NEM DIPLOMACIA, NEM CINOFILIA
Fabio Vendrame
De volta da Crimeia, nosso incansável viajante britânico manda agradecer aos mais de 4 mil seguidores de sua fan page no Facebook e pede aos que ainda não a visitaram que o façam com presteza. “Tem sido uma experiência maravilhosa e estou, finalmente, aprendendo a interagir nesse estranho mundo cibernético.” A seguir, a pergunta da semana:
Prezado mr. Miles: ler sua coluna é sempre um prazer. Sou curiosa, portanto farei logo duas perguntas: o senhor deve ter lido sobre a recusa do vice-presidente da Colômbia ao cargo de embaixador de seu país no Brasil, alegando que o clima não é propício ao seu pastor alemão. O senhor também já refez itinerários devido à sua querida raposa das estepes? A segunda: eu e minha irmã ficaremos hospedadas na casa de um casal de conhecidos dela, por 18 dias, em Jerusalém. Gostaria, obviamente, de arcar com nossas despesas. Como proceder sem ser indelicada pelo excesso (seria soberba) ou insuficiência (mesquinhez). Grata, Miriam Aguiar, por e-mail
“Well, my dear, vamos por partes – como Jack, the Ripper. A exótica mensagem do ex-possível embaixador da Colômbia no Brasil deve ser, for sure, uma piada malsucedida. Mas digamos, for instance, que ele de fato acredite que o seu pet vá sofrer com o ar seco de Brasília. Nesse caso, fica evidente que ele não sabe nada sobre cinofilia nem, tampouco, sobre diplomacia. Ou seja: é melhor que fique mesmo como vice-presidente, já que, na maior parte das vezes, trata-se de cargo cerimonial e sobrar-lhe-á muito tempo para pentear as melenas de seu cachorro. Quanto aos colombianos, I presume, o melhor que eles têm a fazer é rezar para que o presidente Juan Manuel Santos não se ausente. Do you know what I mean?
Sobre Trashie, minha querida raposa das estepes siberianas, houve uma única vez em que fui obrigado a alterar meus planos. As you know, Trashie alimenta-se exclusivamente de whiskies com mais de 12 anos ou single malts de qualquer idade – o que a torna muito sociável e, sometimes, muito dispendiosa. Certa ocasião, quando viajamos para as Ilhas Maldivas, um arquipélago muçulmano, tivemos nosso estoque de bebidas apreendido no aeroporto de Malé.
Fiquei impressionado com a intolerância das Maldivas em relação ao álcool e pensei em seguir adiante, rumo às Seychelles, imediatamente. Fui esclarecido, however, que os hotéis situados nas ilhas do arquipélago vendem bebidas alcoólicas sem restrições. Assim, dirigi-me ao hotel gerenciado por um velho amigo, disposto a pagar pelas doses necessárias à dieta de Trashie. Qual o quê! As bebidas, já que proibidas no país, eram vendidas no bar do hotel a preço de ouro! E como minha mascote não aceita meias medidas – e meu bolso, by the way, não tolera preços aviltados –, decidimos nos retirar no dia seguinte. A boa notícia é que as garrafas de Trashie foram devolvidas antes do embarque.
Quanto à outra questão, a pergunta me parece incompleta. Se você e sua irmã vão hospedar-se na casa de ‘conhecidos’ dela sem que a anfitriã tenha definido um preço prévio, presumo que se trata, in fact, de uma boa amiga. Conhecidos não abrem suas casas para conhecidos, até porque, curiosamente, conhecidos, usually, não se conhecem – apenas sabem de quem se trata.
Nesse caso, dear Miriam, as boas maneiras indicam que, durante a estada, será muito simpático se você trouxer, diariamente, mimos como doces, vinhos ou frutas. E, claro, não se esqueça de levar, do Brasil, uma bonita lembrança para sua anfitriã. Pode ser qualquer coisa durável que marque a sua passagem pelo lugar. Menos, of course, um berimbau, que é quase tão incômodo de carregar quanto um sombrero mexicano.”
Fonte: O Estadão
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