Embora se declare um freudiano“mais ortodoxo que suspensório e pastilha Valda”, o analista de Bagé tem experimentado com novas técnicas que, eventualmente, podem ser adotadas por outros analistas. Foi dele, por exemplo, a ideia de fazer análise em grupo com sanfona. E se algum paciente quiser, em vez de falar, trovar, “pos que trove”. O analista de Bagé responde em cima. Foi o caso daquele moço que começou:
“Tenho medo do escuro
qualquer coisa me dá ânsia.
Fujo da sombra do muro
do preto quero distância.
Suo frio e desconjuro...
Isso é trauma de infância?”
Ao que o analista de Bagé respondeu:
Isso é trauma de infância
mas não é a explicação.
Conheço piá de estância
que monta em bicho-papão.
Não tem segunda instância:
tu é que é um grande cagão.”
Teve aquela paciente que cantou:
“O meu marido me ama
mas regrediu, caso feio.
Trouxe de casa o Autorama
e a sua mãe também veio.
Quando me leva pra cama
sempre põe a mãe no meio.
E o analista:
“Sempre põe a mãe no meio
essa não é uma boa.
Tu deve andar com receio
que nem velha em canoa.
Diz pra ele que o Édipo Rei, ó...
acabou cego e rindo à toa”.
Um cantou:
Pra macho que usa espora
china é lenço de papel.
Sempre usei e joguei fora
e comia como mel.
Não sei o que houve agora
ou virei veado ou pinel”.
E o analista:
“Ou virou veado ou pinel
e foi muito merecido.
Mulher não foi feita no céu
pra guasca assim ser servido.
Não é lenço de papel
ele é lenço de tecido.
(VERÍSSIMO, Luis Fernando. OAnalista de Bagé, Porto Alegre : L&MP Editores, 1995, p. 216)
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