sexta-feira, 10 de julho de 2020

MR. MILES

Este ano vai ser batata

Mr. Miles supõe que, ao ler este seu primeiro artigo de 2008, você esteja em estado deplorável. Ele ousa presumir que boa parte de seus leitores tentará encontrar nessa coluna o inútil conforto para uma noite de exagero etílico que, em suas palavras, "resulta em boca seca, dor de cabeça e uma estranha sensação de que as linhas do jornal adernam como navios em mar agitado".

Os que não beberam, arrisca nosso bravo viajante, estarão iniciando nesta terça-feira nobres planos de ano-novo, como dietas há muito planejadas, o abandono de vícios ou ("I really hope so") a reaproximação com velhos amigos, perdidos ou esquecidos por motivos sempre irrelevantes.

Para uns e para outros, mr. Miles deseja que o ano-novo represente a abertura de novos horizontes e a experiência de viagens nunca antes realizadas. A seguir, a questão da semana, não por acaso relacionada ao tema:

Mr. Miles: o que o senhor espera do ano que se inicia?
Marcela Liupikasas, por e-mail

"Well, my dear, não há ano que não me traga alegrias. Alguns deles, I must say, trazem-me algo mais. Dois mil e oito, for instance, promete muita alegria e... batatas.

Você não sabia, darling? Estamos entrando, hoje, no Ano Internacional das Batatas. Yes, it´s amazing, mas não se trata de uma idéia minha ou de algum comediante. Este é o ano oficial dos simpáticos tubérculos por resolução da Assembléia Geral da ONU. 

Finalmente alguém dará justa atenção a essa nossa companheira de todas as refeições, injustamente relegada à posição secundária de guarnição.

Meu amigo Tom Chips (e sua esposa Elma) tiveram a honra de participar da histórica sessão realizada pela ONU em 22 de dezembro de 2005, quando representantes de nações de todas as etnias, crenças ou devoções políticas aprovaram, por aclamação, a necessidade de se estabelecer um Ano Internacional da Batata. 

This one: 2008, talvez porque o oito lembre uma batata, ou duas justapostas. Don´t you agree?

A iniciativa é um purê de nobreza. Vejam que, de acordo com o texto original, visa a "focar a atenção mundial no papel que a batata possa ter para prover a segurança alimentar junto às populações pobres".

A expectativa dos nobres diplomatas é que a nomeação deste Ano Internacional "faça pela batata aquilo que o Ano Internacional do Arroz (2004, don´t you remember?) fez por aquele cereal, provocando exposições, filmes, programas educacionais - ou seja, aumentando consideravelmente a consciência da necessidade do alimento para as populações de todo o mundo".

De minha parte, dear Marcela, vou plantar batatas assim que meu jardim descongelar na próxima primavera. Sintonizado com os mais elevados objetivos das Nações Unidas, desejo a todos os meus leitores um ano de deliciosas batatas coradas, crocantes batatas fritas, simpáticas batatas inglesas e, of course, a lot of baked potatoes. Em se tratando de doutas autoridades, só me resta crer que, se cada um fizer sua parte, 2008 será um ano repleto de felicidade. Believe me: é batata."

Fonte: O Estadão

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