sábado, 1 de agosto de 2020

EDUCAÇÃO HÍBRIDA

EDUCAÇÃO HÍBRIDA: OUTRO TIPO DE PRESENÇA NO MUNDO
Aylê Quintão*
…As portas estão abertas para a “Educação híbrida”. A legislação em vigor permite que sejam oferecidos até 40% dos conteúdos e atividades de um programa presencial no formato de Ensino à Distância (EAD). Os custos tecnológicos são uma barreira. Nada que o Fundeb não possa vir a resolver. Reduzi-los exigiria padrões, que se conseguiria com escala…
A data de retorno às aulas nas escolas está se aproximando. Um novo modelo pedagógico deve sair do forno. Tende mesmo a ser batizado como “Educação híbrida”, método de ensino que combina a interação presencial com a online no processo educativo que se desencadeará no pós-Covid e, sobretudo, a partir de 2021.

Os políticos estão interessados mesmo é com o Fundeb – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica – e seu orçamento de R$ 180 bilhões para ser redistribuído entre os 5.500 municípios. Poucos, inclusive no meio acadêmico, pararam ainda para avaliar o impacto da inteligência artificial que começará a entrar em campo nas escolas.

Os professores vão ter de virar madrugadas e revirar bibliografias – até de games – procurando alternativas didáticas para adaptar-se ao meio digital. Se já não estão fazendo, estão perdendo tempo ou conspirando em silêncio contra a nova metodologia, que pode deixar muita gente boa e muita instituição de fora. Ensino presencial e online prometem andar juntos. E a pandemia? Ah! A pandemia?!…Isso é preocupação para os mais idosos, ouvi alguém dizer.

A “Educação híbrida” manterá a conectividade virtual do aluno com a escola, com os professores e com os colegas. O espaço físico e a forma de ensinar e de aprender vão mudar. Já estão mudando. Essas gerações galácticas tem linguagem, glossário, códigos e soluções próprias para se fazer representadas no mundo. 

Os estudantes, na faixa entre 12 e 25 anos, consideram-se verdadeiros atletas da saúde e, por isso, imunes: são “nativos digitais”, filhos do Terceiro Milênio e da ultramodernidade (Pfohl, 2014). Pertencem àquelas gerações estigmatizadas por suas habilidades e velocidade de raciocínio como X, Y, Z. Seria um tipo de “novo normal”. Essa presunção, que tende a se transformar em uma ortodoxia, recomenda que os estudantes sejam agora o centro da aprendizagem. São eles que procurarão o conhecimento e o construirão. O professor será uma peça estratégica desse conhecimento, procurando aproximá-los do real.

A “Educação híbrida” manterá a conectividade virtual do aluno com a escola, com os professores e com os colegas. O espaço físico e a forma de ensinar e de aprender vão mudar. Já estão mudando. Essas gerações galácticas tem linguagem, glossário, códigos e soluções próprias para se fazer representadas no mundo. Diferenciam-se ainda em concepções de vida: uma babel cultural provocadora de novos sentidos. Significa quase uma sentença de morte para os heróis iconografados na história e, no presente, para o cidadão analógico – aqueles que não dominam habilidades digitais.

Esse quadro não deveria ser surpresa para ninguém. Há 10 a 15 anos, o criativo publicitário Nizan Guanaes, envolvido em campanhas educacionais, chamava a atenção para o fato de que: “se alguém pretender pensar diferente e ver como tudo está mudando, ouça os filhos, os netos, os amigos deles”. Segundo Vargas Llosa, aqueles respeitáveis senhores de barba branca que inspiraram até recentemente a juventude da segunda metade do século XX passaram a ser vistos como dinossauros (Rupturas, 2014, p.161).

As portas estão abertas para a “Educação híbrida”. A legislação em vigor permite que sejam oferecidos até 40% dos conteúdos e atividades de um programa presencial no formato de Ensino à Distância (EAD). Os custos tecnológicos são uma barreira. Nada que o Fundeb não possa vir a resolver. Reduzi-los exigiria padrões, que se conseguiria com escala. Esta parece ser a meta das novas políticas públicas para a educação. Os conselhos de educação temem que a amplitude do modelo, possa vir a precarizar as formações profissionais e científicas. Afinal, a classificação das universidades brasileiras no ranking das melhores está muito baixo. A qualidade da educação nesse novo modelo carece ainda de formulações mais pedagógicas consistentes.

Ao chegar à educação superior, sobretudo nos cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) o ensino remoto vai permitir ao aprendizando estudar no horário que achar mais conveniente, montar seu currículo de conformidade com o tema científico ou profissional pelo qual optou e cursar as instituições acadêmicas de maior prestígio: Harvard, Columbia, Oxford, Sorbonne e até brasileiras como a USP, a UnB, a UFSC, a UFPe e algumas privadas que, tecnologicamente, começam a andar à frente das públicas.

*Aylê-Salassié F. Quintão – Jornalista, professor, doutor em História Cultural. Vive em Brasília

Fonte: http://www.chumbogordo.com.br

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