A PIADA DO CHEFE
Fernando Albrecht
Lembro um cartum da antiga revista O Cruzeiro, em que aparece o escritório de um magnata, gordo, careca e baixinho, charuto na boca. Ao redor um monte de gente, boy, secretária, um diretor engravatado, um funcionário com prancheta na mão, outro com bloco de notas, todos eles se dobrando de tanto rir. Até uma miniatura de caveira na mesa está rindo, assim como uma foto antiga do fundador da empresa, obviamente já morto, o cara chega a chorar de tanto rir. O título do cartum: O patrão conta uma piada.
Se o patrão for presidente da República ou governador o quadro é igual. Porém – e sempre tem um – desde que as pesquisas mostrem a autoridade em questão em sólida dianteira e com prestígio nas alturas. Se o Ibope ou Datafolha registrarem queda, e sobretudo queda de bom tamanho, as risadas cessam. A caveirinha até tenta morder o dono da casa. Os ratos têm o hábito de abandonar o navio em caso de naufrágio iminente, vocês sabem.
A história recente do país registra um episódio que ilustra bem o que digo. Onaireves (um palíndromo) Nilo Rolim de Moura ficou conhecido nacionalmente quando era deputado federal durante o governo Collor. Não pelos projetos ou por uma atuação política brilhante – até foi cassado mais tarde – mas por um jantar de apoio oferecido por ele em sua casa ao presidente Fernando Collor na noite anterior à sessão que votou pelo seu impeachment.
Onaireves reuniu a base aliada na sua casa, todos bradando aos céus pelo que chamavam de “golpe de Estado” que se avizinhava. Defendiam a manutenção de Collor do poder. No dia seguinte, em votação aberta e transmitida ao vivo para todo o país por várias cadeias de TV, Onaireves-Severiano viu o barco afundando e votou pela cassação do nobre Presidente da República. Na política, um dito popular muito comum é o “Tão alegre que viemos, tão tristes que voltamos”.
Fonte: fernandoalbrecht.blog.br
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