O NOVO NORMAL
Carol Rache
Será mesmo que o novo normal vai ser novo?
O coletivo pode estar diferente agora, mas como vai ser quando a vida voltar a andar?
Há um clichê bem típico da virada do ano que diz que “o ano não vai ser novo se você não for”. Como diria Woody Allen: “cliche, but true”. Não interessa se 31 de dezembro representa um símbolo forte que nos permite renovar as esperanças de uma vida melhor, a verdade é que nada muda se a gente não muda.
Claro que nem por isso os rituais deixam de ter valor. Eu mesma sempre aproveito o simbolismo do ano-novo e escolho uma palavra para guiar os 12 meses seguintes. E mal sabia eu o que me esperava em 2020 quando elenquei “fé” como meu mantra da virada.
É certo que novos ciclos inspiram novas atuações. A segunda-feira que o diga, né? Acabou se tornando o dia mundial das mudanças alimentares. Para alguns, de fato, funciona como um gatilho que impulsiona movimentos até então não praticados. Para outros tantos, contudo, acaba sendo uma ilusão que posterga a necessidade de ação. Afinal, a segunda-feira, sozinha, só oferece possibilidades.
Data nenhuma traz mudanças que nós não estejamos empenhados a realizar. Ninguém acorda na segunda-feira com hábitos transformados. Existem aqueles que se movem e constroem um mindset diferente e aqueles que ainda acreditam que, na madrugada de domingo, serão enfeitiçados pela poção mágica da dieta.
Mas o que isso tem a ver com o “novo normal”?
Estamos diante de um cenário que tem tudo para nos transformar. A vida está sugerindo de forma muito clara um movimento de parar, respirar, rever e mudar. É um convite muito bem explicado, mas que, se mal interpretado, pode nos levar a manifestar a “síndrome da segunda-feira fit”.
Em outras palavras: o normal não vai ser novo se nós continuarmos os mesmos. O coletivo pode estar diferente agora, mas como vai ser quando a vida voltar a andar?
Uma coisa é mudar a atuação porque o contexto nos obriga. Outra bem diferente é tomar uma decisão interna de rever prioridades, hábitos, escolhas de consumo, rotina, valores.
Será que mudamos ou estamos apenas impedidos de agir como antes? Será que houve, de fato, uma revisão interna que nos fez dar algum passo diferente? Será que estamos prontos para sustentar a dieta quando a segunda-feira chegar ou estamos, no fundo, agindo apenas como pacientes de spa – que só não comem porque a oferta não existe? Não sei vocês, mas tenho visto muito contrabando de chocolates por aí, diga-se de passagem....
Ando confusa sobre o que de fato é o “novo normal”. É só um jeito novo de fazer business e se comunicar no Instagram ou se refere a uma forma diferente de interagir, viver, sentir e, em última instância, ser?
Será que o home office reduziu nossa pressa? Será que o e-commerce conteve os exageros? Será que o cancelamento nas redes sociais é mesmo fundamentado no senso de coletividade?
Desconfio que, para quem já estava interessado em se transformar, a quarentena acabou sendo uma incubadora que permitiu um mergulho profundo, talvez menos disponível no nosso contexto anterior. Sabe quando a gente já estava comprometido com uma alimentação saudável, mas acaba usando a segunda-feira para renovar o estoque de vegetais e testar novas estratégias? Para quem já estava enfrentando as próprias sombras, foi só uma oportunidade de ir mais fundo.
Mas, para quem não criou ainda disponibilidade de olhar para dentro, esperar que a pandemia traga novas versões é como esperar que a segunda-feira remova magicamente os quilos extras que a gente ainda não se movimentou para eliminar.
Fonte:https://www.otempo.com.br
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