quarta-feira, 12 de agosto de 2020

MORREU O INVENTOR DO MOUSE

MORREU O INVENTOR DO MOUSE
Ruy Castro

Chamava-se William English e só agora sabemos que ele existiu

Se, neste momento, você estiver manipulando um mouse, deve isso a um sujeito que morreu outro dia: o engenheiro e pesquisador americano William English, aos 91 anos. Só agora soube que ele existia, e foi pena. Tenho fascínio por pessoas que criaram ou ajudaram a criar ferramentas que se incorporaram à nossa vida e que, de tanto usá-las, passamos a achar que sempre existiram. Quem inventou, por exemplo, o abridor de lata? A espátula para calçar sapato? O coça-costas? A gravata-borboleta? A vitamina de abacate?

Você dirá que essas coisas são irrelevantes e não se comparam às façanhas da tecnologia. Do que discordarei, argumentando que todas são ou foram da maior importância para mim, inclusive a gravata-borboleta, que usei em certa fase. Mas é claro que a tecnologia sempre levará vantagem. É mais fácil descobrir o inventor do desintegrador de partículas que o da batedeira de bolo. Mesmo assim, duvido que, mesmo entre os que passam o dia com um mouse na mão, muitos soubessem de William English.

Ou de Douglas Engelbart, que, em fins dos anos 50, perguntou-se por que os computadores tinham de ser aqueles trambolhos, que trabalhavam com cartões perfurados e ocupavam salas inteiras. Engelbart concluiu que a solução era uma tela com imagens manipuladas por um cursor. Mas como chegar a isso? English, seu colega no Instituto de Pesquisa de Stanford, na Califórnia, entendeu o que ele queria dizer —o mouse— e fabricou-o para ele.

A primeira demonstração foi num auditório em San Francisco, em 1968. Donde o mouse surgiu 15 anos antes que Steve Jobs pusesse um computador na nossa mesa —o que ele não poderia ter feito sem o mouse.

English precisou morrer para que os jornais falassem dele. Em breve, alguém inventará outra coisa e o mouse ficará tão pré-histórico quanto os cartões perfurados. Os quais, na minha opinião, tinham muito mais charme.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

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