Ainda antes de vir ao Brasil para a Copa do Mundo, nosso sempre solerte viajante decidiu levar Trashie, sua raposa das estepes siberianas, para curtir um restinho de frio na região de La Brévine, a mais invernal da Suíça. "Foi a maneira que encontrei de lhe dar certo conforto depois de um triste episódio no Condado de Essex", conta mr. Miles. "Estávamos, ambos, caminhando na área rural quando Trashie desentendeu-se com um par de irish setters. Os cães encarnados bateram em retirada, mas Trashie, oh my God, foi pisoteada por um cavalo que galopava nas proximidades. Por sorte (e algum conhecimento) consegui reduzir a fratura de minha mascote no próprio local do incidente e produzi uma tala improvisada com duas lascas de madeira. Agora ela está melhor e já toma suas três doses diárias de single malt. Estou certo de que poderá me acompanhar na viagem ao Brasil." A seguir, a pergunta da semana:
Mr. Miles: quais são os lugares que o senhor ainda precisa conhecer antes de morrer?
Lucas Belintov, por e-mail
"Well, my friend: sua pergunta me parece inspirada nessas estranhas listas que estão na moda: '500 lugares para conhecer antes de morrer', '100 endereços escondidos de Nova York', '250 vulcões que ainda não explodiram nesta década no Chile', '150 obras do British Museum que foram retiradas de outros países', '425 tipos de chá da China Oriental'. Vou lhe dizer uma coisa: estou farto desses clichês e, therefore, ainda vou publicar o meu próprio livro '150 chatos que passam a vida transformando emoções em números'. Don't you agree?
However, respondendo à sua questão, gostaria de deixar algumas coisas claras para você e os demais leitores. Gozo de saúde perfeita (exceto pelas recidivas da malária que adquiri no antigo Congo belga), sinto-me extraordinariamente bem, tenho amigos em todas as partes do planeta e uma vida um tanto peregrina que, nem por isso, me faz perder a sensação do que é um lar. The world is my home, anoto receoso, na esperança de não soar piegas, mas com a certeza de que estou sendo verdadeiro.
Em outras palavras, morrer não faz parte de meus planos imediatos ou futuros. Vive mais tempo quem gosta mais da vida, I presume. E, of course, quem não se mete na dos outros.
Algum dia - se aquilo que acontece aos outros se confirmar -, talvez eu também tenha de deixar de existir. Será, unfortunately, o fim da jornada. Mas, mesmo que, como Matusalém, eu viva 969 anos (quem sabe um pouco mais porque a humanidade está se tornando mais longeva), eu não seria capaz de responder à sua pergunta.
Quero conhecer o outro lado de cada rio, o fim de cada floresta e o topo de cada montanha. Quero dobrar todas as esquinas e percorrer cada trilha, já que, se elas existem, é porque levam a algum lugar. Quero aspirar todos os perfumes, porque eles vêm das flores e as flores dizem da terra mais do que qualquer manual. E o mesmo quero dos sabores, das pessoas, dos nascentes e poentes em cada estação do ano.
Sou, as you see, um bocado ambicioso, mas essa ambição não tem a ver com dinheiro, poder ou arrogância. Quero, pela simples vontade de querer, andar pelo mundo um dia após o outro. E, por mais que eu o faça, jamais chegarei a conhecer tudo o que há por aí. Pois, ainda que eu fosse imortal, restaria sempre a chance de começar a jornada de novo. Porque os caminhos, as gentes, as cidades e tudo o mais - eles mudarão e eu mesmo mudarei. And, of course, essas são as condições que tornam a existência tão fascinante. Don't you agree?"
Fonte: O Estadão
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