DÁ PARA VOLTAR ÀS AULAS?
Hélio Schwartsman
Há uma lista telefônica de argumentos para antecipar a retomada, mas a pergunta é se é seguro ou não
Reabrir ou não as escolas é a dúvida hamletiana que agora assombra pais, educadores, sanitaristas e autoridades. João Doria, como o príncipe dinamarquês, hesita e adiou para outubro o reinício das aulas presenciais no estado de São Paulo.
Há uma lista telefônica de bons argumentos para antecipar tanto quanto possível a retomada, mas nem creio que seja necessário repassá-la. São poucos os que não estão convencidos da importância da volta às escolas. A pergunta que todos se fazem é se é seguro ou não retornar.
Em vários países europeus, as aulas presenciais foram retomadas sem reflexos significativos na circulação do vírus. É uma prova de princípio de que reabrir é possível. Mas, como sempre acontece em ciência, os erros são mais informativos do que os acertos. E um caso bem documentado de erro com o qual podemos aprender é o de Israel.
O país era visto como uma história de sucesso. Passara bem por uma primeira onda do vírus e planejava voltar às atividades com cuidado. A recomendação era para que as escolas retomassem as aulas, primeiro só para os mais novos, depois para os mais velhos, com turmas reduzidas e medidas de higiene e distanciamento.
O problema é que o aparente sucesso na contenção da epidemia subiu à cabeça dos israelenses, que, por “hýbris” (soberba), cometeram erros em série. A retomada gradual logo se tornou reabertura total, impossibilitando o distanciamento entre as carteiras. Uma onda de calor fez com que as autoridades permitissem que os alunos deixassem de usar máscaras e que as janelas fossem fechadas para o ar condicionado funcionar.
Em pouco tempo, centenas de escolas registraram surtos da doença, que se espalhou para as comunidades. Israel vive hoje uma segunda onda de Covid-19.
O lado bom de o Brasil ter se saído tão mal no controle da pandemia é que tendem a zero as chances de cometermos erros motivados pela “hýbris”.
Fonte: Folha de S. Paulo
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