não o contrário.

Fonte: O Estadão

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

MARCHA, SOLDADO

MARCHA, SOLDADO

Ao reduzir generais a recrutas, o cabeça de papel desconta as humilhações que sofreu no quartel

Se os militares fossem tão argutos como se julgam, já teriam percebido que Freud explica. Jair Bolsonaro está tendo a oportunidade de descontar as humilhações que sofreu em sua medíocre carreira no Exército e se vingar dos oficiais que um dia bramiram na sua cara por alguma corneta que tocou errado ou cavalo que deixou de lavar. Na condição de presidente da República, donde chefe supremo das Forças Armadas, é a sua vez de bramir contra militares de alta patente, vários na ativa.

A própria militarização que está promovendo no governo —quase 7.000 milicos infiltrados em entranhas influentes da administração— serve a esse fim. Com ela, Bolsonaro mostra que pode ser generoso, dando-lhes confortáveis sinecuras, nomeando-os para funções incompatíveis e concedendo-lhes benefícios que nega aos servidores civis, mas que também pode tirar-lhes tudo isso quando quiser. E, para provar, dedica-se a devolver o dedo na cara apontando-o para os generais “de sua confiança”.

É a tática de Bolsonaro para reduzir seus generais a recrutas. Insulta-os ou induz seus jagunços a insultá-los. Daí obriga-os a engolir as ofensas ou arranca-lhes os botões. O primeiro a aprender com quem estava falando foi o general Santos Cruz, rapidamente expelido. O general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde que não sabia o que era o SUS, é outro que acaba de cair em si. Na única medida autônoma e sensata que tomou, de apoiar a compra de vacinas para a imunização dos brasileiros, foi quase fuzilado por Bolsonaro, que lhe impôs desdizer-se e se acoelhar para não ser demitido.

Há dias, o general Luiz Eduardo Ramos foi dormir com as orelhas ardendo e ainda se desculpou por ter sido grosseiramente ofendido. E haverá outros. Os bragas, helenos e mourões que se cuidem.

É o cabeça de papel dando ordens de marcha-soldado a homens que trocaram o mandar por obedecer —e logo a quem.

Fonte: Folha de S. Paulo
Não há saber maior ou saber menor. Há saberes diferentes. (Paulo Freire)

LUGARES

AMSTERDAM - HOLANDA

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


O USO DO ARTIGO DEFINIDO (3) + PEDIR
          - Hoje de manhã (o) meu carro custou a pegar.
É indiferente o emprego do artigo antes de possessivos acompanhados de substantivos.

          - Aquele carro que acharam é (o) meu.
Em função substantiva (isto é, no lugar do substantivo), o possessivo tem um sentido quando acompanhado de artigo (o meu carro = o único que possuo), e outro sentido sem o artigo (“é meu” denota uma simples ideia de posse).

          - Quem não tem suas dificuldades?

Dispensa o artigo o pronome possessivo usado em expressões com o valor de “alguns”.

          - Vem cá, meu amor.
Quando o possessivo faz parte de um vocativo, não admite o artigo. 

          - Dou em meu poder seu ofício de 15 de setembro.
O artigo é omitido com o possessivo em certas expressões feitas: em nosso poder, a seu bel-prazer, por minha vontade, a seu turno, a meu modo, em meu nome, a seu pedido.

          - Sal, pimenta e açúcar devem ser usados em quantidades moderadas.
Omite-se o artigo antes de palavras de sentido geral, indeterminado.

          - Você tem razão em não dar confiança ao rapaz, pois ele só disse mentiras.
Não se usa o artigo antes de substantivos abstratos, em expressões que não contêm nenhuma determinação.

          - Apresentou-se na festa com o marido e o irmão.
Normalmente se repete o artigo para evitar ambiguidade, pois sem ele os dois substantivos podem designar o mesmo ser. Não seria o caso acima, porque irmãos não se casam, mas fica diferente agora: Admiro o meu irmão e amigo (uma só pessoa). Admiro o meu irmão e o meu amigo (duas pessoas).

          - Já não se estuda Latim nas escolas.
Dispensam o artigo as matérias de estudo empregadas com os verbos ensinar, aprender, estudar e equivalentes.

REGÊNCIA DO VERBO PEDIR

  • A professora pediu silêncio aos alunos.
  • Ela pediu que fizéssemos silêncio.
  • A professora pediu à diretora para se ausentar mais cedo.
Numa frase como “a professora pediu para que fizéssemos silêncio”, de acordo com a gramática normativa, a preposição "para" não se justifica; ela só deve ser usada com o verbo pedir quando está implícita a palavra permissão ou licença. Portanto, “ela não gostou quando lhe pedi para sair da sala” significa “quando lhe pedi [permissão] para [eu] sair”. Se fosse para a professora sair, a frase seria diferente: “quando lhe pedi que [ela] saísse da sala”.
  • Pedi para o chefe assinar os papéis. [informal]
  • Pedi que o chefe assinasse os papéis. [formal]
Embora na linguagem coloquial se use a construção “Ela pediu para eu sair”, a forma gramatical requer o uso do subjuntivo: “Ela pediu que eu saísse”.

Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

VACINA OBRIGATÓRIA?

VACINA OBRIGATÓRIA?
José Horta Manzano

Em matéria de saúde, cabe ao poder público informar, orientar e aconselhar a população; em seguida, com a informação no bolso, é a vez de cada um decidir por conta própria.

Tirando menores de idade, impotentes e pacientes com problemas mentais, nenhum cidadão deveria ser submetido a nenhum procedimento médico contra sua vontade. Em tese, é assim que funciona em país civilizado.

Por esse princípio, ninguém deveria ser obrigado a tomar vacina. Acontece que, na prática, a teoria é outra. No Brasil, a colossal desigualdade social faz que a informação não atinja com a mesma precisão todas as camadas da população.

O cidadão esclarecido entende facilmente que a vacina – “chinesa” ou não – é a única tábua de salvação disponível contra a epidemia. Já no cidadão humilde, o pavor da injeção pode superar o medo da covid; fugirá da picada e continuará exposto a ser contagiado e contagiante.

Assim, soluções que funcionam em sociedades homogêneas podem não dar certo entre nós. Em alguns países altamente civilizados, vacinação não costuma ser obrigatória. É o caso da Suíça, por exemplo, onde cada um decide por si. No Brasil, deixar total liberdade a todos os cidadãos é caso complicado.

O problema já existia antes da internet, mas o advento das redes sociais e de toda a cacofonia que ela difunde agravou a situação. Hoje, basta um indivíduo – mal informado ou mal intencionado – soltar um boato sobre supostos perigos da vacina, e pronto: logo uma multidão de “fólouers” sai por aí repetindo a mesma asneira. Quando esse indivíduo mal informado (ou mal intencionado) é o presidente da República, a difusão do pânico é mais abrangente.

Agora vem a parte irônica da situação. Quanto mais o presidente esperneia, mais seus devotos repicam o boato e mais gente foge da vacina. Nesse ritmo, o resultado será o alastramento da doença, o que concorre para a superlotação de UTIs e a falência do sistema hospitalar – situação que não interessa a ninguém.

Portanto, o esperneio do presidente surte efeito contrário ao que ele deseja: acaba reforçando a necessidade de impor a vacinação obrigatória, a fim de evitar o colapso da rede nacional de saúde.

É irônico. Mais ainda, é afligente que ele não se dê conta disso.

Fonte: brasildelonge.com
Ler é o único meio de viver várias vezes. (Santo Tomás de Aquino, teólogo italiano)

LUGARES

RONDA - ESPANHA

O ANALISTA DE BAGÉ

AINDA DO DEPOIMENTO DO ANALISTA 

Onde é que o Analista de Bagé tem seu consultório? 

"Pues sou bairrista barbaridade. Só sei viver com conterrâneo. No meio de gaúcho me sinto como bebê no peito: tudo que eu preciso tá alí à mão. Gosto de estar rodeado de gaúcho como braseiro de galpão. Por isso moro no Rio de Janeiro". 

Abri um consultório no Baixo Leblon - que é uma espécie de Bagé com manobrista - e tô com uma clientela louca de especial, e especial de louca. Se eu estranhei um pouco a mudança? Bueno, no princípio me mangueavam as rôpa e ficavam olhando pras minha bombacha como seu eu tivesse sem. Aí eu ameaçava botar mesmo o pirata pra fora ou sair no manotaço e a indiada se apeanava. Que mal hai em ir de bombacha à praia? Pra entrar no tal de mar eu só tiro o lenço encarnado, que côsa sagrada não se lava no sal. No meu primeiro dia na praia veio um guasca, más cabeludo que o caso do Riocentro, e disse: 

- Ó cara, qual é a do narguilé? 

- Que narguilé, tchê? 

- Não desvia, xará. Deixa eu tragá o teu barato que eu tou sem nenhum. Tô puxando até espiral Boa-Noite, falou? Solidariedade, cara. Somos tudo polonês. 

Pôs não é que o peludo quis me tirar a cuia da mão, o que pra gaúcho equivale a xingar a mãe e o Bento Gonçalves juntos? 

Dei-lhe um trompaço que derrubou gente até o Arpoador, pôs que a praia tava cheia. 

Tive problemas com a Lindaura. A chinoca me inventa de aparecer no consultório de gins, com o rabo más apertado que as classe de baixa renda. Mandei ela tirá as calças ali mesmo e já levei pros pelego*, que não posso ver cavalo encilhado sem montar. No segundo dia de Rio a Lindaura já estava chiando feito locomotiva, tchê. Proibi. Na minha terra, mulher que fala chiado ou com erre muito carregado, se não é defeito é desfrute. 

O que dá de pinguancha neste Rio de Janeiro! Teve uma que veio me vê porque nunca tinha tido um orgasmo. Até me perguntou como era. Respondi: 

- Sabe quando a água do chuveiro sai fria e a gente chupa a respiração e faz "ohaaãoaaãum"? 

- Sei. 

- Pôs é assim. 

- E a gente fica toda molhada? 

- Mas o menos... 

Ela não entendeu a teoria e passamos à prática, que comigo é na paleta. Teve quatro, mas eu só cobrei dois. 

* Pelego:o couro e os pêlos da ovelha, usado no Sul como tapete ou revestimento. Muitos gostam de fazer amor sobre um pelego. É sabido que alguns fazem isto, sem tirar o pêlo da ovelha. (Compilado do livro "A velinha de Taubaté", L.F. Veríssimo)

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 27 de outubro de 2020

UM DIA NA VIDA DO PRESIDENTE

UM DIA NA VIDA DO PRESIDENTE
Ruy Castro

Ele não tomava medidas genocidas, não agredia as instituições, não mentia para a nação

"O Sr. Presidente da República acorda invariavelmente às 7 da manhã e, vestido de seu rôbe de chambre, tendo à cabeça uma touca de seda preta, dirige-se para o banheiro, onde toma banho morno. Depois do banho, S. Exa. bebe um copo de leite e, pouco depois, serve-se de café, que deve ser forte, rejeitando-o quando assim não acontece. Em seguida, faz sua toalete e passa a ler os jornais, dirigindo-se depois para a sala particular de sua Exma. esposa, onde conversa algum tempo, sempre com aquele modo frio, seco e pouco expansivo. Às 11 horas, almoça e desce para a sala de despachos no palácio, onde examina os papéis e as questões que tem de decidir.

"Durante o dia conserva-se na sala de despachos, em trabalho com os ministros que o procuram, ou vem à sala de audiências conferenciar com alguma pessoa sobre assunto importante. Nas terças-feiras dá audiências públicas no Salão Jardim, de 1 às 2 da tarde. À 1h30, toma S. Exa. um copo de leite e, às 2, uma xícara de café, continuando na sala de despachos até às 6 da tarde, quando não há muito serviço.

"Dirige-se a essa hora pela arcada interna do palácio para a sala de sua Exma. esposa e daí para a de jantar. É excessivamente sóbrio e não usa de vinhos. Depois do jantar, conversa com a família e recebe as pessoas de sua amizade, ficando às vezes até meia-noite. Nunca altera a voz e até com certa dificuldade se faz ouvir. À hora de dormir, toma um banho morno e, em seguida, um copo de leite. Etc. etc.".

O que se leu acima é parte de um texto de Ernesto Senna, o primeiro repórter brasileiro, publicado no Jornal do Comércio, sobre um dia na vida do presidente Prudente de Moraes, que governou de 1894 a 1898.

Grandes tempos. O presidente da então jovem República não tomava medidas genocidas, não agredia as instituições, não protegia filhos corruptos, não mentia para a nação. Não fazia nada. Melhor assim.

Fonte: Folha de S. Paulo
O homem se desenvolve, melhora ou corrompe, mas não cria nada. (Antoine Fabre d’Olivet)

LUGARES

GRANADA - ESPANHA
(Alhambra)

ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
MULHER SENSUAL É DO CAPETA...

A campanha da coleção de verão de uma marca nacional quase resulta na condenação dos empresários por exposição de objeto obsceno, punível com pena de até dois anos. O crime: veicular ´outdoor´ que, com recursos de luz e sombra, reproduzem o ângulo dorsal de corpos humanos. Um pedido de habeas corpus chega ao STJ.

O relator nega. Mantém o processo na Justiça estadual por entender "inviável, no caso, trancar o inquérito por meio de habeas corpus". 

O revisor discorda. “Essa reprodução da geografia do continente dorsal do corpo humano, conforme vejo nas imagens, não merece reprovação; é digna de premiação, porque é uma obra de arte” - afirma o ministro ao conceder o habeas. 

O voto segue com elogios: "O outdoor explora o visual humano com o maior respeito. Não unicamente como nádegas ou como dorso. Não há o grosseiro, não há o chulo. Há a visão sensível de um artista, através de suas lentes, retratando um pedaço do território de uma criação divina". 

O terceiro a votar lembra que “esse nosso Código Penal é de 1940. O conceito de obsceno naqueles tempos era muito careta. Sexo era tabu nas escolas, assunto proibido entre adolescentes. Para as crianças mais curiosas, falava-se que tinha sido a cegonha. E mulher sensual era coisa de capeta".

O acórdão evoca lembranças a Adão e a Eva: "A própria história do pecado contada naqueles tempos, descrevendo aquele cenário do Éden – um homem, uma mulher, uma maçã, uma serpente, uma nudez – induzia-nos a grande medo e precauções; não de doenças sexualmente transmissíveis porque, quanto a isso, azar de quem pegasse uma gonorreia ou tivesse o púbis invadido por aqueles insetos anapluros, da família dos pediculídeos, popularmente conhecidos como ´chatos´. Caía na vala comum da exclusão, vítima do preconceito”.

Na conclusão, um recado: "Não devemos consentir que a engrenagem estatal, a polícia, o Ministério Público, o Judiciário - que custam muito dinheiro ao contribuinte - se ocupem de maneira perdulária, tocando inquéritos ou processos que, depois de muito tempo, acabam dando em nada exatamente em razão da evidência de que não há crime algum a apurar, a processar, a punir”.

O caso está entre as raridades que também formam a jurisprudência penal do STJ. 

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

COM PELÉ NA PONTE AÉREA

COM PELÉ NA PONTE AÉREA
Ruy Castro

A duas poltronas, sentava-se alguém que sabia mais de sua vida do que ele poderia imaginar

Foi numa tarde dos anos 80. Pelé entrou no avião da ponte aérea e, num segundo, as portas se fecharam, como se só estivessem esperando por ele. Sentado no corredor da segunda fileira, não tive como não vê-lo —mesmo porque Pelé usava paletó laranja, camisa violeta e gravata rosa-choque, seu guarda-roupa na época. E, por acaso, sua fileira era a minha. Como um jato, Pelé passou por mim e pelo homem na poltrona do meio, sentou-se à janela e, ato contínuo, levou a mão à testa cobrindo os olhos, como se tivesse acabado de cair no sono. E assim ficou do Rio a São Paulo, embora eu não o ouvisse ressonar.

Era óbvio que fingia dormir, e nada mais compreensível. Era a sua única maneira de passar os 45 minutos do voo sem ter alguém ao seu lado dizendo-lhe que, apesar de ele ter feito uma média de quatro gols por semana no Corinthians, o sujeito o admirava. Ou se era verdade que tinha perdido gols de propósito para que o 1.000º fosse no Maracanã. Fazer de conta que cochilava era essencial para evitar o contato olho a olho —aquele que, uma vez estabelecido, tacitamente autoriza o fã a se dirigir ao ídolo.

Pelé não imaginava que, a duas poltronas da sua, estava alguém que sabia mais de sua vida do que ele poderia pensar. No caso, eu. E só porque tínhamos alguém em comum: o jornalista Hans Henningsen, o famoso Marinheiro Sueco, consagrado por Nelson Rodrigues.

Hans exercia grande ascendência pessoal sobre Pelé, que lhe devia contatos, conselhos e orientações. E era mais que um amigo para mim. Era um irmão mais velho, e não havia segredos entre nós. Nem mesmo os segredos de Pelé.

Evidente que sempre guardei comigo o Pelé desconhecido que, às vezes, ele me descrevia: o homem que se debatia entre o herói, o potentado, o cidadão do mundo e o Edson ingênuo, inseguro, capaz de erros terríveis, dolorosamente humano —que no fundo é. 

Fonte: Folha de S.Paulo
Se é a razão que faz o homem, é o sentimento que o conduz. (Jean-Jacques Rousseau, filósofo francês, 1712-1778)

LUGARES

NUREMBERG - ALEMANHA

CANDIDATOS 2020: ORIGEM DO SOBRENOME

CANDIDATOS 2020: ORIGEM DO SOBRENOME
José Horta Manzano

Na Europa de 1000 anos atrás, ninguém tinha nome de família – aquilo que conhecemos como sobrenome no Brasil e apelido em Portugal. Vilas e vilarejos eram pequenos, o que dispensava a atribuição de nome às famílias. Todos se conheciam pelo nomezinho de batismo, invariavelmente nome de santo: Josés, Marias, Joões, Claras, Antônios, Anas se sucediam. Sem falar de nomes medievais como Gome, Águeda, Jácome, Sancho, Crisóstomo, Briolanja, Lopo, Violante, Mem, Iseu, Guidania, Pantaleão, Agridônia, hoje praticamente esquecidos.

Caso o povoado tivesse mais de um morador com o mesmo nome, a distinção se fazia por alguma característica. Era o início do longo caminho que, séculos mais tarde, levaria à prática institucionalizada de atribuir a cada indivíduo um nome de família.

Os nomes de família se distribuem basicamente em cinco grupos:

Patronímico
São aqueles em que o prenome do patriarca (ou da matriarca) serviu de sobrenome para a descendência. Na Espanha e em Portugal, os nomes terminados em es/ez são patronímicos: Péres/Pérez (filhos de Pero), Álvares/Álvarez (filhos de Álvaro), Esteves/Estévez (filhos de Estêvão), Nunes/Núñez (filhos de Nuno).

Toponímico
É quando o nome de família tem relação com o lugar de origem ou de residência da família. Exemplos: Aguiar (lugar alto onde havia ninhos de águia), da Costa, do Monte, Napolitano, de Toledo, Ribeiro (da beira do rio), Castelo Branco (nome da cidade), Figueiredo (lugar onde havia figueiras), Azevedo (terreno coberto de azevém – espécie de capim), Nogueira (campo onde se colhiam nozes; equivale ao francês Dunoyer, ao alemão Nussbaumer, ao espanhol Nogales e ao italiano Nocetti).

Alcunha
Alcunha é o que, no Brasil, chamamos apelido. Esta tendência é interessante e muito difundida. Famílias carregam até hoje a lembrança de alguma característica física do patriarca ou pelo apelido pelo qual era chamado. Os antigos eram raramente gentis ao atribuir alcunha: Calvo, Preto, Manso, Gago, Valente, Bravo, Ruço (cabelo vermelho), Pezão.

Nome religioso
Em terras lusofalantes, muitas famílias têm sobrenome relacionado com a religião. Exemplos: de Jesus, Assunção, São Marcos, dos Santos, Batista, Santamaria.

Ofício (profissão)
Frequente em outras terras, não é comum ver o ofício do patriarca transformado em nome de família em Portugal. A profissão de ferreiro é uma das poucas que servem de exemplo: Ferreira (a ferraria é o lugar onde se malha o ferro). Temos ainda: Pastor, Farina, Molino e Trigueiro (o moleiro).

Estudo do nome dos candidatos

Na ausência de eleição nacional em 2020, escolhi trabalhar com a lista dos candidatos a prefeito da cidade de São Paulo. Entre eles, há gente desconhecida, figurinhas carimbadas, um ex-ministro, um ex-governador e até um ex-candidato à presidência da República. Vamos a eles.

Silva Orlando & Antônio Carlos
Silva, por certo o sobrenome mais difundido em nossa terra, é um claro topônimo. (Entre os 14 candidatos, 2 têm esse sobrenome.) A palavra latina silva traduz-se por selva. Bosques e matas, há por toda parte. Assim mesmo, algumas fontes designam certa localidade portuguesa como lugar de origem da estirpe. Tenho cá minhas dúvidas. Por mais férteis que fossem os primitivos portadores desse nome, não dariam conta de engendrar prole tão vasta. A grande quantidade de Silvas no Brasil há de ter outras explicações. Uma delas terá sido a atribuição desse sobrenome a escravos alforriados.

Matarazzo Andrea
Este sobrenome é originário do sul da Itália, especificamente da Campânia (região de Nápoles). É grande a possibilidade de ser um nome de ofício. O patriarca da estirpe, na Idade Média, teria sido um fabricante de colchões (materasso, em italiano atual). Também não é impossível que alguns dos atuais Matarazzo sejam originários de uma localidade com esse nome, situada bem perto de Nápoles, junto ao vulcão Vesúvio; neste caso, será um topônimo.

Hasselmann Joice
Nome alemão pouco difundido, é um topônimo. Informa que, na época em que os sobrenomes começaram a ser atribuídos, a família tinha chegado, não fazia muito tempo, do vilarejo de Hassel, na Baixa Saxônia (norte da Alemanha).

França Marcio
Não é fácil descobrir a origem desse sobrenome. Embora não muito convincente, a explicação mais evidente parece ser de que a família era originária da França. Hesito em adotar essa solução. Na Idade Média, deslocamentos eram raros e, quando ocorriam, a distância nunca era grande. Como é que uma família havia de se mudar da França para Portugal, numa viagem de 2 mil quilômetros? Para mim, este nome vai para a lista dos misteriosos.

Do Val Arthur
É claramente um topônimo. Val é um vale que perdeu o E final (ou que ainda não o ganhou). A família é originária dos baixios de um lugarejo, da parte do povoado situada à beira-rio.

Tatto Jilmar
O nome Tatto é italiano. Há duas possibilidades de abordá-lo. Tanto pode ser de origem sarda (Sardenha, Itália) quanto proveniente da Apúlia (região de Bari, sul da Itália). Seria interessante conhecer o lugar de residência dos antepassados do candidato que emigraram para o Brasil. Caso tenham vindo da Sardenha, o nome é uma alcunha. Nos dialetos sardos, tattusignifica farto, saciado. Como os apelidos eram maldosos, o patriarca pode bem ter sido um homem rechonchudo, gordinho. Caso tenham vindo da Apúlia, o nome é um patronímico, alteração dialetal do nome próprio latino Tatius (Tácio). Um dos primeiros reis de Roma levava esse nome.

Covas Bruno
Não se formou unanimidade sobre a origem deste sobrenome. Parece certo que seja um topônimo. Pode referir-se a alguma localidade portuguesa, que há várias: Covas do Douro, Covas do Barroso, Covas de Ferro. Pode também ser ligado ao lugar de residência do patriarca, que teria vivido, nesse caso, numa região esburacada.

Boulos Guilherme
É nome de origem sírio-libanesa. É a forma árabe do nome cristão Paulo. (A língua árabe não tem o som P, que é substituído pelo B). O árabe tem alfabeto próprio, o que significa que a transliteração para o alfabeto latino varia conforme a língua de quem fizer o trabalho; alemães escreverão Bulos, ingleses preferirão Boolos, franceses grafarão Boulos. O nome do candidato Boulos está transcrito para a língua francesa. A pronúncia original não é Boulos (OU), mas Bulos (U). Naquela região do Oriente Médio, só famílias cristãs dão o nome Paulo a uma criança.

Fidelix Levy
Este nome parece derivar do adjetivo latino fidelis = fiel, o que o instala na categoria dos patronímicos. O x final não aparece no original latino; há de tratar-se de latinização tardia (e equivocada). Variantes são: Fidelio, Fidal, Fidèle, Fedele.

Sabará Filipe
Tudo indica tratar-se de toponímico ligado à velha Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, hoje cidade de Sabará, que começou como acampamento bandeirante nas Minas Gerais. Tendo em vista que, no século 18, todos já tinham sobrenome, a adoção do nome do povoado (Sabará) pode se explicar pelo desejo de uma pessoa de jogar fora o passado e recomeçar a vida com nova identidade.

Russomanno Celso
De origem italiana, este nome é uma alcunha. Tem inúmeras variantes, conforme a região: Russomanda, Rossomanno, Russumanno, Rossomandi, Rossumando, Russomanno. Vista a profusão de variantes e a presença deste nome em todo o território italiano, os estudiosos convergem para uma explicação simples. Russomanno é de formação híbrida, envolvendo uma raiz latina e outra germânica. Ross/russ (latino) significa vermelho. Mann (germânico) é o homem. Os dois juntos designam o homem de cabelo vermelho, ou seja, o ruivo. O patriarca da família devia ter esse atributo cromo-capilar. (Essa foi chique!)

Salgado Vera Lúcia
Não há certeza quanto à origem deste nome. Algumas fontes acreditam que seja uma alcunha pespegada a um patriarca cheio de vivacidade, daqueles que animam o grupo, como o sal anima uma refeição. Pode ser, embora a explicação me pareça tortuosa. Prefiro acreditar numa explicação mais simples, isto é, que se trate de um topônimo. O nome teria sido atribuído aos que viviam num terreno junto ao mar, encharcado de sal, um solo salobro impróprio para cultivo.

Helou Marina
É nome árabe, trazido ao Brasil por imigrantes sírio-libaneses. Designa aquilo que tem sabor doce. Não conheço suficientemente os nomes daquela região; assim, não posso afirmar se é topônimo ou alcunha. Se algum distinto leitor souber, uma cartinha para a redação será bem-vinda!

É interessante ter, na mesma eleição, uma candidata do time doce concorrendo com uma do time salgado. Com as duas, a mesa estará completa e farta. E a eleição terá sabor.

Fonte: brasildelonge.com

FRASES ILUSTRADAS

Definições Infantis - "Vento é ar com muita pressa"

domingo, 25 de outubro de 2020

E QUANDO A ORDEM É ABSURDA?

E QUANDO A ORDEM É ABSURDA?
Hélio Schwartsman 

Civis ou militares, estamos todos obrigados a avaliar a moralidade de nossas ações

Em junho, o presidente Jair Bolsonaro proclamou que as Forças Armadas não cumprem ordens absurdas. Penso que ele tem razão. O direito internacional também. Pelo menos desde os Julgamentos de Nuremberg, ficou estabelecido que a obediência a ordens de superiores não isenta o agente de responsabilidade penal por suas ações.

Assim, se o tenente manda e o soldado atira na nuca do suspeito rendido, ambos cometem homicídio qualificado. Se o presidente manda e o ministro some com a papelada incriminadora, os dois infringem a lei. Estar abaixo na hierarquia pode no máximo ser considerado circunstância atenuante.

Não há escapatória, civis ou militares, estamos todos obrigados a avaliar o tempo todo a moralidade de nossas ações.

Diante disso, o general Eduardo "um Manda e o Outro Obedece" Pazuello, ministro da Saúde, pode ficar em maus lençóis. O militar, ainda nos quadros da ativa do Exército, acatou determinação do presidente de encerrar colaboração com o Instituto Butantan para a aquisição de uma vacina chinesa contra a Covid, a Coronavac. Foi uma ordem absurda?

A questão é traiçoeira. Não penso que governos precisem fazer compras antecipadas de um imunizante que ninguém sabe se vai funcionar. O terreno é suficientemente incerto para não gerar obrigações. Mas é importante atentar para o fato de que a administração Bolsonaro já firmara um acordo desses para obter a vacina da Universidade de Oxford.

O presidente até pode sustentar que o acerto deve valer num caso e não no outro, mas precisaria oferecer uma justificativa racional para isso. Sem essa justificativa, que não apareceu, a ordem se torna de fato absurda, o que daria a Pazuello, seja como ministro, seja como militar, o direito de desobedecê-la.

Ordens absurdas até podem ser executadas, mas só se forem inócuas o suficiente para não causar danos. Caso contrário, o executor se torna coautor.

Fonte: Folha de S. Paulo

BLACK IS BLACK

LOS BRAVOS
Los Bravos foi uma banda beat espanhola formada em 1965, originária de Madrid. O single "Black Is Black" alcançou o 2º lugar no Reino Unido em julho de 1966, e 4º lugar nos Estados Unidos (a primeira banda espanhola a vender mais de um milhão de discos).
O dinheiro nunca deve ser lavado, porque quanto mais você o lava, mais se suja a sua consciência. (Dom José Raúl Vera López, bispo mexicano)

LUGARES

GRANADA - ESPANHA

CHEGANDO ATRASADO

CHEGANDO ATRASADO

Estávamos em Nuremberg percorrendo a cidade antiga que é cercada por muralhas. Nossa guia indicou a hora e o local onde deveríamos estar para irmos ao nosso hotel depois do passeio. Enfatizou que deveríamos ser pontuais uma vez que o local onde o nosso ônibus nos aguardaria não permitia o estacionamento por tempo superior a quinze minutos.

O retorno deveria ser pelo mesmo caminho de acesso, o que importava em passar por um portão medieval e uma espécie de ponte levadiça sobre o que em outras épocas teria sido um fosso a separar/proteger o castelo de invasores.

Tínhamos como colega de viagem um Delegado de Polícia aposentado. Homem calmo, de poucas palavras e muitas fotos, com um bom senso de localização, mas sobretudo pontual, o que conta muito quando se viaja em grupo.

Ao retornarmos ao local combinado, já não sabíamos ao certo o caminho correto. Mas o Delegado ia na nossa frente e por isto alguém falou que se fôssemos atrás dele não teríamos problemas.

Eu estranhei o roteiro por ele empreendido, uma vez que não passou pelo portão medieval, mas sim, ao lado do mesmo, numa rota que contornaria o castelo.

Ponderei que o caminho não estava correto mas fui voto vencido. O faro do policial estava acima de qualquer suspeita e portanto, não se enganaria, foi o que me disseram convictos.

Até então não tínhamos conversado com o Delegado.

O horário marcado estava chegando ao limite quando o Delegado, que ia a nossa frente e sempre fotografando, começou a voltar.

Seguimos a sua trajetória e eu passei a sentir um sabor de vitória ante a evidência de que o nosso improvisado guia havia se enganado. Mas não falei nada em respeito ao bom convívio que deve existir numa viagem coletiva.

Quando chegamos (atrasados) no local de encontro, entramos no ônibus sob as vaias dos pontuais, quando alguém quis se justificar alegando que o Delegado tinha errado o caminho.

Foi então que o Delegado, sem entender nada, falou:

- Eu fui tirar umas fotos daquele lado do castelo e vocês foram fazer o que para aqueles lados?

FRASES ILUSTRADAS

sábado, 24 de outubro de 2020

QUANDO A LEVIANDADE MATA

QUANDO A LEVIANDADE MATA
Hélio Schwartsman 

Chilique presidencial é cálculo político míope e mesquinho

Jair Bolsonaro é o presidente. Foi eleito democraticamente. Mas não tem condição moral nem intelectual de exercer o cargo, do que dá prova a leviandade com que trata a questão da vacina.

Não sei se a Coronavac, a "vacina chinesa do Doria", no linguajar presidencial, vai funcionar bem. Ninguém sabe. Mas, na atual conjuntura, é um dos fármacos mais promissores em fase final de testes. Engajar-se num programa de compra e produção antecipadas é uma opção de risco, mas, se o imunizante tiver sucesso, fazê-lo nos dará um ou dois meses de dianteira no processo de vacinação, o que pode salvar muitas vidas e reduzir o estrago econômico da pandemia.

Vale observar que o governo fez exatamente a mesma aposta no caso da vacina da Universidade de Oxford, o que desmonta por inteiro a afirmação de Bolsonaro de que não se pode avançar na compra de vacinas até que elas tenham sido licenciadas pelos órgãos competentes.

Ao que tudo indica, o chilique presidencial não tem motivação técnica, mas é fruto de um cálculo político míope e mesquinho, que procura agradar à base mais amalucada do bolsonarismo, que tem alergia a coisas feitas por "chineses comunistas", ao mesmo tempo em que se recusa a fazer qualquer gesto que possa beneficiar um rival, no caso, Doria.

Num país um pouco mais sério, um líder que tomasse decisões de vida e morte com base em comentários de simpatizantes em redes sociais e não em justificativas racionais já teria sido democraticamente defenestrado pelo impeachment. Mas estamos no Brasil.

Meu consolo é que a posição dos bolsonaristas é pior que a minha. Quem se opõe ao presidente apenas perdeu uma eleição, mas os que o apoiaram foram traídos. O candidato que falava em acabar com a corrupção, varrer o sistema político carcomido e impor uma agenda ultraliberal se tornou um protetor de corruptos, que come na mão do centrão e está prestes a furar o teto.

Fonte: Folha de S. Paulo
Maridos são ótimos amantes, principalmente quando estão traindo as esposas. (Marilyn Monroe, atriz)

LUGARES

CHARTRES - FRANÇA

A EDUCAÇÃO É UMA ARMA

Nelson Mandela - educação
A EDUCAÇÃO É UMA ARMA

A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo – Nelson Mandela

Símbolo da luta contra o Apartheid, regime de segregação racial que separava brancos e negros na África do Sul, Mandela foi sempre defensor de um sistema educacional mais equânime e digno. “Não está além do nosso poder a criação de um mundo no qual crianças tenham acesso a uma boa educação. Os que não acreditam nisso têm imaginação pequena”, repetiria ele ao longo da vida. Ainda em 1953, antes de passar 27 anos preso por lutar pela democracia, ele disse no Congresso Sul Africano: “Façam com que todas as casas e todos os barracos se tornem um centro de aprendizado para nossas crianças”.

Já como presidente, cargo que exerceu entre 1994 e 1999, Mandela lutou por prover uma educação mais equânime entre negros e brancos. “O presidente Mandela falou com paixão em todos os fóruns possíveis sobre seu compromisso de prover educação de qualidade para todas as crianças da África do Sul, assim como propiciar também uma vida melhor para todos. Ele estabeleceu parcerias valiosas com o setor privado, especialmente para a construção de escolas nas comunidades rurais de todo o país”, diz o Departamento de Educação Básica em seu site.

Mesmo depois de seu período na presidência e já octogenário, Mandela não deixou de lado sua ligação com educação. Em 2003, ele participou do lançamento da rede Mindset, uma organização sem fins lucrativos que provê material educativo e curricular para alunos e professores em vários temas, desde economia, matemática e física até tecnologia e orientação para a vida. Na ocasião, proferiu uma de suas aspas mais famosas e que resume parte de seus valores. “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”, disse ele. E avisou: “Vou usar o resto dos meus dias para ajudar a África do Sul a se tornar mais segura, saudável e educada”.

Sua militância na área continuou sendo frequente, mesmo depois de se retirar da vida pública em 2004. A instituição que leva seu nome e se responsabiliza por levar adiante seu legado ajudou a reformar escolas e a criar centros de excelência de estudos pela África do Sul. No exterior, suas palestras em universidades foram muitas – no site de sua fundação, a Nelson Mandela Foundation, é possível acessar a transcrição de seus discursos. “As instituições de educação superior têm a obrigação de escancarar suas portas. As que oferecem a educação mais rigorosa é que têm a maior obrigação. Vocês têm a qualidade, a habilidade, o apoio necessário para pressionar por isso”, disse Mandela em 2005 a universidade norte-americana de Amherst.

Ainda em 2005, ele criou outra fundação, a Mandela Rodhes Scholarship, destinada a financiar os estudos de jovens líderes africanos. Dois anos depois, ele criou um instituto voltado para promover a educação na área rural de seu país, o Nelson Mandela Institute for Rural Development and Education. “Ninguém pode se sentir satisfeito enquanto ainda houver crianças, milhões de crianças, que não recebem uma educação que lhes ofereça dignidade e o direito de viver suas vidas completamente”, disse ele por ocasião da fundação da organização.

Além de ele em si ter sido um advogado da educação, documentos relativos à sua vida e à sua contribuição para a história também estão disponíveis e organizados, num trabalho feito pela Nelson Mandela Foundation. Todo o material está disponível na plataforma e pode ajudar educadores de todo o mundo a recontar a importância do líder sul africano para os séculos 20 e 21.

O legado de Mandela para a educação, portanto, passa pela defesa firme de uma educação de qualidade para todos, seja na cidade no campo, na escola ou na universidade. A educação, para ele, era uma forma de empoderar e libertar as pessoas, e a liberdade sempre foi sua maior bandeira. “Uma boa mente e um bom coração são sempre uma combinação formidável. Mas quando você adiciona a isso um idioma bem falado ou uma caneta, então você tem uma coisa realmente especial”, dizia ele.

“… os jovens devem tomar para si a responsabilidade de garantir que terão a melhor educação possível para poder nos representar bem no futuro, como futuros líderes.”

Fonte: JB/Patrícia Gomes, in www.revistaprosaversoearte.com

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

AFUGENTANDO A CACHORRADA

AFUGENTANDO A CACHORRADA
Paulo Pestana

Não sei se dá para precisar a data, mas seria útil saber quando é que o Brasil começou o processo que redundou neste cinismo todo. Há tempos vivemos uma epidemia moral que vem acabando com a fama cordata do brasileiro; viramos iconoclastas, detratores, ridículos. Cuspimos para o alto como se não houvesse gravidade.

Foi Antístenes quem, 400 anos antes de Cristo, definiu a doutrina cínica, baseando-se na vida dos cachorros. Ele defendia que os humanos também deveriam ser como os vira-latas, livrando-se de apegos, pudores e convenções sociais para viver sem riquezas ou comodidades. Ficaria orgulhoso de ver o Brasil.

O mais importante hoje parece ser destruir reputações. Desde que, como nas fábulas de La Fontaine, os animais irracionais ganharam voz pelas chamadas redes sociais, o negócio galopou. E assim vamos nos divertindo jogando bosta em quem consegue se destacar de alguma forma.

Por isso, é alvissareiro se deparar com um livro como De Casaca e Chuteiras, onde Silvestre Gorgulho traça um inédito paralelo entre Brasília, Pelé e JK. Gorgulho é fascinado por história e suas datas, e entre suas múltiplas atividades sempre se destacou por ter uma invejável coleção de amigos.

Eternamente inquieto, desconhece o significado de palavras como impossível, impensável, inaceitável ou qualquer outra que apresente o prefixo que se refere a negação ou privação. Amigos passaram anos chamando-o de sonhador, poeta – e ele levou a sério; reuniu poesias no livro Luau de Mim, lançado em plena pandemia.

Mas em De Casaca e Chuteiras, que vem com o subtítulo A Era dos Grandes Dribles na Política, Cultura e História, ele ergue um monumento a heróis brasileiros, como se estivesse imbuído de acabar com essa era de cinismo. A partir de uma confluência de datas, ele traça linhas evolutivas das histórias de Pelé e JK para mostrar uma época em que o Brasil começou a ter orgulho de si próprio.

E tudo começou quando ele recebeu a incumbência de pedir a Oscar Niemeyer o projeto de um monumento em homenagem a Pelé que seria erguido em Santos, a cidade que ele apresentou ao mundo. Gorgulho não apenas conseguiu cumprir a tarefa, como teve a ideia de pesquisar sobre o incontestável rei do futebol, encontrando muitos pontos em comum com a história de Brasília e seu fundador.

Nas pesquisas, Silvestre Gorgulho descobriu até que dona Celeste, a mãe de Pelé, não queria ver o filho jogando bola. Tinha medo dele ter o mesmo destino do pai, Dondinho, tido como grande craque, mas que quebrou a perna jogando pelo Atlético Mineiro e passou muitas dificuldades.

O livro está sendo lançado na semana em que Pelé completa 80 anos de idade e é um grande almanaque sobre o Brasil do final dos anos 50. É também um antídoto contra o baixo-astral desses dias em que perdemos tantos amigos – uns para o vírus, a maioria para a falta de razão – e que nos lembra que ainda é importante ter ídolos.

Ou então podemos seguir o conselho de Antístenes e vamos viver como vira-latas.

Publicado no Correio Braziliense, em 18 de outubro de 2020

Se o homem pudesse ser cruzado com um gato, o homem seria melhor e o gato se deterioraria. (Mark Twain, escritor americano, 1835-1910)

LUGARES

BEJA - PORTUGAL

MR. MILES



LEMBRANÇAS DO QUE FOMOS
Prezado mr. Miles: o que é, na sua concepção, uma atração turistica?
Marcelo Lotario, por email

Well, my friend: eis uma bela questão. Atrações turísticas são lugares, paisagens ou construções que distinguem-se das demais por serem especialmente belas, extraordinariamente esquisitas ou incomparavelmente tristes. Lugares que merecem ser visitados, as I see, não são, por definição, simbolos da virtude humana ou da generosidade da natureza, como muitos costumam acreditar. Veja bem, dear Marcelo: adoramos visitar tumbas e mausoléus, que são, of course, o repositário de mortos. Nessa categoria estão quase todas as catedrais do mundo, sob as quais repousam os ossos de celebridades ou abastados de épocas diferentes. As pirâmides do Egito, erguidas ao custo de milhares de vidas, como mausoléus de longínquos faraós, também não passam de tristes necrópoles e, é claro que sentimo-nos atraídos porque, well, são belas construções e os mortos não dizem nada aos nossos corações. Am I right?

O mesmo raciocínio aplica-se ao Taj Mahal, em Agra, um grande sepulcro construído por Shah Jahan como prova de amor pela sua esposa preferida, Aryumand Banu Began.

Pense, também nos mais magníficos museus do planeta. Todos eles têm, em seu acervo, obras de arte originárias de butins praticados em batalhas do passado, além de objetos subtraídos de povos mais ingênuos ou de gente confiscada, como os judeus na 2ª Guerra. O passado, however, não significa nada neste momento. Não há ética que resista ao passar dos anos. E, of course, não deixamos de ir aos nossos museus preferidos, mesmo sabendo que a origem de seu acervo esteja, probably, inundada de sangue.

Arcos monumentais, esplêndidas torres e monumentos espalhados pelas cidades do mundo são, em sua maioria, a celebração de vitórias militares ou a homenagem aos mortos em batalhas. Parece incrível, my friend, mas o mundo teria menos atrações turísticas se os povos não fossem tão belicosos e a natureza fosse menos explosiva. O que seria, for instance, da maravilhosa ilha de Santorini não fosse a explosão do imenso vulcão da qual ela é apenas uma pequena borda da cratera?

E porque nos sentimos atraídos a conhecer Pompéia, onde corpos petrificados pelas lavas do Vesúvio testemunham, day after day, uma enorme catástrofe do passado?

Tenho pensado sobre essa questão sempre que vejo um palácio construído por um príncipe cruel, um deserto nascido do castigo da seca ou um moai destroçado pela força de um tsunami. São, todos eles, atrações que queremos contemplar. Para lembrarmos, perhaps, de que, de alguma forma milagrosa, somos sobreviventes de toda essa epopeia. E comemorarmos a chance de viajar por todas essas lembranças.

Fonte: O Estadão

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

SAI COFRINHO, ENTRA COFRINHO JR.

SAI COFRINHO, ENTRA COFRINHO JR.
Carlos Brickmann (*)

Chico Rodrigues, DEM, o senador cuja história entrou para os anais, tirou 121 dias de licença do Senado. Assim, a decisão do ministro Barroso – que nome predestinado! – de afastá-lo do cargo por 90 dias foi suspensa pelo próprio ministro, por ter-se tornado desnecessária. Mas o importante nem é isso: é que, licenciando-se por 121 dias, um senador automaticamente passa o cargo ao suplente.

No caso, o suplente é Pedro Arthur Ferreira Rodrigues (DEM), filho de Chico Rodrigues e herdeiro, pelo menos temporário, de seu mandato. E passa a desfrutar das mordomias do cargo. Citando a frase clássica, a família é a base da sociedade. E ninguém, claro, criticará tão belo exemplo de solidariedade entre pai e filho.

A história não termina por aqui. Chico Rodrigues insiste em dizer que o dinheiro localizado no insólito esconderijo era destinado ao pagamento de seus empregados. Vá lá, vá lá, mas que é que pode ocorrer se suas empresas crescerem, graças a seu trabalho e seu tino gerencial, e contratarem mais funcionários? Chico Rodrigues, em vídeo que enviou aos senadores, também diz que, ao enfiar o dinheiro no providencial esconderijo sob suas cuecas, tomou “a decisão mais irracional de sua vida”.

Engano: a decisão mais irracional de sua vida foi candidatar-se; e a dos eleitores, dar-lhe o voto. Mas aceitemos. Só que, quando alguém está prestes a ser preso, costuma mastigar e engolir as provas. Errar o lado do aparelho digestivo é novidade.

(*) Carlos Brickmann é jornalista, consultor de comunicação e colunista

Fonte: Brasildelonge.com