“CUJAS SÃO ESTAS COROAS?”
Antigamente chegou-se a usar o atual pronome relativo cujo como pronome interrogativo, por herança de um adjetivo "cujus, a um" que existia no latim arcaico: Cujas sõ estas coroas tã esplandecentes? Ou Cujo filho és? A "tradução": De quem és filho? De quem são estas coroas?
No português moderno, cujo é pronome relativo que se emprega em sentido possessivo. Vale por de quem ou de que, do qual. É imediatamente seguido de um substantivo ou palavra substantiva, com quem deve concordar flexionando no feminino (cuja) e no plural (cujos e cujas).
Sendo pronome relativo, ele se reporta a um substantivo mencionado
anteriormente, ou seja, indica uma posse de alguém ou de algo referido
antes:
1. Sofrem as mães cujos filhos vão à guerra.
2. O problema cuja solução buscamos não é exclusivo da nossa época.
3. Dias depois conheceu Orfeu, cujo irmão havia sido seu companheiro de batalhas.
4. Por indicação do professor, leram dez livros no semestre, cujos autores são considerados pós-modernos.
5. Os astronautas estudaram o volume dos oceanos, cuja poluição pode interferir no equilíbrio ecológico do planeta.
6. Quando chegamos àquelas terras, o primeiro impacto visual foi dado pelos imensos campos cultivados, cujo amarelo intenso inspirou a imaginação do pintor Van Gogh.
Você pode conferir o entendimento e uso correto do pronome nessas frases
fazendo uma leitura de trás para frente: trata-se de 1) os filhos das
mães; 2) a solução do problema; 3) o irmão de Orfeu; 4) ou autores dos
10 livros; 5) a poluição dos oceanos e 6) o amarelo dos campos
cultivados.
Esquematizando:
- o pronome cujo deve ter um antecedente e um consequente, ambos substantivos e um diferente do outro;
- deve concordar em gênero e número com o substantivo consequente;
- não admite artigo após si – *cujos os filhos* – pois esse pronome já contém em si o artigo definido.
ERROS POSSÍVEIS MAS EVITÁVEIS
Errado: Gostei do CD cujo me emprestaste. [não tem consequente, ou seja, não tem substantivo depois]
Certo: Gostei do CD que me emprestaste.
Errado: Li o livro “O Vermelho e o Negro” de Stendhal, cujo livro me encantou. [O consequente é repetição do antecedente]
Certo: Li o livro “O Vermelho e o Negro” de Stendhal, que/o qual me encantou.
Ou: Li o livro “O Vermelho e o Negro” de Stendhal, cujo enredo me encantou.
Errado: Saiu nova edição da revista Cultura, cuja a tiragem é de mil exemplares. [ocorrência proibida: o artigo definido o, a, os, as junto com o pronome]
Certo: Saiu nova edição da revista Cultura, cuja tiragem é de mil exemplares.
Errado pela norma-padrão: Tenho um amigo que o pai dele é general.
Certo: Tenho um amigo cujo pai é general.
CUIDADO ESPECIAL
Observar sempre o uso adequado da preposição antes do pronome relativo, conforme tratado na coluna Não Tropece na Língua 9:
- Este é o romance a cujo autor me refiro.
- Votaremos no candidato com cujas ideias concordamos.
- Fomos a Jerusalém, de cujas colinas tiramos belas fotos.
- Os consumidores recebem botijões por cuja segurança as empresas de gás devem se responsabilizar.
Enfim, é pela sofisticação do seu emprego que o pronome cujo é praticamente uma exclusividade da linguagem culta escrita. Mas vale a pena aprender a bem usá-lo.
Fonte: www.linguabrasil.com.br
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