SAIA JUSTA EM AUDIÊNCIA
Por Anna Maria Petrone Pinho,
advogada (OAB/RS nº 11.819)
A professora aposentada está com seu Renault Clio parado no semáforo, quando sofre violento choque na traseira do seu veículo.
Da potente caminhonete causadora do acidente desce um casal jovem oferecendo R$ 1 mil para encerrar o caso. A lesada não aceita e chama a EPTC. O motorista fornece endereço (inverídico) e é constatado que o proprietário do veículo é um seu irmão, advogado.
A lesada tenta, via telefonema, o ressarcimento; mas é repelida com rispidez pelo pai dos responsáveis pelo fato delituoso, que manda que ela "procure seus direitos".
Contratada pela professora-vítima, proponho no JEC ação contra os dois réus. Na audiência de conciliação, os réus não reconhecem a culpa pelo acidente. O procurador tenta demonstrar culpa concorrente.
Na audiência de instrução, a juíza leiga pergunta:
- Há possibilidade de um acordo?
O dono do carro responde rápido:
- Sim, eu e a senhora fulana já fizemos um acordo por telefone.
Susto! O procurador dos réus e eu nos olhamos perplexos. Nenhum de nós dois sabe do tal acordo. Num impulso repilo:
- Não é verdade!
O réu perquire a autora:
- A senhora não fez acordo comigo por telefone?
- Sim! - responde minha cliente, laconicamente.
Eu, mesmo desconhecendo a conversa telefônica, argumento:
- A minha cliente disse ´sim´, mas eu vou pensar. Se acordo houvesse não estaríamos aqui, com orçamentos, fotografias, tomando o tempo de Vossa Excelência...
O procurador dos réus, refeito da surpresa, tenta provar a existência do suposto acordo de R$ 2 mil.
A juíza, já impaciente, pergunta à autora:
- A senhora confirma, ou nega, que tenha composto com os réus?"
- Eu disse o que a doutora falou, ´sim, eu vou pensar´.
Na saída, digo palavras duras à minha cliente. O feito prossegue. Sentença: procedência da ação. Recurso: improvido por unanimidade. Minha constituinte recebe importância muito superior aos R$ 2 mil.
Meus honorários? Não recebi! Mas tive uma recompensa: um telefonema do réu condutor do veículo causador do acidente, estudante de Direito:
- Quando me formar quero ser como a senhora, doutora!
Fonte: www.espacovital.com.br
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