domingo, 6 de setembro de 2020

SECRETÁRIA DA HORA

SECRETÁRIA DA HORA

Nos tempos da advocacia, lá pelos anos setenta, fiz parte de um escritório cuja clientela sempre aumentava. 

Tínhamos uma secretária excelente. Seu nome era Marli. 

Com o volume de serviço aumentando, acabamos aumentando para quatro o número de advogados, o que acarretou a necessidade de admitirmos uma auxiliar para a Marli, principalmente para serviços externos. 

Contratamos uma uma garota que ainda precisava ser lapidada, enquanto que a Marli, como estudante de Direito, permaneceu auxiliando-nos internamente. 

No período vespertino sua jornada de trabalho encerrava às 17,00hs. Daí em diante, a nova secretária recepcionava clientes e e dava conta dos atendimentos telefônicos. 

Eu tinha por hábito deixar a porta da minha sala completamente aberta só vindo a fechá-la quando do atendimento a algum cliente. 

Certa tarde, sem ninguém para atender, elaborava uma petição qualquer quando percebi que alguém na sala de recepção estava realizando uma ligação telefônica. Logo após ouvi, naquela voz inconfundível: "dezessete horas, vinte minutos e dez segundos" e logo em seguida a novel secretária agradecia à informação com um "obrigada". E dava uma discreta risadinha de admiração. 

Uns dois ou três minutos depois a chamada e a resposta se repetiram, assim como se repetiu um respeitoso "obrigada". E outra vez a risadinha. 

Em suma, ela ligava para a rádio-relógio. 

No dia seguinte dei conta do ocorrido para a Marli que depois nos disse que teve um imenso trabalho para convencer a sua auxiliar de que aquela voz era uma gravação e que não era necessário agradecer. 

Com certeza ela aprendeu muito mais coisas com a Marli.

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