Wal Reis
A perda de oportunidades lá atrás não deve justificar para sempre a falta de vontade de buscar seus objetivos agora
Temos uma tendência de chorar o leite derramado, sempre imaginando que era o último litro. Somos inconformados com nossa própria história, insistindo que tudo teria sido perfeito se, lá atrás, tivéssemos feito diferente, pegado a outra pista na bifurcação.
É fácil prever o passado, olhando agora, do confortável camarote do presente. Antes de tudo, precisamos nos perdoar pelos possíveis erros de rota que cometemos. Algumas atitudes burras eram o melhor que poderíamos ter feito com as ferramentas que tínhamos para lidar com as circunstâncias daquele momento. Querer que você tomasse uma decisão aos 18 anos que hoje, aos 45, tem certeza que seria a mais acertada é uma tremenda injustiça com o jovem que você foi.
E esse você de antes não merece castigo eterno e nem ficar na prisão perpétua do arrependimento. Isso porque esse solo é areia movediça que não deixa sair do lugar quando a consciência do tal leite derramado deveria é impulsionar: retomar as rédeas para que, daqui a dez anos, não esteja novamente lamentando.
O queixume pelo o que deixamos de fazer ou fizemos de errado costuma emprestar uma licença poética para nos mantermos exatamente no mesmo lugar, apoiados nas muletas convenientes do autoflagelo. Este autoflagelo, aliás, leva a um redemoinho mórbido que nos impede de voltar e refazer escolhas e acaba engessando também o futuro. E sempre temos um cesto cheio de justificativas para a prostração: “a vida tomou outro rumo, estou velho demais, meu tempo passou, perdi as oportunidades...”
Certamente oportunidades se perderam. Porém, nem todas. Muitas podem apenas pedir certa adequação para essa nova etapa e voilà: estarão aptas para serem desfrutadas.
Imaginar que tudo está perdido é como ficar parado na plataforma da estação, lastimando o trem que partiu, sem conseguirmos ir a bordo. Ficamos ali, de mãos dadas com a autopiedade, olhando a fumaça, que ficou no ar, sem prestar atenção que, logo atrás, outros trens chegaram e partiram para o mesmo destino. Chegaríamos atrasados, é fato. Mas chegaríamos.
CONFIANÇA NO TEMPO DA DELICADEZA
Para complicar ainda mais, existem as experiências que lamentamos não ter vivido quando, na verdade, eram frutas verdes, que precisavam de tempo para ser colhidas. Nessas ocasiões, não perdemos nada, por mais que a gente imagine que sim.
O destino, às vezes, trata de levar para longe, mas depois serve de bandeja o que estaria amargo caso insistíssemos em arrancar do pé antes do tempo. Porque tudo tem seu tempo e não o “seu” tempo. Precisamos entender essas delicadezas para que nem nossas memórias, e nem nossa pressa, sejam as verdadeiras inimigas da perfeição.
WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br
Fonte: https://anamaria.uol.com.br
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