advogado (OAB-RS nº 62.120)
Quando
chegou ao trabalho, a chefe do Departamento de Taquigrafia e
Estenotipia do Foro Central encontrou o seu setor em polvorosa. Tudo por
causa de uns advogados que fizeram questão de registrar em ata suas
considerações sobre o Judiciário.
– O que está acontecendo aqui? – indagou a chefe.
A taquígrafa que realizou a degravação se apressou em responder:
–
Foi um dos trabalhos mais difíceis que já realizei. Foi uma confusão:
vários advogados do mesmo escritório falando ao mesmo tempo, um se
atravessando no discurso do outro, todos querendo expressar os seus
sentimentos e opiniões. Não dava nem pra identificar quem disse o que.
Tive que voltar e avançar a fita várias vezes até conseguir registrar
tudo o que foi dito. Mas o pior não é nem isso. Relendo a degravação,
percebi que os tais advogados só queriam mesmo era ofender a nossa
classe, dos serventuários da justiça.
– Deixe-me ver a degravação.
A chefe retira o papel das mãos da servidora e, após alguns instantes de leitura, devolve-o com a seguinte indagação:
– Você tem certeza de que não fez confusão ao ficar avançando e retornando a fita?
– Acho que não fiz confusão nenhuma. Afinal, o texto ficou bem claro, não ficou?
– Pois então releia o documento, em voz alta.
(Segue, na íntegra, o texto da degravação:)
– Bom dia!
– Chegando no cartório, o que recebemos foi um belo de um [...]
– Atendente preguiçoso e apático.
– Não vislumbramos nem sequer um [...]
– Sorriso no rosto dos servidores.
– Tudo o que desejamos é ver, nas varas cíveis, [...]
– Menos desorganização e mais eficiência.
– O que temos testemunhado, ultimamente, é [...]
– A resistência dos magistrados em receber os advogados em seus gabinetes.
– É flagrante como diminuiu [...]
– O coleguismo entre servidores e advogados.
– Devemos perseguir, isto, sim, [...]
– A implantação de metas rigorosas para os funcionários do Judiciário.
– Se assim fosse, algo que ficaria em segundo plano seria [...]
– A relação mais direta e informal entre os operadores do Direito.
– Nós, advogados, temos por objetivo [...]
– Fazer o nosso trabalho e nada mais.
– Não pensem que estamos aqui para [...]
– Auxiliá-los na árdua tarefa de administrar a prestação jurisdicional.
– Nossa obrigação é nos fazer disponíveis [...]
– Às nossas famílias e clientes.
– Se precisarmos, daremos as costas [...]
– Às reivindicações do Judiciário.
– Estamos determinados a atender [...]
– Apenas aos nossos próprios interesses.
– Os senhores não nos verão mais dar atenção [...]
– A todos os servidores!
E assim que a taquígrafa concluiu a leitura, a chefe lhe fez um estranho pedido:
– Agora, releia tudo de novo só que do fim para o início, e diga-me se você realmente não fez confusão...
Fonte: www.espacovital.com.br
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